Carrossel: Órfãos e Perdidos escrita por Gronk Spike


Capítulo 41
Capítulo 40 - Juntos até o fim


Notas iniciais do capítulo

Obrigado!

É com essas palavras de gratidão que eu trago pra vocês o último capítulo da fic!

Sabe, quando eu criei essa fanfic, jamais imaginei que ela teria toda essa repercussão, esse sucesso, por isso eu fico muito agradecido a cada um de vocês, por todo apoio e ajuda que me deram durante esses longos meses!

É triste saber que é o fim, mas sabemos que nada é eterno!

Preparem os corações porque o capítulo está recheado de emoções, e como é o último, eu quis faze-lo ser o maior da fic, por isso acabou passando das 7000 palavras ^^ Mas enfim, espero não decepciona-los e boa leitura! :D



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A diretora ficou parada e sem reação por um bom tempo, como se estivesse esperando eles dizerem que era uma piada. Com muita força, a mulher fechou a porta de sua sala e voltou para sua cadeira, ainda bem calada.

— A senhora não vai dizer nos dizer nada? — Majo pergunta confusa.

— Adorei a brincadeira de vocês, cadê a câmera escondida? — Olívia indagou sarcástica, enquanto olhava ao seu redor procurando a tal câmera.

— O quê? Nós não estamos mentindo, somos realmente órfãos, fugimos do nosso orfanato que pegou fogo e acabamos parando na casa da Helena, que fingiu ser nossa tia e falsificou documentos para entrarmos na escola mundial — Paulo brada irritado, pela desconfiança da mulher.

— Já chega, parem com essa história absurda e saiam da minha sala — Ela ordena uma terceira vez.

— Nós nos recusamos a sair daqui, enquanto a senhora não acreditar na gente — Valéria se pronuncia.

— Temos várias formas de provar que somos órfãos — Davi toma a palavra — Como, por exemplo, o vídeo que a Nat fez do Paulo alcoolizado, dele admitindo que somos órfãos.

— Além do mais, a senhora pode fazer um teste de DNA com a gente se quiser, Helena não é nossa tia e não somos primos — Alicia fala pela primeira vez.

— Bem, levemos em consideração que o que vocês disseram seja realmente verdade — Olivia volta a falar — Então, porque resolveram me contar isso? Afinal, vocês sabem que voltariam para o orfanato neste exato momento, não é? E que a Helena seria presa por falsificação de documentos.

— Sim, nós sabemos — Daniel afirma.

— Então porque estão me contando isso? — A diretora questiona, sem entender nada e ainda não acreditando naquela história, só queria se livrar deles o quanto antes.

— Porque já estamos cansados do Jorge — Majo responde praticamente cuspindo as palavras, morrendo de raiva do garoto.

— Do Jorge? O Cavalieri? — Olivia indaga, dessa vez mais confusa ainda.

— Sim, ele mesmo — Majo confirma.

— E o que ele fez? — Pergunta Olivia, enquanto abanava-se com seu leque.

— Por todo esse tempo, ele vem me xingando, chantageando, ameaçando, já chegou até a me bater e inclusive foi ele quem dopou o Daniel — Responde Maria Joaquina, ainda bem irritada.

Olivia ficou boquiaberta com as confissões, mas sabia que isso poderia ser mentira. Ela levantou-se afobada e passou a caminhar em círculos pela sala.

— Mas isso é uma acusação séria, na verdade gravíssima — A mulher comenta suando frio, aquela história estava estranha demais para ela — Vocês tem como provar?

— Não — Paulo responde sem desviar o olhar da mulher.

— Então caso encerrado, saiam da minha sala — Olivia já estava cansada de dar aquela ordem.

— Chame o Jorge aqui então, queremos ver ele negar tudo o que fez na sua frente — Alicia pede.

— Ora essa, que absurdo — Olivia murmura — O menino tá sendo acusado injustamente por coisas que ele não fez e vocês agora querem que eu o chame? Vou mandar pela última vez para se retirarem.

— Diretora, por favor, é a última coisa que nós te pedimos, se for mentira, a gente sai da sala e some da vida da senhora — Valéria implora, enquanto entrelaçava as mãos.

— Tudo bem, mas é pra saírem mesmo, ou tomarei medidas mais drásticas — A diretora diz autoritária, causando arrepio nos órfãos.

Olivia respirou fundo e foi fazer o que eles pediram, pois talvez depois disso, finalmente a deixariam em paz, deduziu a mulher. Ela murmurou algo inaudível para os órfãos e saiu da sala da diretoria, pedindo para uma pessoa qualquer que passava pelo corredor que chamasse Jorge Cavalieri.

Alguns minutos, que pareciam infinitos, se passaram e Jorge adentrou a sala da diretora, chegando a ficar imensamente surpreso ao ver todos os órfãos ali.

— Mandou me chamar, diretora? — Ele perguntou, tentando ignorar a presença dos seis ali, ao seu lado.

— Sim, mandei — Ela confirma — Sente-se.

Mesmo um pouco desconfortável, Jorge o fez.

— Bem, os seis aqui fizeram acusações seríssimas contra você, a primeira coisa é que eles disseram que são órfãos — Olivia diz e aí sim que Jorge fica completamente surpreso, jamais imaginava que os seis fariam aquilo.

“O quê? Mas eles são burros? Confessando o segredo deles, eles voltam para o orfanato. Ou será que eles têm algum plano por trás dessa confissão?” — Jorge indagou para si mesmo.

— A segunda acusação — Continuou a mulher — É que você xingou, bateu, chantageou sua colega de sala Maria Joaquina, e ainda por cima dopou Daniel.

Nesse momento, Jorge já não sabia se estava mais surpreso ou furioso por aquilo.

— Mas o quê? — Ele urrou levantando-se — Eu não fiz nada disso, que acusação barata, sabiam que eu posso processar todos vocês por calúnia?

— Como eu já suspeitava — Olivia diz — Agora fora, todos vocês.

— Afinal, eles nem tem como provar que eu fiz tudo isso — Jorge diz convicto, com um sorriso vitorioso estampado no rosto.

