Lumos! Interativa escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 16
O dia em que as estrelas caíram.


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!
Antes de tudo desculpo-me (mais uma vez) pela demora. Eu demorei duas semanas para fazer esse capítulo, escrevendo de pouquinho em pouquinho (e vocês vão entender o porquê de tantos pouquinhos, hihi).
Mas temos um capítulo grande para compensar, queridos!
Espero que gostem :3



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E então, chegara o grande dia da chuva de meteoros.

Os alunos reuniram-se no gramado que futuramente se tornaria o campo de Quadribol, separando-se em pequenos grupos. Mesmo que nos primeiros anos de Hogwarts não houvessem tantos estudantes quanto atualmente, ainda eram muitos. Era impreciso dizer que todos estavam lá e devido a constante movimentação, não dava para se saber quem permanecera assistindo a chuva até o final.

Talvez isso tenha contribuído para a tragédia que viria depois. Ou não fizesse nenhuma diferença, no fim das contas. Há um consenso sobre as coisas ruins: quando elas estão fadadas a ocorrer, não há nada que se possa fazer para impedi-las.

 

Uma parte dos protagonistas de nossa história se encontrava em um grupo pouco maior que os outros. Max elevava a voz falando sobre deuses fraticidas com cabeças de animais¹, e parecia muito empolgado com o assunto. A despeito da atitude arrogante que demonstrara alguns dias atrás, Katherine estava um pouco mais distante, a atenção voltada para a história, enquanto tirava algumas notas de sua lira. Andrômeda e Anastácia usavam o feitiço Lumos para manter as pontas de suas varinhas acesas, oferecendo assim uma parca luminosidade, até que seus colegas chegassem com as lanternas. Charlottie mantinha os olhos no céu, momentaneamente desligada de todos os outros. Alana chegara correndo naquele mesmo instante, puxando esbaforidamente um Glen descrente pela mão e trazendo as lamparinas prometidas.

— Oh… vocês demoraram. — Ani saudou com um aceno de cabeça. — Mas, e o Connor?

Alana deu de ombros. — Acabamos nos separando. Espero que ele volte logo, estava muito empolgado com os meteoros…

— Pra quem não se empolga com quase nada, perder esse tipo de evento seria uma tolice gigantesca. — Kat alegou, tocando uma última nota de seu instrumento.

— Ao menos ele ainda pode vir. Ian e aqueles outros não tiveram a mesma sorte.

Andrômeda se referia a um pequeno grupo de alunos (dentre eles o dito grifinório) que receberam uma tarefa dos Fundadores e tiveram de abandonar a ideia de assistir a chuva de meteoros. Outros poucos, como Cateline e Dimitry, ficaram um tempo do lado externo da escola e acabaram retornando para as devidas Salas Comunais, por falta de empolgação ou mero cansaço.

— O que mandaram eles fazerem, afinal? — questionou Max, parando sua história para entrar na conversa.

Enquanto Alana e Glen entregavam as lamparinas e as duas responsáveis por iluminar o espaço ditavam um Nox em baixo tom, Charlottie abaixava a cabeça e pensava sobre o assunto. Ninguém sabia exatamente o que o grupo de Ian estava fazendo. Sentia-se um pouco aliviada de não ser forçada a encará-lo tão cedo, mas não conseguia evitar uma certa curiosidade. Além de estar com um mal pressentimento desde cedo.

— Isso não importa, não é? — Katherine apoiou a lira sobre os joelhos e espalmou as mãos. — A questão é que eles estão trabalhando enquanto estamos aqui relaxando. Quase tenho vontade de rir disso.

— Kat é cruel. — Suspirou Alana.

— Repita isso, sua pequena…

— Ei, ei, vamos relaxar! Estamos aqui para nos divertir, não para brigarmos. — Anastácia tentou acalmar os ânimos.

— E quem aqui está discutindo? — retrucaram Alana e Kat de volta, a primeira num tom inocente enquanto a segunda destilava ironia.

Glen havia sentado-se ao lado de Max e agora encarava a cena com certa surpresa. — Eles são enérgicos…

— Ah… você se acostuma.

