Alguém Como Você escrita por Belyhime


Capítulo 3
Capítulo III - Storm


Notas iniciais do capítulo

Preparem um chazinho e uns biscoitinhos, que o capítulo vai ser loooongo! haha



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Em silêncio, Tomoyo encostou-se na porta.

A sua frente encontrava-se Syaoran, deitado em um leito junto com Sakura. Hoje fazia dois anos do acidente, dois anos que a amada prima estava em coma.

A morena lembrava-se com exatidão da manhã seguinte a qual chegou ao Japão, de quando Touya bateu em sua porta desesperado informando que Sakura e Nadeshiko haviam sofrido um acidente. Imediatamente partiram para a China, e desde então ela não voltou para o seu país.

Segundo o relato do amigo e relatórios policiais, um caminhão de grande porte bateu no carro de Syaoran enquanto o mesmo se encontrava em um estabelecimento na rodovia que pegaram para voltar para a fazenda. Nadeshiko que dormia no colo de Sakura foi arremessada para fora do carro no momento do impacto, seu corpinho frágil de bebê naturalmente não aguentou o baque. Segundo Meiling, os restos mortais da afilhada foram recolhidos na pista com uma pá.

Sentiu os olhos marejarem ao imaginar a cena.

Lembrou-se do funeral da pequena menina, lembrou-se de Syaoran carregando um pequeno caixão branco, lembrou-se do ar impotente do amigo, e de como ela o culpou pela morte de sua afilhada. Lembrou-se de como Touya reagiu ao ver o cunhado, e de como Syaoran deixou-se espancar pelo irmão de Sakura.

Não podia negar que sentiu muita raiva do amigo, que o culpou durante meses, que jogou os fatos na cara dele em muitas discussões, chegou até a sair nos tapas com Meiling, pois a chinesa estava sempre defendendo o primo e gritando que ele não teve culpa.

Sorriu de forma triste. Agora, olhando para o corpo de Syaoran ao lado do de Sakura, finalmente entendia. Como foi injusta com ele, a raiva e a angustia pela morte de Nadeshiko e o coma de Sakura tomaram de conta de si, pois não enxergou que quem mais sofria com toda a situação, era justamente Syaoran.

Observou a prima, por incrível que pareça o corpo dela não sofreu com muitos ferimentos do acidente, não havia uma única cicatriz daquela noite terrível. Algo a atingiu na cabeça, foi apenas isso. Ela estava em coma, porém não sofrera com morte encefálica. Sakura estava viva, e talvez até estivesse consciente.

Olhou para o cômodo o qual Sakura se encontrava, não era exatamente um quarto, parecia mais uma ala de hospital. Depois de todos os exames realizados e nenhum resultado concreto encontrado, o hospital deu alta para a moça, com a garantia de que ela fosse para um local que abrigasse a estrutura necessária para recebê-la. Syaoran trouxe Sakura para a mansão da família Lee, equipou um dos cômodos com o que era necessário e acomodou a esposa ali. A morena sabia que o rapaz não queria estar próximo a sua família, mas a fazenda onde moravam era afastada da cidade, se Sakura precisasse de algo talvez não desse tempo de chegar ao hospital. É claro que havia uma pequena equipe para cuidar de Sakura, mas na situação a qual se encontrava, tudo era imprevisível.

Tomoyo suspirou, se perguntando quanto tempo mais a querida prima ficaria desacordada. Então, voltou os olhos para o amigo, o mesmo estava fazendo carinho nos cabelos sedosos da esposa.

Tomoyo juntou as mãos no peito. O amigo sucumbia pelo sentimento de culpa, e sucumbia ainda mais por Sakura não responder aos diversos tratamentos que foram testados. Ela sabia que essa dependência de Syaoran o estava destruindo, ela mesma já disse para o amigo seguir com a vida, e até chegou a pedir para que ele a deixasse levar Sakura para o Japão, mas ele se negava terminantemente.

A moça deu alguns passos em direção ao leito de Sakura, observou de perto o semblante de Syaoran. Ele estava velho. Sim, realmente estava diferente, parecia que havia envelhecido dez anos desde o acidente. Seu semblante estava sempre indiferente, e o único momento que seus olhos se tornavam suaves, era quando estava com Sakura. Olhando assim de perto, podia ver todo o amor que amigo nutria pela prima. Sorriu. Tocou levemente no ombro do rapaz.

Ele não a encarou, apenas continuou acariciando os cabelos de Sakura.

— Sua mãe e a sua prima estão te esperando para o almoço, Syaoran.

