Egito, 2585 a.c

Dizem que se apaixonar acontece de forma gradativa e imperceptível, que o mundo fica mais colorido e feliz. Que lhe faz querer contar a todos o motivo de tal felicidade, mas no meu caso falar significava a morte para nós dois.

-Minha rainha, a comitiva chegou.- Nabia, minha dama de companhia informou me tirando dos meus pensamentos.

-Graças aos deuses, e ele está entre eles? - questionei apreensiva e ela sorriu concordando.- Vamos Nabia, me ajude a ficar linda para ele.

-Claro minha rainha.- ela disse amável antes de começar a me ajudar.

Nabia além de minha dama de companhia era minha única amiga no palácio.

A única que conhecia meu segredo e que morreria para protege-lo.

Assim que estava devidamente pronta fui até o harém onde ficavam as várias esposas do faraó e seus filhos para buscar o meu único tesouro naquele lugar.

-Mãe.- meu filho disse feliz assim que me viu e correu para me abraçar.

-Senti saudades meu príncipe.- sussurrei amorosa enquanto o abraçava.

-Também senti mãe, e é verdade que a comitiva chegou? - meu filho questionou empolgado e concordei.- papai deve estar feliz com mais uma vitória.

-Sim, filho. Agora precisamos receber o exército.- disse e ele concordou antes de segurar em minha mão para irmos até a sala do trono.

Ao entramos na sala o faraó sorriu chamando a atenção de todos para mime meu filho.

-Sou um homem abençoado pelos deuses por possuir uma esposa tão linda quanto a deusa Isis. E que me deu um menino forte e bonito que será o próximo a sentar no trono egípcio.- Narmer disse orgulhoso enquanto eu tentava controlar a minha fúria ao ouvir suas mentiras.

Por que quem o ouvisse falando assim acharia que ele era o melhor pai e marido do mundo, o que não era verdade.

Narmer era cruel, possessivo e incapaz de amar alguém. E eu não aguentava mais fingir que era feliz ao lado dele, mas deveria continuar a farsa em nome do meu filho.

-Anippe, querida você está estonteante.- Narmer disse amoroso assim que fiquei ao lado dele.

-Obrigada meu rei.- sussurrei suave e ele sorriu para meu filho.

-Ravic, querido não vejo a hora de vê-lo voltando de uma batalha vitorioso.- ele disse e segurei meu filho com mais força.

Se dependesse de mim, Ravic jamais pisaria em uma batalha.

-Meu rei, não assuste o príncipe ou a rainha com algo que só acontecerá em alguns anos, afinal o príncipe Ravic só tem seis anos.- o general Ramsis interveio e Narmer sorriu.

-Tem razão meu bom amigo, vou deixa-lo desfrutar da companhia da mãe. Vamos começar a festa, afinal precisamos comemorar a minha vitória.- Narmer disse empolgado e logo os músicos começaram a tocar e várias dançarinas ocuparam o meio do salão.

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-Minha rainha, podemos ir.- Nabia disse assim que entrou m meu quarto.

-Tem certeza?

-Sim, e que os deuses a protejam.- ela desejou e agradeceu antes de nos abraçarmos.

-Tome conta de Ravic por mim.- pedi assim que nos separamos.

-Não se preocupe senhora.- ela assegurou e olhei novamente para o meu filho adormecido em minha cama antes de ir em direção as passagens secretas que ficavam em meus aposentos.

Jamais deixava Ravic dormir sozinho no harém com as outras crianças do palácio, o que para algumas mulheres era estranho. Mas para mim era a forma de estar perto do homem que eu amava já que meu filho se parecia um pouco com ele.

Respirei fundo tentando me controlar enquanto seguia pelo corredor estreito de peras iluminados por tochas, fiz uma pequena curva antes de chegar perto de uma parede e empurrá-la antes de entrar em um quarto.

-Anippe.- Ramsis disse amoroso e saudoso assim que me viu e corri para seus braços abraçando-o forte enquanto sentia seu cheio que tanto amava.

-Senti tanto a sua falta meu amor, deixe-me vê-la.- Ramsis pediu e me afastei a contra gosto dele.

-Como se não houvesse mulheres em Ménfis para satisfazê-lo.- disse ciumenta e ele sorriu.

-Posso não ser seu marido perante os deuses e os homens Anippe, mas jamais me deitaria com outra mulher que não fosse você.- ele jurou e sorri triste antes de olhar para os meus pés.

-Queria poder dizer o mesmo Ramsis.- disse envergonhada, pois mesmo não querendo me deitar com Narmer eu era obrigada, pois minha desobediência seria severamente punida.

-Meu amor, você não tem que se culpar por nada.- ele sussurrou enquanto segurava meu roso para que eu o visse.- Narmer pode ser seu marido por conveniência, mas eu sou o dono do seu coração assim como você é a dona do meu. E é comigo que você se entrega de corpo e alma.

-Acho que isso quer dizer que você é mais meu marido do que ele. -disse suave antes de acariciar seu rosto de ele.- Ramsis…Eu te amo tanto.

-Anippe...Eu também te amo.- Ramsis sussurrou antes de me beijar com todo amor que sentia por mim.

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-Essa cicatriz é nova. Como a adquiriu? - questionei preocupada tocando a barriga de Ramsis que possuía uma grande cicatriz.

-Fui surpreendido por um soldado de Ménfis que quase me matou, mas, fui mais rápido que ele e o golpeei bem aqui.- ele disse e tocou meu peito de leve, no local que estava meu coração.

-Foi muito doloroso? - questionei seguindo o contorno da cicatriz com meu dedo indicador.

-Não se preocupe com isso meu amor, não vamos perder tempo com assuntos de guerra.- ele pediu e suspirei contrariada.

