Perversa escrita por Diamandis
Hermione andava tranquila pelas ruas movimentadas de Nova Iorque. O céu estava nublado e o frio aumentava a cada dia. O ringue de patinação havia ficado há umas duas quadras atrás, mas ela não estava muito afim de ir lá. Não aquele dia, àquela hora.
Rumou tranquila para o Central Park. Quando era pequena, ela e o pai iam até lá ver os últimos patinhos nadando no lago antes que congelasse. Lá, Hermione não se sentia ‘Hermione, a observada’, e sim ‘Hermione, a... Hermione’.
Estava tudo calmo e silencioso quando chegou. Sentou-se sob uma árvore e tirou de dentro da bolsa uma pasta preta. Seus desenhos se espalharam o chão e ela escolheu uma folha em branco. Não sabia o que desenhar. Só conseguia pensar que seu pai a mataria se descobrisse que havia cabulado patinação.
Uns riscos tingiram o papel e o grafite manchou suas mãos brancas. O esmalte vermelho saía, mas ela milagrosamente não se importou. Aos poucos os rabiscos ganharam sentido e formaram um par de olhos, que ela logo coloriu de azul.
“De novo?”, pensou. “Por que eles não saem da minha cabeça?”
– Belos olhos. – Disse alguém atrás dela.
“Ah, só pode ser carma!”
– O que faz aqui? – Rosnou.
– Então agora o Central Park também é propriedade sua? Isso eu não sabia.
– Por favor, garoto, me deixa em paz?
– Te deixar em paz?! – Indagou revoltado. – Você vive me humilhando publicamente e sou eu quem não te deixa em paz?! Tenha um pouco de senso, garotinha.
– Não fale assim comigo, Ronald. – Disse balançando o indicador na cara dele. – Você não é meu pai!
Ele riu alto e preferiu não responder. Estava se tornando uma discussão infantil demais. Não que não combinasse com Granger – pelo contrário, era a cara dela –, apenas não fazia o feitio dele. Deu a volta na árvore e pegou algumas das folhas espalhadas pelo chão.
– Os desenhos são bons. Seus?
– Sim. – Respondeu indiferente. Ele, certamente, estava fugindo dela, por medo.
– E esses olhos. Você os fez várias vezes. De quem são?
Hermione olhou assustada para as mãos de Ronald e encarou aquele mesmo olhar azul.
– Não é da sua conta. Devolva-os.
– Qual é?! Está com medo de falar?
– Devolva-os! Vai querer roubá-los, é?
– Quer um conselho? Cresça. Você está precisando. – Disse, em meio a um riso incontido.
Hermione tentou arrancá-los das mãos de Ronald à força, mas ele, definitivamente, era mais forte. Cansada, o empurrou como última tentativa; e ele caiu sentado sobre as folhas.
– Devolva-os! – Gritava ela, debruçando-se sobre ele.
Ronald ria como uma criança.
– Vem pegar.
– Idiota! Desgraçado! Petulante! Ladrão! Babaca!
Despejou toda a lista de qualidades que se lembrou e, por fim, deitou-se ao seu lado. Exausta e descabelada.
– Eu te odeio tanto...
– Por quê? – Indagou, virando-se para ela. – Eu nunca te fiz nada...
– Você fez. Você roubou tudo que era meu! Até minha amiga! Lembra como as pessoas te olharam no primeiro dia? Aquela admiração era minha. Só minha!
– Não seja tola, garota. Eu não te roubei nada. Só os desenhos... – Disse, sorrindo.
Então ela percebeu que quando ele sorria seu rosto se franzia e pequenas rugas se formavam nos cantos dos olhos.
– Mas eu me defendi.
– Luta livre no Central Park! – Completou, com voz de narrador.
Gargalharam juntos até perderem o ar.
– Mas você ainda não os devolveu. – Desafiou ela.
Ronald se aproximou e colocou os desenhos sobre o rosto dela.
– São todos seus. Mas eu ainda quero saber de quem são esses olhos.
– Meus. – Respondeu Granger. – Esses olhos são meus.
Ele tirou os papéis de cima dela e a encarou, finalmente sério.
“Prefiro quando você sorri.”, pensou sem se preocupar com o que os outros achariam daquilo.
Ele se aproximou e beijou sua testa.
– Trégua? – Perguntou ela.
– Talvez. Brigar é mais divertido.
Ela sentia a respiração dele sobre sua boca.
Os patinhos do lago pareciam nem perceber que estavam ali e o vento misturava as inúmeras folhas amareladas com seus cabelos.
Hermione esticou o pescoço e seus lábios, finalmente, encontraram os dele. O tempo parecia parado e nenhum pensamento intruso passava por suas mentes.
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