Deadly Hunt escrita por Lara


Capítulo 13
Problemas


Notas iniciais do capítulo

Oii Cupcakes ♥! Desculpe a demora mais uma vez. Essa é a primeira atualização de DH do ano, então espero que gostem.

Muito obrigada Juliana Lorena, Sweet Princess, Karen Claudino e Marluci pelos comentários super fofos no capítulo passado. Vocês são as melhores! Espero que gostem. Boa leitura...



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“Corro de você

Meu doce amor, não posso acreditar que vou

Correr para longe de você

Para esconder a minha dor

 

Não me abrace, não me segure

Não deixe isso, neste chão quebrado

Se você me ama, se você me ama agora

Não me abrace, não me segure”

 

Sandro Cavazza – Don't Hold Me

 

Capítulo XII – Problemas

 

֎

 

O inverno havia chegado com maior intensidade no país. A neve caia intensamente, cobrindo de branco a paisagem. Sentada em meu escritório, eu lia o último relatório entregue por Oliver sobre os testes realizados com a bactéria. Segundo o cientista, ele havia conseguido alguns avanços sobre a doença e identificado um certo padrão nos sintomas. No entanto, nós ainda estamos longe de descobrir uma forma eficiente de exterminar a bactéria.

 

Durante o período de pesquisa, foram analisados os casos de 200 pacientes com a bactéria nomeada Lienatobacter plaumannii (LP), de acordo com os critérios de inclusão. A maioria (59%) foi do sexo masculino, e a idade, em anos, oscilou de 0 a 12, com média de 6,8 e mediana de 7 anos.

O uso prévio de antimicrobianos foi considerado negativo quando presente nas 24 horas, e por pelo menos 24 horas antes do diagnóstico e início do tratamento da LP. Em 102 pacientes, foi possível detectar o uso prévio de antimicrobianos, cujo impacto no agente em hemocultura e cultura do liquor pode ser observado nas Tabelas 3 e 4, respectivamente. Dos 200 pacientes que morreram, identificou-se a resistência do organismo de crianças com idades entre 10 e 12 anos, comprovando que a idade pode influenciar no desenvolvimento da bactéria. [...]

 

Suspiro, sentindo meu estômago se embrulhar, desistindo de ler o restante do relatório sobre os resultados da pesquisa. Após receber meus sogros e conversar um pouco sobre o baile da noite, os enjoos e o cansaço voltaram a me atormentar. Deposito os papéis sobre a mesa e jogo o meu corpo para trás, deixando a cabeça erguida procurando diminuir o mal-estar que sentia no momento. Bebo um pouco do chá que Emmy havia preparado para mim na tentativa de amenizar o desconforto que sentia.

Olho para o notebook que estava sobre a mesa e coloco no último vídeo mostrado por Manu. Assisto ao vídeo da câmera de segurança até o instante em que o carro aparece e a imagem de Victor aparece na tela. Pauso a gravação e observo o rosto do homem que eu esperava que aparecesse há dez anos.

Taynara e Victor estão vivos e, evidentemente, estão envolvidos com a entrada de armas ilegais no país. No entanto, algo me dizia que isso era apenas a ponta do iceberg que enfrentaríamos. Se Manu e eu estivermos corretas, então Bárbara e Elena formaram uma aliança com essa dupla. Mas, a pergunta que continua me incomodando é: Por quê?

Por que elas resolveram se aliar a pessoas tão perigosas quanto os maiores inimigos de Krósvia? Por que Taynara se sujeitou a ter a colaboração de duas pessoas tão instáveis? O que eles estão planejando? Obviamente eles estão usando Elena e Bárbara para se aproximarem de mim e recolher informações. Mas, essa atitude descuidada não combina muito com o comportamento típico de Taynara. Além disso, o que a tia e a prima de meu marido ganhariam com essa parceria inesperada?

Fecho o notebook e observo a neve pela janela do escritório. Acaricio minha barriga, imaginando quanto tempo demoraria para ver o rostinho da criança dentro de mim. Austin com certeza ficaria feliz se fosse uma menina. Enzo provavelmente iria querer um irmãozinho para fazer companhia. E é nesse momento que a depressão me atinge. Eu provavelmente não estarei viva para vê-los crescer, se apaixonar, viver um grande amor, terem filhos.

