Clair de Lune escrita por Lúthien


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Félix e seu inferno astral.



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Naquela noite Félix voltou ao hotel sentindo-se confuso e desolado. Que brincadeira do destino seria aquela? Que mágica absurda o fez viajar no tempo e conhecer o homem dos seus sonhos, se nunca poderia tê-lo? Por quê? Essa duvida pairava sobre sua mente como uma nuvem negra. Dizia a si mesmo que deveria esquecer aquela aventura.

"Se eu contar ninguém acredita. Nem sei se eu acredito nisso... Ah, esqueça, Félix. Isso é um absurdo, o que você pensou?... Mas aquilo aconteceu. Ele estava lá, nós dançamos juntos, ele beijou o meu rosto, eu senti, não foi imaginação..."

Félix estava tão imerso em seus pensamentos que errou o andar quando saiu do elevador. Mas aquilo parecia outra brincadeira do destino, só podia ser. Ficou atônito quando viu um rapaz mais ou menos de sua idade entrar em um quarto aos beijos com uma mulher loira. O rapaz era o filho mais velho do amigo de César e a mulher era Edith.

"Eu devo ter dado carona pra Judas, pra Edith me botar chifres com esse almofadinha convencido".

Permaneceu parado no corredor por um tempo, em choque, sem saber o que fazer. Não conseguia assimilar seus sentimentos naquele momento. Por um lado havia a dor que sentia por não poder estar com Nicola em um tempo e espaço bem distante dali, por outro o choque de descobrir que estava sendo traído por Edith. Félix sempre dizia que devia ter cometido alguma heresia para merecer alguma coisa desagradável que lhe acontecesse, se havia cometido alguma, dessa vez foi muito grave. Passado o choque inicial, Félix foi para o quarto, jogou-se na cama para tentar relaxar, mas não conseguiu. Pediu um uísque pelo serviço de quarto e começou a beber. Bebeu quase toda a garrafa e acabou pegando no sono. Pelo menos naquele resto de noite não ia ser atormentado por pensamentos.

Na manhã seguinte, acordou com uma terrível dor de cabeça, percebeu que ainda usava a calça e a camisa do dia anterior. Edith provavelmente havia tirado seu paletó e os sapatos. Ela dormia ao seu lado tranquilamente de camisola. De repente começou a se lembrar de tudo. Ficou encolhido na cama, pensativo, com a esposa dormindo ao seu lado. Félix continuou ali parado, esperando a esposa despertar. Quando acordou, Edith se ajeitou na cama e lhe deu um beijo no rosto, que Félix recebeu com frieza.

— Bom dia, amor! Onde você esteve ontem? – Félix não respondeu e ela continuou a falar - Você demorou tanto que acabei saindo com os Torgano. Quando eu cheguei você tava caído de bêbado na cama, o que está havendo com você, querido?

— Você nem imagina, Edith?

— Não, você não me diz nada Félix. Você tem me deixado totalmente abandonada nessa viagem. Como eu posso saber qual é o seu problema?

— Ah, Edith, por favor. Você se acha muito esperta, mas eu não sou nenhum trouxa tá?

— Do que você está falando, Félix?

O celular de Félix tocou.

— Oi Paloma! (...) Não sei meu doce, eu estou com muita dor de cabeça. (...) O papi tá exigindo? Tudo bem, diz pra ele nos dar alguns minutos pra Edith e eu nos arrumarmos. (...) Tudo bem doçura, estaremos lá.

— O papi quer que nos encontrar no restaurante do hotel. Se arrume rápido - disse Félix com frieza.

— Ei não fala nesse tom comigo. Tá querendo agir como machão agora?

Félix a encarou:

— Conversaremos em outro momento, Edith.

Edith estranhou o comportamento de Félix, mas não disse mais nada. Os dois se arrumaram e desceram pra encontrar o resto da família. No restaurante encontraram apenas César, que justificou porque havia chamado o casal para o café da manhã:

— Eu chamei vocês para conversar porque precisamos acertar algumas coisas.

— Acertar o quê, papi?

— Vou direto ao assunto. Eu estou gastando uma fortuna com essa viagem para que nossa família permaneça junta. Eu não estou pagando pra você ir só Deus sabe onde a noite e sua mulher ficar saindo sozinha por aí.

Félix e Edith se olharam e César continuou a falar:

— Eu não sei o que está acontecendo na vida conjugal de vocês, mas seja o que for eu espero que vocês resolvam logo.

— Dr. César, eu só saí essas noites sem o Félix porque ele me deixa sempre sozinha, o que eu posso fazer? Além disso, os Torgano são de confiança. E... Eu preferia sair com o Félix, mas ele me abandona.

Félix respirou fundo e apertou os punhos tentando controlar a raiva que sentiu.

— Eu sei, eu tenho percebido isso. Eu já falei com você sobre isso Félix. Trate de cuidar da sua esposa, não quero que os Torgano tenham uma impressão errada de nossa família.

— Está certo, papi. Não se preocupe com isso.

— Pillar e Paloma estão vindo. Eu espero não ter que tocar mais nesse assunto com vocês, vamos tomar café em paz como uma família normal.

Depois do café, César convidou a família para um passeio. Foram a um museu. Apesar de toda a fascinação que os quadros causavam aos demais, Félix não prestava atenção. Não se sentia em paz, não assimilava nada que as pessoas diziam durante o passeio e ficou a maior parte do tempo calado. Seu coração estava inquieto, seu pensamento estava longe dali, em outro lugar em outra época.

