A Dream Twice escrita por laurakr


Capítulo 18
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Para saber mais sobre a atualização dessa história, veja a nota no final deste capítulo.

Gente esse capítulo me deu tanto trabalho que quase não postei, sério. Também fiquei em duvida se eu o dividiria em dois por ter ficado tão grande mas achei melhor não ficar prolongando a história.
Ah nem sei se ficou bom, e se tiver algum erro me avisem por favor. E acho desnecessário, pelo final desse capítulo, falar sobre quem será o próximo né? :D
Espero que gostem e infelizmente não encontrei uma música - na verdade não consegui pensar em uma - pra esse capítulo. Tem a que o Leonard menciona mas não sei se ela daria certo pra esse em especial,



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Tinha custado a dormir naquela noite. Embora não quisesse, embora tentasse evitar, aquelas palavras continuavam a ecoar em meus pensamentos. Por um momento eu cogitara... Por um pequeno espaço de tempo eu sentira algo que jurara a mim mesma que não sentiria novamente... Esperança. Talvez as coisas fossem diferentes se eu me deixasse tentar.

Não seja boba Kate... A vida não é tão simples assim.

Não crie expectativas.

Ou você será obrigada a vê-las se despedaçando

bem em frente dos seus olhos.

Acordara extremamente cansada devido à noite mal-dormida e não tinha mínima vontade de sair debaixo das cobertas. Senti minha cabeça doer conforme o alarme do despertador soava cada vez mais alto. Levantei-me lentamente, corpo pesado e muito sono. Mas já havia me acostumado com dias assim. Esse tipo de coisa se tornara algo comum depois da morte de Tony, devido aos sonhos e pesadelos que me impediam de ter noites tranqüilas como antigamente. Embora os sonhos tivessem diminuído – fazia um bom tempo desde que havia tido um – ele ainda aparecia em alguns deles, mas nada significante como antes. Estranho, mas ultimamente eu preferia que as coisas continuassem assim. Calmas. Fui ao banheiro lavar o rosto e escovar os dentes e após isso coloquei meu uniforme e me dirigi á cozinha, onde minha mãe tomava o café-da-manhã apressada.

– Aconteceu alguma coisa?

– Nada demais Kate. Quero aproveitar meus dias de folga, por isso acordei cedo e preparei o café pra você. Faz tempo que não faço algo assim não é? – ela disse sorrindo.

Realmente, a minha mãe trabalhava tanto que quase não parava em casa – assim como o meu pai. Sentei-me e ela sorriu mais abertamente. Aquilo me deixou feliz, mas eu tinha aprendido a não esperar muita coisa quando se tratava dos meus pais. Havia perdido as contas de quantas reuniões de pais e eventos escolares eu passara esperando até entender que eles nunca viriam. Eles eram ocupados demais com o seu trabalho para perderem tempo com sua filha.

– E o papai, quando volta?

– Hoje à noite, se tudo der certo. – ela me passou a manteiga antes que eu pedisse, e continuou a sorrir – Por isso... Eu pensei em passarmos a tarde juntas, o que acha?

Wow. Ela estava mesmo querendo passar um tempo comigo? A fitei, estranhando bastante a atitude. Mas não podia negar que me sentia extremamente feliz com aquilo.

– Eu acho ótimo.

Retribuí o sorriso que ela ainda estampava em seu rosto.

– Então, quando você voltar da escola podemos pedir algo pra comer ou ir ao cinema.

– Eu adoraria.

Embora soubesse que não deveria me animar muito, não conseguia evitar. A idéia era tentadora e aquilo não costumava acontecer com freqüência, então decidi apenas ficar feliz com isso e agradecer. Nós conversamos mais um pouco e ela – para a minha surpresa – me deu uma carona até escola.

– Vê se não fica enrolando e vai direto pra casa, nós teremos muitas coisas pra fazer hoje, ouviu?

– Pode deixar mãe. – Isso definitivamente animara meu dia.

Desci do carro e estava muito ocupada me despedindo, por isso foi só quando estava quase passando pelo portão da entrada que notei Leonard encostado ali no muro.

– O que está fazendo aí? – perguntei sorrindo, um pouco surpresa.

Então ele sorriu de volta. E os dentes perfeitos ficaram à mostra.

– Estava te esperando.

– Por quê?

Ele não respondeu e apenas abaixou o rosto, ainda sorridente. Se fosse qualquer outro dia eu o teria ignorado ou soltado algum tipo de insulto, mas eu estava de bom-humor e até tinha ficado feliz por vê-lo ali. Era melhor do que encontrá-lo se amassando com a Laila, como havia acontecido nos últimos tempos. Entramos na escola e nos dirigimos a nossa sala, conversando sobre coisas banais. Foi quando adentramos a classe e Leonard não parou no seu lugar de costume, que eu me dei conta de que ele pretendia voltar a sentar-se na minha frente.

– Ué, vai voltar a se sentar aqui?

Ele sorriu.

– Vai dizer que não sentiu minha falta?

Convencido demais, como sempre. Não pude evitar a indireta.

– Pensei que fosse dar mais atenção ao que realmente importa.

Ele pareceu ter compreendido algo, e o sorriso convencido se alargou.

– Pois é. Mas eu percebi que se eu não ficar perto do que realmente importa, dar atenção perde todo o significado.

Ah ele sabia como me deixar sem-graça. Parecia orgulhoso de si mesmo por isso. Então me sentei derrotada enquanto ele continuava lá, sorrindo divertido.

– Idiota.