-Não me peça para evitar minha preocupação Ramsis, a cada guerra que você vai é como se uma parte de mim fosse também. Apenas, não me recrimine.- pedi e ele acariciou meu rosto de leve enquanto me olhava nos olhos.

-Jamais vou recrimina-la por se preocupar comigo, Anippe. Mas podemos mudar de assunto.- ele sugeriu e sorri concordando.

-Sobre o que gostaria de falar?

-Sobre Ravic. Ele está tão grande e lindo.- ele disse abismado e sorri.

-É verdade, ele só tinha três anos quando você foi guerrear em Ménfis.

-Do que ele gosta de fazer? - Ramsés questionou interessado e logo comecei a falar sobre Ravic.

-Ele parece ser um menino adorável.

-E é. Mas por que você nunca se refere ao Ravic como nosso filho? - questionei confusa e ele suspirou antes de sentar na cama.

-É complicado amor.- ele disse triste e me sentei na cama para olhar em seus olhos.

-Você está me dizendo que não tem certeza que Ravic é o seu filho?!- disse ofendida para ele.

Afinal, sempre tive certeza de que Ravic era filho de Ramsis, e também achei que ele também tinha essa certeza.

-Claro que tenho certeza Anippe, jamais duvidaria de você.

-E por que você não se refere a ele como seu filho?

-É complicado.

-Você já disse isso general Ramsis.- disse furiosa enquanto levantava da cama e começava a recolher minhas roupas.

-Onde você vai Anippe? - ele questionou preocupado assim que percebeu que eu já estava devidamente vestida.

-Vou embora, sair de meu quarto essa noite foi um erro. Adeus general Ramsis.- disse severa antes de sair pelas passagens secretas.

As palavras de Ramsis foram capazes de me ferir até a alma, afinal estava arriscando tudo para viver aquele amor, mas parecia que ele não estava mais disposto a se arriscar.

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Depois de nossa briga não voltei mais a procura-lo e esperava que isso o fizesse entender que não queria mais vê-lo, mas teve o efeito contrário.

Sempre que podia Ramsis me seguia esperando a melhor oportunidade para falar comigo a sós e graças aos deuses ele não estava obtendo êxito.

-É tão bom sair desse palácio. É como se o ar do lado de fora fosse mais puro.- comentei com Nabia assim que chegamos ao rio Nilo com Ravic.

-É verdade, minha senhora.

-Mãe, posso ir nadar agora? - Ravic pediu animado e sorri.

-Claro, mas não saia de perto de Nabia e fique próximo a margem.- ordenei e ele concordou antes de me dá um beijo e se afastar com minha dama.

Fui em direção a uma tenda que pertencia ao palácio que sempre estava abastecida de iguarias para quando a família real viesse até o rio.

-Finalmente poderemos conversar a sós.- ouvi Ramsis dizer e vire para vê-lo.

-Não temos nada para conversar general.- disse tentando se indiferente a ele, mas falhei.

-Apenas, me escute minha rainha.- ele implorou desesperado.

-Você tem um minuto, então faça bom proveito dele.

-Um minuto é tudo de que preciso senhora.- ele prometeu suave.- Jamais quis ofendê-la dizendo ou insinuando que a senhora não sabia quem era o pai do seu filho.

-Pode até ser general, mas foi o que o senhor deu a entender. Ao contrário do que acha, sei quem é o pai do meu filho, por que todas as vezes em que sou obrigada a me deitar com o homem que matou minha família e dizimou minha tribo apenas por que eles não queriam me entregar a ele, tomo poções feitas por Nabia que me impedem de gerar um filho daquele monstro. Já com você não há necessidades de poções, se não acredita em mim pergunte a minha serva.- sugeri e ele me olhou sem saber o que dizer.

-Confio em sua palavra senhora.

-Não confia não, por que jamais se referiu ao Ravic como seu filho. Ramsis, ele tem o seu sangue. Ele é seu e não de Narmer, e não entendo como pode ser complicado reconhecer e amar o fruto do nosso amor.- sussurrei chorando enquanto olhava para Ramsis que parecia indignado com minhas palavras.

-Como ousa dizer que não reconheço ou amo Ravic?! Amo aquela criança mais do que meu dever de servir e proteger o faraó, só não o amo mais do que amo a mãe dele. E não me refiro a Ravic como meu filho, por que tenho medo de me trair na frente do rei e acabar colocando vocês em perigo.- ele disse furioso enquanto olhava para ele sem saber o que dizer.

-Ramsis, eu não sabia.- sussurrei envergonhada por minhas desconfianças.

-Tudo bem.- ele sussurrou cansado enquanto se sentava em uma das cadeiras que haviam na tenda e eu o acompanhei.

Passamos horas em silencio enquanto observávamos nosso filho brincando na agua com Nabia.

-Queria que tudo fosse diferente.- ele sussurrou quebrando o silencio.

-Diferente como?

-Queria que pudéssemos ficar juntos. Que eu pudesse abra e brincar com meu filho. Queria poder me referir a ele como meu.... Queria poder lhe dá um beijo de boa noite enquanto o coloco para dormir...- Ramsis sussurrou entre lagrimas e sorri triste.

-Me perdoe, jamais quis fazê-lo sofrer desse jeito. A culpa é minha.

-Claro que não Anippe, me apaixonei por você assim que meus olhos a viram e esse tipo de amo só acontece uma vez na vida, e quando acontece é tão forte que não conseguimos resistir.- ele disse e virou para me ver.- Eu amo você.

-Eu também amo você.- sussurrei apaixonada antes de nos beijarmos.

-Não disse meu rei.- uma voz disse e nos separamos assustados vendo Narmer e sua segunda esposa em nossa frente.

-Sim Ket. Você disse.- Narmer disse furioso enquanto nos olhava.