O rapaz não se moveu, apenas continuou mexendo nas madeixas da amada.

— Não quero, Tomoyo – O rapaz suspirou, já imaginava que a mãe e a prima ficariam no seu pé naquele dia – Diga que não estou com fome.

Tomoyo se sentou na beirada da cama e tocou novamente Syaoran no ombro, fazendo-o virar-se para ela.

— Você precisa reagir, Syaoran – A morena observou o olhar do amigo para ela, os olhos de Syaoran ficaram novamente opacos – Deixe-me levar Sakura para o Japão, ela terá tudo que precisa, eu prometo. Você precisa seguir com a sua vida, você é tão jovem, Syaoran.

O amigo levantou, sentando-se de frente para a prima da esposa.

— Não, Sakura é tudo que eu tenho.

A moça encarou o rapaz, precisava insistir.

— Syaoran, entenda: ela continuará sendo sua esposa, seu amor. Você não pode fazer nada por ela, apenas esperar que ela acorde. Você é jovem, precisa retomar sua vida. Quando não está trabalhando ou treinando, está aqui trancafiado. Poxa, Syaoran, você tem que se cuidar, quando foi a última vez que fez um check up? Você não come direito, não bebe, está magro e abatido.

Syaoran escutava a tudo, seu semblante estava calmo e sereno. Entendia que Tomoyo queria ajuda-lo, sabia que estava se afundando, e que a amiga estava preocupada com ele. Apertou levemente as mãos dela.

— Você é que não entende, Tomoyo – Encarou-a nos olhos – Eu não posso fazer nada por ela, mas ela está fazendo algo por mim. É por ela que estou aqui. É por Sakura que estou vivo, é por ela eu que acordo todos os dias, é por ela que não quero morrer junto com a minha filha. Sakura é quem me mantém de pé.

Tomoyo arregalou os olhos. Sim, agora entendia perfeitamente quando Syaoran dizia que Sakura não era sua fraqueza, e sim a sua força. Sorriu, Sakura era uma mulher de sorte por ter alguém como Syaoran.

— Por favor, Tomoyo, não me peça mais para levá-la – Tomoyo encarava o rosto bonito do amigo e via toda a dor que emanava de seus olhos opacos – Ela é tudo que eu tenho. Tudo que me sobrou.

A morena novamente sentiu as lágrimas virem aos olhos. Seu coração estava aflito e preocupado. Aflito, pois ansiava pelo dia que Sakura acordaria, e preocupado, pois via a ameaça de uma família ambiciosa amadurecer. Queria contar tudo a Syaoran, queria contar o quanto a família Lee era mesquinha e interesseira.

Lembrou-se da conversa que ouviu a algumas semanas, entre Syaoran e os anciões.

Flash Back

Tomoyo descia as escadas da mansão Lee lentamente, tudo que queria era tomar um chá enquanto lia um bom livro na biblioteca particular de Syaoran. Se direcionou para a porta que dava para o escritório, mas logo percebeu que não só Syaoran, mas como seus tios estavam discutindo algo no cômodo. Virou-se para trás, com o intuito de ir para o seu quarto, mas as vozes alteradas dos homens a fez ficar.

— Repito: já sou casado.

— Com um vegetal.

Ouviu um estrondo vindo do escritório, pensou em entrar e ver o que estava acontecendo, mas alguma coisa em seu íntimo a impediu. Chegou perto da porta e colou seu ouvido na mesma.

— Não tomarei mulher, não gerarei filhos, não desistirei de Sakura! Entenderam?

Sakura! Sua mente gritou. Então os velhos idiotas estavam mexendo seus pauzinhos para Syaoran se casar novamente. O estrondo que ouviu há alguns segundos atrás com toda a certeza foi um soco do amigo em algum móvel.

— Já faz dois anos, Xiao Lang! Fomos pacientes demais.

— Sakura irá acordar.

Tomoyo suspirou. Sabia que hora menos hora os anciões colocariam Syaoran contra a parede, mas sabia também que o amigo não cederia facilmente. Restava saber quão longe aquela família ambiciosa iria para conseguir o que queriam.

— Quando, Xiao Lang? Você não pode viver na expectativa da sombra de uma japonesa qualquer.

— Sakura é minha mulher e exijo respeito. Não me casarei com Meiling, não me casarei com ninguém.

Meiling! Era claro, claro! A família Lee nunca aceitou a união de Syaoran com uma japonesa, pois segundo a tradição, os membros da dinastia Lee faziam casamentos consanguíneos, mas Syaoran ignorou totalmente o fato de estar prometido a Meiling. Tomoyo sabia que depois do casamento de Syaoran e Sakura, o amigo foi morar com a prima longe da sua família, para evitar que a moça sofresse com a hostilidade dos anciões. Depois do acidente, a família viu uma nova oportunidade de casar seu líder de acordo com as tradições.