Mas eu estava mesmo é aliviada, de tê-lo por perto novamente. As aulas certamente seriam problemáticas a partir de agora – e provavelmente seria difícil se concentrar – mas pelo menos, não seriam tão entediantes.

– Dormiu bem?

Estranhei a pergunta, vindo dele. O que me deixou desconfiada.

– Por quê?

– Parece cansada.

Realmente... Muito estranho.

– Dormi sim, e você? – Não que eu estivesse interessada – é claro que não – apenas perguntei automaticamente.

– Não. Passei praticamente a noite toda em claro.

Eu sabia muito bem como ele se sentia.

– Nossa, e ficou fazendo o que?

– Pensando em você. – ele respondera como se fosse óbvio.

É eu definitivamente sabia bem como ele se sentia.

– Que perda de tempo. – eu fazia o possível pra não demonstrar meu desconcerto.

– Não acho.

Não queria prolongar o assunto então apenas fiquei em silêncio. Um bom tempo se passou depois disso, mas eu não conseguia me concentrar na aula.

Ele tem as costas largas...

Os fios loiros lhe caíam perfeitamente, bagunçados como de costume. Um pouco mais compridos na parte de trás, alcançando seu pescoço. E eu ficara ali, me perdendo na silhueta a minha frente. Como seria tocá-lo? Eu poderia fazê-lo se quisesse. Bastava esticar um pouco minhas mãos e o alcançaria. Por um momento quase o fiz, involuntariamente. Estava ficando louca.

– Ei Kate, que tipo de músicas você gosta?

Havia tanto a se perguntar. Tantas coisas mais importantes sobre as quais deveríamos conversar como a Laila, por exemplo, e o que aconteceria de agora em diante. Como Lucas se livrara dela? Ele realmente contaria tudo a Annie? E o que faríamos agora... Em relação a nós dois? Seria como se nada tivesse acontecido? Eram tantas coisas e, no entanto, não havíamos sequer tocado em nenhum desses assuntos. E para ser sincera? Eu não queria falar sobre coisas sérias. Eu apenas queria aproveitar o fato de poder conversar assim com Leonard, normalmente, como fazia agora. Queria aproveitar o fato de que podíamos ficar perto um do outro novamente e ter conversas banais como essa que estávamos tendo.

– Eu... Não escuto mais música desde que o Tony morreu.

– Por quê? – ele pareceu bastante surpreso e interessado no motivo.

– Eu queria evitar qualquer coisa que me fizesse lembrar dele então eu parei de ler, de assistir filmes e principalmente de ouvir música.

– Hum... De fato, a música nos faz lembrar muitas coisas e pessoas.

– É, mas todas elas me faziam lembrar do Tony de alguma forma e eu ficava muito mal com isso.

– Será que algum dia... – ele me fitou daquele jeito, intenso e sério - Você se lembrará de mim quando ouvir uma música?

– Quem sabe. – eu respondi.

Então ele sorriu.

– Não sei se já te disse antes, mas eu me lembro de você com a frase de uma música.

– Qual?

Então ele pronunciou em um inglês perfeito:

– “This is because I can spell confusion with a K and I can like it…”

Mas eu não o havia compreendido completamente e ele sorriu ao perceber. Então repetiu, com o mesmo tom capaz de despertar aquela sensação de um capuccino num dia frio, mas dessa vez traduzindo a frase:

– “Isso é porque eu posso soletrar confusão com K e eu posso gostar...”

Estar com ele me dava um frio na barriga, e ao mesmo tempo me fazia esquentar. Era como se eu fosse uma panela de pressão, prestes a explodir.

– Então... – tentei continuar a conversa normalmente, para não parecer tão insana como me sentia – Quer dizer que eu sou confusão?

Ele riu.

– Você sabe que sim. Mas isso estranhamente me faz sentir cada vez mais atraído.

Eu tentava ignorar o fato de que tudo o que ele dizia soava como uma confissão.

– Talvez seja porque confusão atrai confusão.

Mas continuar com o assunto só parecia complicar cada vez mais a situação.

– Eu sou confusão também?

– Você sabe que sim.

– Então, isso quer dizer que você também está estranhamente atraída por mim?

Está vendo? É perigoso.

– Não coloque palavras na minha boca, Leonard.

Ele sorriu e virou pra frente. E foi assim até a hora do intervalo, onde ficamos meio preocupados da Laila aparecer lá para armar confusão, mas isso não aconteceu. Lucas veio nos ver e parecia estar meio desesperado, era até engraçado, apesar de tudo.

– E aí, no que deu o rolo com a Laila? – Leonard perguntara quando Lucas encostou-se na carteira ao lado da dele.

– Ah, nada demais. Eu apenas a ocupei um pouco e disse que ia contar tudo pra Annie. Acho que ela ficou em choque porque nem veio pra escola hoje.

Embora parecesse, eu sabia que ele não estava nem um pouco calmo.

– E a Annie?

Ele me fitou nervoso.

– O que eu faço? Não tive coragem de contar ainda.

– Olha... Se vira.

– Leonard! – o repreendi pela falta de tato.

– O quê? – ele respondeu surpreso - Ela foi muito valente se declarando pra ele, porque ele não pode fazer o mesmo por ela?

Lucas suspirou pesadamente.

– Ele tem razão.

– Eu sempre tenho.

– Convencido.

O silêncio prevaleceu por alguns instantes até que Lucas pareceu se lembrar de algo.

– Ah é mesmo, Kate. Você tem celular?

– Tenho sim...

