Além da vida escrita por KayallaCullen, Miss Clarke


Capítulo 28
Teste de honra




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Pov. Lukas:

Após caminharmos durante alguns minutos pelos corredores estreitos que haviam debaixo do palácio finalmente havíamos chegado ao templo antigo dedicado a magia Sforza.

–Nossa. – sussurrei admirado enquanto olhava a magnitude da construção que ainda estava de pé, sem nenhum sinal de que havia sido abalada pelo tempo.- Como isso tudo anda pode estar de pé sem apresentar nenhum sinal de desgaste?!

–Isso se deve a magia, meu querido. Esse local ainda é muito poderoso, e ainda se mantem de pé por que não cumpriu sua finalidade.- minha avó explicou antes de subirmos alguns degraus e entramos em um local que logo se iluminou assim que entramos.

–Você é o escolhido. Mesmo sendo um vampiro o templo reconhece seu poder adormecido.- minha avó disse surpresa e logo senti meu corpo ficar pesado, como se estivesse dopado.

–Vó, não estou me sentindo muito bem.- sussurrei com a voz arrastada enquanto me apoiava em uma mesa de pedra.

–Deite-se aqui meu querido.- vovó disse enquanto me ajudava a deitar na mesa.

–Estou com medo.- sussurrei sonolento e minha avó segurou minha mão com força.

–Ela não vai machucá-lo, apenas tenha fé no seu dever.- vovó sussurrou e concordei antes de ser vencido pela inconsciência.

–Seja bem vindo de volta meu querido.- ouvi a voz de Lanna dizer assim que abri os olhos.

Assustado me afastei do carinho que ela fazia em meus cabelos.

–Não precisa temer, jamais o machucaria. – ela disse enquanto nos olhávamos intensamente.

–É incrível como a cada encarnação você se parece mais com Alejandro. Daqui há alguns anos serão praticamente a mesma pessoa.- ela disse encantada sem deixar de me olhar.

–Você também se parece muito com minha esposa fisicamente, exceto os olhos.- disse e ela sorriu surpresa.

–É mesmo? Isso é estranho, afinal temos os mesmos olhos verdes.

–Sei disso. Só que minha esposa tem o olhar doce e você tem um olhar determinado, diria até vingativo.- sussurrei e ela sorriu suave.

–Você realmente é o escolhido. Nenhum outro saberia me diferenciar das outras, apenas você.

–Por que?

–Por que você sou eu, Lukas. Lanna pode se parecer fisicamente comigo, mas minha alma, minha força e minha magia sempre estiveram em você. Seu poder de superação se deve a mim. Afinal, sofremos inúmeras perdas durante séculos e continuamos fortes. -ela disse e arfei em choque.

–Sempre pensei que Lanna fosse sua reencarnação e não eu.- disse confuso e ela sorriu.

–Eu sei, mas você sempre foi mais doce e incapaz de machucar alguém como eu fui um dia. Mas quando nos tiram tudo que mais amamos viramos uma força incontrolável de raiva e desejo de vingança. E Lanna sempre foi a mais explosiva e ciumenta do relacionamento de vocês. Um defeito herdado de sua vida passada como Magnus. Mas ela também sabe ser cativante e apaixonante como meu marido foi.- ela disse suave e concordei antes de entender o porquê de ser o escolhido.

–Por isso sou o escolhido. Por que além de seu sangue correr em minhas veias e de ser o único capaz de ler o livro, fui escolhido por que sou você. E você é a única capaz de matar Aro.

–Sim. Meu sangue e minha essência forjaram o feitiço, e só eu ou alguém que possui a minha alma podem acabar com ele.

–Entendo. Mas é verdade que irei morrer no final? - questionei com medo.

–Você irá precisar de muito poder para derrotar Aro. Toda a magia de nossos antepassados se concentrará em você e isso pode ser demais. Sinto muito.- ela sussurrou com pesar e abaixei os olhos tentando entender tudo que havia sido dito.

–Agora entendo.- sussurrei levantando meus olhos para vê-la depois de um tempo.- Todas as coisas que enfrentei, que eram demais para mim estão me fazendo sentindo agora. Eu tinha que passar por cada dor ou inferno particular para me tornar o homem forte que sou. Forte a ponto de não desistir e cumprir até o fim a missão que me foi confiada antes de nascer.