A moça fechou os olhos, tentando se concentrar nas vozes que ouvia. Sua mente gritava de forma alarmante. E então, com muita dificuldade, ouviu algo.

— Veremos.

Seu coração gelou. Sakura corria perigo, ela sabia disso. Se Syaoran não se casasse com Meiling por bem, com toda a certeza ele se casaria por mal. Mas em quais circunstâncias? E o que ela podia fazer para proteger a integridade física da prima?

Fim do flash back

Não. Não podia contar-lhe nada. Era com a família Lee que estava lidando.

Desculpe-me, Syaoran.

Não podia permitir que Sakura ficasse naquela casa, com os Lee. Eles a matariam. Aquela família era capaz de tudo para defender seus interesses, e serem subestimados não era um deles. Por hora, fez o que estava ao seu alcance: abraçou o rapaz a sua frente.

— Obrigada, Syaoran, obrigada por amá-la tanto – Fechou os olhos ao sentir o amigo retribuir seu abraço. Que os deuses a perdoassem pelo que faria.

A moça se afastou do rapaz, encarou-o com um sorriso no rosto. Segurou as mãos do chinês, enquanto ouvia-o falar.

— Só quero ficar com ela.

Tomoyo observou o rapaz tocar a face de Sakura em um carinho suave. A moça se levantou, e antes que desse com a língua nos dentes, caminhou em direção a porta.

— Vou dizer que pegou no sono.

— Obrigado, Tomoyo.

— Ahn... Sua viajem é para daqui duas semanas, não?

Syaoran franziu o cenho.

— Sim, por quê?

Tomoyo deu um meio sorriso para o rapaz. E agora, o que falaria?

— Nada... é só que... acho que ela sente quando você não está por perto. Sei lá.

A moça observou o amigo emitir um longo suspiro.

— Se eu pudesse, ficaria o tempo todo com ela.

— Eu sei. Volte logo.

Falsa. Falsa. Falsa. Como você pode ser tão falsa, Tomoyo Daidouji? Está prestes a apunhala-lo pelas costas e ainda lhe sorri como uma amiga. Por fim, abaixou a cabeça e seguiu corredor afora, pedindo aos deuses para que a perdoassem.

How long have I been in this storm?
So overwhelmed by the ocean's shapeless form
Water's getting harder to tread
With these waves crashing over my head

If I could just see you
Everything would be all right
If I could see you
This darkness would turn to light

— Wei – Syaoran gritou enquanto descia as escadas aos pulos – Wei, Wei – Gritou ainda mais alto, as escadas de sua casa nunca pareceram tão longas.

O rapaz observou o corpo de uma chinesa entrar pela porta a sua procura, assustada.

— O que foi, Xiao Lang? Mas que coisa! Eu mal chego para lhe ver e já ouço gritos, você parece uma gralha, sabia? – Meiling se aproximou do primo – Como foi a viagem? Ouvi dizer que...

A moça parou abruptamente ao ser pega pelos ombros e sacudida, olhou para o primo, que tinha os olhos aflitos.

— Onde está Sakura, Meiling? E Tomoyo?

A moça olhou sem entender para o primo. Oras! Sakura estava no quarto onde o primo havia arranjado para ela. E Tomoyo havia ido embora para o Japão fazia algumas semanas, por conta de um problema familiar.

— Ah! Sabe como é, ela levantou e foi pegar um solzinho, dois anos dormindo a deixou muito pálida, não acha?

— Mas que droga, Meling!

A moça se assustou com o grito de Syaoran. Entendeu que o primo falava sério. Observou enquanto o rapaz de olhos ambares bagunçava os próprios cabelos em desespero, enquanto andava em círculos na grande sala.

— Jovem Xiao Lang, me chamou?

Syaoran quase voou para o pescoço do mordomo, tamanho era sua raiva e confusão.

— Sakura, Wei! Aonde ela está? Por que não está no quarto? Foi levada para um hospital? Por quê? Onde? E por que diabos eu não fui avisado de nada?

Syaoran observou o rosto calmo do mordomo mostrar confusão.

— Ora, ora! Mal chegou e já sentiu falta da japonesinha.

Syaoran sentiu o sangue escorrer ao ouvir a voz de um dos seus tios. Virou-se lentamente para o senhor vestido elegantemente.