Afinal, esse era o único modo de conversar com meus pais enquanto estivessem trabalhando.

– Eu ganhei um do meu pai ontem, será que pode me passar o número do seu? Ah, e você também Leonard, nunca se sabe né.

Trocamos os números e o Leonard aproveitou a situação para anotar meu número também, embora eu não tivesse permitido que ele o fizesse.

– Anote o meu também Kate, quando você estiver se sentindo solitária, me ligue.

– Não mesmo, Leonard.

Mas ele ignorou minha resposta e anotou seu número em meu caderno.

– E vocês... ? – Lucas pareceu receoso por um momento, mas continuou – Estão se entendendo?

– Claro. – Leonard não hesitou em responder sorrindo – A Kate está completamente apaixonada por mim, até me chamou de confusão.

– E isso... – Lucas estava confuso – É uma coisa boa?

– É claro.

– Só se for no seu mundo. – Se não o cortasse, Leonard continuaria com as idiotices.

Então Lucas ficou sério de repente.

– Você não se sente culpado? Pelo Tony.

E Leonard também.

– Não.

– Você acha que ele concordaria com isso?

– Nem um pouco. Ele me mataria.

Eu não sabia como reagir, eles começaram a falar do Tony do nada e achei melhor não me meter no assunto.

– Mas acho que ele ia preferir ver a Kate comigo, o irmão dele, do que com alguém desconhecido. Ainda mais pelo fato de sermos gêmeos, acho que isso o consolaria de alguma forma.

– É a cara dele. Pra falar a verdade eu também não concordo nem um pouco, e só te aturo por ter nos ajudado, portanto se fizer qualquer coisa pra machucar a Kate eu te mato.

– Tudo bem, não precisa se preocupar. Eu tenho certeza de que posso fazer ela feliz.

Ok, a conversa estava indo para um lado muito bizarro.

– Ei dá pra vocês pararem de falar de mim como se eu não estivesse presente? – protestei irritadiça.

Os dois me fitaram e responderam em uníssono:

– Não.

Ah que ótimo, estavam amiguinhos já?

– Querem que eu saia então? – perguntei ironicamente.

– Pode ficar se quiser. – Leonard fingia não ter entendido minha ironia.

– É eu não me importo. – E Lucas o ajudava.

Então os dois sorriam e eu acabei sorrindo junto também.

– Bom, eu vou indo. Ainda preciso arrumar coragem pra contar tudo pra Annie.

– Boa sorte Lucas.

– Obrigado, eu vou precisar.

Ele saiu da sala e os alunos já estavam todos voltando do intervalo. Teríamos aula de História e depois de Biologia.

– Ei Kate, o que vai fazer hoje á tarde? – Leonard perguntara subitamente.

– Ah... Eu vou passar o dia com a minha mãe.O que é algo muito raro de se acontecer...

– Por quê?

– Bem, meus pais trabalham muito, sempre trabalharam. E é difícil vê-los de folga. Essa semana mesmo, meu pai foi a uma viagem de trabalho e eu nem sequer falei com ele ainda.

– Nossa... Deve ser difícil pra você.

– Pra falar a verdade eu já me acostumei. Quer dizer, não há nada que eu possa fazer não é? Se eles não trabalhassem tanto, não teríamos a situação financeira que temos hoje.

– Isso é verdade. Mas você nunca se sentiu meio sozinha por causa disso?

– Eu me sentia bastante, até me transferir pra essa escola e fazer amigos. Quando eu conheci a Annie por exemplo, toda vez que não queria ficar em casa sozinha eu ia pra casa dela e passava a tarde toda lá.

– A amizade dela deve fazer muita falta pra você.

– Ficar perto dela... Eu sinto saudades disso.

– Mas e agora? Que você não pode mais passar a tarde na casa da Annie... ? Você não se sente solitária?

– Sim. Mas agora eu já sei que todos nós nascemos sozinhos e vamos morrer sozinhos. Então eu já estou acostumada, como te disse antes.

– Mas você não precisa viver sozinha. Eu estou aqui se precisar.

– Obrigado Leonard, mas as coisas estão melhorando.

– Parece que sim, já que você vai passar o dia com a sua mãe. – ele sorriu.

– Pois é. – eu retribuí o sorriso – Mas porque queria saber se eu ia fazer alguma coisa hoje á tarde?

– Eu pretendia te levar pra algum lugar.

– Como se eu fosse louca de sair com você.

– Porquê não? Medo de não conseguir resistir?

– Resistir a quê?

– Ao fato de que você quer ficar comigo.

– Não tem nada pra resistir, eu não quero ficar com você.

Ele deu um sorriso de descrença.

– Continue tentando se convencer disso enquanto pode.

Ele virou pra frente e começou a prestar atenção na aula. E eu estava extremamente contrariada e nervosa. Sentia meu coração quase pular pela boca cada vez que ele se aproximava, sorria ou dizia algo que dava a entender que gostava de mim. Sem contar o fato de que eu quase morria de constrangimento ao perceber que não parava de pensar nele e nem de observá-lo. Ele me jogara um feitiço ou o quê?

Tony... Estaria mesmo tudo bem, se eu me apaixonasse por ele?

Na hora da saída, Leonard se apressou e veio atrás de mim, ele estava me seguindo.

– Até onde você pretende ir? – perguntei mal-humorada após atravessarmos uma rua.

– Até a sua casa, é claro. – ele respondeu sorrindo.

Eu bufei e continuei a andar, ignorando-o.

– Ei, vou te ligar hoje á noite.

