Roses and Demons: Hell's Flower escrita por JulianVK


Capítulo 16
Gabrielle




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Três dias se passaram e, durante este tempo, Gabrielle D’Illusie se viu tão ocupada que mal tinha tempo para descansar. Os médicos do acampamento, estarrecidos com o conhecimento da garota, seguiram suas instruções, trabalhando com igual afinco. Logo, os pacientes em estado mais crítico começaram a demonstrar sinais de melhora e, a partir disso, o tratamento passou a ser aplicado em todos os outros soldados e bruxas que ocupavam a fortificação e seus arredores.
O clima que tomava conta do lugar era de alívio e alegria. Expressões cheias de vida contrastavam com as visagens doentes e exaustas de pouco tempo atrás. Gabrielle, satisfeita com os resultados, finalmente teve seu merecido descanso e só acordou na metade da tarde, ouvindo a voz de Anya Wald. Sua mestra veio avisar que Lince Walters desejava agradecê-la em nome do exército conjunto.
A despeito dos cabelos desarrumados e do quimono amassado, a jovem recebeu o capitão empericiano na tenda em que estava descansando. O homem sentou no chão, de frente para a bruxa, e falou.
—Quando liderei nossa antiga tropa junto com a senhora Anya, achei que nunca mais veria algo tão impressionante quanto o portal que usamos para atacar os chesordianos de surpresa.  Mas preciso admitir, vocês bruxas nunca deixam de surpreender.
—Magia é realmente algo extraordinário. É literalmente o poder de dobrar o mundo à vontade do ser humano. Ou, no caso dessa doença, à vontade de um demônio.
—Está querendo dizer que a moléstia que você curou era mesmo de origem mágica? – Mais do que espanto, o capitão demonstrou curiosidade diante daquela afirmação.
—Tenho certeza quase que absoluta. Os médicos daqui são muito competentes, disso não há dúvida. Somente uma magia muito poderosa poderia deixar pessoas assim incapazes de fazer algo a respeito.
—Sendo assim, acredito que o momento da vinda de vocês não poderia ter sido mais oportuno. Acabei sendo salvo pelas bruxas outra vez.
Antes que a garota pudesse responder, Anya interveio. Mesmo do lado de fora, a experiente mulher estava ouvindo atentamente a conversa.
—Não fomos nós que salvamos o exército conjunto, capitão Walters. Foi a Gabrielle.
Lince virou-se para ver Anya entrando na tenda. Ao contrário dos demais, ela permaneceu em pé, sem dizer mais nada.
—Como assim? – Perguntou o capitão.
—É verdade que faz parte do nosso treinamento estudar sobre ervas e outras substâncias naturais que podem ser usadas no tratamento de feridas e doenças. Além de aprender sobre magia e combate, nós também recebemos lições em outros temas como história, literatura e religião. Porém, o conhecimento que temos é apenas básico.
—O que vocês estão querendo dizer é que a única bruxa que teria sido capaz de descobrir essa cura é você mesma, Gabrielle?
—É bem provável que seja esse o caso. – A jovem não parecia muito à vontade com aquela conversa. – A verdade é que antes de me tornar aluna da mestra Anya, eu estudei muito sobre alquimia e ciências relacionadas, como química e biologia.
—Incrível... – Desta vez, Walters estava genuinamente perplexo. Como ninguém mais parecia disposto a continuar aquela conversa, coube a ele se recompor e continuar. – Bem, sendo assim, eu gostaria de lhe oferecer os meus mais profundos agradecimentos em nomes de todos os empericianos e chesordianos. Estamos em débito com você por ter salvo nossas vidas.
—Tudo bem, eu só fiz o que estava dentro da minha capacidade. Sem contar que se eu não tivesse a ajuda dos outros médicos, muito mais gente teria morrido.
Nisto, o capitão se colocou em pé.
—Bem, você com certeza merece uma folga depois de tudo o que fez. Muito obrigado por me receber.
—Imagine... foi uma honra.
Lince Walters foi embora, deixando as duas bruxas sozinhas dentro da tenda. Anya observava sua pupila com uma expressão mista de preocupação e desapontamento.
—Não acha que está na hora de começar a dar um pouco de crédito a si mesma?
—Mestra, eu...
—Você ainda é jovem, Gabrielle, tem toda uma vida diante de você. Se precisa buscar a aprovação de alguém, então que seja de você mesma.
D’Illusie não encontrou palavras para responder. Anya, ciente de que nada mais poderia dizer para ajudá-la, decidiu que o melhor a se fazer no momento era deixar a jovem sozinha. Assim que viu sua mestra partir, Gabrielle se colocou em pé, esfregando o rosto, e então saiu da tenda também.
Ao redor, soldados e bruxas cuidavam das tarefas a que tinham sido incumbidos. Agora que o acampamento voltava à sua normalidade todos pareciam estar ocupados com algo. Enquanto divagava em seus pensamentos, Gabrielle percebeu que uma garota passava ao seu lado e virou o rosto para observá-la. A roupa que ela vestia era bastante atípica: um traje branco enfeitado com linhas douradas e um cinto metálico da mesma cor. Presa à roupa, uma capa igualmente alva balançava com suavidade.