De repente, antes que qualquer um dali pudesse falar algo, a porta da diretoria é escancarada e por ela entra Nat, pegando todos de surpresa.

— Mas eu tenho como provar — A ruiva diz séria.

“Ah, meu Deus, mais uma, agora isso virou palhaçada” — A diretora fala pelos pensamentos.

— Nat? — Todos, com exceção de Olivia, indagaram confusos — O que você tá fazendo aqui?

— Vaza daqui Nat, eu consigo me livrar deles — Jorge sussurra para a garota, que ignora.

— Não estou do seu lado, Jorge — Ela diz em um tom bem alto — Eu vim provar que o que tudo que eles disseram, é verdade. Quando chamaram o Jorge, eu o segui lentamente sem ninguém perceber e ouvi toda a conversa escondida, só esperando o momento para entrar em ação.

Jorge já não tinha mais paciência para aquilo, ele tentou partir pra cima de Nat, muito furioso, mas foi parado por Paulo.

— Opa, calminha aí, “bonitão” — Paulo diz irônico — Se você não deve, não tem porque temer.

— É, Jorge — Olivia concorda — Vamos ver o que a senhorita Cavalieri tem para nos mostrar.

— Tenho de tudo um pouco — Nat afirma e logo em seguida mostra tudo o que havia coletado para a mulher.

Olivia assistiu tudo atentamente. O vídeo que Paulo confessava que eles eram órfãos, o vídeo que Margarida admitia o plano de Jorge e que Abelardo havia roubado o celular de Carmen e por último, a prova mais recente, a gravação com a câmera de Laura, que provava que fora Jorge quem incriminara todos os órfãos.

Olivia ficou totalmente incrédula ao terminar de ver tudo aquilo, até faltou o ar para a mulher, sua língua parecia travada e nenhuma palavra saía de sua boca.

— Bem, e aqui está o celular do Jorge, onde consta o registro da ligação pra farmácia — Nat anuncia após o fim dos vídeos, enquanto jogava o aparelho do primo em cima da mesa da diretora.

— Então foi você quem tinha pegado meu celular? Sua traidora, traidora barata — Jorge esbravejou mais uma vez e novamente tentou ir pra cima de sua prima, mas Paulo o parou com facilidade, balançando o dedo indicador para os lados, indicando um “não”.

A raiva era nítida na cara de Jorge, Nat nunca havia o visto daquela forma, com aquele olhar cruel e macabro no rosto.

— Valéria, chame Abelardo e Margarida aqui na minha sala — Olivia finalmente se pronuncia e a Ferreira assente.

— Chamar os dois aqui, mas pra quê? — Jorge perguntou com medo.

— Você e seus comparsas estão expulsos da escola mundial — A diretora exclamou.

Jorge começou a balançar a cabeça pros lados, não querendo acreditar naquilo, então assim seria o fim dele? Havia sido derrotado por seis pessoas que nem pais tinham?

Abelardo e Margarida, quando descobriram toda a verdade e o segredo dos órfãos, ficaram mais do que irritados com Jorge, xingando-o mentalmente e querendo mais do que tudo dar um surra no Cavalieri.

— Jorge, Abelardo e Margarida, venham comigo — Ordenou Olívia, ainda abalada por tudo que acabara de assistir — Quanto a vocês, órfãos — Essa palavra era difícil de ser pronunciada pela mulher, agora que ela sabia a verdade — Esperem aqui, conversaremos depois.

Mesmo bem contrariados e sem saída, os vilões seguiram a diretora. Os órfãos, por outro lado, fizeram a festa dentro da sala da mulher, chegando a gritar e pular de alegria.

— Finalmente livres. Livres desse babaca — Davi comemora empolgado.

— É galera, mas se eu fosse vocês, não me animava muito não — Alicia aconselha-os e logo eles param com a pequena “festa”.

— Ué, por quê? — Valéria indagou sem entender — Afinal, nos livramos do Jorge.

— Sim, nos livramos do Jorge, mas de quebra, ganhamos problemas com as autoridades — Paulo responde suspirando e se joga em uma das cadeiras da sala.

— O que importa é que estaremos juntos, para sempre — Daniel tenta acalma-los — E só de termos feito isso, já mostra nossa coragem e união, estamos todos de parabéns.

Os órfãos, mais uma vez em tão pouco tempo, dão outro abraço coletivo, mostrando o quão unidos estavam e que não deixariam nada os separar.

Pouco tempo depois, Olivia retornou e mesmo sabendo que os órfãos haviam falado a verdade, ela não poderia deixar aquilo barato, pois eles tinham enganado a escola inteira com aquela mentira e por isso a policia da cidade precisava ficar informada a respeito daquilo. Com aquele velho discurso de que aquilo era inaceitável, a mulher ligou para as autoridades, minutos após os órfãos saírem da escola.

(...)

Um pouco mais aliviados, porém ainda assim com medo, os órfãos voltaram para a mansão. Eles nem se deram o trabalho de subir e irem para seus quartos, pois poderiam ser levados de volta para o orfanato a qualquer momento.

As palavras de Olívia dizendo que ligaria pra policia, ficou grudado na mente dos seis jovens, que não sabiam o que fazer para reverter aquela situação. Mal haviam se livrado de um problema e outro aparecia.

Uma batida na porta irrompe pelo local e todos se entreolham preocupados, já achando que era a polícia. Com muita cautela, Daniel aproximou-se devagar da porta e abriu, se deparando com alguém muito pior que a polícia, Jorge Cavalieri.

— Feliz em me ver? —Jorge indagou sarcástico, enquanto reparava no olhar espantado de Daniel.

— O que você tá fazendo aqui? Seu babaca — Paulo se pronuncia no lugar de Daniel e corre para cima de Jorge, mas é parado pelo amigo.

Mesmo sem a permissão de ninguém, o Cavalieri adentra a mansão.

— Não se preocupem, não vou tomar muito o tempo de vocês — Jorge disse, permanecendo sarcástico.

