Quimerae escrita por Crazy Old Stories


Capítulo 9
Prólogo - O Monstro Parte 2 - Final


Notas iniciais do capítulo

Nona e última parte do prólogo



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Seire acorda repentinamente. O fogo ainda queimava forte, deixando-a enjoada. Sentia-se muito pior do que antes, sua cabeça explodia em dor e seus ferimentos pareciam aumentar ainda mais. Tinha a certeza de que deveria estar morta, mas não estava.

Seu instinto de sobrevivência estava mais forte do que nunca: era o que a tinha acordado e insistia em tirá-la dali. “Se continuar aqui vai morrer! Corra! Fuja! Rasteje para longe daqui!!!”

Sem saber de onde vinha a força, Seire consegue se levantar. Vomita, nauseada. Estava completamente cercada de um odor doentio e seus sentidos estavam mais apurados. Não consegue raciocinar.

Lentamente, passo ante passo, Seire obedece. E assim se afasta do monastério e do fogo, sem saber para onde ir. Ali foi seu lar desde que nasceu. Não conhecia outro lugar, não sabia outra vida…

Mas era tarde demais para aquele local. As histórias antigas dizem que o monastério foi construido ali justamente por ser um lugar sagrado, de luz e paz. Não era o monastério que tornava o solo sagrado…

Agora, tudo é ruína. Morte e sangue onde a Luz deveria proteger. O fogo doentio a destruir a pureza do lugar. Seire tinha a certeza de que ali nunca mais a Luz, Néphise, iria reinar; embora não soubesse explicar como tinha tanta certeza. Sentia como se uma faca envenenada tivesse sido fincada no coração da Deusa e seu tempo estivesse acabando.

“Não! Isso é blasfêmia”, Seire tenta afastar seus pensamentos mórbidos. “! O templo cai mas o deus permanece! Eras passarão e os deuses persistirão! Foi o que aprendi desde pequena! Não posso perder a fé porque causa de uma tragédia! Sim… Devo sobreviver. Continuar o legado da Luz. Purificar o lugar e reerguer o monastério!”

Mas como? Seire ainda era aprendiz e sabia muito pouco das artes clericais: apenas algumas magias de diagnóstico e cura… Todo o conhecimento tinha-se ido, devorado pelo fogo profano. Ou não exatamente… Lembra que o demônio falou algo sobre não queimar os vivos… Outra coisa havia profanado o solo! Algo muito pior que aquela besta de fogo negro, mas Seire não consegue lembrar de nada. Sua cabeça piorava quando tentava lembrar. Aquilo também parecia tirar-lhe completamente a sanidade.

Já estava bem longe do monastério de Néphise e a beira da estrada, quando Seire retorna a si. Não lembrava de ter caminhado tanto. Longe do fogo, seu corpo doía menos, mas a cabeça não parecia dar sinais de melhora. Ouve vozes, sussurrando, mas nada consegue entender. Ela tenta limpar a cabeça para tentar raciocinar melhor.

“Para onde devo ir agora? Norte? Ou sul?” Como assuntos referentes ao que estava fora do monastério nunca foram de interesse para Seire, ela não fazia a menor ideia se tinha alguma cidade ou vila próxima, menos ainda para que lado ficariam.

Por fim decide seguir para o sul: apesar de ainda não ser inverno, ficaria cada vez mais frio se fosse para o norte. Não sobreviveria em seu estado atual, menos ainda com as roupas rasgadas e ensanguentadas.

Então Seire percebe que não estava mais na forma de monstro. Mas desde quando? Não sabia…

Parada, em transe, ela contempla o horizonte. A mente não consegue segurar as ideias. A única certeza era a de que tinha que continuar andando. Quanto mais longe melhor. Mas longe de que? Não conseguia lembrar. A dor de cabeça ataca novamente. E a pergunta se esvai, efêmera, como se nenhuma importância tivesse.

Lentamente a percorrer a estrada em direção ao sul, ela foge. E um rastro de sangue a tingir o caminho. Por que sangrava? O que aconteceu? Apenas a dor intensa respondia. E assim as perguntas, uma a uma, continuam a sumir, irrelevantes.

“O que está acontecendo? Não consigo lembrar de nada…” E assim, no esforço de recuperar a memória, a dor de cabeça volta com tudo. Seu corpo lutava com unhas e dentes contra aquele… esquecimento?

Uma luta interna entre a consciência e a insanidade. E Seire estava perdendo. Tudo parecia tão frágil e insignificante diante daquilo. O que seria? Esquecimento? Loucura? Não… Era algo muito maior…

— Oh Néphise! Por favor me salve! — grita Seire por fim, sem mais saber o que falava ou fazia. E cai de exaustão.

— Sim… Minha pequena filha adotiva. — soa uma voz na mente de Seire, calmante e curadora — Pouco posso fazer agora… Mas… Talvez seja o suficiente.

Seire sente como se alguém segurasse tenramente seu rosto, mas nada vê. Era uma sensação estranha, mas acolhedora. E então ela começa a chorar, sem saber a razão.

Assim, uma grande paz inunda todo o seu ser. Sente suas memórias tentando finalmente voltar. Uma a uma elas vão retornando. Até que a dor em sua cabeça novamente revida, tão forte que Seire, agonizando, pede para morrer. Isso nenhum dos lados queria: seria insanidade ou consciência, mas não a morte…

Com o corpo e a mente em frangalhos, ela desmaia, talvez para nunca mais acordar…


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