O aborto inclinou a cabeça um pouco, pensativo. Seus olhos percorreram aquele grupo de pessoas tão diferentes por alguns segundos, antes de subirem para o firmamento. — Não tem mesmo problema eu estar aqui, sendo que sou…

— Nem pense nisso. — Max cruzou os braços e piscou um dos olhos para Glen. — Essas coisas não importam realmente, sabe? Se os Fundadores te aceitaram em Hogwarts, pra fazer seja lá o que for, quer dizer que é uma boa pessoa. E… — ele fez uma pausa franzindo o cenho. — Acho que perdi minha linha de raciocínio… Mas, de qualquer forma, a Alana gosta de você, e nós também… embora seja uma maneira diferente de gostar.

Glen sentiu o rosto esquentar e sua cabeça desceu tão rápido que acabou tendo um torcicolo. Para disfarçar seu constrangimento, usou isso como desculpa para abaixar ainda mais os olhos, massageando o pescoço dolorido. — Mas de que diabos você está falando?

— Oh, você não sabia? — Max piscou os olhos, mudando de assunto de maneira praticamente instantânea. — Bem, basicamente o que quero dizer é que você é um de nós agora.

Aquilo surpreendeu Glen um pouco. Ele não esperava que pudesse fazer qualquer tipo de amizade num lugar onde era um párea. Foi meio… comovente. Antes que pudesse responder, a voz melodiosa de Katherine singrou o ar como um chicote. — Ei, o que vocês dois estão cochichando ai, queremos saber!

— Ah, estou só dando as boas vindas ao Glen.

— Boas vindas pra que, você é idiota?

— Céus… como estão alterados hoje. — queixou-se Andrômeda, revirando os olhos azuis. — Façam silêncio, estão sendo incômodos!

Em meio a miríade de protestos que sucederam a essa afirmação, incluindo um Max que levantara parecendo ofendido e se aproximava mais das outras para discutir, Alana achegou-se a Glen e ajoelhou-se ao seu lado. — Não vejo o seu irmão.

— Ele não gosta desse tipo de evento, é bem… reservado, eu diria. — Aparentemente, o rapaz esforçava-se para não pensar no que Max acabara de dizer.

Gilbert era o irmãozinho mais novo do zelador, pertencente à Lufa-Lufa. Graças ao fato dele ter sido convidado a estudar em Hogwarts àquele ano, Glen havia recebido seu cargo na escola também. Alana tinha que admitir que para uma criança do primeiro ano, ele era muito calado e solitário. Não saberia dizer se alguns dos seus colegas de casa o importunavam por conta de Glen… mas, com a resposta do rapaz, chegara a conclusão que o pequeno simplesmente não sabia se enturmar com as pessoas.

Bom, talvez ela pudesse dar um jeito nisso, outro dia. Não adiantaria nada forçá-lo, certas coisas têm de ser feitas bem devagar. — Acho que ele não sabe o que está perdendo.

— Não mesmo. — Glen abriu um sorriso bem sutil, erguendo a cabeça para o céu. Uma estrela cadente cruzou seu campo de visão. — Está começando.

Alana, que passara uns bons minutos observando o rosto dele atentamente, também levantou o olhar. Pequenos traços brilhantes iam atravessando o céu, aumentando a quantidade gradativamente. Agora as luzes riscavam o firmamento em arcos curtos e bem juntos. Um sorriso largo despontou em seu rosto e a jovem riu de prazer. — Tão lindo!

Ao passo que ela e tantos outros voltaram sua atenção para o espetáculo sobre suas cabeças, Glen teve um vislumbre daquele sorriso tão adorável. Pensou em dizer que não era apenas a chuva de meteoros que era linda, mas conteve-se. Talvez não fosse um momento próprio para tal coisa, havia muitas pessoas a volta. No entanto, ele timidamente enlaçou o dedo mindinho no dela.

A jovem olhou-o novamente, o sorriso diminuindo um pouco de intensidade, mas ainda caloroso o bastante para fazê-lo corar. — Ei, Glen…. as estrelas estão caindo lá em cima.

— Eu sei.

Ambos se encararam por alguns instantes e começaram a rir sem motivo algum, desta vez erguendo os rostos ao mesmo tempo para o fenômeno… as mãos dadas sobre a grama.

Katherine revirou os olhos para a cena, recostando-se em Andrômeda para recomeçar a tocar sua lira. — Ah, por que vocês não me deixaram trazer um par também?

— Porque você troca de par como troca de roupa. — reclamou a parceira, os olhos fixos no céu.