— Fala logo, ou eu mesmo vou pra cima de você — Daniel afirma irritado, Jorge o tirava do sério.

— Eu só vim parabeniza-los pela brilhante ideia de contar o segredo de vocês pra diretora — Jorge diz e começa a bater palmas, ironicamente — Meus parabéns, vocês são incríveis, tão incríveis que vão voltar para o orfanato, ou seja, minha expulsão não adiantou de nada.

— Ah, adiantou sim — Majo fala já sem paciência — Antes voltar para o orfanato, do que ficar em suas mãos.

— Já você, é tão incrível que foi apunhalado pela própria aliada, ou melhor dizendo, pela própria prima — Paulo devolve a ironia do garoto e todos os órfãos começam a rir.

— Calem-se! — Jorge bradou irritado, odiava ser o motivo da piada — Vocês não estão entendendo, apesar da minha expulsão, eu venci, aliás, eu sempre venço, Jorge Cavalieri nunca perde.  E sobre a Nat, não tenho nada a comentar sobre aquela traidora, que nem merece ter “Cavalieri” no nome.

— Já terminou? — Alicia pergunta cansada daquele papo.

— Já, só queria deseja-los boa sorte no orfanato, até nunca mais, otários — Jorge termina e se retira.

Paulo novamente tenta partir pra cima do Cavalieri, porém Daniel volta a impedi-lo.

— Deixa, Paulo, não vale a pena perder tempo com aquele idiota — O Zapata fala, tranquilizando o amigo.

Os órfãos voltaram a se sentar no sofá da sala, bem pensativos.

— E agora? O que faremos? — Davi indagou alternando o olhar entre todos eles.

— Agora o que nos resta é esperar — Daniel comenta com um profundo suspiro — Pois a qualquer momento, um policial pode entrar por aquela porta, e transformar nossas vidas em um verdadeiro pesadelo.

Os jovens ficaram por longos minutos calados, no silêncio, apenas com a companhia de suas respirações e do vento que preenchia o ambiente, tornando tudo cada vez mais complicado e agoniante.

(...)

O dia seguinte, na escola mundial, não havia sido nada bom, pois a notícia de que os primos na verdade eram órfãos, correu como um raio por todo o colégio. Em pouquíssimo tempo, todos os alunos já estavam informados a respeito do segredo dos seis.

Porém os mais irritados eram, sem dúvidas, os ex-colegas de sala dos órfãos, eles se encontravam muito furiosos e a todo instante chamava-os de traidores.

Após a aula de educação física que eles estavam fazendo, todos os meninos e meninas sentaram-se na arquibancada, formando um círculo, para debaterem mais sobre aquela farsa dos órfãos.

— Cara, é inacreditável — Jaime comentou enquanto tomava água — Pra mim a ficha não caiu ainda.

— Nem pra mim — Mário o acompanhou — Órfãos? Eu nunca imaginava isso, mas eu bem que desconfiei desde o começo que eles escondiam algo.

— Não sei vocês, mas eu me sinto traída por eles — Até Carmen, que era difícil perder a paciência, comentou indignada — São uns verdadeiros traidores.

— Por isso então eles sempre sentiam ciúmes um do outro? — Laura perguntou caindo na real.

— Exatamente — Bibi diz — E eu confiando naquela idiota da Maria Joaquina.

— E o burro aqui fingindo um namoro com a Valéria, sem saber que ela queria causar ciúmes no Davi — Jaime volta a dizer irritado.

— Mas esqueçam isso, galera — Cirilo pede — O importante é que eles não estão mais aqui e vão voltar pra um lugar no qual jamais deveriam ter saído.

— É, pelo menos eles não foram pra comemoração ontem — Marcelina diz aliviada.

O papo deles logo termina com o sino soando, indicando a próxima aula. Mesmo ainda bem irritados, eles voltam para a sala de aula.

(...)

Naquele mesmo dia, os órfãos viram suas vidas irem por água abaixo, quando a policia bateu na porta de casa deles. Helena, que já estava completamente informada sobre tudo, desde o plano dos jovens, até o fato de que eles confessaram tudo pra diretora, ficou muito aturdida e sem saber o que fazer, o máximo que ela podia fazer naquele momento, era permitir a entrada do policial em sua mansão.

— Bem, é aqui que vivem seis órfãos ilegalmente? — O homem, trajando uniforme preto, perguntou ao adentrar o local.

Helena assentiu, não seria nada bom mentir para a polícia.

— E suponho que a senhora seja a mulher que se passou por tia deles — O policial volta a falar, notando o nervosismo no rosto de Helena.

— Moço, o que vai acontecer? — Valéria perguntou com medo.

— Não precisa ter medo, garotinha — Ele a tranquiliza — Você e seus amigos apenas vão voltar para o orfanato, um novo que inaugurou não faz muito tempo, desde o que antigo pegou fogo.

— Na verdade, eu me referia a Helena — A Ferreira diz baixinho.

— Bem, quanto à mulher, ela terá que comparecer conosco até a delegacia, para poder prestar depoimento — O homem explica.

— Por favor, não façam nada com ela — Valéria diz soluçando e todos os órfãos correm para abraça-la, não querendo acreditar que iriam se separar.

— Temos duas viaturas lá fora, uma levará vocês para o orfanato, e a outra levará a mulher para a delegacia — O policial volta a dizer.

— Vão crianças, eu ficarei bem — Helena diz, enquanto limpava suas lágrimas.

Bem contrariados, os órfãos foram até a viatura da polícia, onde partiram rumo ao orfanato da cidade, a última coisa que viram, foi a mansão de Helena, o lugar no qual haviam amado viver e onde presenciaram suas maiores aventuras.

Helena, por outro lado, tentou manter a calma, mas era muito difícil, já que sabia que a qualquer momento poderia ser presa, e tudo porque resolveu abrigar seis órfãos em sua casa. Se ela estava arrependida? Nem um pouco, se tivesse a mesma oportunidade, faria tudo de novo.

Em pouco tempo ela chegou no local destinado, sendo levada até a sala do delegado, que a aguardava com um sorriso, talvez irônico, deduziu a mulher.