–E você aceita?

–Sim.- disse seguro e ela concordou antes de me ajudar a levantar da mesa de pedra.

–Para que o poder ancestral seja seu, terá que passar pelos três testes de honra. Neles terá que mostrar se é merecedor de receber tanto poder.

–E se eu falhar?

–Não sairá vivo desse sono e seu reino será dizimado pelos Volturi.

–E se eu passar?

–Você, e todos aqueles que surgiram de você voltaram a ser humanos e o poder de todos os bruxos mortos de nosso clã serão seus. Quer desistir?

–Não.

–Siga em frente e mostre o seu valor. Se for merecedor, sairá daqui como grande conquistador.- ela sussurrou antes de sumir.

Respirei fundo algumas vezes antes de começar a andar pelo caminho que havia sido indicado, logo comecei a ouvir som de risadas e música alta antes de perceber que os tuneis estreitos haviam se transformado em um quarto familiar.

O meu antigo quarto na época que fiz minha primeira faculdade.

–Olha só, se não chegou quem faltava para a festa meninas.- me ouvi dizendo e virei rapidamente para ver alguém idêntico a mim na cama com quatro garotas.

–O filho prodigo sempre retorna.- meu outro “eu” disse antes de tomar sua taça de champanhe que havia sido servida por uma das garotas.

–Não. Eu não sou mais assim.

–Como se eu acreditasse. Você sempre gostou de ter todas as mulheres que quisesse, nunca se contentou só com uma. Se quiser posso deixa-lo a sós com as meninas.- o outro “eu” ofereceu e neguei.

–Por favor, Lukas, não vai me dizer que aquela “garotinha virgem” com quem você casou lhe satisfaz?! Ela só teve um homem na vida, não deve saber de nada. Aposto que deve ter sido um suplício leva-la para a cama.

–Lave essa sua boca imunda antes de falar da minha mulher. Lanna é a mulher que amo.- disse sério e ele gargalhou.

–Pode até ser, mas acho que ela não te amava. Afinal, ela não foi capaz de perdoar suas mentiras. O que é uma hipocrisia da parte dela, por que se Lanna vivia “sorridente” era por que você era experiente entre quatro paredes, e ela se aproveitou muito bem dessa sua qualidade.- ele apontou e fiquei calado, afinal odiava admitir, mas pensava isso todos os dias.- Olhem só meninas, perdeu a coragem, aposto que estou certo. Você vive dizendo que a culpa de ter sido um homem mulherengo era pela influência de Isabelle, mas sabe o que acho?

–É a verdade.- sussurrei e ele sorriu antes de caminhar até mim com seu olhar frio e cruel.

–Não. Você não quer admitir que sempre foi assim. Afinal, você sempre traia sua primeira namoradinha quando tinha chance.

–Isso não é verdade.

–Pare de mentir para si mesmo e admita o que fez.- ele gritou furioso e cai no chão de joelhos enquanto chorava.

–Jamais fui fiel a Paloma. Sempre que podia a traia com a minha colega da turma de álgebra no porão do internato, e jamais me senti culpado, afinal achava que era certo. Todo esse tempo dizia que Isabelle havia me transformado em um canalia desprezível, mas eu já era um. Só não tinha coragem de admitir para mim mesmo.- solucei com vergonha ao lembrar de todas as coisas que fiz.

–Viu só?! Não doeu admitir a verdade. E a verdade é que você foi e sempre será um traidor. Aposto que sua mulher já foi traída tantas vezes que já perdeu até a conta.- ele disse irônico e levantei meus olhos para vê-lo enquanto me levantava.

–Posso ter sido um traidor no passado, mas jamais toquei em outra mulher que não fosse Lanna, desde que a conheci. Ela me transformou. Me tornou um homem melhor para ela. Sei que jamais fui perfeito, mas assim que vi Lanna nascer e a peguei no colo soube que em meus braços estava a minha chance de redenção. A minha nova vida. E se mudei, foi para merecê-la. Admito sim, ter mentindo e traído todas as garotas que me amaram e que nunca as amei. Mas assim que me apaixonei e entreguei meu coração a Lanna me tornei fiel e continuarei sendo até depois de minha morte.- disse serio enquanto andava em direção do outro “eu” que logo desapareceu levando consigo as garotas e o quarto.