Observou a expressão faceira do homem a sua frente, o tio o encarava com deboche. Tinha uma leve ideia do que aconteceu, mas torcia para estar errado. Observou o homem sorrir de forma lasciva. Constatou que o seu medo se tornara, de fato, real. Foram eles, eles pegaram Sakura.

Logo sentiu ser segurado pela prima e pelo mordomo, quando se deu conta estava prestes a dar um soco no tio.

— Só perguntarei uma vez, Jing Quo, onde ela está?

Meiling sentiu os pelos do corpo arrepiarem ao escutar a voz baixa e cortante do primo.

— Xiao Lang, calma...

— Cala a boca, Meiling.

Disse o rapaz, rispidamente. A chinesa sentiu o rapaz a afastando. Observou seu primo ficar frente-a-frente com o pai. Os dois se encaravam com ódio.

— Você não passa de um garoto, Xiao Lang – Destacou o ancião, batendo de frente com o sobrinho – Se acha que pode comigo, está completamente enganado. Você é só um bebê mimado e chorão. Aquela japonesa devia ser realmente boa de cama para você ficar dessa forma.

O homem cuspiu sangue ao ser atingido em cheio no rosto por um soco do rapaz. Sentiu ser jogado na parede, sendo pressionado pelo sobrinho. Riu de pura satisfação ao ver o semblante transtornado do herdeiro do clã. Finalmente, ele estava em suas mãos.

— Se tocar em um fio de cabelo dela eu juro que te mato – Disse pausadamente.

O rapaz observou o tio gargalhar e sentiu o sangue ferver, estava pronto para dar outro soco, mas o homem segurou seu punho no ar.

— Quer ela de volta?

O rapaz permaneceu em silêncio, apenas observando o tio.

— Sakura está segura.

— Onde ela está? Eu a quero de vota – Gritava, enquanto tentava desferir golpes no tio, mas como todo membro da família Lee, o homem era treinado nas artes marciais e se defendia com facilidade.

— E terá, assim que se casar com Meiling e der um herdeiro ao clã.

Syaoran gelou. Seus olhos estavam vidrados nos do tio. Não, não podia ser, eles não teriam coragem de manipulá-lo daquela forma. Observou Meiling, que se mostrava igualmente espantada.

— Você não tem saída, Xiao Lang – O rapaz ainda estava em choque e apenas fitava o tio – Se quiser voltar a ver Sakura, terá que se casar com a minha filha, e no nascimento do primeiro filho terá sua japonesa de volta.

Syaoran olhou para baixo, sua cabeça estava a mil. Não podia e não queria se casar com Meiling, mas caso não o fizesse, jamais voltaria a ver sua querida flor. Olhou para Meiling, que tinha as mãos juntas na altura da boca.

— Você sabia disso? – Perguntou friamente a prima, a mesma negou veementemente com a cabeça.

— Não perca seu tempo, Sakura está bem escondida. Nem Meiling, nem a sua mãe e nem ninguém sabe onde a sua japonesa está. Não tente contato com aquela prima idiota dela, e nem o irmão, pois dei um jeito neles também. Sakura está em minhas mãos, e você também.

Sim, estava nas mãos do tio. Era o herdeiro, o líder e estava nas mãos do tio. Não podia acreditar no que estava acontecendo, olhou para a escada acima, lembrando-se de Sakura e Nadeshiko no topo da mesma. Tentou imaginar Meiling e um bebê, mas não pôde. Amaldiçoou aos Deuses, por sua vida ser tão desgraçada.

— Pense, e depois me responda. Lembre-se que a vida da japonesa depende apenas de mim... Aliás, de você.

And I will walk on water
And you will catch me if I fall
And I will get lost into your eyes
I know everything will be all right
I know everything is all right

I know you didn't bring me out here to drown
So why am I ten feet under and upside down
Barely surviving has become my purpose
Because I'm so used to living underneath the surface

Syaoran sentia o cheiro da terra molhada, suas vestes estavam úmidas devido a chuva que caiu algumas horas atrás. Não sabia ao certo quanto tempo estava ali, deitado na grama, ouvindo o farfalhar das árvores. Olhou para a imensidão do céu, já era noite e o negro do infinito estendia-se universo a fora.

Olhou para o lado, e observou uma pequena lápide. Era a lápide de Nadeshiko, e nela estava escrito “Aqui dorme uma Princesa”, e a foto de seu pequeno anjo acompanhava a frase. Sentiu os olhos marejarem, ao pensar em como a sua vida mudou tão de repente, e de como sentia falta de embalar seu pequeno botão de flor enquanto cantava canções de ninar.