Nós estávamos em frente a minha casa quando ele disse isso.

– Não perca seu tempo, eu não vou te atender.

Mas como sempre, ele só ouvia o que lhe convinha.

– Aí você me conta como foi o seu dia!

Ele precisou aumentar o tom de voz, pois eu já havia entrado em casa e fechava o portão.

– Até amanhã Leonard.

Ele sorriu e eu dei as costas, entrando em casa. Coloquei a minha bolsa em cima do sofá e me deixei cair sobre ele. Ah, que manhã exaustiva aquela. Comecei a refletir sobre algumas coisas, até me dar conta de que a casa estava estranhamente silenciosa. Provavelmente minha mãe havia ido buscar algo para comermos.

Talvez seja melhor eu fazer uma salada.

Levantei-me e fui até a cozinha. Abri o armário e comecei a pegar o que usaria: vasilha, temperos, talheres... E fui colocando tudo em cima da mesa.

Agora só faltam as verduras.

Então me dirigi até a geladeira. Estava prestes a abri-la quando notei um bilhete sendo segurado por um pequeno imã em forma de morango.

“Kate querida, seu pai ligou e aconteceu um imprevisto na empresa, ele me pediu que levasse alguns documentos que talvez possam ajudar, mas infelizmente só voltaremos depois de amanhã. Parece que o cinema vai ficar pra outro dia, mas eu aluguei seu filme favorito, está em cima da televisão.

Beijos, te amo.”

Por algum motivo, eu me lembrara do que Leonard havia me perguntado mais cedo.

Você não se sente solitária?

E depois, do que ele dissera, mesmo que não soubesse se era verdade.

“... Quando estiver se sentindo sozinha, me ligue.”

“ ... Você tem a mim.”

Está vendo? É por isso que eu não deveria criar expectativas, elas se desfazem com muita facilidade. E depois, a única coisa que sobra é a sensação de que você perdeu algo importante. E você fica se martirizando e se perguntando como seria, se tivesse dado certo.

Será o mesmo, se eu me apaixonar pelo Leonard.

Caminhei até a sala, tentando me convencer de que não deveria me importar. Afinal eu já sabia, que era bom demais pra ser verdade. Então notei em cima da TV, que realmente havia um filme. Me aproximei e logo reconheci do que se tratava.

Peter Pan.

A minha mãe nem mesmo sabia, o que esse filme significava para mim? Ela era idiota ou o quê? Era como se estivesse pedindo: “passe o dia se lembrando do que você perdeu, e sinta-se mais sozinha do que nunca”. E o pior de tudo é que – embora parecesse – ela não havia feito de propósito. A verdade é que ela não sabe mesmo. E isso é o que mais machuca. Eu nem mesmo toquei no filme e decidi que tomaria um banho e trocaria de roupas, e assim o fiz. Comi qualquer coisa e fui até o meu quarto, tentaria dormir. Após algumas horas, consegui fazê-lo. Mas teria sido melhor, se não tivesse conseguido.

Perfeitamente, como no filme, eu comecei a sonhar com uma cena bastante familiar. Aquela, onde o Capitão Gancho e o Peter Pan estão lutando no navio. Peter consegue ver a Wendy de onde ele está, e ela também está lutando. Mas o Capitão Gancho sabe que ela é sua fraqueza, então ele começa a dizer aquelas coisas horríveis para o Peter.

– Ela estava te deixando, Pan! Sua Wendy estava te deixando. Porque ela deveria ficar? O que você tem pra oferecer? Você é incompleto. Vamos agora dar uma espiada no futuro, o que acha?

Eu sabia o que aconteceria depois. Eu sempre chorava nessa cena, porque embora machucasse o que Capitão Gancho diria a seguir, não deixava de ser verdade. Eu queria acordar, queria tampar os ouvidos e fechar meus olhos. Eu estava lá, assistindo tudo, e eu não queria ver aquilo.

– Essa é a justa Wendy. Ela está cuidando de seu filho. A janela está fechada.

– Eu a abrirei.

– Receio que a janela está emperrada.

– Eu chamarei o nome dela!

– Ela não consegue te ouvir...

– Não!

– Ela não consegue te ver.

– Wendy!

– Ela esqueceu tudo sobre você.

– Pare! Por favor! Pare!

Então eu acordei suando frio. Respirava com dificuldade, e quando me dei conta de que havia tido um pesadelo, comecei a chorar descontroladamente. Porque por mais estranho que pareça, a única pessoa que me veio a cabeça nesse momento foi o Tony.

– Me desculpe... Me desculpe Tony...

Eu afundei o rosto entre meus joelhos e os abracei, sem conseguir controlar as lágrimas. Talvez eu estivesse me sentindo muito culpada por Leonard, por estar sentindo todas aquelas coisas por ele e por ter me sentido feliz a ponto de não pensar tanto em Tony, que tenha sonhado com algo assim.

Ou talvez o Tony soubesse que eu poderia esquecê-lo

e por isso se sentiu tão triste, que me fez sonhar com isso.

– Ei... Eu não vou te esquecer... Eu prometo... Me desculpe...

Talvez ele quisesse me mostrar como se sentiria, se eu o esquecesse.

Continuei assim por algum tempo até me acalmar. Eu havia dormido até as oito da noite e parecia que eu não dormia á dias. Me levantei e fui até o banheiro para lavar o rosto, ouvi o celular tocar enquanto estava lá e corri para atender. Era Lucas.

– Oi Kate, é o Lucas.

– Ah, oi Lucas.

– Tá tudo bem aí? – ele soou preocupado.