— Além do mais, duvido que você conseguiria alguém legal para te acompanhar depois daquela aposta com Ian. — Max nem se deu ao trabalho de desviar os olhos das estrelas para fitá-la. Anastácia estava de costas para ele, usando-o como apoio para as suas próprias.

— Max! — ela murmurou em tom de aviso, observando Charlottie ansiosamente. Depois dele ter-lhe confidenciado o que Ian fez à grifinória, foi incapaz de não sentir-se chateada por ela.

Lottie abriu as mãos em um sinal tranquilizador. — Estou bem. Não é preciso que preocupem-se comigo.

— Desculpe mais uma vez, Lottie. — Max suspirou, passando delicadamente a mão pela nuca, com cuidado para não acertar Ani sem querer. — Mas sabe… talvez vocês dois devessem conversar seriamente… sobre a situação.

— Não estou preparada para um diálogo com aquele narcista no momento. Porém posso fazê-lo, algum dia.

O rapaz engoliu em seco com a resposta e deixou escapar uma risada nervosa.

Acho que Ian está muito ferrado…

— Nem sinal do Connor, ainda. Espero que ele tenha conseguido um bom lugar. — Ani piscou os olhos calmamente, parando de espiar os arredores para focar o firmamento.

Katherine, que já fazia menção de deitar a cabeça no colo de Andrômeda, desequilibrou e acabou caindo de cara no chão depois que a colega se levantou. — Ei, que tal avisar antes!?

— Desculpe. — ela entregou a lamparina para Charlottie, que estava mais próxima, e acendeu a varinha mais uma vez. — Vou buscá-lo.

— Mas você vai perder a chuva! — Anastácia argumentou.

— Vou ser rápida. — foi sua resposta, e logo a sonserina já rumava de encontro ao castelo, lançando ocasionais olhares para cima.

 

X-X

 

A primeira vítima não ofereceu resistência alguma. Ela encontrou-a vagando pelos corredores numa tentativa de vislumbrar a Chuva de Meteoros sem sair do castelo. Por que aquela criança idiota simplesmente não foi com os outros para fora? Contudo, aquilo era bom. Havia combinado com seu parceiro que começariam de baixo, com os alunos novatos do castelo. Progressivamente aniquilariam poucas pessoas de cada ano, até que o caos se instalasse e todos começassem a desconfiar um do outro. No fim, quando muitos desistissem de Hogwarts e a situação estivesse insustentável, quando seus preciosos alunos jazessem em possas de sangue, só então os Fundadores cairiam.

Era uma ideia adorável. Ainda mais quando se podia culpar tantos outros indivíduos pela tragédia.

Ela chegara a verificar que o uniforme da vítima pertencia à Corvinal. Só então lançara a maldição Avada Kedavra, agarrando o corpo antes que ele tombasse e arrastando-o para um canto pouco escondido. Um já fora. Só faltava mais um.

Seu parceiro de crime se preocuparia com os outros dois. E então eles se encontrariam para dar o toque final… um que ninguém seria capaz de esquecer. Que assombraria os professores e estudantes de Hogwarts enquanto estes vivessem.

 

X-X

 

Ian apoiou a mão na empunhadura da espada, demonstrando extrema irritação. Ele não podia simplesmente negar um pedido de Godric, mas ficar preso no castelo enquanto a maior parte dos alunos estava divertindo-se do lado de fora era muito frustrante. Ainda que pudesse sentir certa tensão no ar, como a calmaria que precede um temporal, o mal humor não o abandonava.

Os Fundadores separaram seus alunos mais capazes para manter vigília nos corredores de Hogwarts, na esperança de evitar qualquer imprevisto. Com tantos alunos empolgados com a chuva de meteoros, optando por assisti-la ao ar livre, a escola ficava vazia demais… e, consequentemente, um intruso poderia fazer o que bem quisesse lá dentro, e ninguém perceberia.

Ele e os outros foram aconselhados a não enfrentar qualquer agressor levianamente. A menos que fosse necessário, deveriam recuar e transmitir a mensagem para algum dos Professores, de maneira que eles pudessem intervir de maneira rápida e vidas fossem polpadas.