Aquele local onde enterrou a filha, estranhamente lhe trazia paz, conseguia pensar e raciocinar de forma clara. Depois que Sakura foi levada por sua família, o cemitério que costumava ser um martírio a cada vez que visitava, tornou-se seu refúgio.

Fechou os olhos, concentrando-se nos ruídos da natureza.

Já havia se passado três meses desde que Sakura foi sequestrada pelos anciões, e desde então seu tio não lhe deu mais informações sobre o paradeiro da esposa, apenas afirmava que Sakura estava viva e que ele poderia tê-la de volta no dia que o herdeiro do clã nascesse. Era esse o preço: um filho dele com Meiling. A ideia lhe parecia insuportável e incabível. Entretanto, caso ele recusasse, jamais voltaria a ver sua flor com vida.

E hoje, o tio o pôs contra a parede, exigindo uma posição de sua parte.

Apertou as têmporas, de forma cansada. Sentia vontade de tirar a própria vida e se juntar a Nadeshiko, mas deixar Sakura nas mãos dos seus tios não era uma opção. Devia proteção a ela, devia lealdade ao casamento que tinham. O que faria? Aliás, o que mais faria? Procurou por Sakura de todas as formas possíveis, tentou contato com Tomoyo e com Touya, mas como o tio lhe avisou, ambos estavam incomunicáveis. Contratou especialistas em desaparecimentos, hackers e qualquer um que pudesse encontra-la de alguma forma, mas ir contra a uma família tão poderosa e influente despertava medo nas pessoas, que acabaram recusando a tarefa.

Sentia-se encurralado, como um rato. E pior: encurralado por sua própria família. Para os Lee, tudo se resumia a tradição, bens materiais e reconhecimento social.

Bateu de frente com suas tias, esposas dos anciões, mãe e irmãs diversas vezes, mas logo chegou a conclusão de que fora os anciões, todos estavam alheios ao paradeiro da moça de olhos verdes. Meiling, no intuito de ajudar o primo, invadiu o escritório do pai, a procura de alguma pista, mas não encontrou absolutamente nada. Parecia que Sakura havia evaporado deste mundo.

Abriu os olhos e encarou novamente a lápide da filha, constatando que teria de ceder para as vontades dos anciões. Deuses! Casar-se com Meiling? Desposá-la? Assim, simplesmente? Ter um filho com ela? E depois, o que faria?

Bem ou mal, forçado ou não, seria ele o pai da criança com Meiling. Depois que tivesse Sakura de volta, o que faria? Era incabível que a esposa ficasse novamente na mansão, ele teria que levar a amada para longe das garras dos anciões, para não correr mais riscos. Consequentemente, ele teria que ir embora com ela. Mas e aí? Deixaria Meiling e o filho a mercê dos anciões? O que seria dos dois? O que seria de Meiling, sendo mãe solteira? E do filho, um bastardo? Tanto o bebê quanto a prima sofreriam as consequências de seus atos, e ele não podia deixar que isso acontecesse.

Odiou Sakura. Odiou-a por sentar-se ao seu lado exigindo explicações de estatística, odiou-a por enfeitiça-lo como uma bruxa, odiou-a por tê-lo feito se apaixonar de forma tão louca e imprudente. Odiou-a por ser tão linda, tão meiga. Odiou-a mais ainda por não conseguir tirá-la da cabeça. Odiou-a por ter lhe proporcionado o céu, e depois o inferno.

Sakura, o que eu faço? Por que diabos você entrou na minha vida? E por que eu fui tão imprudente ao achar que teríamos um final feliz? Eu sou um Lee, sou o filho de Chang Lee. Eu, mais que todos, não posso sonhar e muito menos nutrir sentimentos. No entanto, aqui estou eu fraco e impotente diante a você. Sinto-me tão sufocado, Sakura.

Abriu os olhos e viu a imagem da amada refletida no céu. Linda. Um anjo de tão bela e intocável. Ela sorria, aquele sorriso que lhe tirava o fôlego, aquele sorriso que simplesmente amava, aquele sorriso que parava o trânsito, o tempo, o seu coração. Mataria e morreria para contemplá-lo mais uma vez, ou talvez uma última vez.

Sorriu, sorriu de forma tímida para a figura da esposa. Mas logo seus olhos escureceram e ele fechou o sorriso. A imagem sorridente de Sakura dissipou-se.