Ao ser vista, a garota gritou de susto e quase tropeçou ao recuar. Embora ela se vestisse de uma forma que nenhum soldado ou bruxa ali faria, seu rosto pálido era inconfundível.
—Kate, tudo bem com você? – Perguntou Gabrielle, preocupada.
—Tudo sim, é só que você virou de um jeito tão inesperado que eu me assustei.
—Por acaso... você estava escutando a minha conversa com o capitão?
—N-Não, de jeito nenhum...! – Kate balançou as mãos e a cabeça, mas estava na cara que não conseguiria enganar a outra bruxa. – Tudo bem, eu escutei um pouquinho sim.
Gabrielle permaneceu em silêncio, desviando o olhar.
—Eu ia perguntar se está tudo bem, mas é óbvio que não é esse o caso. Você salvou a vida de tudo mundo aqui, por que em nome de Argenta está com essa de enterro?
Gabrielle não estava se sentindo exatamente à vontade para desabafar com suas irmãs naquele momento, mas se manter em silêncio apenas aumentava sua frustração. Talvez Kate, que também era bruxa, mas não do mesmo grupo, fosse a pessoa mais adequada para ouvi-la.
—Tudo bem, eu vou tentar explicar.
Minutos depois, a conversa delas continuava num banco de madeira ali perto.
—É a primeira vez que ouço falar do seu irmão. – Disse Kate.
—É verdade, as bruxas que sabem da existência dele não costumam comentar a respeito.
—E ele é mesmo tão incrível assim?
—Sim. Gabriel é simplesmente o maior especialista em alquimia de todo o reino de Empericia. Além disso, ele tem um conhecimento gigantesco sobre muitos outros tipos de ciência, inclusive magia. As pessoas dizem que ele tem talento para se tornar mais famoso até mesmo que Defteri.
—Eu não faço ideia de quem seja essa pessoa.
—Oh sim. – Gabrielle lembrou que, como chesordiana, Kate realmente não tinha condições de saber. – Defteri é o maior sábio da história de Empericia. Ele desenvolveu pesquisas inovadoras em praticamente todos os campos científicos.
—Entendi. Então é por isso que você admira tanto o seu irmão?
—Exatamente. Ele me enviou para o templo de Argenta porque eu não era capaz de controlar meus poderes, mas agora... – Gabrielle fez uma breve pausa, durante a qual seu olhar se tornou mais afiado. – Na próxima vez em que nos encontrarmos, é ele quem vai ficar admirado.
—Talvez você não devesse se importar tanto com isso. – Kate respondeu com uma expressão muito séria.
—Como assim?
—Você e seu irmão são duas pessoas completamente diferentes. O caminho que você precisa seguir é o seu, não o dele. – A bruxa chesordiana fez uma pequena pausa, suspirando, e concluiu que confrontar Gabrielle era, de fato, a coisa certa a se fazer. – Pelo menos uma vez você chegou a pensar nos objetivos que desejar alcançar além da aprovação do Gabriel?
—Acho que não...
—Então talvez essa seja uma boa hora para começar a fazer isso. – Concluiu Kate, agora com um sorriso gentil.
—Tudo bem, vou pensar a respeito do que você e a mestra Anya disseram. Acho que... – Gabrielle olhou para o céu quase sem nuvens, contemplando suas perspectivas – Acho que você está certa em dizer que minha vida não deveria se resumir a perseguir a sombra dele.
—Não esquente a cabeça demais com isso, você já é uma das bruxas mais espetaculares que eu conheço! – Kate colocou-se em pé, já pronta para ir embora.
—É mesmo? – A outra bruxa estava curiosa para saber o motivo daquela afirmação dita de forma tão audaz.
—Mas é claro. Você ajudou Esther a derrotar Dementia e agora salvou um exército inteiro!  Tudo bem, seu irmão até pode ser um gênio científico, mas é você que está aqui, arriscando a vida para salvar o mundo!
Percebendo que se exaltou um pouco, Kate preferiu encerrar o discurso por ali. Tinha receio de que Gabrielle pudesse interpretar mal suas palavras. Ainda assim, bastava fitar o rosto marejado, mas sorridente, da garota para entender o quanto ela estava grata por ouvir aquilo.
—Bem, eu já falei demais. É melhor eu encontrar algo em que possa ajudar por aqui, ou vão começar a me deixar sem refeições.
—Espere um pouco, Kate! – Gabrielle levantou-se também. – Eu queria lhe perguntar uma coisa. O que é essa roupa que você está usando?
—Ah, isto aqui? – A chesordiana estendeu os braços enquanto observava seu traje. – São vestes especiais que o clã Silmun criou. Eu recebi um conjunto como presente da minha mestra, Madame Ancara, quando parti, mas deixei ele guardado durante o tempo em que estive em Empericia.
—É mesmo? Conte-me mais sobre o lugar onde você treinou e sobre a sua mestra.
—Tudo bem, vejamos por onde posso começar...