Minha voz não deveria estar normal, então fiz o possível para disfarçar.

– Tá sim, e aí? Você conversou com a Annie?

– Amanhã você descobre.

– Porque não me conta agora?

– É uma surpresa.

Ele estava normal, então eu não consegui descobrir se seria uma surpresa boa ou ruim. Nós conversamos mais um pouco e então desligou, pois ele ainda não havia estudado para a prova que teria no dia seguinte. Um despreocupado como sempre.

“ ...Você não se sente solitária?”

O que Leonard havia dito, tornava a se repetir em minha mente. E no momento? Sim, eu estava me sentindo extremamente solitária. O dobro do normal, já que quando me sentia sozinha por causa dos meus pais, pensava no Tony e isso ajudava. Mas se fosse pensar no Tony agora, a única coisa que eu conseguiria fazer, seria chorar. Ouvi o telefone tocar novamente mas dessa vez era o Leonard. Eu fiquei em duvida, se atenderia ou não e demorei um pouco até fazê-lo.

– Oi Leonard.

– Ah, Kate é você?

– E quem mais seria? O celular é meu.

Então ele ficou em silêncio por alguns instantes e perguntou sério:

– Como foi o seu dia?

– Ah...

Eu ficara em silêncio, pensando no que deveria responder.

– Kate?

– Foi normal Leonard.

– Você saiu com a sua mãe?

– Não, aconteceram algumas coisas e ela precisou viajar até o meu pai.

Ele ficou em silêncio e me perguntei se a ligação não tinha caído, até que perguntou de súbito:

– Você já comeu?

– Não, porque?

– Eu to indo aí.

– Pra quê?– perguntei surpresa e assustada.

– Eu vou te levar pra comer.

Tentei argumentar de modo racional.

– E como você vai fazer isso? São oito horas da noite.

– Eu uso o carro do meu pai.

– Você não pode dirigir, você só tem dezesseis anos Leonard, se esqueceu?

– Nos Estados Unidos, pessoas já podem dirigir com essa idade.

– Nós não estamos nos Estados Unidos.

– Te vejo daqui a pouco Kate.

Então ele desligou e eu entrei em pânico. O que deveria fazer? Mas daí eu olhei a minha volta, para aquela casa totalmente vazia, e me dei conta de que eu definitivamente não queria mais ficar ali. Corri até o meu quarto e troquei de roupa, como estava frio, apenas coloquei uma calça jeans, tênis, uma blusa e uma jaqueta. Penteei os cabelos e dei um jeito na minha cara de sono com um pouco de maquiagem. Fui até a cozinha, abri o armário e peguei um pouco de dinheiro que havia lá, depois disso saí, tranquei a casa e fiquei esperando Leonard na calçada. Quando ele chegou, estava surpreso em me ver ali. Principalmente por eu ter batido no vidro da porta do carro, apressando-o para abri-la. Quando a destrancou eu rapidamente me sentei no banco do carro e fechei-a. Então ele me olhou, parecia até que tinham desenhado um ponto de interrogação em seu rosto.

– Me leva pra bem longe daqui.

Foi tudo o que eu consegui dizer, mas ele pareceu ter entendido e sorriu, acelerando o carro. Havia um acordo silencioso entre nós: nada de perguntas. Eu não perguntaria para onde ele estava me levando, e ele não perguntaria o porque de eu querer ser levada. Mas eu sabia que nós sairíamos da cidade, porque entramos na pista. Estava escuro e frio. Também chovia um pouco, por isso os vidros do carro estavam praticamente fechados. Nós ficamos em silêncio na maioria do tempo, até que eu me sentisse calma e confortável o suficiente para começar uma conversa. Ele também não havia ligado o rádio, suspeito eu, pelo fato de que músicas me fariam lembrar do Tony, e ele queria que eu me esquecesse do mundo lá fora.

– Ah, é o pedágio. – ele constatou, cortando o silêncio.

Então eu, que observava a paisagem pela janela, me surpreendi ao constatar que de fato, havia um pedágio não muito distante de nós.

– Pedágio? – perguntei surpresa – Aonde é que nós estamos Leonard?

– Eu não sei. – ele revelou.

– Como assim não sabe?

– Eu não sei, você me pediu que te levasse pra longe e eu to levando.

– Tá mas, a gente deveria ter um destino pelo menos!

– E nós temos.

– Qual?

– O longe.

Eu estava quase pirando naquele momento. Não sabia qual dos dois era o mais inconseqüente. Leonard, ou eu que concordara em vir com ele.

– Espera aí, e se alguém pedir a sua carteira de motorista no pedágio?

Eu acabava de me dar conta de outro problema. E pelo visto, era o mesmo com Leonard que me fitou pensativo e depois respondeu:

– Torça pra que não peçam.

Ótimo. Eu passaria dois dias na cadeia, já que meus pais estavam viajando e não teria quem me tirar de lá.

– Não se preocupa Kate, você tá mesmo precisando de mais emoção na sua vida.

Eu o teria matado ali mesmo, mas acontece que dois dias na cadeia já seriam demais pra mim, e eu não queria passar mais tempo lá. Conforme nos aproximávamos do pedágio eu ficava mais e mais nervosa e torcia para que tudo desse certo, enquanto Leonard dirigia calmo e despreocupado. Nós paramos o carro e ele abaixou o vidro. Leonard entregou o dinheiro para a moça que sorriu para ele e fomos embora logo em seguida. Talvez ela tenha pensado que ele já era maior de idade. De qualquer forma agradeci mentalmente por tudo ter dado certo.