Respiro fundo para engolir a vontade de chorar. Com a gravidez, além dos enjoos e cansaço, eu me sentia mais emotiva. Eu tinha tanto para pensar e lutar, mas a minha maior batalha está sendo lidar com o medo que sinto pelo futuro. Há tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. A bactéria aumentando a taxa de mortalidade dos países vizinhos, os ataques de Elena e Bárbara, a certeza de que Victor e Taynara estão armando para iniciar uma nova guerra, as minhas brigas com Austin e agora, essa gravidez de risco.

É como se minhas emoções fossem explodir a qualquer momento, quanto mais o desespero cresce dentro de mim. Aperto meus punhos, irritada por estar sendo tão fraca e covarde. Minha família e meu reino precisam de mim. Meus aliados contam comigo para que eu encontre as soluções dos problemas que nos afligem. Chorar ou lamentar não vai mudar nada e nem diminuir a gravidade dos problemas.

Batidas na porta interrompem meus pensamentos. Suspiro, cansada, e tomo um pouco de chá antes de permitir a entrada de quem quer que fosse. Observo Juliana entrar no escritório com alguns papéis em mãos e o sorriso gentil em seu rosto. Ela faz uma breve referência e, após eu indicar o lugar, ela se senta a minha frente e me estende os papéis para que eu lesse o conteúdo presente neles. Sinto meu estômago embrulhar mais uma vez e me encolho, enquanto pego os papéis.

— Você está bem, Ally? Está tão pálida. - Comenta Juliana, encarando-me com preocupação.

— Estou... é só enjoo. - Respondo, suspirando em seguida. - O que é isso?

— Os resultados da pesquisa que havia me pedido. - Responde a morena, encarando-me com preocupação. - A gravidez deve estar sendo bastante difícil.

— O quê... como...? - Sussurro, alarmada. Consigo ver a sinceridade nos olhos de Juliana. Ela sabia a verdade. Não adiantava eu tentar esconder. Abaixo os papéis e a encaro com seriedade. - Quem te contou?

— Eu invadi o sistema do Oliver e descobri o que você tinha depois que soube que havia passado mal. Fiquei preocupada e senti que algo sério estava acontecendo com você e, pelo visto, eu estava certa. - Explica, forçando um sorriso. Seus olhos carregavam ainda mais preocupação. - Mas não condene Oliver por eu descobri. Você sabe que eu sou muito boa em invadir sistemas. Por isso me pediu para investigar Victor, Bárbara e Elena. Eu sou uma espiã, afinal de contas. Não há nada que eu não descubra.

— Ninguém pode saber que eu estou grávida, Juliana. Pelo menos, não por enquanto. Os únicos que sabem sobre a minha gravidez são...

— Dez, Oliver, você, eu, Bárbara, Elena e provavelmente Victor e Taynara. - Responde a garota, interrompendo a minha fala. Olho assustada para ela e prendo a minha respiração.

— O que você disse? - Questiono, em completo choque.

— Sim. Bárbara e Elena sabem sobre a sua gestação. E sabem também do perigo que está correndo. - Afirma a espiã, parecendo insatisfeita. - Eu não sei exatamente como elas descobriram, mas posso garantir que elas sabem.

 

De repente, um barulho discreto próximo a porta se faz presente. Dez e eu nos encaramos, alarmados. No mesmo instante, meu amigo vai em direção a porta, enquanto eu me levanto, pronta para confrontar quem quer que estivesse ouvindo minha conversa com dez naquele momento.

Ao abrir a porta, meu melhor amigo vai para o corredor e encara os dois lados, mas não havia ninguém no local. Um frio na barriga se faz presente em meu estômago e o desespero de que Austin ou, pior, um de meus inimigos tivesse ouvido a nossa conversa me assombra. Dez parece ler meus pensamentos e se vira para mim, dando um sorriso confiante.

— Calma. Não deve ter sido ninguém. – Afirma, sorrindo calmo.

— Onde está Austin? – Pergunto, alarmada.

— Acho que na torre. Ele chegou agora a pouco com Lawrence da reunião com os ministros da Finlândia e foi brincar com Enzo. – Responde o ruivo, mas logo ele se aproxima de mim, preocupado com a minha aparência. As dores estavam piorando. Era como se algo estivesse dilacerando a minha barriga. – Ally, fique calma, por favor. Não foi o Austin, está bem? Você o conhece bem. Sabe que se ele tivesse ouvido, teria invadido a sala e exigiria satisfações. Por favor, vá descansar.

— Eu estou bem. – Respondo, respirando fundo para resistir e lidar com as dores que mais se assemelhavam a contrações e ao enjoo naquele momento.