O rapaz expirou ruidosamente, erguendo a cabeça para observar o céu pela janela mais próxima. A chuva já havia começado, e não havia nem sinal de alguém suspeito, pelo menos no setor em que montava guarda. Achava que seria uma noite tediosa e monótona, antes de perceber um vulto pelo canto dos olhos. A lâmina foi desembainhada em segundos e agora estava apontada para o pescoço de um Dimitry muito calmo.

Os iridescentes olhos vermelhos seguiram a arma de sua ponta até o punho, então da mão que a segurava até o rosto de Ian. Ele ergueu uma mão em um gesto de saudação sonolento. — Olá. Não acho que seja hora ou lugar para seus treinos com espadas.

— Ah, é só você. — o ruivo suspirou, um pouco aliviado. — Não estou treinando.

— Então o que está fazendo?

— Isso não é da sua conta. — Ian ergueu as sobrancelhas, fitando-o atentamente. — E você? O que faz aqui dentro? Ninguém te convidou para ver a Chuva de Meteoros?

— Convidaram. Eu dormi demais e perdi a noção do tempo… e pare de me olhar com esse ceticismo, é irritante.

— Você dorme o tempo todo, Dimitry.

— Meu corpo fala mais alto do que meu cérebro com relação a isso, não é como se eu conseguisse evitar. — elevou a mão para esconder um bocejo. — Não sei se volto para a Sala Comunal ou se vou me encontrar com os outros…

— Já está de pé mesmo, deixe de ser preguiçoso. — Ian revirou os olhos, assumindo uma expressão mais séria. — Mas tome cuidado.

— Com o que? — Dim inclinou a cabeça para um dos lados, confuso com o aviso.

— Eu sei lá… só não estou com um bom pressentimento. — o ruivo decidiu não dizer o que realmente estava fazendo sozinho no corredor com uma espada. — Decida para onde vai e fique lá.

— Essa sua mania de grandeza…

— Você quer apanhar por acaso?

— Absolutamente não! — o rapaz ergueu ambas as mãos em um gesto pacifista e continuou seu caminho, acenando uma despedida para Ian. — Boa sorte com seja lá o que for que estiver fazendo.

Ian não respondeu, limitando-se a resmungar consigo mesmo e cruzar os braços novamente, apoiando-se na parede e vendo o amigo desaparecer de sua vista.

E permaneceu preocupado…

 

X-X

 

Ele adentrou o Salão Comunal da Lufa-Lufa, praticamente vazio. Havia apenas um casal de alunos do primeiro ano jogando xadrez de bruxo, o garoto perdendo muito feio para a menina. Ele, que estava numa posição em que ficasse de frente para a porta e poderia perceber qualquer um que entrasse, foi o primeiro a morrer, sem ter sequer tempo de erguer a cabeça do tabuleiro para vislumbrar o visitante. Sua parceira de jogo, chocada pela cena que acabara de presenciar, foi assassinada em seguida, sendo calada a força em meio a algo que poderia ser um grito.

Agora ele estava preocupado. E se alguém tivesse escutado o barulho?

Com cautela, puxou uma capa de invisibilidade que conseguira a algum tempo atrás do meio de suas vestes. Era apenas um artefato comum, considerando a famosa capa pertencente à lenda dos Três Irmãos, mas seria útil por hora. Dirigiu-se até os corpos, carregando-os até o chão e cobrindo-os com o tecido, deixando-os desta forma escondidos. Então puxou a varinha e sibilou baixinho:

Wingardium leviosa.

 

Tateando no ar, levantou um pouco a capa para ter certeza que o feitiço surtira o resultado desejado e sorriu. Então seguiu seu caminho, trazendo as duas vítimas consigo, até o ponto de encontro onde marcara com sua parceira.

Não foi difícil evitar os guardas que Godric havia sabiamente espalhado pela escola. Era preciso apenas sorrir e acenar, manter os corpos longe do alcance deles e dizer que estava saindo para ver a Chuva de Meteoros.

Como as pessoas eram tolas…

Para seu azar, no entanto, tinha que surgir alguém para atrapalhar seus planos. Alguém definitivamente conhecido…

Connor cruzara seu caminho exatamente na hora em que ele virava uma esquina, sem querer trombando com as duas crianças mortas, o que fez a capa da invisibilidade escorregar…

 

X-X

 

Connor era do tipo que se perdia com facilidade. Seu mal hábito de desligar-se do mundo ao redor garantia que, de duas em três vezes, ele acabasse separando-se de possíveis companheiros ou tomando um caminho errado, descobrindo-se em um lugar que não fazia ideia de onde ficava. Isso acontecera pelo menos umas três vezes desde que entrara no castelo com Alana e Glen para buscar as lamparinas, o que significava que sim, ele não sabia como havia parado na torre de Astronomia.

