O Espelho do Tempo escrita por Beatriz Delfino


Capítulo 4
Uma noite estrelada




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Quando o navio ancorou em Nassau, Edward foi o primeiro a descer. Ele gritava para que sua tripulação o seguisse:

–Vamos lá, pessoal!Quero todos pra fora descansando, amanhã será um longo dia.

Ele olhou para Elizabeth que se encontrava na poupa do navio, ela parecia admirar o horizonte, como se buscasse por alguém.

–A vossa excelência não vai descer?

Elizabeth ignorou-o.

–Tudo bem então, só não entre na minha cabine, mulheres são proibidas de entrar.

Edward virou-se e caminhou para a entrada da taberna mais próxima, porém por alguns segundos, algo o impediu de entrar. Virou-se para admirar Elizabeth que continuava parada na poupa do navio.

Ele não conseguia explicar o porquê a trouxe consigo, não conseguia simplesmente explicar o porquê de não tê-la abandonado na ilha sozinha para morrer... Ele é um pirata... Um capitão pirata, o maior capitão que todos já viram... Mas não conseguira ignorar uma simples garota.

–Edward? Há quanto tempo! Lembra-se de mim? Chamo-me John Avey.

Um velho alto e robusto com uma cicatriz marcante se aproximou de Edward. A cicatriz varava-lhe verticalmente o rosto e parecia estar constantemente em carne viva.

–Claro! Como poderia esquecer o homem que quase explodiu meu navio?- Edward lançou um sorriso gentil, porém cínico ao senhor.

–Ora rapaz! Aquilo foi um erro meu, confundi teu navio com um espanhol, claro que não quis acertá-lo. Vamos, entre comigo na taberna... A menos é claro, que queira ficar aqui admirando a menina que encontras em teu navio.

O sorriso gentil de Edward se desfez e ele tornou-se sério em questão de segundos.

–O que quis dizer com isso?

–Não quis dizer nada, meu senhor, só achei curioso o fato de que colocaste uma simples mulher para andar livremente por teu navio.

–Elizabeth não é uma "simples mulher". Ela é diferente. Ela tem algo de diferente.

–Imagino. O senhor deve se preocupar muito com ela.

O velho capitão parecia tentar intimidar Edward, aparentemente sem muito sucesso.

–Me preocupo com ela como se ela fosse qualquer outro marujo de meu navio, apenas isso. Não nutro qualquer sentimento por ela, se é isso que queres dizer. Agora se não se importa a taberna nos chama.

John foi o primeiro a entrar na taberna, seguido por Edward que disfarçadamente olhou uma última vez para Elizabeth... "ela tem algo de diferente", pensou.

Na poupa do navio, Elizabeth sentou-se em um barril e começou a admirar o mar, cujas ondas pareciam se acalmar pra ela, porém, nem a beleza do mar foi capaz de camuflar o que a menina sentia, já que lagrimas escorreram-lhe dos olhos.

O horizonte tornava-se imensuravelmente assustador, o vento parecia sussurrar-lhe algo... E então, quando Elizabeth olhou para o reflexo da lua nas águas, lembrou-se da mãe dizendo-lhe:

"Nunca estarás sozinha, minha preciosa e doce, menininha. Mesmo quando não tiver ninguém a seu lado, saiba que as estrelas e a lua a vigiam por mim".

Durante alguns minutos, a menina chorou em silêncio, lembrando de sua mãe e se perguntando quando seria a próxima vez que se veriam, se abraçariam e trocariam carinhos até que a saudade saísse de seus corações e desse lugar à felicidade e ao amor.

Ela precisava ir embora, precisava voltar à sua época, ela não queria mais ser uma garota perdida no século XVIII, ela queria voltar para a escola, reencontrar Sara e até mesmo aqueles garotos idiotas do parque de diversões.

–Se continuar chorando vai vergar a madeira do meu navio.

Elizabeth assustou-se quando virou para trás e viu Edward se aproximando. Ele se sentou a seu lado e também começou a olhar para o horizonte.

–Pensei que você fosse ficar na taberna.

–Estava fechada. -Edward continuava observando as ondas e sua face demonstrava serenidade.

–Daqui ela parecia estar aberta.

–E daqui você não parecia ser chorona.

–Cala a boca.

O garoto olhou para Elizabeth e começou a rir, mas parou assim que voltou sua atenção para o mar.

–Tudo bem, então.

Os dois ficaram ali, sentados observando o mar. Nada disseram um ao outro, apenas ficaram em silêncio até que ambos caíssem no sono.

Mas o que eles não sabiam, era que não estavam sozinhos...

A lua e as estrelas os vigiavam.


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