Oliver havia me orientado sobre a gestação. A partir de agora, eu me sentiria cada vez mais fraca e esgotada. As dores abdominais aumentariam gradativamente, conforme o bebê aumentasse. A partir do quinto mês de gestação, eu precisaria estar pronta para um parto emergencial ou até mesmo o rompimento das trompas, o que me ocasionaria em uma hemorragia interna e, consequentemente, a morte se não fosse contida às pressas.

— Vem. Eu vou te levar para o seu quarto. Está mais do que claro que você não está bem. – Fala Dez, conduzindo-me pelos ombros com cautela.

— Não. Eu irei procurar por Austin. – Declaro, afastando-me de meu melhor amigo. – Enquanto isso, procure descobrir quem pode ter ouvido a nossa conversa. Pode não ter sido nada, mas se Bárbara ou Elena tiverem escutado nossa conversa, nós teremos grandes problemas.

— Não se preocupe. Eu vou descobrir o que aconteceu. – Afirma o homem com convicção. – Agora vá descansar. Eu cuido de tudo por aqui. Você já está a tempo demais dentro desse escritório.

 

— Elas ouviram atrás da porta, quando eu contei a Dez sobre a minha gravidez. Não havíamos conseguido pegar quem estava ouvindo a nossa conversa na hora. - Conto, relembrando do momento em que eu senti que o meu mundo estava muito mais em perigo do que eu conseguia imaginar. - Isso é péssimo. Elas sabem que eu não quero que Austin descubra sobre a gravidez agora. Elas podem querer me chantagear e eu não posso me dar ao luxo de complicar ainda mais a situação do país.

— Se me permite dizer, Ally, eu não acho que elas irão te chantagear no momento. - Comenta Juliana, pensativa. - Se elas quisessem isso, já teriam feito algo no instante seguinte em que descobriram a verdade. Mas isso não quer dizer que devemos abaixar nossas defesas. Elas realmente estão bastante envolvidas em um plano perigoso.

— Descobriu alguma coisa sobre Victor e Taynara que envolvam as duas? - Pergunto, dando uma lida rápida pelo relatório trago pela espiã.

— Como era de se esperar, o país está repleto de espiões dessa dupla diabólica. Ouso dizer que até mesmo dentro do castelo deve haver pessoas trabalhando para eles. O assassinato da criança e do cachorro que você me mostrou foram causados pela prima de seu marido, assim como você suspeitava. - Conta a morena, enquanto eu analiso as provas que ela havia trago. - Eu investiguei a casa de onde as balas foram disparadas e encontrei as digitais da cobra mãe e cobra filha. Havia armas escondidas no local e um notebook, no qual eu estou buscando alguma coisa que possa me dar mais informações sobre o que elas foram fazer naquela casa. Não acho que elas tenham planejado o assassinato daquela criança. Elas provavelmente foram realizar alguma comunicação com Taynara ou Victor.

— Então Victor esteve realmente em Elpízoume. - Comento, vendo uma foto do homem no carro com a descrição da localização dele. - O que ele foi fazer em Wunder?

— Infelizmente, eu ainda não descobri, mas isso é apenas uma questão de tempo. - Garante Juliana com determinação. - Existem boatos de que Victor ainda possui um parente vivo além do sobrinho Tyler. Eu estou tentando descobri a identidade desse parente. Se os boatos forem verdadeiros, talvez Victor tenha ido a Wunder para se encontrar com essa pessoa. De qualquer forma, eu não vou descansar até descobrir o que esses malditos estão aprontando.

— Tudo bem. Continue o bom trabalho. - Peço, sorrindo. Lembro então de algo que estava me incomodando. - Juliana, o quão bem você conhece o Ansel de La Tróis?

— Pouca coisa. - Admite, pensativa. - Ironicamente, estamos sempre nos esbarrando por aí. Ele é um guerreiro habilidoso. Sua especialidade é arco e flecha, apesar de ser muito bom com qualquer arma. Não há muitos registros da família dele. Por que a pergunta?

— Eu sinto que ele está escondendo alguma coisa. - Comento, continuando a dar atenção ao relatório trago pela espiã. - Eu quero que você descubra um pouco mais sobre o passado dele, mas isso deve ser feito o mais discreto possível. Apenas nós das devemos saber sobre essa investigação.

— Não se preocupe, Ally. Nós nunca conversamos sobre esse assunto. - Afirma a mulher com sinceridade. Balanço a cabeça, concordando. - Mas e agora? O que pretende fazer, agora que sabe que Bárbara matou mesmo aquela criança? Irá desmascará-la?

— Não posso fazer isso. - Comento, sentindo meu enjoo se intensificar. Respiro fundo algumas vezes e solto o ar pela boca, buscando impedir que eu vomitasse.

