Quimerae escrita por Crazy Old Stories


Capítulo 8
Prólogo - O Monstro Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Oitava parte do prólogo



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Em algum lugar próximo às montanhas do norte, no solo sagrado onde foi construído o outrora famoso monastério de Néphise, Deusa da Luz, surgem sinais de que algo está muito errado com o mundo.

Algo terrível e inominável corrompeu o lugar sagrado, profanou o ambiente com a morte e manchou seu solo de sangue. Tido como o baluarte da luz e de tudo o que é bom, sua queda representaria a ascensão do mal incomensurável. Ou assim seria, se algum ser vivo ainda se lembrasse da história do monastério. Agora era considerado apenas um templo menor no longínquo e selvagem norte…

No momento havia uma única criatura ainda viva lá dentro, entretanto está não é mais humana… Talvez nunca tenha sido.

“Onde estou? Que aconteceu comigo?” — se pergunta a criatura, ajoelhada no chão. — “Minha cabeça dói… Meu corpo dói…” — e põe a mão na cabeça, tentando expurgar a dor e lembrar o que havia acontecido — “Sim! É verdade! O templo foi atacado!!! Lembro de ouvir os pedidos de socorro… Mas quem atacou? Não consigo lembrar… Por que meu corpo dói tanto?! Eu lembro que… eu queria proteger o monastério e todo mundo.” — ela tira as mãos da cabeça, para então perceber o que acha inconcebível — “Que tipo de pesadelo é esse?!! O que, em nome da Deusa aconteceu comigo?! Têm garras enormes nas minhas mãos e pelos por todo meu corpo, um líquido negro nas garras e sangue, muito sangue ao meu redor!”

Em choque, a criatura se levanta rapidamente, fazendo seu corpo agonizar ainda mais. Mas tinha que ver por si mesma no que realmente ela se tornou!

“Isto é uma blasfêmia! Sangue!!! Sangue derramado no solo sagrado de Néphise! Será que… fui eu quem fez tudo isto? Não! Não pode ser! Eu nunca faria isso!” — pensa, enquanto caminha pelo monastério a procura de um espelho — “Hmmm… Espere… Este sangue é meu. Por isso meu corpo dói tanto, tem ferimentos por todo ele. Por Néphise! O sangue não para!” — O desespero toma conta da criatura, que logo é rechaçado por uma forte vontade de saber a verdade.

Finalmente a criatura chega em seu próprio alojamento. Lá possuía um espelho simples, além de seus pertences. Ao olhar-se pelo espelho, tudo em que acreditava desde pequena cai por terra. No solo sagrado de Néphise, onde mal nenhum e nem criatura maligna poderia entrar estava ela, um monstro, uma fera da noite, meio humana meio lobo. Ela era um monstro agora… uma criatura de trevas… e também clériga de Néphise, Deusa da Luz.

A criatura cai de joelhos, desolada, sem saber o que fazer. Olha novamente para seu próprio corpo, cheio de fúria, ferido e sangrando. E aquele liquido negro horrendo em suas garras. Pela Deusa! Ela tinha garras!!! E chora copiosamente, como uma criança assustada.

“NÃO! Não posso ficar assim agora. Depois terei tempo para lamentar! Preciso ver se alguém está vivo. Alguém TEM que estar vivo! Irão pensar que sou um demônio, aquele quem profanou o templo. Se é que eu não sou um… Mas é melhor encontrar pessoas assustadas que mortas… ”

Então a criatura se levanta com dificuldades. Suas feridas permaneciam abertas e ela mesma não tinha forças para chamar pelos poderes de Néphise e tentar fechá-las. Doíam mais do que qualquer coisa imaginável. E o sangramento continuava! A criatura começa a entrar em pânico novamente. Nunca tinha visto nada sangrar tanto e sobreviver… Mas de que isso importa! Tinha que achar sobreviventes.

Tal criatura tinha um nome: era conhecida como Seire, clériga de Néphise, estudiosa e honrada. Agora? Era apenas um monstro, um demônio, algo que lembrava uma amálgama entre humano e lobo cuja qual só tinha visto nos livros antigos.

Ela caminha com dificuldades pelo monastério. Em sua procura por sobreviventes, tudo o que via eram massas disformes que uma vez foram pessoas, sorrindo, falando, vivendo… Que tipo de coisa tinha causado tudo aquilo? A cabeça doí. Não consegue lembrar de nada. Ela fez aquilo tudo? Ou defendeu-se de quem fez? Era difícil pensar com todos os ferimentos.

Após caminhar por todo o lugar, não consegue encontrar ninguém vivo, apenas ela própria, a manchar ainda mais o solo sagrado com sangue, seu próprio sangue. Seire assim decide ir até a entrada. Se ninguém dentro estava vivo, talvez alguns tivessem fugido a tempo? Quem sabe… Era sua única esperança e somente isto era o que a mantinha lúcida e consciente.

Ao chegar aos portões… não poderia ter visão pior. Havia uma grande fonte de luz vinda do lado de fora. Sente que algo de muito errado vinha com aquela luz. Avança mais um pouco, a mente turvando e o medo e a insanidade tomando de conta… Então percebe que a luz vem de uma grande fogueira. Também sente um odor rançoso no ar, uma mistura de ovo podre e carne queimada.

Sua vista está embaçada e a dor em seu corpo piora. Aproxima-se da fogueira e, chocada, percebe que a mesma era alimentada por corpos. Corpos humanos! Eram todos os clérigos do monastério! Não sabia como mas conseguia reconhecer cada criatura que ardia dentro daquele fogo maligna. Era colegas, amigos, mentores, mestres… “Como isto pode estar acontecendo?!”

Assim a verdade a atinge como um raio! Todos estavam mortos. Era a única sobrevivente. E alguém havia feito uma fogueira com os corpos. Mas aquele fogo era estranho, maligno e profano. Era cruel e doentio… Não natural. O solo sagrado estava manchado, corrompido, além de qualquer salvação.

Enquanto lamenta a profanação do monastério, ela ouve uma risada intermitente, doentia como a de uma hiena. E, logo após, todo monastério pega fogo, o mesmo fogo doentio da fogueira. Todo aquele calor fez suas feridas doerem ainda mais do que antes. E assim desaba no chão e por muito pouco não perde a consciência.

Melhor seria para a pobre criatura ficar desacordada. Não teria que ver um legítimo demônio sair de dentro do templo em chamas: um humano com chifres de antílope, com um dos braços a faltar, a risada medonha de uma hiena e aquele fogo maligno ao redor. Era tudo doentio e fétido às narinas de Seire.

O demônio passa pela mulher-lobo, com certo desprezo. Olha fixamente nos olhos dela e diz:

— Acalme-se, criança. Eu não queimo os vivos. Não ainda. — ri e caminha entre fumaça e fogo até desaparecer.

Seire não aguenta mais de dor e desmaia. Sua sanidade estava em frangalhos.


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