– Você tem noção de que eu quase tive um enfarte aqui?

Eu teria que repreendê-lo.

– O que nós faremos se tiver outro pedágio, hein Leonard?

Ele me olhou, como se não estivesse entendendo o porque da minha irritação.

– Fica tranqüila Kate, se for outra moça é só eu piscar pra ela que ela nem vai se preocupar com a minha idade.

– Você... Piscou... Pra moça do pedágio? – Eu estava chocada.

Ele não respondeu, somente me olhou e sorriu convencido.

– Então é por isso que ela estava sorrindo que nem uma idiota? – eu ainda estava chocada.

Mas ele não respondeu novamente e começou a me ignorar, prestando atenção na estrada.

– Para esse carro Leonard.

Eu nunca sentira tanto ódio assim. Nem mesmo da Laila. Não que eu estivesse com ciúmes, mas era cara-de-pau demais, fazer uma coisa dessas. Eu não estava acreditando no que ele tinha feito.

– O que? – ele fingiu não ter ouvido.

– PARA – ESSE – CARRO. – eu estava possessa.

– Não seja idiota Kate, vai voltar a pé?

Eu tirei o cinto e tentei abrir a porta, mas estava trancada. Tentei destrancá-la puxando o pino, mas falhei miseravelmente. Leonard não parecia incomodado, estava se divertindo com aquilo e isso me irritou mais e mais.

– Você tá fazendo tudo isso só porque eu pisquei pra moça do pedágio? Não sabia que era tão ciumenta Kate.

Daí eu não agüentei e comecei a estapeá-lo.

– Ai! Para, isso dói!

Ele falava enquanto eu tentava aplacar minha irritação.

– Eu – a cada palavra que dizia, era um tapa no braço de Leonard – Nunca - mais - saio - com - você - entendeu?

– Tá, tá, dá pra parar agora? A gente ta quase chegando.

Eu fiz cara feia e coloquei o cinto novamente. Voltei a olhar pela janela e nós ficamos sem nos falar até que Leonard parasse o carro. Era um posto no meio da estrada, bastante colorido e iluminado. Parecia ser um lugar legal pra se comer alguma coisa. Provavelmente lá teria capuccino também, o que me animou bastante.

– Chegamos. Agora sim, a senhorita pode sair do carro.

E num ato teatral, Leonard destrancou as portas. Eu ainda estava irritada e o ignorei, apenas saindo do carro sem falar nada. Então entramos na loja de conveniências do posto – que era bem grande por sinal, praticamente um café – e fomos escolher o que pediríamos. Não havia muita gente apesar de ser um posto para viajantes, e isso era bom. As coisas lá também pareciam ser deliciosas e fiquei em dúvida sobre o que pedir. Acabei pegando um salgado e um capuccino e Leonard fez o mesmo, apenas trocando as bebidas. Ele pediu uma coca-cola.

– Que tal sentarmos ali?

Leonard apontara para a mesa do canto, que ficava ao lado de uma parede de vidro. Dava pra ver as luzes dos carros que passavam rapidamente pela estrada, daquele lugar. Fiz sinal positivo com a cabeça – já que minhas mãos estavam ocupadas segurando o pedido – e nos sentamos. Começamos a comer e não conversamos muito, mas Leonard ficava me observando vez ou outra. Quando terminamos, ele iniciou uma conversa.

– O que fez hoje á tarde?

– Dormi.

– Ah.

– E você?

Ele sorriu antes de responder.

– Fiquei tentando encontrar um caminho que me levasse até você.

– E conseguiu ?

– Não, eu me perdi.

Então o silêncio prevaleceu novamente e Leonard começou a prestar atenção nos carros que passavam lá fora.

– Sabe Leonard... Me desculpe.

Ele passou a me fitar, assim que ouviu minha voz chamando-o.

– Pelo quê?

– Por ficar presa ao passado, e não ser capaz de viver o presente.

– Você ainda pode mudar o futuro.

– Eu não quero.

– Você não sente vontade de fazer isso?

– Eu sinto, mas eu não posso.

– Porque não?

– Não posso abrir mão do Tony. Se eu me apaixonar por você, sinto que a lembrança e sentimentos que eu tenho por ele vão se tornar cada vez menores a ponto de desaparecerem.

– Você só precisa deixar sua janela aberta.

Eu demorei até responder. Não tinha certeza se deveria ser honesta, mas acabei sendo.

– E se eu me esquecer?

– Eu me lembrarei por você.

Então Leonard pediu um doce quente para nós e ficamos sentados, esperando que ele chegasse. Não conversamos muito, apenas coisas banais – elas estavam fazendo bastante parte do meu dia – como detalhes sobre a loja e o que tinha para vender nela. De repente, Leonard - que estava sentado á minha frente – puxou minhas mãos para perto e começou a esfregá-las com as suas.

– Está frio. – ele dissera com um sorriso calmo.

Estava realmente frio. Ao contrário das minhas, as mãos de Leonard estavam bem quentes e isso me confortou. Eu não tive vontade de afastá-lo. Era a sensação do capuccino de novo. E embora eu tivesse tomado um á pouco tempo, mesmo sendo um dia de frio, a sensação das mãos dele esquentando as minhas era estranhamente melhor e mais aquecedora do que qualquer bebida quente. Ficamos assim até os doces chegarem, e depois de comê-los pedimos a conta.

– Ei Kate... Me desculpa.

– Leonard começou a dizer conforme íamos em direção ao carro.