— Ally? - Chama Juliana, preocupada.

E como de costume, pego a lixeira que estava abaixo de minha mesa e coloco todo o alimento que havia em meu estômago para fora. Sinto Juliana puxar meus cabelos para trás e massagear minhas costas em uma espécie de consolo, enquanto eu continuava a vomitar. Quando enfim termino, sinto o gosto ruim em minha boca e a queimação em minha garganta. Levanto minha cabeça e encosto meu corpo na cadeira.

Juliana pega um copo de água e me entrega. Inspiro e expiro o ar com cautela, ainda sentindo dores em meu corpo e o mal-estar. À contragosto, bebo um pouco de água e entrego o copo a espiã, que o coloca sobre a mesa e continua ao meu lado, esperando que eu me sentisse melhor. Aos poucos, minha respiração se normaliza e a dor em minha garganta começa a diminuir.

— Você se sente melhor? - Pergunta e eu balanço a cabeça, concordando. - Não seria melhor você ir descansar? Duvido muito que o Dr. Oliver ficaria feliz em ver que está fazendo tanto esforço.

— Eu estou bem. Além disso, o baile irá ocorrer em algumas horas. Eu vou precisar receber os convidados se quiser continuar escondendo a gravidez. - Conto e ela suspira, insatisfeita. - Esse baile de hoje é muito importante, Juliana. Mas, mais importante que o baile, nós precisamos tomar cuidado com as nossas ações no futuro. Por estarmos desenvolvendo as pesquisas sobre a bactéria que tem ocasionado na morte de centenas de crianças, todos esperam que possamos apresentar soluções para os problemas que nos cercam. Nossos aliados não sabem nem mesmo a metade do perigo que corremos e enquanto eu não tiver soluções, eles devem continuar assim. Eu não quero que o mundo entre em pânico com a possibilidade de uma nova guerra mundial ocorrendo com uma epidemia assustadora nos assombrando. Ainda existe o fato de que se descobrirem que você está investigando meus aliados, isso poderia causar ainda mais problemas.

— Então devemos simplesmente ignorar o fato de que a cobra filha matou uma criança inocente e um cachorrinho sem motivo nenhum? - Questiona a espiã, inconformada. - Vai mesmo deixar que ela saia impune de seus crimes?

— Eu nunca disse isso. - Digo, encarando Juliana com firmeza. - Acredite, eu mais do que ninguém, quero acabar com a existência dessa garota e da mãe dela, mas eu também sou uma diplomata. Eu não posso colocar a boa relação que tenho com meus aliados em risco. Além disso, também não posso arriscar que Victor e Taynara saibam que eu descobrir sobre a parceria deles. Isso poderia desencadear em uma ação prematura deles para atacar Krósvia e nós não sabemos o quanto do plano eles têm pronto. Victor teve anos para elaborar seu plano e nós ainda não estamos prontos para enfrentar um ataque direto no momento. A última guerra ocorreu há dez anos. Não foi fácil reconstruir o país e estabelecer a confiança do povo. Estamos em um momento delicado. Não podemos nos arriscar dessa forma.

É por isso que você irá ajudar a polícia nas investigações. Faça com que eles descubram que Bárbara está envolvida nesse assassinato frio. Evidencie as provas e faça do crime. Com isso, poderei desmascarar Bárbara e Elena sem prejudicar nossa aliança com o Elohim. - Explico a morena, que finalmente parece entender os meus motivos.

— Como desejar, Ally. - Concorda a espiã, parecendo mais aliviada com a minha ordem. - Eu preciso ir agora. Tem certeza de que está tudo bem?

— Sim. Obrigada pela ajuda. - Agradeço, dando um fraco sorriso. - Nós nos vemos no baile?

— Eu não o perderia por nada. - Garante com um sorriso singelo.

 

[...]

 

Um sorriso molda os lábios de meu marido, enquanto ele me conduz pelo salão ao som da música clássica da banda. Como dois adolescentes, eu me sentia nas nuvens, como se só existissem Austin e eu no mundo. Rodopiávamos e riamos de bobagens, completamente concentrados um no outro. Naquele momento, não haviam problemas e tampouco preocupações.

O calor do corpo de Austin me acalmava e afastava todos os pensamentos negativos que me consumiram durante o dia. Estar nos braços do loiro me trazia segurança e esperança. Ver a felicidade das pessoas que eu amo, enquanto se divertiam com o baile me trazia um pouco da alegria que estava perdendo ao longo dos dias.