Ele olhou para fora de uma das janelas, notando as estrelas caírem. Ali era um bom local para vê-las, mas havia prometido a Alana que assistiria ao evento junto aos outros. Promessa era promessa, independente de quão estúpido isso parecia. Então deu um giro de cento e oitenta graus e caminhou até a saída da enorme sala, dizendo a si mesmo que, desta vez, prestaria atenção.

O rapaz não estava chateado por terem deliberadamente se esquecido dele. Até imaginava que, em algum momento, alguém voltaria para buscá-lo. O que era uma grande perda de tempo, afinal a Escola era enorme… achar qualquer um lá dentro sem saber por onde começar a procurar não era um trabalho fácil.

Connor suspirou, lamentando sua falta de percepção. Apressou o passo em direção a uma virada do corredor, e teria mantido-se nesta velocidade não fosse o obstáculo invisível no qual bateu contra. Havia algo de tecido ali, que usou para tentar evitar a própria queda, e mostrou-se inútil. Uma figura aparecia em sua visão periférica, mas não foi isso que chamou sua atenção… e sim as crianças que levitavam, os corpos numa posição paralela ao chão e um ao lado do outro, como se dormissem.

Ignorando-se as expressões surpresas.

Aqueles alunos não estavam dormindo.

E não estavam paralisados, também.

Antes que pudesse raciocinar melhor sobre o assunto ou sequer puxar a própria varinha para se defender, foi capaz de assimilar um clarão.

E então, havia apenas escuridão…

 

X-X

 

Andrômeda estava perdendo a pouca paciência que ainda tinha.

Ela estava procurando por Connor a um bom tempo, e não havia rastro dele. A este ponto já começava a preocupar-se com seu bem-estar… será que tinha sofrido algum tipo de acidente? Rolado uma das escadas, talvez? Como elas viviam mudando, era natural que uma pessoa distraída como ele acabasse sendo prejudicado.

Lançou um olhar por sobre o ombro. A chuva de meteoros tornava-se mais esporádica agora, sinalizando seu fim.

Não era algo que a incomodasse, realmente, ter visto aquilo ou não. Só irritava-se com o tempo que perdera indo de um lado a outro, quando podia ter mantido-se em seu dormitório, longe dos olhos e ouvidos alheios, afogada em seus próprios pensamentos. Pensamentos estes que iam para rumos cada vez mais obscuros naqueles últimos dias, mas o que haveria de fazer? Não é como se pudesse mandar em tudo o que imaginava.

Ela suspirou, sentindo-se derrotada. Talvez devesse parar de procurar. Cedo ou tarde o “insensível que tirava boas notas” apareceria, e ainda zombariam dela por ter ficado paranoica por tão pouco.

Por outro lado, se algo realmente sério tivesse acontecido…?

Alguns estudantes estavam estranhos durante aquele dia. Até mesmo os fundadores pareciam incomodados com algo… Godric e Helga, os mais sociáveis, estavam junto aos alunos do lado de fora, mas Salazar e Rowena negaram-se a saírem do castelo.

Andrômeda mordeu o lábio inferior com força.

Não tinha acontecido nada… nada de mal aconteceria.

A imagem de seu irmão apareceu em sua mente.

A náusea escalou seu estômago, e a jovem tapou a boca com a mão, controlando-se. Não podia deixar-se vencer pelo desespero mais uma vez. Era ridículo, e um sinal insuportável de fraqueza. Slytherin jamais permitiria tal coisa. Ela mesma nunca admitiria o quanto a morte do irmão deixara-a fraca e inconstante.

Tentando fazer sua respiração voltar ao normal, acabou tropeçando em algo. Ela sacudiu para frente e para trás, usando os braços para equilibrar-se novamente, e apenas quando conseguiu olhou para baixo.

Pernas longas…

Seus olhos seguiram a direção onde estava o resto do corpo.

Quem era?

A cor fugiu do seu rosto imediatamente quando reconheceu Connor.