Eu estava confusa.

– Pelo quê?

– Por esse ser o ponto máximo. – ele me fitou enquanto andávamos – Ao contrário de Peter Pan que pôde levar Wendy até a Terra do Nunca, o mais longe que eu posso te trazer é até aqui.

Então eu o fitei também e sorri.

– É o suficiente Leonard. Eu não pretendia ir mais longe do que isso.

Entramos no carro e ele deu partida. Ainda teríamos quase uma hora até chegarmos em casa e já passava das dez, mas eu não estava me preocupando. Para minha surpresa Leonard ligara o rádio dessa vez, ele colocou um cd e uma música começou a tocar. Ela era bonita.

– Que música é essa? – não pude deixar de perguntar.

– É aquela, sobre a qual te falei hoje. A que me faz lembrar de você.

Então eu fechei os meus olhos e concentrei-me em escutá-la. Permaneci assim, até a voz de Leonard me fazer abrir os olhos.

– Você se parece com ela.

– Ela quem?

– Konstantine.

Ah... Então daí que vem o confusão com K?

A música era comprida, mas eu não me enjoei dela por um segundo sequer, e também não me lembrei do Tony. Nós não dissemos nada depois que ela acabou e eu apenas permaneci de olhos fechados. Era confortável e eu não me sentia sozinha. Nossos silêncios, faziam companhia um ao outro. Fomos assim até a minha casa e quando chegamos, eu não tinha a menor vontade de entrar.

– Ei... Você quer que eu fique com você?

Olhei surpresa com a proposta de Leonard, que tinha acabado de parar o carro.

– Eu não vou tentar nada, eu prometo – ele parecia estar tentando se defender de uma acusação inexistente – Se você quiser eu só coloco o carro dentro da sua garagem e durmo nele mesmo-

– Está tudo bem Leonard, pode entrar.

Agora você pode estar pensando que eu sou inconseqüente por deixar um garoto – por mais que seja o irmão gêmeo do Tony – entrar na minha casa quando meus pais não estão, mas a verdade é que estar lá dentro sozinha, me assustava mais que a possibilidade de Leonard tentar fazer alguma coisa comigo.

Ele estacionou o carro na garagem – que estava vazia por motivos já mencionados – e então entramos. Tranquei a porta e coloquei a chave em cima da mesa que ficava ao lado da entrada. Leonard estava logo atrás de mim e eu o mandei se sentar.

– Se sinta livre pra pegar qualquer coisa na cozinha ou ligar a TV. Vou tomar banho e já volto.

Ele assentiu com a cabeça e eu subi. Levei um pijama comigo no banheiro e deixei o de Leonard separado em cima da cama – ainda havia algumas roupas do meu pai em sua gaveta. Devo ter demorado uns vinte minutos pra tomar banho e trocar de roupa, já que eu ficara pensando em mil e uma coisas e quando percebia estava quase virando vapor embaixo do chuveiro. Desci as escadas com o pijama de Leonard e ele ficou parado no final dela, me esperando.

– Aqui – entreguei a roupa á ele - você pode se trocar lá em cima se quiser.

– Obrigado. – ele pegou o pijama das minhas mãos e foi até a sala de estar.

Eu o segui e sentei-me no sofá de dois lugares, deixando o de três para que Leonard deitasse e dormisse, mas ele não o fez.

– Você não vai dormir? – perguntou, preocupado.

– Sim, já vou subir.

Me olhou desconfiado.

– Você está se sentindo tão sozinha assim?

– Não, eu só vou esperar você dormir pra ter certeza de que não vai fazer nada comigo.

Tentei mentir, mas Leonard sempre conseguia ver através do que eu falava. Ele suspirou, como quem não acredita no que está ouvindo, e deixou seu pijama de lado. Se levantou e veio na minha direção, ainda com olhar descrente.

– Ei, o que pensa que está fazendo?! – gritei assim que senti seus braços me pegando no colo.

– Eu vou te levar pro seu quarto.

– Me põe no chão Leonard! Já disse que vou esperar você dormir! – parecia uma criança esperneando, ainda mais pelo fato de estar sendo carregada escada acima por outra pessoa.

Mas Leonard me ignorava como sempre fazia, e me levou até o quarto, colocando-me na cama.

– Aqui, vê se dorme. Ele puxou o lençol e a coberta – ainda desarrumados pelo fato de eu ter dormido a tarde – e me cobriu.

– Eu não estou com sono.

– Não se preocupa – ele acariciou meus cabelos – Eu fico aqui até você sentir que está com sono.

– Geralmente se fica até a pessoa dormir.

– Não me peça pra ficar num quarto com você dormindo e não te atacar. Eu poderia tentar alguma coisa então acho mais seguro você me avisar quando estiver com sono.

– Tá.

Pelo menos ele era sincero. Então nós ficamos conversando um bom tempo. Sobre a escola, a Annie, o Lucas, nossos pais. Era difícil conversarmos assim e fazia tempo que alguém se importara em ouvir minhas histórias. Talvez por isso eu tenha gostado tanto daquilo. Eu estava gostando cada vez mais de passar o tempo com Leonard e de estar perto dele. E quanto mais próximos nós ficávamos, mais distante do Tony eu me sentia. De fato, quando isso acontecia, eu me sentia menos solitária.

Será que um dia... Quando eu me lembrar de você... Serei capaz de não me sentir sozinha? Será que algum dia... Serei capaz de me lembrar de você sem ter que sentir esse aperto no meu coração?

– Leonard... Porque eu tenho que superá-lo... Quando eu não quero fazer isso?

