P.O.V Effy

       Abri meus olhos sem nenhuma expectativa de encontrar o sol, não sei bem ao certo, talvez estivesse sonhando com a vida do lado de fora de Briarcliff.

Mas havia sim algo de errado, eu estava com um sentimento ruim, como se fosse um enorme nó em minha garganta. Foi quando percebi que não era apenas um sentimento. Não estava mais em minha cela na solitária como de costume. Por um segundo meu cérebro cogitou a pequena possibilidade de estar fora daquela cela acolchoada nojenta.

   Algo parou esse pensamento subitamente. Eu estava sim fora daquela cela, mas não me parecia certo; eu estava sendo carregada, quando finalmente percebi que estava deitada em uma maca, fiz o que podia para sair, mas outro detalhe me parou, eu estava algemada, ou melhor, eu estava acorrentada de maneira bruta. Duas correntes de ferro enormes prendiam meus braços e pernas à aquela maca que estava sendo erguida por dois seguranças que dariam o triplo de mim.

O que diabos estava acontecendo?!

Quando vi que um dos seguranças notou que eu havia acordado, a última coisa que senti, foi uma pancada extremamente forte em minha cabeça...

***

—Abra os olhos minha querida.

Aquela voz metálica familiar ecoou em minha mente, tentei abrir os meus olhos, mas uma luz forte me impediu. Os fechei novamente em um flash.

—Então é ela? –Perguntou uma voz masculina marcante. –

—Sim. Está é Elizabeth Stonem, nossa paciente recém chegada. Bastante promíscua se me permite acrescentar doutor. –Essa voz eu fui capaz de reconhecer brevemente. Irmã Mary Eunice. –

—E então Irmã, o que estamos esperando? –Perguntou novamente o homem. –

—Apenas a Irmã Jude chegar com o outro paciente. E aí poderemos iniciar o processo.

—Outro paciente? Achei que só faríamos isso com Effy. –Questionou outra voz masculina, não era a mesma voz que eu tinha ouvido a poucos segundos atrás. Era pior, familiar... Doutor Arden. –

—Desculpe-me senhor, o senhor acabou de chamá-la de Effy?

—Oh! Perdoe-me Irmã. Perdoe-me. Quis dizer, senhorita Stonem. –Doutor Arden se corrigiu e senti um nó em meu estômago. –

—Tudo bem, eu lhe perdôo doutor. Apenas saiba que Irmã Jude não gosta que o senhor mantenha nenhum grau de intimidade com os pacientes, especialmente as mulheres.

***

       Não tive forças para responder, ou se quer tentar me levantar da cama na qual eu havia sido colocada, mas fui teimosa o suficiente para abrir meus olhos por um breve momento, e tudo o que eu sabia era que eu estava de volta à sala do Doutor Arden. E aquilo me arrepiou, não tinha boas lembranças sobre a última vez em que estive naquele buraco.

   No momento em que fechei meus olhos novamente, ouvi um baque. A porta simplesmente se escancarou. Preferi não ver nada, apenas ouvir. Se os fizesse pensar que eu ainda estava inconsciente, eu teria uma vantagem.

—O que está fazendo?! Onde está Effy?!

Assim que ouvi os gritos, meu coração acelerou.

Kit!

—O que fizeram com ela? O que fizeram? Vocês são todos loucos! O que diabos vão fazer com a gente?!

—Senhor Walker! Já chega! –Gritou Irmã Jude. –

   Neste momento, apenas ouvir não bastaria. Foda-se a vantagem. Abri meus olhos discretamente e observei a cena. Nenhum deles parecia se preocupar comigo, nem mesmo Kit que tinha a visão fixa em Irmã Jude, podia jurar que sairiam faíscas de seus olhos.

—Não se preocupe Kit. –Pronunciou-se Irmã Mary Eunice. -Não fizemos nada com ela, ela só está desacordada. Simplesmente porque estava dormindo quando a trouxemos para cá. –

Assim, Irmã Mary Eunice tocara o ombro de Kit levemente, como se isso o consolasse. E eu não me importei, quase não tinha visto que o ato acontecera, mas quando observei melhor, Doutor Arden encarava a cena com raiva, talvez nojo. Será mesmo que aquela freira era tão importante assim para ele?

Não sei, talvez fosse algum tipo de fetiche. Arg! Que nojo!

***

Não tinha percebido que caí no sono, mas quando acordei, vi Kit deitado na cama ao lado da minha. Ele parecia estar dormindo também, eu não tinha certeza se ele estava desmaiado, mas avistei um corte profundo em sua testa, que me fez imaginar se eles tinham o acertado para que dormisse.

—Que bom que está acordada Elizabeth. –Vi Irmã Mary Eunice em meu campo de visão com um sorrisinho inocente, como se ela estivesse levando uma criança para tomar sorvete ou andar de patins. –

—O que...

—Pare! Não diga nada! Sua voz está fraca, não se esforce demais. Vocês dois vão precisar de força para mais tarde.

—Eu sei o que está pensando Effy. “O que estamos fazendo aqui?” Mas não se preocupe, vou explicar tudo à você. Aí você poderá explicar ao seu namorado quando ele acordar. –Ela falava, parou apenas para respirar fundo. E continuou. – Tenho certeza de que você se lembra do que Irmã Jude disse na reunião no outro dia, sobre....mudanças. Ela acha que você e Kit precisam delas mais do qualquer outro paciente aqui dentro. –

—Mas...

—Já disse! Não se esforce! Me desculpe Effy, eu não posso falar mais nada. Ordens da Irmã Jude. Todas as informações de que precisa, eu já lhe disse. Agora, tenho que ir.

Ela se retirou da sala, me deixando com muitas perguntas, mas de uma coisa eu tinha certeza naquela hora. Kit precisava acordar!

***

—Vamos Kit! Acorde, por favor! Acorde!! –Por mais que eu não tivesse muitas opções para me mexer naquela cama, já que eu continuava algemada e acorrentada... eu tentava de tudo pra conseguir sacudir Kit para que ele pelo menos abrisse os olhos por alguns instantes. –

   As correntes faziam um barulho irritante e relativamente alto, então eu tinha que me apressar em acordá-lo. Não podia chamar quase nenhuma atenção, eu já não fazia ideia do que iriam fazer com a gente, mas se alguém notasse o que estava acontecendo ali, as consequências poderiam ser muito piores.

***

—Senhorita Stonem, senhor Walker.... Estamos prontos para vocês! –A voz do Doutor Arden ecoou na sala, e logo fiquei imóvel na cama. –

   -O que está acontecendo?! –Perguntei à Irmã Jude que vinha logo atrás. –

—Vocês precisam de uma lição.

—O que significa? –De repente, ouvi a voz de Kit ao meu lado e pude vê-lo sorrir para mim de lado. –

—Vamos realizar um sonho em Briarcliff, um novo equipamento que adquirimos recentemente.

—Que equipamento? –Questionei com a voz fraca. –

—Um novo, tratamento. Gostamos de chamar de Tratamento de Choque.