Ele sabia o que tinha que fazer, sabia que esta era a única forma de mantê-la viva. Teria que abrir mão de seu amor, abrir mão de sua querida flor, teria que reportá-la para outro país, teria que mantê-la longe do oriente. E o mais importante: teria que esquecê-la, pois era a única forma de mantê-la segura. Finalmente entendeu o tamanho do poder da família Lee, e que ele era um mero peão naquele jogo. Nem ele e nem Sakura podiam contra a dinastia milenar dos Lee.

Perdão, minha flor, eles venceram.

If I could just see you
Everything would be all right
If I could see you
This darkness would turn to light

And I will walk on water
And you will catch me if I fall
And I will get lost into your eyes
And everything will be all right

Da sacada de um hotel, Syaoran observava a Torre Eiffel ao longe e lembrou-se de Sakura. Conhecer Paris era um dos desejos da amada. Lembrava-se com exatidão a confusão que a esposa sentiu ao ter que decidir entre o Brasil e a França para passarem a lua de mel. A moça acabou escolhendo a primeira opção, depois de ele prometer que em breve conheceriam a França.

Sorriu de forma nostálgica, pensando em como a vida era faceira.

Ouviu um barulho atrás de si, mas não se virou, sabia quem era e o que estava por vir. Fechou os olhos e respirou fundo.

— Estou pronta.

E ele? Estava pronto? Tinha que estar, era obrigado a estar, para falar a verdade.

Deu uma última olhada para a Torre Eiffel e dirigiu-se para o frigobar que havia no grande quarto. Encheu um copo com whisky e bebeu de uma só vez. De imediato sentiu a bebida quente lhe queimar o esôfago. Encheu outro copo.

— Não acha que...

— Estou exagerando? Talvez.

Não quis ser tão ríspido, mas nada lhe importava naquele momento.

— Pode, ao menos, olhar para mim?

Virou-se vagarosamente. A sua frente estava Meiling, ou melhor, a sua esposa.

— Estou olhando.

A moça mordeu os lábios, nervosa. Seus sentimentos eram um misto de felicidade e tristeza. Felicidade, pois finalmente realizara seu sonho de menina, casando-se com o homem que amava, e tristeza, pois sabia que Syaoran nunca seria inteiramente seu, que Sakura sempre estaria entre eles. O coração do rapaz não lhe pertencia e se ele se casou com ela, foi apenas para salvar a quem realmente amava. A moça cerrou os olhos sob o primo e apertou as mãos em sinal de nervosismo.

— Co-mo estou?

Syaoran observou o semblante nervoso da prima. Tinha que admitir que Meiling era uma mulher muito bonita. Seus cabelos negros estavam soltos e batiam na cintura, o corpo bem delineado da moça estava coberto por uma fina camada de tecido, deixando seus contornos a mostra. Seus olhos eram de uma tonalidade rara, podia até compará-los a rubis. Riu-se intimamente ao constatar que primeiro os deuses lhe presenteavam com um par de esmeraldas, e depois o fazia engolir um par de rubis.

Se não tivesse conhecido Sakura na faculdade, com certeza gostaria de se casar com uma mulher bonita como Meiling. Mas na atual situação que se encontrava, via a prima apenas como uma garota, uma amiga. Suspirou, repreendendo-se mentalmente por pensar em Sakura naquela noite. Deuses! Estava prestes a se deitar com Meiling e as lembranças de sua querida flor não paravam de surgir em sua mente.

Desviou o olhar da moça, aproximou-se novamente do frigobar e encheu um segundo copo, agora com Vodka. Voltou-se para a prima e estendeu-lhe a bebida.

— Tome.

A moça olhou desconfiada para o rapaz. Ele sabia que ela era fraca para bebidas.

— Eu não bebo, você...

— Irá precisar, acredite.

Silêncio.

A moça aproximou-se do rapaz, ficando de frente para ele, pegando o copo de sua mão. Sem tirar os olhos do primo, levou até a boca. Cuspiu o conteúdo em seguida.

— Que coisa horrível! Como vocês conseguem beber isso?

Syaoran manteve-se parado, seus braços fortes estavam cruzados sob o peito enquanto observava a reação da prima.

— No começo é ruim, mas logo passa. Beba.

— Eu não quero.

Observou a morena estender-lhe o copo. Droga Meiling! Você não facilita. Pegou o copo das mãos da prima e virou-se de costas, bebendo o que restava.

Dirigiu-se a um espelho, olhou seu reflexo e não se reconheceu. O semblante alegre que costumava ter, já não habitava o seu rosto. E como poderia? Matou sua filha, deixou Sakura em coma, foi estúpido o suficiente para confiá-la aos cuidados de sua família, que não hesitou em apunhala-lo pelas costas. E agora, ele não sabia onde ela estava e nem se recebia algum tratamento. Suspirou, tinha que acabar logo com isso e tirá-la das garras dos anciões, e o preço estava bem atrás de si.