— Olá, então foi a senhorita quem abrigou seis órfãos em sua casa e falsificou documentos para eles estudarem? — O delegado, que aparentava ter seus quarenta e poucos anos, comentou enquanto não tirava os olhos de Helena.

Assustada, Helena apenas assentiu.

— A senhorita sabia que isso é crime? — O homem voltou a indagar.

— Sim — Helena murmura bem baixinho.

— Sabia e mesmo assim o fez? — Ele perguntou, enquanto levantava-se de sua cadeira.

— Sim, tudo que eu fiz foi dar amor e carinho a seis jovens que não tinha pais e fugiam de um orfanato pegando fogo, me desculpe se isso é um crime — A mulher fala, mas dessa vez um pouco mais alto.

— Bem, se a senhorita fez isso, com certeza deve ter um motivo, não é? — O delegado pergunta e Helena assente — Então vamos, nos diga o motivo.

— Há muito tempo eu perdi meu marido e meu filho em um acidente de carro, quando aqueles órfãos chegaram na minha casa, desamparados e sem ter onde ficar, meu coração de mãe falou mais alto e eu os acolhi — Ela explicou — Moço, por favor, me perdoa, sei o que eu fiz foi errado, mas eu sofro muito com a ausência do meu marido e do meu filho.

Nessa hora, Helena já estava chorando, aos prantos e o homem tentava acalma-la.

— Calma moça — Ele pedia — Pegue aqui esse copo d’água. Tudo bem eu vou relevar seu caso, realmente dá pra notar o quão abalada psicologicamente a senhorita ficou após a perda dos parentes.

— Obrigada — Ela agradeceu enquanto tomava água.

— Mas que isso não repita — Ele adverte — Está dispensada, quer que eu chame um táxi?

— Não, eu me viro — Helena diz levantando-se — E obrigada mais uma vez.

A mulher não perde tempo e rapidamente se retira dali, aquele estava sendo um péssimo dia, não só para ela.

(...)

No orfanato da cidade, estavam lá os órfãos, haviam acabado de chegar e se sentiam desconfortáveis no meio de tantas crianças e adolescentes órfãos ali, assim como eles. Por mais que já tivessem passado por isso antes, agora era muito diferente, eles haviam vivido muito tempo na mansão de Helena, e voltar para um orfanato foi muito estranho, tanto que acabaram excluídos, sozinhos.

— Que saco viver aqui de novo — Paulo diz bufando e se joga em um canto qualquer.

— É, tenho que concordar — Daniel fala, observando o movimento dos habitantes do recinto.

Eles ficaram mais um tempo por ali, apenas conversando e olhando ao redor, até que de repente um menino se aproxima de Alicia e a toca no braço, chamando a atenção da garota.

— Opa, você é nova por aqui? — O garoto perguntou pra Alicia, mas antes que ela pudesse responder, Paulo toma a frente.

— Deixa ela em paz — Paulo diz ciumento e todos olham pra ele — E meus amigos também, claro.

— Calma, parceiro, eu só queria saber se vocês são novos por aqui — O menino volta a dizer, recuando.

— Sim, somos, agora dá o fora daqui, porque não estamos com cabeça pra conversa — O Guerra diz autoritário e o menino sai correndo, com medo do que Paulo pudesse fazer.

— Não precisava ter tratado o menino daquela forma, Paulo — Alicia adverte e o Guerra dá de ombros.

— Pra mim isso aí foi outra coisa — Davi sussurra baixinho pra Valéria, que ri.

— Ciúmes — A Ferreira completa e o Rabinovich a acompanha nas risadas.

— Mas e então, o que vamos fazer por aqui? — Majo muda o assunto.

— Pelo visto apodrecer — Paulo responde irritado.

— Cadê a Helena? Bem que ela podia nos tirar desse inferno — Valéria comenta.

— Não dá, amor, lembra que ela teve que ir depor na delegacia? — Davi responde, ao mesmo tempo abraçando-a.

— Ah, é verdade — A Ferreira lamenta.

— Pode parecer clichê o que eu vou dizer — Daniel se pronuncia — Mas o que nos resta é aguardar, não estamos em posição de fazer nada por aqui.

Os órfãos ficaram calados, por mais que fosse difícil de aceitar, aquilo que Daniel havia dito, era verdade.

(...)

Na mansão dos Cavalieri, era inegável a felicidade de Jorge, o garoto encontrava-se deitado em sua cama, com um sorriso estampado no rosto, fazendo questão de mostrar para todo o mundo a sua satisfação em ter ferrado com a vida dos órfãos.

De repente, a porta do seu quarto é aberta com força, e por ela, entra sua mãe e seu “pai”, pareciam irritados, pois seus semblantes não eram nada bom.

— Nem bater na porta vocês sabem mais? — Jorge indagou sarcástico, sem olha-los.

— Jorge, quando você ia nos contar que fez tudo aquilo com seus colegas e foi expulso da escola mundial? — Rosana perguntou, ignorando o comentário do filho.

— Ah, então agora vocês se preocupam comigo? — O Cavalieri permaneceu sarcástico, e pela primeira vez olhou-os.

— Jorge, chega desses seus joguinhos e ironias, eu e sua mãe cansamos de tudo isso — Alberto toma a palavra.

— Você não tem moral nenhuma, afinal nem é meu pai mesmo — Jorge murmurou.

— De qualquer forma, nós tomamos uma decisão importante e resolvemos conta-lo — Rosana volta a falar.

— Sim, é um ultimato — Alberto fala sério.

Jorge dá de ombros, não se importando com o que eles tinham pra dizer.

— Jorge, você vai estudar fora do país, em um internato — Sua mãe anuncia, e o garoto levanta da cama rapidamente, surpreso.

— O quê? — Ele indaga praticamente gritando — Não, vocês não podem fazer isso comigo.

— Podemos, pois até você completar dezoito anos, somos os seus responsáveis legais — O homem mais velho diz.

— Vocês não podem me obrigar a nada — o garoto grita — Ouviram? NADA.