Num movimento instintivo, And ajoelhou-se em frente a ele e estendeu a mão para tocar sua nuca. Um filete de sangue escorria pelos cabelos negros, embora não parecesse um ferimento grave… talvez tivesse batido a cabeça com muita força, ou alguém acertara-o. A outra mão foi deixada bem próxima a seu nariz e boca, de maneira que conseguisse sentir sua respiração.

Estava vivo.

Andrômeda viu-se genuinamente aliviada com essa constatação. Ela sacudiu-o suavemente pelos ombros, até que Connor geme-se e suas pálpebras abrissem. Confuso, ele percorreu todo o espaço ao redor dos dois com os olhos, tentando entender o que fazia deitado naquele chão duro e desconfortável.

— O que houve?

— Eu que pergunto o que houve! O que está fazendo jogado aqui no meio do caminho?

Ele franziu o cenho, fazendo uma careta em seguida. O machucado da cabeça devia doer. — Não sei… não lembro…

— Você devia parar com essa mania de sumir do nada! — And protestou. Teve vontade de gritar e dizer que estava preocupada, que pensara que ele estivesse morto. Preferiu apenas apertar um pouco mais os ombros dele, em seguida ajudando-o a levantar-se. Connor bambeou um pouco, tomado por tontura, mas ela não permitiu que caísse. — Vamos… Beatrice deve estar disponível, vamos vê-la.

O rapaz assentiu brevemente com a cabeça e, sem ter mais o que dizer, deixou-a escorá-lo até a Enfermaria.

 

X-X

 

Ela observava o parceiro de forma duvidosa, enquanto ambos trabalhavam sobre os cadáveres. Já havia recolhido o último – um garoto recluso, da Grifinória – e encontraram-se em meio a um corredor que não estava sendo vigiado. Para aqueles que estavam do lado de fora, era inevitável passar por aquele caminho na volta. A chuva de meteoros estava próxima de seu fim, e eles dos precisam terminar o serviço o quanto antes.

As cabeças foram separadas com precisão cirúrgica.

Ela molhara a ponta dos dedos no sangue que escorrera dos cortes limpos, formando a seguinte frase no piso:

Os fundadores serão os próximos.

Era uma mentirinha.

Muitos estudantes seriam sacrificados até que chegasse a vez dos quatro. No entanto, aquilo serviria para deixá-los cada vez mais inquietos.

— Deixas-te o garoto ir?

O outro deu de ombros, enquanto ajeitava os corpos com o cuidado de não sujar-se no líquido carmesim.

— Ainda não é a hora dele. Deixarei que seja sacrificado no final.

— Mas matou aquela garota antes…

— Ela era alguém que todos esperavam que fugisse. Para dizer a verdade, estava tentando fugir quando nos encontramos. Connor não… seria problemático para mim sumir com ele agora.

— Se tens tanta certeza. — ela abriu um sorriso macabro em resposta. Ao limpar os dedos sujos em um pedaço de tecido, deu uma volta em seu próprio eixo. — De qualquer forma, usar a aparência de alguém morto é… ligeiramente desconfortável.

— Você pode abandoná-la quando achar melhor. — outro dar de ombros. — Mas mantenha aquele escalpo guardado, nunca se sabe quando precisaremos.

— Manterei. — a pessoa usando a aparência de Ana piscou para ele. — Achei estranho não terem me reconhecido.

— Eu disse para ser discreto exatamente por conta disso. — ele levantou-se, batendo as mãos e admirando o trabalho de ambos. — Creio que esteja bom o bastante.

— Absolutamente macabro, na minha opinião.

— Então vamos seguir caminho. Preciso ver a reação de todos… — e o sorriso dele tornou-se ainda mais perigoso que o dela. — De camarote, preferencialmente.

 

X-X

Ano de 2017

 

— A chuva de meteoros alegrou a muitos e deixou a maioria de nós estasiados com sua beleza, no entanto, quando voltamos para o aconchego do Castelo… — contava a Dama Cinzenta, num tom mórbido. — encontramos quatro corpos. Eles estavam ajeitados em volta de uma frase ameaçadora, e suas cabeças tinham sido removidas. Os primeiros que avistaram essa atrocidade gritaram, o que chamou todos os outros para mais perto. Como podem bem imaginar, foi um pequeno inferno…

O fantasma uniu seus dedos pálidos a frente do corpo. Apesar do jeito indiferente que citava os acontecimentos, era possível notar uma expressão quase dolorosa em sua face. Seus olhos sem vida encararam o teto por algum tempo, antes dela fitar mais uma vez os três alunos que a escutavam.