Olhou para a imagem de Meiling refletida no espelho. Ela também lhe encarava, apertando as mãos em sinal de nervosismo. Syaoran desviou o olhar da moça e começou a desfazer o nó da gravata.

— A cerimônia.... Foi bonita, não foi?

Ainda sem encarar a moça, começou a desabotoar lentamente a camisa branca que vestia.

— Foi.

Silêncio.

O rapaz retirou a camisa, deixando seu peitoral bem definido a mostra. Meiling apenas observava os movimentos de Syaoran, não podia negar que estava nervosa e com medo, mas sentir aquele corpo na ponta dos seus dedos era tudo o que ela sempre desejou.

Syaoran reparou nisso e constatou que Meiling nunca foi capaz de tirá-lo dos seus sonhos e pensamentos. Sentiu pena da chinesa, pois ele nunca seria capaz de retribuir-lhe o sentimento. Virou-se para encarar a moça e proclamou em uma voz sem emoção.

— Deite-se na cama, tire a roupa e abra as pernas. Eu faço o resto.

Syaoran observou o semblante da prima mudar. A moça olhou para ele com horror.

— Assim?

— É, assim.

Começou a desabotoar a calça, jogando-a aos pés em seguida. Incrédula, Meiling deu um passo para trás.

— Eu não quero assim – Disse a morena, em um fio de voz.

— Você quer como, Meiling? Preciso fazer este herdeiro, lembra-se?

Silêncio.

O rapaz bufou, pensando em como a prima era inútil. Caminhou até ela, olhando fixamente para os olhos vermelho-rubis.

— Eu vou ter que fazer por você?

Meiling sentiu os olhos marejarem, tamanha grosseria de Syaoran.

— Não toque em mim.

Mais uma vez Syaoran bufou.

— Será que nem por um minuto, você consegue me imaginar como mulher? – A moça gritou na cara do rapaz, enquanto se desfazia da única peça de roupa que vestia, ficando completamente nua. Pegou o tecido e jogou contra o peito do primo, que apenas a encarava de forma fria e indiferente – Olhe para mim, Xiao Lang.

Longos minutos se passaram, e conforme Meiling recobrava a consciência, tentava inutilmente cobrir sua nudez. Quando ela finalmente se acalmou, o chinês se aproximou.

— Quão difícil é deitar na merda daquela cama e me deixar fazer o resto? Eu vou dormir com você, não vou? Não é isso que você sempre quis? Casar-se comigo? Ter filhos? Pronto, estamos casados, agora podemos pular para o próximo item?

A moça arfou de forma dolorida. Enxugou as poucas lágrimas que ainda teimavam em cair e olhou fixamente para as fortalezas âmbares que tanto sonhava. E então, replicou de forma magoada.

— Foi assim que tratou Sakura na primeira vez que dormiram juntos?

O coração do chinês fisgou.

Flash Back

Syaoran beijava Sakura em baixo do uma grande árvore no campus da faculdade Tomoeda-Tóquio, sentia a garota amolecida em seus braços, enquanto descia os lábios para o seu pescoço. Pressionou ainda mais o corpo da garota contra o tronco da árvore, enquanto sentia sua virilidade pulsar em sua calça. Com um esforço sobre-humano, afastou-se da namorada.

Observou os olhos verdes que tanto amava olhá-lo mostrando confusão. Desejava Sakura mais que tudo, tinha que ter autocontrole sob seu corpo ou acabaria desrespeitando-a.

— O que aconteceu? O que eu fiz?

Syaoran sorriu e beijou a testa de Sakura.

— Nada, minha flor. Eu acho melhor você subir, daqui a pouco os vigias começam a andar pelo campus.

— Mas... Mas...

— Mas nada, Sakura. Por favor.

A moça olhou-lhe desconfiada. Syaoran sentiu ser pego pela nuca e puxado para baixo, logo as bocas estavam novamente brincando. Deuses! Ela não tinha noção da beleza que possuía? Não tinha ideia das emoções que despertava nele? Desejava aquele corpo mais que tudo.

Afastou-a quase que bruscamente.

— Por Deus, Sakura! Está ficando cada vez mais difícil me controlar. É melhor você ir para o dormitório.

O rapaz já ia puxando-a em direção ao prédio AOK, mas sentiu ser segurado pelo braço. Observou algo diferente nos olhos esmeraldas que tanto adorava.