Era aconchegante observar Enzo correr com Kathy, Eric e Diana, Lawrence e Jade dançando como dois jovens apaixonados, Dez e Trish cuidando do pequeno Ian ao lado de Tommy, Manu e Prince conversavam com meus sogros, Ansel, Juliana e Oliver comiam e bebiam como amigos de longa data e tudo o que eu conseguia pensar era em como eu sentia falta de momentos tranquilos como esses.

— Um beijo pelos seus pensamentos. - Propõe Austin, sussurrando em meu ouvido. Sorrio e o abraço ainda mais apertado.

— Você não precisa de uma desculpa para me beijar, Majestade. - Brinco e ele ri, afastando-se um pouco apenas para acariciar meu rosto. Ele então me beija com carinho e encosta a testa na minha. - Eu apenas estou pensando em como eu sentia falta desses momentos de paz que estamos tendo. Ver todos felizes, esquecer um pouco dos problemas que vem nos assombrando.

— Eu também sentia falta disso. - Concorda meu marido, enquanto me aconchega em seu peito. - E acho que todos aqui se sentem da mesma forma.

— Por que não aproveitamos um pouco para namorar e curtir esse momento, enquanto não somos obrigados a lidar com as formalidades da noite? - Sugiro e seu sorriso se alarga ainda mais. Austin beija minha testa.

— Eu acho uma excelente ideia! - Exclama, animado.

Afasto-me de Austin e pego em sua mão, seguindo em direção a porta lateral do salão que levava ao jardim do castelo. Com todos dançando e aproveitando as bebidas e comidas que eram servidas pelos garçons, os convidados provavelmente não notariam que estávamos fugindo do baile. Em meio a risos e a ansiedade a flor da pele, não demoramos muito a alcançar nosso destino.

— Acha que alguém nos viu? - Questiono, rindo. Sinto um vento gélido atingir minha pele e me encolho pelo frio intenso que se fazia do lado de fora do castelo.

Meu marido me puxa para perto de si e me abraça pelas costas, procurando aquecer meu corpo. Ao fundo ainda era possível ouvir o som da orquestra tocando uma música animada no salão de festas. Encosto minha cabeça no ombro de Austin e observo as estrelas que decoravam o céu com delicadeza. O branco que cobria o jardim deixava o cenário ainda mais encantador.

— Provavelmente. Mas, creio que não irão nos incomodar por um tempo. - Responde Austin, começando a me guiar pelo jardim, ainda me abraçando.

— A noite está linda. - Comento, encantada com os detalhes.

— E você ainda mais. A noite deve estar com inveja da sua beleza. - Responde, fazendo-me ri de sua cantada.

— Você já foi melhor. - Digo e ele ri, concordando.

— Pelo menos eu ainda estou tentando. - Afirma, encostando rosto no meu. Paramos de andar quando chegamos em um gazebo octogonal de madeira que havia no meio do jardim. Austin se afasta e entrelaça meus dedos. - Eu amo quando estamos sozinhos. É como se voltássemos a ser dois jovens de dezoito anos.

— Eu também amo quando estamos sozinhos. - Aperto nossas mãos e o encaro com atenção, observando cada detalhe do rosto bonito de meu marido. Será que a criança que estou esperando irá se parecer com ele ou comigo? O bebê terá cabelos tão dourados quanto o do pai ou chocolates como os meus e o de Enzo? Sorrio com o pensamento e levo minha mão ao rosto de Austin, acariciando sua bochecha.

— O que foi? - Ele pergunta com curiosidade.

— Nada. Apenas pensando na sorte que tenho de ter um homem tão bonito assim como meu marido. As mulheres devem sentir muita inveja de mim. - Digo em um tom malicioso que faz com que ele comece a ri.

— Você já foi melhor. - Austin repete minha fala e eu dou de ombros. Ele então me beija com paixão, segurando firme o meu rosto e a minha cintura. Quando nos separamos, ele me traz para mais perto, contornando meus ombros com seu braço. Aconchego-me e inspiro seu perfume amadeirado. - Eu amo você.

— Eu também amo você. - Respondo, observando as luzes que vinham do salão de festa. Do local de onde estávamos, conseguíamos ver as pessoas dançando pelas vidraças de vidro e como todos pareciam se divertir.

— Acha que foi mesmo uma boa ideia termos realizado o baile quando tantas tragédias estão acontecendo a nossa volta? - Pergunta Austin, quebrando o silêncio confortável em que estávamos.