Ele completa e passa pelos dois, saindo de seu quarto e descendo as escadas em seguida. Alberto e Rosana suspiram, sabendo que seria complicado, porém o melhor a se fazer.

Jorge, por outro lado, passava a mão pelos cabelos, nervoso, tentando se acalmar e não acreditar naquela decisão de seus pais.

“Não, eu não posso ir — Ele pensou indignado — Mas se eu realmente for, eu preciso aprontar mais algo com eles aqueles órfãos antes de ir embora”

(...)

Algumas semanas tinham se passado desde aquela noticia que Jorge havia recebido de seus pais, e apesar de relutar muito, ele acabou cedendo e aceitou a viagem. Mas o que ninguém sabia, além dele mesmo, é que o Cavalieri arquitetava um plano em mente, algo para ferrar mais ainda a vida dos órfãos, antes dele ir embora.

Se por um lado as coisas para Jorge eram ruins, por outro os órfãos estavam muito felizes, pois por toda a semana, Helena entrou com um pedido de adoção sobre todos eles. Depois de muita burocracia, os órfãos foram oficialmente adotados pela mulher. Eles não se viam como mãe e filho, mas Helena fez aquilo para não ter problemas com as autoridades.

Helena foi busca-los pessoalmente e quando chegaram à mansão, oficialmente adotados, foi um completo alívio para todos eles, finalmente estavam de voltam para o lugar no qual jamais deveriam ter saído.

— Até que enfim longe daquele inferno — Paulo comenta sorridente, enquanto se jogava no sofá da sala.

— Pois é, como é bom ter liberdade de volta — Valéria acompanha a empolgação do amigo.

— Galera, papo sério agora — Helena anuncia e todos prestam atenção nela — Como agora vocês são responsabilidade minha e eu tenho a guarda legal de vocês, eu matriculei-os novamente na escola mundial.

— Ué, mas e a diretora deixou? — Alicia indagou confusa.

— No começo não, mas eu aleguei que vocês não eram culpados de nada, então a expulsão de vocês havia sido injusta, ela sem saída acabou concordado e aceitou a matrícula.

— Ótimo, finalmente de volta a rotina normal — Daniel fala satisfeito.

— Sim, e aliás, vão se arrumar, porque hoje mesmo vocês tem aula — Helena alerta-os e se retira da sala de estar, mas não antes sem abraçar cada um dos seis jovens.

Em pouco tempo, todos os órfãos estavam arrumados e zarparam rumo a escola mundial. Sabiam que seria um retorno difícil, já que haviam sido expulsos e que seus colegas, provavelmente, o estariam odiando.

Ao chegaram ao local, puderam confirmar suas suspeitas, pois assim que adentraram o local, os meninos e meninas que eram seus amigos, se dispersaram, tomando distância dos órfãos, não querendo eles por perto.

— É, pelo visto teremos um longo dia pela frente hoje — Daniel comenta e dá um longo suspiro em seguida.

(...)

Durante o intervalo, os órfãos sentaram-se sozinhos em uma das mesas do refeitório, era inevitável, mas todos que passavam por eles, lançavam um olhar de desprezo, de ódio, como se os jovens tivessem cometido o pior crime do mundo.

— Minha vontade era de socar a cara de cada um que tá nos olhando desse jeito — Paulo diz fechando o punho e socando na sua outra mão.

— Calma, Paulo, sem violência, tem outra forma da gente reconquistar a confiança de todos — Daniel diz pensativo.

— Ah é? E qual seria? — Alicia perguntou interessada.

— Mostrar nosso lado pra eles — O Zapata explica, mas aparentemente ninguém entende.

— Tá aí, eu gostei — Davi apoia o amigo — To com o Dani.

— Alguém pode me explicar o que vocês querem dizer? Ainda não entendi — Valéria indaga olhando pra eles.

— Simples, após as aulas, antes de todos saírem, nós vamos lá na frente da sala e explicamos porque fizemos aquilo, porque escondemos esse segredo e levamos uma mentira tão longe assim, eles precisam entender nosso lado — Daniel esclarece sua ideia.

— É, eu gostei dessa ideia — Majo diz — Não é possível que eles sejam tão insensíveis ao ponto de não compreenderem nosso lado.

— Eu ainda preferia minha ideia de quebrar a cara de todos — Paulo fala irônico e todos riem — Mas podemos fazer como o Dani sugeriu.

— Então fechou, galera — Daniel sentencia decidido — Após as aulas, colocamos nosso plano em ação.

(...)

As aulas finais terminarem voando e quando todos começaram a se levantar para saírem de sala, os órfãos vão até a porta e impedem a saída de todos.

— Ah, dá licença, meu — Jaime fala indignado — Tem gente querendo sair.

Um burburinho logo começa e os órfãos tentam conter.

— Calma, galera, a gente só quer um minuto da atenção de vocês — Daniel pede — Depois vocês podem ir.

Sem saída, todos os alunos se sentam, bem irritados por sinal, e começam a ouvir o que os órfãos tinham a dizer.

— Olha gente, sei que estão chateados e com raiva da gente — O Zapata começou — Mas pelo menos tentem entender nosso lado, nos compreender.

— E tem um lado? Ou vocês foram egoístas e só pensaram em vocês? Traidores — Um dos alunos grita lá no fundo e o burburinho volta.

— Silêncio! — Paulo berrou — Deixem o Daniel terminar.

— Como eu ia dizendo, tentem nos entender, se contássemos que somos órfãos — O Zapata deu uma pausa nessa parte, era difícil — Voltaríamos direto para o orfanato e com risco de nos separar, e nós não queríamos isso. Todos aqui, ou grande parte, tem o pai e a mãe em casa. Agora eu pergunto, quantos de vocês gostariam de serem separados da família?

Após perguntar isso, um silêncio fulminante e avassalador se fez presente no local, ninguém ousou dizer uma palavra.