E naquele momento entendi que aquilo era o primeiro teste. Afinal, sempre tive medo de admitir e enfrentar o meu outro lado. E agora que havia feito isso me sentia outro homem. O homem certo para Lanna.

Respirei fundo antes de seguir em frente para o próximo teste.

Assim como no primeiro teste os corredores estreitos se transformaram em outro ambiente familiar, mas dessa vez senti um arrepio percorrer minha coluna.

–Olá Lukas.- a voz do passado sussurrou atrás de mim e virei apavorado para vê-la.

Para ver a mulher que havia me matado.

–Você continua lindo como sempre. Só que dessa vez é um imortal.- ela sussurrou enquanto começava a andar em minha direção.

–Não chegue perto de mim.- pedi apavorado enquanto em minha mente passava a noite de tortura e medo que passei nas mãos daquela mulher.

–Sabia que um encontro como o nosso jamais seria esquecido querido. Lembra como quebrei cada osso do corpo do seu pai? - ela questionou e rugi furioso antes de jogá-la contra uma arvore, mas assim que seu corpo a atingiu gemi de dor enquanto ela ria.- Qualquer golpe que me acertar, quem sentirá a dor será você.

– O que você quer de mim? - questionei com dor enquanto me levantava do chão.

–Sabe, a eternidade é entediante quando se é sozinha. Talvez nós dois pudéssemos nos unir que tal?!

–Não.

–Lukas, você sabe que odeio ser renegada e quando isso acontece fico vingativa.- ela ameaçou e sorri.

–Você já me matou uma vez e não vou permitir que faça uma segunda.

–É o que veremos.- ela disse furiosa antes de partir para cima de mim.

E num gesto totalmente insano corri para cima dela enfrentando-a de frente, mas assim que iriamos colidir ela sumiu.

Naquele momento compreendi que ela era o segundo teste, o qual deveria superar meu pavor e medo de morrer, afinal já havia passado por isso uma vez e iria passar novamente, só que dessa vez estava preparado.

Sem pensar duas vezes voltei a caminhar pelos corredores que me levariam em direção ao meu último teste. E como das outras vezes o ambiente se transformou em um local conhecido.

Confuso, abri a porta que estava em minha frente e vislumbrei a sala de estar do palácio da alvorada.

–Lukas, meu querido que bom que chegou. Estávamos esperando por você.- minha mãe disse amável assim que colocou uma bandeja de chá em cima da mesa.

–Mamãe.- sussurrei em italiano antes de correr para abraçá-la forte.

–Meu filho, está tudo bem não precisa chorar.- ela sussurrou doce enquanto acariciava minhas costas com carinho.

–Senti tanto a sua falta mãe.

–Eu também meu amor.

–Lukas.- ouvi Serena e Letízia gritar antes de descerem as escadas correndo.

Me afastei de minha mãe para poder abraçar minhas irmãs com força.

–Me perdoem. Me perdoem por não ter sido forte para protege-las.- pedi enquanto abraçava forte as duas.

–Você não teve culpa de nada. Havia chegado a nossa hora.- Serena disse suave e Letízia concordou.

–E agora que você chegou voltaremos a ser uma família completa e feliz.- Letízia disse e concordei.

–E o papai? - questionei preocupado por não vê-lo.

–Estou aqui, estava apenas deixando você matar a saudade das nossas garotas primeiro.- meu pai disse descendo as escadas e sorri antes de correr para abraça-lo.

–Senti sua falta pai.- sussurrei em seu peito e ele sorriu antes de me abraçar com mais força.

–Eu também filho. Você me perdoa pelas coisas horríveis que fiz a você?!- ele pediu assim que nos separou para me olhar nos olhos.

–Eu já perdoei pai.

–Já?!

–Já.- sussurrei antes de voltar a abraça-lo.

–Finalmente voltaremos a ser uma família feliz e unida.- mamãe disse e concordei.

–Você vai ficar conosco, não vai? - meu pai questionou e sorri.

–Claro que...- comecei a responder animado, mas parei assim que me lembrei da minha família e compreendi o que deveria fazer.- Por mais que deseje ficar, não posso.