— Não havia o que ser feito. O Baile dos Girassóis é a comemoração da aliança formada oficialmente entre Serafine e Krósvia. Abrir o salão de festa do castelo para receber os soldados, suas famílias e nossos aliados é um evento aguardado por todos anualmente. Não havia como fugir disso. - Respondo e ele suspira, concordando.

— Ainda não acredito que estamos casados há dez anos. - Comenta Austin com um sorriso nostálgico em seus lábios.

— Espero que não tenha se arrependido, Sr. Moon. - Brinco e ele me encara com um olhar divertido.

— De forma alguma, Sra. Moon. - Afirma Austin, dando um beijo em minha cabeça. - Me casar com você foi a melhor escolha que fiz em minha vida. Apesar de todas as dificuldades que enfrentamos, se eu tivesse a escolha de voltar no tempo, eu faria tudo de novo, apenas para garantir que estaríamos aqui, dez anos depois, comemorando nosso aniversário de casamento e o início de nosso reinado.

Sorrio diante de sua declaração, apreciando o momento. Nosso casamento havia sido marcado por diversas dificuldades, mesmo antes de ser oficializado. Enfrentamos guerras, mortes e problemas em nosso relacionamento, mas jamais desistimos. Esse era o significado do baile. Abrir as portas de nosso mundo para todos que presenciaram uma parte de nossos conflitos e que apoiaram as nossas conquistas. Então mesmo com todas os problemas nos rodeando nesse momento, nós não podemos abrir mão dessa comemoração.

— Com licença. Desculpa atrapalhar, Majestades. - Pede um dos guardas da segurança do castelo. - O comandante Dezmond pediu que avisasse que o discurso oficial será realizado em alguns instantes, por isso solicita a presença dos reis.

— Tudo bem. Nós já estamos indo. Muito obrigado. - Austin agradece, suspirando em seguida. Vejo a decepção em seus olhos. O guarda faz uma breve reverência e sai. - Por que sempre nos atrapalham nos melhores momentos?

— Não há como fugir, afinal de contas. - Comento, entendendo bem o sentimento de frustração de meu marido. - É melhor irmos. Tenho certeza que todos estão ansiosos para ver a nossa troca de presentes.

A tradicional troca de presentes realizada durante o Baile dos Girassóis é o momento mais esperado da festa. Quando o grande relógio do centro da capital marca meia noite, os sinos da igreja onde foi realizado meu casamento com Austin e a coroação são tocados e finalmente comemoramos nosso aniversário de casamento. É nesse momento em que trocamos algo significativo para nós. Os girassóis são as flores que representam a felicidade, o calor, a lealdade e a nobreza. Por isso, todos os anos devemos nos presentear com algo que tenha o simbolismo da flor que o baile leva o nome para que nosso amor seja sempre tão caloroso e importante quanto o Sol.

As badaladas do sino ecoam pela cidade. Os convidados festejam mais um ano de paz em nosso reino. Vejo meus aliados celebrando e comemorando com alegria uma das datas mais importantes em minha vida. Austin e eu trocamos nossas caixas de presente e nos beijamos. Enzo vibra e corre em nossa direção, abraçando nossas pernas. Austin e eu nos afastamos e meu menino estende os braços ao pai, que o pega no colo e o abraça com carinho. Austin coloca nosso filho no chão e pegamos microfones para dar inicio a explicação de nossos presentes desse ano.

Ao abrir nossos presentes, surpreendo-me com nossa semelhança em ideias. Ambos havíamos nos presenteado com colares. O pingente de uma nota musical com a palavra Familie prata faz os olhos de meu marido brilharem. Ele me encara com um sorriso doce nos lábios.

— A música e a nossa família sempre foram a sua vida. Por mais difícil que seja o caminho que escolhemos percorrer, nunca se esqueça desses dois pilares. - Digo e ele sorri emocionado. - Eu amo você. Feliz aniversário de casamento, Austin.

Ele coloca o colar em seu pescoço, enquanto todos vibram. Os gritos de nossos convidados se tornam ainda mais altos quando nos beijamos mais uma vez. Observo meu colar, vendo o relicário com o símbolo de Krósvia desenhado na parte de trás e a marca de pezinhos de bebê na frente com o nome de Enzo gravado logo abaixo. Ao abrir o relicário há uma foto que tiramos no dia do nascimento de nosso filho e a data de aniversário de nosso casamento gravada com um coração de diamante.

— Acho que meu presente não precisa de muitas explicações. Você sempre se dedicou pela nossa família e o reino, Ally. Que nosso amor seja tão brilhante e durável quanto o diamante. Eu te amo, Ally. Feliz aniversário de casamento. - Explica, colocando o colar em meu pescoço.