— Como eu imaginava, ninguém — Daniel continuou — Pois saibam que tudo que eu e eles temos — Ele apontou para os órfãos — somos uns aos outros, e separar a gente, seria como separar uma família. Eu só peço que nos entendam e nos perdoem, mas nós, órfãos, somos uma família.

Os colegas dos órfãos pararam pra pensar e caíram na real, estavam sendo muito egoístas, haviam apenas visto o lado da “traição”, mas não conseguiam enxergar o lado dos seis jovens sem pai nem mãe.

— Putz galera, vocês tem razão — Jaime comenta envergonhado, enquanto coçava a nuca — Desculpa, eu fui muito idiota e não me botei no lugar de vocês.

— É, eu também — Mário diz ressentido — Afinal eu perdi minha mãe e sei bem como é isso.

Rapidamente os alunos foram pedindo desculpas aos órfãos e os cumprimentando, voltando a serem amigos, o que os seis jovens gostaram muito.

— Galera, desculpa como eu falei com vocês naquele dia — Cirilo pede quando se aproxima deles.

— Sem problemas, Cirilo, era aquilo que o Jorge queria, criar discórdia — Daniel fala.

— Mas pra compensar o que eu fiz, vocês estão convidados pra última festa do meu pai esse ano — O Rivera diz sorridente.

— Mais uma? — Paulo indaga surpreso — Caramba, seu pai faz festa demais, hein?!

— É verdade — Cirilo admite rindo —Mas essa é a festa de fim de ano, que ele faz toda vez que se aproxima do fim do ano, que vocês mesmo participaram ano passado.

— Tudo bem, Cirilo, nós compareceremos — Majo diz — Quando será?

— Ah, tá um pouco longe ainda, vai ser após as provas finais — O garoto responde.

Logo todos os alunos se retiram da escola.

(...)

Desde aquele dia, em que os órfãos haviam conseguido o perdão e a compreensão dos amigos, haviam se passado longos dias e as provas finais tinham chegado. Momento em que era um verdadeiro terror para muitos alunos — Principalmente para Jaime e Paulo — Mas para a sorte e felicidade de todos, os órfãos haviam sido aprovados e passaram de ano.

Helena os recebeu com bastante euforia e empolgação quando soube da notícia. Após tantos conflitos e aventuras, os seis finalmente haviam conseguido completar o ano letivo e, acima de tudo, com sucesso.

Era um sábado de manhã, e todos os órfãos haviam se comprometido a ajudar Cirilo a organizar a festa de fim de ano que era tradição de seu pai e que aconteceria no domingo. O clima era muito bom e agradável, porém antes de poderem sair da mansão e irem até a casa do amigo, Paulo parou Alicia no corredor, estava um pouco envergonhado — O que era estranho se tratando do Guerra — Mas mesmo assim o fez.

— Paulo? — Alicia perguntou confusa.

— Podemos conversar? — O Guerra pediu, olhando-a nos olhos.

— Claro — A Gusman responde sorridente.

— Olha, Alicia, me desculpa por ter sido um idiota e babaca — Ele começou — Eu devia ter falado com você antes, mas com todo aquele negócio de orfanato, provas finais, nem deu — Paulo fez uma pequena pausa — Eu só queria dizer que acredito em você, sei que você não queria aquele beijo com o Abelardo.

— Sério? Você acredita mesmo em mim? — Alicia indagou muito feliz.

— Sim, acredito — Ele afirma — E eu não quero mais brigar com você, quando estávamos no orfanato com nossos amigos, eu percebi o quão a vida é curta e eu quero aproveitar o máximo dos momentos ao seu lado, por favor Alicia, me perdoa e volta a ser minha.

Nesse momento, os olhos de Alicia já se encontravam marejados, emocionada pelas palavras do Guerra.

— Mas eu claro que eu aceito, meu amor — Ela diz e se joga nos braços dele — Você não sabe o quanto eu senti sua falta.

Os dois não perderam mais tempo e começarem um beijo, longo e apaixonado, mostrando a saudade que um estava do outro e que precisavam urgentemente daquilo.

O ar se fez ausente e ambos se separaram ofegantes, mas não antes sem trocarem um sorriso. O que eles não esperavam, é que seus amigos assistiam a tudo, os outros órfãos rapidamente se aproximaram do casal e iniciaram uma salva de palmas.

— Até que enfim desencalhou, hein Alicia?! — Valéria diz sarcástica e a Gusman dá a língua pra amiga.

— Aê, Paulo, ia nos contar quando, hein?! — Davi indaga, também debochado.

— Mas falando sério, ficamos feliz por vocês — Daniel diz com um sorriso e Alicia e Paulo se abraçam de lado, contentes por aquele momento.

— Mas gente, agora falando sério, temos que ir ajudar o Cirilo — Majo intervém — Prometemos e já estamos atrasados.

Rapidamente todos se despedem de Helena e vão até a casa de Cirilo, ajuda-lo com os preparativos.

(...)

Tudo ocorria muito bem durante a organização, o clima era descontraído e todos se divertiam muito. Até que Majo, de supetão, se lembra de algo e dá um tapa na própria cabeça, se repreendendo.

— O que foi, Majo? — Alicia perguntou notando a aflição da amiga.

— Ah, nada demais, é que eu esqueci meu celular lá em casa — A Médsen responde.

— Ah, vai lá buscar que eu seguro as pontas por aqui — A Gusman diz.

— Mesmo? — Majo indaga e a amiga assente — Tudo bem, então segura aí que eu volto rapidinho.

Com passos apressados, Majo foi até a mansão e pegou seu aparelho celular, mas quando botou o pé pra fora de casa e se pôs a caminhar de volta para casa de Cirilo, alguém tapa sua boca e venda seus olhos rapidamente. A garota tenta gritar, mas era inútil, só pôde sentir seu corpo ser carregado até um carro e concluiu: Estava sendo sequestrada. Como um último recurso para pedir ajuda, a garota largou seu celular no chão, para que se alguém visse, soubesse que ela havia sumido.

(...)

Jorge encontrava-se em sua casa, completamente no tédio, apesar de não concordar totalmente com aquela viagem, tinha algo de bom naquilo, ele podia se vingar dos órfãos por uma última vez e sair do país, sem preocupações.