Paloma percebeu que Félix estava triste e distante e se aproximou do irmão:

— Félix, o que você tem? Você tem andado tão estranho, quieto... nem parece você.

Félix tentou disfarçar com um sorriso:

— Paloma, meu doce, eu não tenho nada. É só... eu andei tendo umas discussões com o papi, você sabe.

— Eu não gosto de ver você e o papai se desentendendo.

— Nem eu, Paloma. Mas não se preocupe, eu estou bem. Só não estou muito animado com esse passeio.

— Eu te entendo... Tive uma ideia, vamos sair mais tarde, só nós dois?

— Ah querida, é uma ótima ideia, mas eu prometi que ficaria com a Edith hoje.

— Tudo bem, faremos isso depois, afinal ainda temos alguns dias para curtir Paris.

— Ok. Vamos tirar um dia só para nós.

Os Khoury passaram boa parte do dia juntos. À noite César, Pillar e Paloma resolveram ir ao teatro. Edith lembrou Félix da conversa que tiveram mais cedo e exigiu que o marido a levasse para jantar, mas ele não estava nem um pouco disposto a sair e resolveu ficar no quarto de hotel.

— Eu não te entendo Félix. Qual é o seu problema? Nós viemos para Paris para nos divertir e tudo que você faz é evitar a mim e a sua família. Você prefere ficar zanzando a noite como um vampiro do que sair comigo.

— Edith, agora não, eu não estou com cabeça pras suas cobranças.

— Eu não vou fazer mais o seu jogo, Félix. Vou falar claramente.

— Então fale claramente Edith! – esbravejou – Fale que você não está tão abandonada assim, afinal você tem que te console.

— Do que você está falando?

— Do que eu vi Edith. Você enfeitando minha testa com aquele mauricinho Torgano.

Edith ficou surpresa:

— O Maurício? Como assim? Que ideia é essa Félix?

— Não tente me fazer de trouxa, porque eu vi. Ontem eu não estava tão bêbado, não antes de ver você entrar no quarto daquele imbecil. Eu vi vocês dois se agarrando na porta.

Edith engoliu seco.

— Vai negar Edith? Vai negar?

— Não! Não vou negar. O que você queria que eu fizesse? Você não comparece Félix. Eu não me casei com um homem, me casei com ...

Félix estava completamente alterado, seus olhos faiscavam de raiva:

— Com o quê, Edith? – gritou – Fala, diz o que você ia dizer!!!

— Com uma bicha! Porque é isso que você é, Félix. Você acha que sou alguma tonta? Você pensa que eu não sei o que você faz quando diz que vai se reunir com colegas de faculdade ou com o orientador?

Felix não respondeu, não conseguia articular nenhuma palavra, sentia um turbilhão de sensações, não sabia como reagir.

— Se eu te traí, você me traiu primeiro.

— Eu nunca te traí, Edith.

— Me engana que eu gosto. Não seja cínico, Félix. Eu sei de tudo. E olha, se você quiser dar seus saltinhos, pelo menos seja discreto, porque eu não quero passar vergonha com minhas amigas. Aliás, nem o seu pai.

— O que o papi tem a ver com essa história?

— Você acha que seu pai é idiota? Em que época você vive?

Os olhos de Félix estavam vermelhos, ardendo como fogo, fazia um esforço hercúleo para não chorar. Não daria aquele gostinho a Edith.

— O papi disse alguma coisa.

Edith sorriu com desdém.

— Seu pai não é burro, querido. As únicas idiotas nessa família são a sua mãe e sua irmã que são completamente cegas.

— Olha, eu não vou ouvir mais. Eu não quero ouvir mais – gritou Félix indo em direção a porta.

— Aonde você vai Félix?

— Eu vou sair e você não ouse vir atrás de mim ou tentar me impedir.

— Tudo bem vai, vai curtir seus boyzinhos franceses, mas eu aviso uma coisa, se você quiser se separar de mim, todo mundo vai saber o que você é.

— Vai pro inferno, Edith.

Félix saiu batendo a porta. Ficou alguns minutos no corredor, respirando fundo e tentando de recompor, minutos depois desceu pelo elevador e saiu do hotel, do lado de fora sentiu um vento fresco lhe acariciar o rosto. Olhou para o céu, estava estrelado. A lua estava cheia e brilhante. Lembrou-se de Nicola, queria vê-lo mais uma vez. Precisava vê-lo. Pegou um táxi e foi para a periferia da cidade. Caminhou até a rua escura, sentou-se na escadaria em frente à igreja. Esperou por muito tempo, com o coração inquieto. Ele precisava voltar àquele lugar. Mas o carro não aparecia. Teria acabado o encanto? Teria sido alucinação, sonho, loucura? Por que o carro não aparecia? Félix quis chorar. Pensou que estivesse ficando louco. De repente, o sino da igreja tocou. Olhou automaticamente para o relógio, marcava meia-noite. Um carro antigo finalmente apareceu, Félix sorriu aliviado.


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Notas finais do capítulo

Até eu to aliviada gente. =D
Pessoal eu to vendo que muita gente tá acessando a fic, mas poucas pessoas comentam. Comentem por favor, me deixem saber o que vocês estão achando.
Também quero avisar que a fic está quase no final. Não será grande como Plenitude.
Até a próxima.



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