Nós nos beijamos mais uma vez e após a solta de fogos e as felicitações de nossos convidados, a música volta a tocar e todos retornam para a pista de dança. Um pouco cansada pela correria do dia, afasto-me de Austin e vou para meu escritório para ter um pouco de tranquilidade.

No entanto, surpreendo-me quando entro no cômodo e me deparo com Elena sentada em minha cadeira. A mulher me encara com um sorriso presunçoso no rosto e sinto um arrepio subir a minha espinha. O que ela estava fazendo ali? Ao ver a minha expressão séria, o sorriso de Elena se alarga ainda mais. Vejo então os papéis das pesquisas sobre a bactéria em suas mãos.

— Feliz aniversário de casamento, Allycia. - Deseja a mulher assim que nota a minha presença. - Eu estava a sua espera.

— O que você está fazendo aqui? - Questiono, tomando os documentos da mão da mulher. - Como ousa mexer em minhas coisas?

— Eu estava apenas curiosa, querida. - Responde cinicamente. - Já que minha querida sobrinha não me conta o que acontece em seu reino.

— Eu não sou sua sobrinha e você não deveria estar aqui. - Digo com firmeza, enquanto aponto para a porta de meu escritório. - Vai embora, Elena.

— Acalme-se, querida. Isso vai fazer mal para o bebê. - Ironiza e sinto meu sangue gelar. Então ela finalmente iria me chantagear. - Você está bem? Ficou tão pálida.

— O que você quer? - Pergunto, vendo-a sorri com satisfação. Eu via a maldade brilhando em seus olhos. A ganância podre sendo expelida pelos seus poros.

— Ah, querida, eu desejo tantas coisas. - Comenta, levando a mão em direção a minha barriga. Por instinto, estapeio a mão da mulher e protejo a minha barriga, como se apenas o fato dela tocar pudesse colocar em risco a vida daquela criança.

— Não encoste em mim, Elena. - Exijo e seu sorriso se alarga. Elena se levanta da cadeira e caminha pelo escritório de forma perigosa.

— Ora, Allycia, não seja assim. Acha mesmo que eu faria algum mal a um bebê? O que pensa que eu sou? - Indaga com falsa ofensa. Ela leva a mão ao coração e me encara como se estivesse triste pelo meu comportamento. - Além disso, essa criança não vai sobreviver de qualquer maneira. Seja pela sua gravidez incomum ou pela bactéria. Essa criança irá morrer muito antes que eu consiga colocar minhas mãos nela.

Dominada pela ira, corro até Elena e dou um tapa em seu rosto. Pelo forte impacto, a mulher vai ao chão e me encara surpresa. Ainda sem acreditar em minha ação, Elena leva a mão ao local onde eu havia batido, completamente em choque. Vejo seu rosto ficar vermelho e logo volto a minha razão ao ver um sorriso maldoso moldar seus lábios. Ela usaria isso contra mim.

— Não ouse me ameaçar, Elena! Você não sabe com quem está se metendo. Eu não pouparei esforços para manter essa criança viva. - Afirmo, sentindo todo o meu corpo tremer. A fúria era tão grande dentro de mim que eu mal conseguia me manter em pé. Com as mãos sobre o meu ventre, eu encarava a mulher com firmeza. - E isso inclui acabar com você se ao menos pensar em colocar a vida de meus filhos em risco.

E então Elena começa a gargalhar. Uma risada cruel e enjoativa. Era como se toda a maldade da mulher estivesse sendo revelada através de suas gargalhadas. Respiro fundo, tentando me manter calma. Eu não podia me estressar. Isso poderia fazer com que minha pressão alterasse eu acabasse perdendo a consciência e eu jamais mostraria fraqueza de frente a diabólica tia de meu marido.

Elena então se levanta e consigo ver a marca clara de minha mão em seu rosto. Seus olhos brilhavam fúria e satisfação. Era exatamente isso que ela queria. Elena queria que eu perdesse o controle, assim como ocorreu na última vez em que brigamos e eu havia caído em sua armadilha com facilidade.

— Sabe, Allycia, eu te entendo. - Comenta com a voz suave, quase soando como o silvo de uma serpente traiçoeira. - Eu também sou mãe e faço de tudo pela minha filha. Qual mãe não faria? E sabe. Eu quero o melhor para a minha. Ela merece o mundo e é isso que eu darei a ela.