Com cautela, o Cavalieri pôs um casaco e saiu de sua mansão, dirigindo ilegalmente o carro de seu motorista, mas ele não se importava, pois seus pais nem estavam em casa naquele momento, encontravam-se numa reunião importante. Já sua prima, estava fora, na casa de uma amiga, por isso nada o impediria de cumprir seu plano.

Ele estacionou o carro bem próximo da mansão dos órfãos e viu que Maria Joaquina acabava de se retirar do casarão. Minuciosamente, o Cavalieri pegou um pano que estava no carro e correu para trás de Majo, tapando a boca da garota com sua mão e vendando os olhos dela logo em seguida. Sem perder tempo, ele jogou-a no carro e voltou a dirigir, chegando novamente em sua casa. Sem cuidado algum, ele levou Majo a força para a sala de estar do local e largou-a sobre o sofá.

— Jorge, o que você tá fazendo? Me deixa ir — Majo pediu assustada.

— Nada disso — Ele negou com um sorriso no rosto.

— Socorro! — A garota começou a gritar.

— Não adianta gritar, não tem ninguém em casa além de nós — Ele avisou.

— Jorge, o que você vai fazer? — Majo perguntou temendo o pior.

O Cavalieri começou a andar em volta da sala, parecia pensativo.

— Sabe, Majo — Ele começou — Minha vida nunca foi das melhores, eu sou rico sim, mas isso não quer dizer nada, eu sequer tive carinho e amor da minha mãe, já meu pai, tsc, nem soube que eu existo.

Jorge deu uma pausa e foi até seu quarto, trazendo consigo um enorme galão de gasolina. Maria Joaquina ficou mais espantada ainda.

— Quando eu descobri que vocês eram órfãos, eu senti inveja, sim isso mesmo — Ele continuou — Como até seis órfãos podiam ter amor e carinho e eu não?

— O que você quer dizer com isso? — Ela indagou já chorando.

— Que eu vou me matar — Ele diz calmo — Mas eu vou te levar junto comigo, vamos encontrar o papai no inferno!

Ele gritou essa última parte e começou a despejar toda a gasolina pelo local, em seguida pegando um fósforo e jogando sobre o líquido, causando um enorme incêndio.

Era inevitável, Majo automaticamente se lembrou do dia do incêndio no orfanato e seu choro aumentou.

(...)

Minutos haviam se passado e Alicia estava preocupada com o sumiço de Majo. Ela foi até seus amigos e explicou tudo para eles. Daniel, o mais preocupado, correu para casa e achou o aparelho da amada jogado sobre o chão, ele pegou em sua mão e logo todos os órfãos estavam ao redor dele, perguntando o que ele tinha encontrado.

— É o celular da Majo — O Zapata informa — Ela está em perigo, eu sinto isso, e já sei quem fez isso... JORGE!

Ele gritou e se pôs a correr, em direção à mansão do Cavalieri. Seus amigos, sem entenderem nada, foram atrás do Zapata.

Todos eles tiveram a maior surpresa de suas vidas, quando ao chegarem no local, verem a mansão dos Cavalieri em chamas e vários vizinhos do lado de fora, espantados com aquilo.

— Eu vou ligar para os bombeiros — Valéria diz desesperada.

— A Majo só pode tá lá dentro — Davi diz — O que vamos fazer?

Em um momento de loucura, Daniel ignorou sua própria vida e correu para dentro da casa em chamas, enquanto seus amigos protestavam a decisão do Zapata.

— Ele é louco, não podia ter feito isso — Alicia fala preocupada.

— Eu não o julgo, faria o mesmo por você — Paulo fala olhando para a mansão.

(...)

Daniel passava pelos escombros caindo de maneira rápida, qualquer atraso poderia ser fatal para a vida de Maria Joaquina. Em pouco tempo ele chegou na sala, deparando-se com Majo muito assustada, e Jorge ao seu lado, rindo como um psicopata, esperando a morte.

O Zapata retirou sua camisa e começou a golpear o fogo, fazendo as chamas baixarem. Ele logo se aproxima de Majo, mas Jorge vai pra cima dele.

— O que você pensa que tá fazendo? — Jorge indagou segurando Daniel pelo braço — Mas já que você entrou aqui, vai morrer com a gente.

— Ninguém vai morrer aqui — Daniel anuncia e dá um soco em Jorge.

Logo uma batalha corporal inicia entre os dois. Jorge não deixa barato e acerta um soco no maxilar do Zapata, que cambaleia para trás.

O Cavalieri corre a todo vapor pra cima do inimigo, mas Daniel o agarra, imobilizando o vilão de jeito.

— Isso não precisa terminar assim, Jorge — Daniel fala com dificuldade.

— Cale-se — O Cavalieri brada e pega um vaso que estava por perto, ele tenta acertar Daniel, mas o Zapata se esquiva muito fácil, logo em seguida chutando Jorge bem na barriga e o nocauteando de vez.

Daniel deixa o corpo de Jorge no chão e corre até Majo, os dois se abraçam e se beijam. Para muitos poderia ser loucura se beijar enquanto uma casa estava pegando fogo, mas para os dois não era, afinal, estavam quase morrendo, então se partissem, que fosse fazendo o que mais queriam naquele momento.

— Muito bonito o momento do casal, mas vocês vão morrer — Jorge diz levantando-se com muita dificuldade.

Rapidamente uma sirene invade o ouvido dos três, indicando que os bombeiros haviam chegado.

— Vamos, Majo — Daniel fala sentindo os ferimentos da luta e começa a sair com a garota, mas antes, ele repara que Jorge permanece parado, sem querer fugir do incêndio — Vem, Jorge, ainda dá pra escapar.

— Vão, eu irei partir dessa vida — Jorge fala olhando para o teto desabando — Não adianta eu sobreviver, eu fui condenado a viver em uma vida fria, com ódio, sem amor e carinho. Vai ser melhor eu morrer.