–Por que não? - eles questionaram tristes.

–Por que não posso deixar minha família sozinha. Por mais que queira ficar aqui com vocês ainda não posso. Meus filhos precisam de mim. E aprendi com meus pais, que pais jamais abandonam seus filhos e que são capazes de tudo por eles. Só.... Espero que me perdoem por não poder ficar.- implorei com dor e todos sorriram compreensivos.

–Nós entendemos meu filho, e foi bom ver você novamente.- minha mãe disse entre lagrimas e sussurrei um me desculpe antes de receber um abraço em família enquanto repetíamos o quanto nos amávamos.

E ali sendo abraçado por minha família compreendi que por mais que quisesse ficar com eles ainda não havia chegado a hora, e admitir isso era doloroso, mas necessário. Tudo que podia fazer agora era abraça-los e beijá-los antes de sair pela porta que entrei, retornando a mesa de pedra.

–Lukas? - ouvi minha avó chamar e abri os olhos para vê-la.

Naquele momento percebi que não podia mais ver as partículas de poeira no ar ou cada mínimo detalhe das pedras da construção. Minha visão estava tão limitada quanto a de um humano.

–Meu querido, você conseguiu.- minha avó disse feliz e concordei antes de me sentar na pedra e ser abraçado por ela.

–Eu consegui vó.- sussurrei e comecei a chorar ao perceber que minha voz não era mais tão musical como antes, e que meu coração batia como qualquer outro.

Pov. Lanna:

–Mãe, a senhora deveria se acalmar.- Nicolas pediu enquanto eu andava de um lado para o outro no corredor que abrigava a porta da passagem secreta pela qual Lukas e a avó haviam desaparecido.

–Só vou me aclamar quando ver que o pai de vocês está bem.- disse ainda caminhando, mas parei assim que vi meu reflexo no espelho. Um reflexo que possuía meus antigos olhos verdes.- Ah meu Deus.

–O que foi mãe? - meu filhos gritaram e vieram até mim.

–A senhora está...- Nicole sussurrou chocada assim que viu meus olhos.

–Meu coração está batendo de novo.- sussurrei assim que coloquei minhas mãos sob meu peito.

–Pareci que não sou a única humana da família agora.- Allegra brincou e sorri.

–Lukas consegui.- sussurrei entre lagrimas e Allegra sorriu.

–O papai não podia ter feito isso.- Nicolas sussurrou com raiva.

–Ele acabou com a nossa vida.- Nicole sussurrou chorando enquanto Allegra e eu ficávamos confusas diante dos comentários deles.

–O que fiz foi para o bem maior, agora deixem de serem egoístas e encarem o medo de vocês de frente como eu fiz.- ouvi Lukas dizer sério e virei para vê-lo, tão humano quanto eu.

–Eu odeio você pai.- Nicolas e Nicole gritaram com raiva.

–O que pensam que estão fazendo?! Vocês não têm o direito de odiá-lo, por que sem ele não estariam aqui.- disse seria enquanto olhava para ambos.

–Pois preferia ser filho de uma mãe solteira do que ter um pai que acabou com a minha vida.- Nicolas disse com raiva e lhe dei um tapa.

–Nunca mais diga uma coisa dessas. Por que você só está aqui hoje graças ao amor que sentia e ainda sinto por Lukas. Por que se não fosse, você e Nicole jamais estariam aqui sendo mal agradecidos com o homem que me ajudou a concebê-los. Apenas por que tem medo que Seth e Leah não os ame agora que são humanos.

–A senhora não entende mãe.- Nicole disse triste.

–Vocês dois é que não entendem que um amor quando verdadeiro nada o destrói, nem a morte é capaz disso. Agora parem de ser mimados e vão saber se ainda são amados ou não.

–E se não formos? - Nicolas questionou com medo.

–Vocês ainda terão seus pais para lhes dá colo.- Lukas disse e os dois concordaram antes de irem até Seth e Leah.

–Será que poderíamos conversar.- pedi virando para ver Lukas nos olhos.

–Claro.- ele sussurrou antes de me oferecer sua mão.

–Espero que se acertem.- Allegra disse e sorrimos antes de irmos em direção ao nosso quarto para uma conversa definitiva.


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