— Saia de meu escritório agora. - Exijo, sentindo meu coração se acelerar perigosamente. Minha cabeça estava quente e respirar estava se tornando uma tarefa cada vez mais complicada.

— Não se preocupe, querida. Eu não contarei a ninguém sobre a sua gestação. Isso será um segredo que ficará apenas entre você e eu. - Elena sussurra perto de meu ouvido, fazendo com que eu sentisse seu perfume adocicado e enjoativo. Engulo a saliva, tentando controlar o desejo de vomitar mais uma vez.

Cansada e sufocada pela presença da mulher, pego o braço de Elena com brutalidade sobre protestos e a arrasto até a porta do escritório. Reunindo as últimas forças que eu tenho jogo o corpo dela contra a peça de madeira e giro seu braço de forma dolorosa. Pressiono o rosto de Elena com força contra a porta e me aproximo de seu ouvido, assim como ela havia feito comigo.

— Eu estou de olho em você, Elena. Qualquer passo em falso que você der, eu irei saber e quando eu descobrir o que você estar aprontando, acredite em mim, você irá se arrepender amargamente de ter sequer pensado em me destruir. - Aviso e a coloco para fora de meu escritório sobre resmungos e ameaças.

Fecho a porta com força e deixo meu corpo deslizar até o chão. Encolho minhas pernas e tento controlar minha respiração. As grossas lágrimas começam a descer pelo meu rosto. É como se toda a carga emocional que eu estive segurando no dia estivesse finalmente saindo de dentro de mim.

— Ally? Você está aí? - Ouço a voz de Oliver do outro lado da porta.

— Vai embora, Oliver. Por favor. Não é um bom momento. - Sentindo as lágrimas se intensificarem ainda mais.

— O que aconteceu? Por que está chorando? Está se sentindo mal? - Questiona o cientista com preocupação, mas ao ver que suas perguntas só estavam fazendo o meu choro aumentar, ele ameniza o tom de voz e o ouço sentar do outro lado da porta. - Me deixa te ajudar. Por favor. Eu sou seu amigo. Confie em mim.

E apenas desejando um pouco de apoio, acabo abrindo a porta para Oliver, que ao ver o meu estado, me abraça com força e permite que eu chore, enquanto acaricia minha cabeça em um consolo gentil. Quando me sinto mais calma, afasto-me de Oliver, envergonhada pelo meu comportamento. Eu estava agindo como uma criança fraca, que não sabia lidar com seus problemas e tudo que sabia fazer era chorar. Essa já era a segunda vez que o cientista me via chorando e acabava me consolando.

— Desculpa, Oliver. Eu não sei o que está acontecendo amigo. Tudo que eu sei fazer agora é chorar. - Lamento e ele sorri, balançando a cabeça de forma negativa.

— Tudo bem. Ninguém vai te julgar se você culpar os seus hormônios por isso. - Afirma o homem, me fazendo rir. - Ainda bem que está melhor. Quer me contar o que aconteceu? Eu te vi saindo da festa e fiquei preocupada que estivesse passando mal.

— Não se preocupe. São os hormônios. - Respondo e ele ri, revirando os olhos diante de minha resposta.

— Mesmo? E os hormônios também tem a ver com o fato de a tia de seu marido sair correndo, falando que você tinha agredido ela? Se não fosse pela Juliana e o Ansel ter arrastado ela para um dos quartos do castelo, acho que ela estaria fazendo um escândalo no baile. - Comenta Oliver, encarando-me com seriedade. - Se não quiser contar, tudo bem. Sei que eu sou apenas um cientista e que não tenho nada a ver com a sua vida. Mas, se quiser conversar, eu sou um excelente ouvinte.

— Não se preocupe. A minha esposa já tem alguém com quem ela pode desabafar. - A voz firme de meu marido ecoa pelo corredor. Afasto-me de Oliver e vejo Austin se aproximar de nós e encara o cientista com olhar perigoso. Ele então empurra Oliver contra a parede e o pressiona furiosamente. - Eu achei que tivesse sido bem claro com você quando disse que era para você se afastar da minha esposa por conta própria para o seu bem, mas pelo visto, você prefere da forma mais difícil.

— Austin!

Tento afastar meu marido de cima de Oliver, mas minhas vistas se tornam escuras e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, acabo caindo no chão. E a última coisa que consigo ver antes de perder a consciência são os olhos desesperados dos dois homens em minha direção.


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Notas finais do capítulo

Oii amores! O que acharam? Erros ortográficos? Sugestões? Críticas? Espero que tenham gostado. Deixem a opinião de vocês. Boa leitura...

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