Com o cair da noite, os urros furiosos de um demônio solitário chegavam até mesmo à muralha do acampamento, arrepiando os soldados que montavam guarda. Na floresta, o monstro caminhava erraticamente por entre as árvores, ocasionalmente desferindo socos capazes de amassar troncos com facilidade.
Aquela fúria cega só chegou ao fim quando o leve farfalhar de asas chegou até os ouvidos do demônio, tornando-se mais nítido a cada momento. Por fim, ele identificou o enorme pássaro de olhos amarelados que se empoleirou numa das poucas árvores ainda em pé.
—Corvame... – Grunhiu Morburi.
—Vou admitir que seu plano foi bem inteligente. Matar todos no acampamento com uma doença teria garantido o domínio de Chesord e deixaria Empericia vulnerável a um ataque. Contudo... – Era impossível identificar qualquer tipo de feição no corvo falante, mas por um instante Morburi poderia jurar que sua postura era de alguém que sorria. – Eu avisei você que as bruxas eram talentosas, não avisei?
—Acha que eu não consigo dar conta disso, maldito? Quando eu tiver terminado com aqueles humanos nojentos, é a sua cabeça que eu vou arrancar!
—Acalme-se, Morburi. Na verdade, é por acreditar na sua capacidade que estou disposto a lhe ajudar.
—E o que tipo de ajuda alguém como você teria para me oferecer? – O tom de Morburi se tornou um tanto menos agressivo, mas não menos ácido.
—Informação, é evidente. Começando pelo nome da bruxa responsável por criar uma cura para a sua doença. – Uma certa malícia reluziu nos olhos daquele demônio aliado. Corvam não estava mentindo, ele realmente sabia quem era a bruxa responsável por salvar Brokefront.


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Notas finais do capítulo

Para ter sucesso em sua missão, Morburi precisa eliminar o obstáculo que é Gabrielle D'Illusie.

Capítulo 247: Assassinato

Em breve.



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