— Não fala isso, Jorge, todos nós podemos construir uma nova história, é só olhar pra mim e pros meus amigos — Daniel tenta o convencer, mas ele percebe que Majo tá muito mal e se retira, deixando Jorge sozinho.

A mansão termina de desabar e Jorge morre lá dentro, debaixo dos escombros. Quando Daniel sai da casa com Maria Joaquina em seus braços, ele pôde notar que não só os bombeiros estavam lá, mas muitos jornalistas também se encontravam por ali, provavelmente gravando para algum jornal de televisão.

— Cara, você é muito louco, ainda bem que sobreviveram — Paulo diz aliviado.

Daniel dá um fraco sorriso e leva Majo para a ambulância, ela havia inalado muita fumaça e passava mal. No fim das contas, tudo acabou bem, exceto pela morte de Jorge Cavalieri.

(...)

Dias haviam se passado desde o velório de Jorge, e os Cavalieri não estavam nada bem. Nat talvez era a pior, gostava realmente do primo e vê-lo naquele estado era assustador. A ruiva encontrava-se conversando com os órfãos, na mansão de Helena.

— Então você vai mesmo voltar pra Alemanha? — Paulo pergunta triste.

— Sim, eu vou — Ela confirma forçando um sorriso.

— Mas por quê? É tão bom ter você aqui perto da gente — Daniel fala também cabisbaixo.

— Eu fiquei muito abalada com a morte do meu primo, sabe? Apesar dele ter virado aquele monstro, eu sempre gostei muito dele — Ela confessa — E agora eu preciso dos meus pais.

Os órfãos entenderam, pois sabiam muito bem o que era ficar longe de alguém que amavam. Os jovens se despediram de Nat e agradeceram muito a ela por tudo o que fez. O voo da garota seria no dia seguinte.

— Nat, obrigada por tudo, você nos ajudou muito a desmascarar o Jorge — Majo agradece sorridente.

— Imagina, galera, vocês não mereciam sofrer, então ajudar foi o mínimo que eu podia fazer — Nat fala sorrindo.

Após muitos abraços e beijos, a ruiva se despediu dos órfãos, que lamentaram ela ter que partir.

(...)

O fim para os outros dois vilões também não foi nada bom. Abelardo teve que viajar pra outro estado e foi morar com uma tia bem rígida, seus pais tomaram essa decisão para ver se o garoto tomava jeito e melhorava, sendo que no fundo, ele nem era mal tão assim.

Margarida, por sua vez, envergonhou muito seus pais com o que tinha aprontado e por conta disso, acabou voltando para o interior, lugar no qual ela não gostava, pois sempre foi motivo de piada por ser caipira.

A festa do pai de Cirilo, no fim das contas, acabou sendo adiada, a morte de Jorge mexeu com todos e o senhor Rivera optou por fazê-la em outro dia.

(...)

O grande dia da festa de fim de ano havia chegado, os órfãos arrumaram-se e logo zarparam rumo à casa de Cirilo. Como eles já estavam sendo normalmente bem tratados pelos amigos, foi uma comemoração muito agradável e divertida.

Daniel chamou Majo para um canto mais isolado e a garota, sorridente, o seguiu. Ela já imaginava o que ele queria falar.

— Olha, Majo, quando a gente tava no incêndio da casa do Jorge, percebi que a vida é pequena demais pra não fazer o que gosta ao lado de quem a gente gosta, eu te amo e sempre te amei, fica comigo, acho que agora ninguém nos impedirá — Daniel fala um pouco ruborizado.

— Eu também te amo e sempre te amei, Dani — Majo confessa — Aquele nosso primeiro beijo no orfanato só confirmou tudo. Claro que eu aceito ficar contigo!

Os dois vão em direção um ao outro e começam a se beijar, bem lentamente e apaixonadamente, dessa vez enfim juntos, pois todas as outras vezes que se beijaram, tinha algum conflito envolvido.

— Desculpa interromper o casal — Paulo diz chegando com os outros órfãos e Daniel e Majo cessam o beijo — É que a queima dos fogos de artifícios será agora.

Daniel murmura algo, fingindo tá irritado e os seis vão até a calçada da rua, onde se sentam e passam a observar os fogos no céu estrelado, indicando que mais um ano chegava e que eles, apesar de tudo, estavam juntos.

— Sabe, galera, a gente realmente conseguiu construir uma nova história — Daniel comenta feliz e os órfãos o acompanham.

Os seis ficaram por longos minutos ali, abraçados aos companheiros e olhando para o céu, ao mesmo tempo em que se lembravam de tudo o que haviam passado e vivido naquele ano e que, com certeza, não seria o mesmo se não estivessem juntos.

O que o próximo ano reservava para eles? Não faziam ideia, só sabiam que enquanto ficassem juntos e unidos, como uma verdadeira família, nada conseguiria derruba-los.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso galera, esse foi o último capítulo da fic, espero que tenham gostado.

Uma das coisas que eu mais quis mostrar durante todo esse tempo de fanfic, é o valor da amizade, dos amigos, por isso os órfãos eram tão unidos daquela forma, chegando até a se verem como uma verdadeira família!

A Nat, que no começo foi tão odiada, acabou sendo no final uma forte aliada dos órfãos contra o Jorge! Ela foi pra Alemanha, mas prometeu que iria voltar para o Brasil um dia.

E nossos "queridos" vilões tiveram fins bem ruins (também não era pra menos). Abelardo e Margarida não tiveram um fim tão duro e triste como o do Jorge, mas também sofreram!

E para a felicidade de todos nós, Maniel, Paulicia e Daléria enfim poderam ficar juntos em paz, sem problemas!

Então é isso, galera, eu fico por aqui, obrigado mais uma vez a todos que me apoiaram com a fic, vocês não sabem o quão importante foram pra mim! Nunca pensei que ela teria toda essas recomendações, favoritos e reviews! Muito obrigado, mesmo!

Enfim, espero que tenham curtido não só o último capítulo, mas que tenham curtido acompanhar a fic inteira também! Agradeço novamente a todos e até uma próxima fic! :D