— Soubemos da identidade dos alunos apenas um dia depois… Rebecca, da Corvinal, Gilbert, da Grifinória, e um casal de gêmeos da Lufa-Lufa, Adam e Ariana. Não havia um sacrifício da Sonserina, então começaram a dizer…

— Que era culpa de Slytherin? — questionou Dominique, arregalando os olhos.

— Ou de um de seus alunos. Podem imaginar, Salazar nunca foi uma pessoa que inspirava confiança.

— Mesmo assim, acusá-lo sem ter provas é ridículo. — protestou por sua vez Scorpius.

— Eu não estou afirmando nem negando a culpa dele. — O fantasma deu de ombros com simplicidade. — Lhes disse antes, não? Quem descobrirá o culpado serão vós mesmos. Estou apenas sendo fiel ao que ocorreu na época.

Benjamin, que mantinha-se em silêncio, cruzou os braços, encostou as costas contra a parede e abriu um sorriso amargo. — Não vejo nenhuma novidade nisso, desde sempre os Sonserinos são considerados culpados. Até aqueles que não cometeram nenhum crime são vistos com desconfiança.

Havia uma clara arrogância em sua forma de falar. Isso porque era uma verdade… aparentemente, a Sonserina era capaz de formar apenas vilões, pelo menos na mentalidade dos alunos de outras casas. E Benjamin não suportava aquela ideia.

— Eu não acho isso… — Dominique disse, quebrando o silêncio que se seguiu. — É claro que existiram pessoas ruins na Casa de vocês, mas não quer dizer que todos os sonserinos são ou já foram maus. Isso não faz o menor sentido. — Ela voltou-se em direção à Dama Cinzenta, endireitando o cachecol em seu pescoço. — Eu vou dar um palpite antes da hora. A Desgraça Rubra não é um integrante da Sonserina.

Aquela que um dia fora Helena estreitou os olhos para fitar a garota de cima a baixo. Então balançou metodicamente a mão. — Tanto faz.

— Como assim tanto faz, você não disse que não nos contaria se errássemos? — Scorpius resmungou, já perdendo sua paciência com a mulher outra vez. — Decida-se!

— Ah, mas ainda não é hora de revelar o culpado. Sua amiguinha pode mudar de opinião até lá, não é? — A Dama Cinzenta fechou os olhos. — Posso continuar?

O trio trocou olhares entre si, concordando em seguida.

Sonserina seria culpada do primeiro caos em Hogwarts?

Quem seriam os invasores, e por qual razão A Desgraça Rubra agira daquela forma, fizera aquela atrocidade?

Talvez fosse muito cedo para ter certeza…

 


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Notas finais do capítulo

Olá, olá ♥
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A imagem é da Andrômeda (ainda estou usando a imagem de Alice de "Alice Madness Returns" pra ela. Combina bem, não? :3).
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1- Quando Max conta sobre deuses fraticidas com cabeças de animais ele está referindo-se aos deuses egípcios.
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Antes que se perguntem, sim! Chegamos exatamente na cena do prólogo. Pensei em finalizar o capítulo de várias formas diferentes, na visão de três pessoas diferentes, mas no fim decidi colocar só uma menção. No próximo veremos as consequências da tragédia e como cada um se sentiu quando ela ocorreu... assim como as teorias que vão começar a surgir.
.
Dos quatro alunos mortos, dois já foram citados na história até agora. Um está bem óbvio, mas conseguem lembrar quem é o outro?
.
O trio do "presente" já está começando a criar suas suposições. O que vocês acham? Será um aluno da Sonserina infiltrado causando confusão outra vez? Alguém de outra casa? Ou outra pessoa que não faça parte de Hogwarts de fato?
Espero ansiosamente por suas teorias!
.
Eu não me lembro de outras coisas que deveria escrever por aqui, acho que é só isso mesmo por hora. -q
.
Agradeço aos que estão acompanhando a fic até aqui. Principalmente à LadyKimi e Low Key da Casa do Arco, que sempre deixam comentários maravilhosos sempre que podem. :3
.
Um beijo para todos vocês, e até a próxima. ♥



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