– Acho melhor você não pensar muito sobre essas coisas agora Kate. Só vai te deixar mal.

– Você está certo, me desculpe. Acho melhor eu ir dormir.

– Tudo bem.

Leonard então se levantou da minha cama, apagou a luz e saiu, desejando-me antes uma boa noite. Não demorou muito até que eu dormisse e eu não sonhei com nada perturbador. Mas não consegui dormir muito de fato, já que havia dormido á tarde toda, acabei acordando as quatro da manhã e não consegui mais pegar no sono. Me levantei e desci as escadas, Leonard dormia profundamente no sofá da sala. Caminhei até ele e me sentei no chão, para observá-lo melhor enquanto dormia. Ele se parecia ainda mais com o Tony nesse estado. Mas apesar disso, era o Leonard quem eu via ali na minha frente, dormindo tão calmo. Era ele quem meus olhos enxergavam. Fiquei de joelhos para que me aproximasse mais e deixei meus dedos se entrelaçarem com seus fios de cabelo, conforme os acariciava. Então minha mão foi deslizando, até que pudesse desenhar seu rosto com ela. Eu sabia que ele era bom demais para uma covarde como eu. E que eu sou uma pessoa muito complicada que não tem nada de especial, e além de tudo, não dou a ele o devido valor. Será mesmo que quando ele descobrir o quão patética eu sou, continuará a sentir o que diz que sente agora? Não seria egoísmo da minha parte ficar ao lado dele, quando ele merece coisa muito melhor do que eu? Há uma infinidade de possibilidades por aí, e eu o estaria privando disso, não é?

– Parece que estou sendo atacado...

Ouvi sua voz sonolenta interromper meus pensamentos. Ele abrira os olhos sorrindo de canto, e me fitara. Parei imediatamente o que fazia e tentei me levantar, mas Leonard me segurou pelo pulso com sua mão direita e se apoiou em seu cotovelo esquerdo, de modo que ficasse á minha altura. Puxou-me para mais perto e sorriu, se aproximando lentamente até alcançar meus lábios. Ele gentilmente me beijou, calma e demoradamente. Eu não me importei e nem tive vontade de fugir ou impedir aquilo de acontecer. Era como se uma refrescante brisa da manhã atravessasse meu peito, me fazendo esquecer de todo e qualquer problema que fosse assombrar meu dia.

– Ah... Parece que eu encontrei. – ele falou sorrindo, o mesmo sorriso encantador do dia anterior, quando terminou de me beijar.

– O quê? – perguntei calma e curiosa, meu pulso ainda era segurado por Leonard.

– O caminho até você. – e seu sorriso se abrira mais, quase me deixando sem fôlego.

Era como se aquele sorriso fosse só meu, e só de pensar nisso, sentia... Borboletas? No meu estômago, talvez. Não conseguia pensar em um modo de descrever tal sensação.

– Acho melhor você ir pra sua casa.

Não o estava expulsando, apenas sendo cuidadosa.

– Tem razão, preciso chegar lá antes que meu pai saia para trabalhar e se dê conta de que não dormi em casa.

Ele se levantou e foi trocar de roupa. E eu fiquei lá sentada no sofá, ainda viajando com o beijo. Só me dei conta disso porque Leonard voltou estranhamente rápido.

– Te vejo na escola? – ele disse sorrindo antes de sair.

– Sim. Tchau Leonard.

– Tchau.

Então ele fechou a porta e saiu. Fiquei espiando da janela até que ele saísse completamente com o carro da garagem e depois disso fui comer alguma coisa. Aquele bilhete na geladeira nem me incomodava mais e eu fazia questão de deixá-lo ali, como prova de que não me importava. Após comer eu troquei de roupa e arrumei meu material, com os livros que seriam usados naquele dia, e como ainda era muito cedo para sair de casa liguei a TV e fiquei flutuan- quer dizer, assistindo até dar o horário de ir para a escola. Eu estava sinistramente feliz e até cumprimentei algumas pessoas que sempre faziam o mesmo caminho que eu. Como havia chegado mais cedo, ainda não havia tantos alunos na escola, e após colocar meu material no lugar onde sentava, saí da sala e fiquei no corredor. Mas não esperava ninguém em especial, claro que não. A verdade é que se eu achava que meu dia estava sendo surpreendente, não sabia que seria tanto. Uma cena inimaginável aconteceu, quando consegui discernir as duas pessoas que vinham em minha direção. Á umas três salas de distância da minha eu consegui ver duas pessoas, pareciam bem felizes juntos e um sorriso enorme se estampou em seus rostos quando me viram com a maior cara de surpresa. Lucas e Annie. E não pude deixar um sorriso maior do que o deles inconscientemente se abrir, quando me dei conta de que estavam de mãos dadas.


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Notas finais do capítulo

Olá,

Primeiramente gostaria de pedir desculpas para todos que acompanham essa história, por ter ficado sem atualizá-la por tanto tempo. Pra ser sincera, fiquei muito surpresa quando entrei na conta do nyah e vi tantos comentários e pedidos para que eu continuasse a escrever. Sinceramente, não pensava que tantas pessoas gostassem. Fiquei muito feliz e, justamente por isso, resolvi que farei o possível para postar mais capítulos e dar a essa história o final que ela merece. Obrigado a todos pelos comentários e incentivos, não consigo nem explicar o quanto isso significa pra mim. Infelizmente a próxima atualização pode demorar um pouco, já que terei que reler toda a história e corrigir o que há de errado.