— Já pensou na possibilidade de... bem, que eu não queira que você se controle? – Olhou para o namorado de forma faceira - Tomoyo não está no dormitório hoje.

O rapaz foi pego de surpresa. Sakura não costumava ser tão ousada. Já fazia alguns meses que estavam namorando, mas ainda não tinham ido além de beijos e carícias.

— Não me provoque, Sakura.

A moça suspirou, desencostando-se da árvore.

— Não estou te provocando. Eu quero isso tanto ou mais que você, Syaoran.

— Você não está raciocinando direito – Riu.

— Por que não? Mulheres também sentem desejo, senhor Lee.

Syaoran ficou sem palavras. Sakura o surpreendia sempre. A moça se aproximou, ficando a poucos centímetros de seus lábios. Seus olhos ambares olhavam diretamente para os olhos esmeraldas. A simples aproximação de Sakura fez o seu corpo reagir novamente. Deuses!

— Você me respeita Syaoran, e eu te amo por isso. Mas agora eu te quero, e sei que me quer também – Riu, ao contemplar o semblante surpreso do namorado – Me trate bem, eu não tenho muita experiência.

Syaoran ficou em silêncio, analisando as palavras de Sakura. Sabia que ela já havia tido outros namorados, mas não sabia o quão fundo ela foi com cada um deles. Sorriu, passando os dedos pela face angelical da moça.

— Eu também não tenho muita experiência, mas tentarei te ensinar o que sei.

Sakura fechou a porta de seu dormitório e girou a chave para ninguém os incomodar. Em seguida, virou-se, encarando a face naturalmente bronzeada do rapaz a sua frente.

Syaoran encarava Sakura em silêncio. O cômodo estava escuro, apenas os raios da lua iluminavam o local, mas mesmo assim o brilho intenso dos olhos esmeraldinos era visível. Andou lentamente em direção a sua japonesa, parou de frente para ela e tocou a face bela.

— Você é tão linda, Sakura – Levou as mãos aos cabelos da amada, soltando-os da presilha que os prendia – E eu te quero tanto.

Dito isto, abaixou-se até encontrar os lábios com sabor de mel. Sentiu Sakura enlaçar-lhe o pescoço, dando permissão para aprofundar o beijo e as carícias, enquanto despia lentamente cada peça de roupa que cobria seu corpo perfeito.

Pegou-a no colo e delicadamente deitou-a na cama, voltando a beijá-la de forma suave.

A cada toque, uma sensação, a cada beijo, um novo paraíso. Juntos descobriram-se, e esta descoberta foi muito mais além dos prazeres da carne. Naquele momento, o chinês de olhos âmbares soube que a garota que tinha entre os braços, dona do mais belo par de esmeraldas, seria quem tomaria conta de seus pensamentos durante toda a sua vida.

Fim do Flash Back

Não, não foi assim que tratou Sakura na primeira vez que dormiram juntos. Abaixou a cabeça, envergonhado por tratar a prima de forma tão indiferente. Ela não merecia ser tratada com tanto desdém, e ele não tinha o direito de tornar sua primeira vez um martírio. Aliás, nem a sua primeira vez, e nem a sua vida.

Levantou a cabeça e se aproximou da moça, que olhava para ele fixamente. Ela não chorava mais. Tocou levemente a sua bochecha, fazendo um carinho suave em seu rosto de boneca.

— Não vou lhe prometer amor, Meiling. Eu não te amo, não te amarei nunca. Eu amo outra pessoa, mas tenho plena consciência de que ela pode não acordar. E mesmo se acordar, não haverá mais nada entre nós – Pausou, tentando acreditar em suas próprias palavras - E não se preocupe, assim que tudo estiver terminado, eu a mandarei para fora do país. Bancarei todos os cuidados que ela precisar pelo tempo que for necessário, mas não voltarei a vê-la. Ficarei aqui, com você e o nosso filho, até o meu último dia de vida.

A moça arregalou os olhos com as declarações de Syaoran. Então ele não a abandonaria assim que o herdeiro nascesse? Ele ficaria com ela e o bebê?

— Vo-você está... abrindo mão da Sakura?

Syaoran sorriu de forma triste, quase melancólica. Sim, ele estava abrindo mão de sua querida flor.

— Estou mantendo-a viva, Meiling – Falou de forma sincera para a prima - Infelizmente, para que ela viva, temos que estar separados. Eu finalmente entendi isso.

A moça olhou com pesar para o rapaz. Syaoran estava abrindo mão do seu amor para manter Sakura em segurança. Sentiu compaixão pelo primo.

Acariciou levemente o rosto bonito do chinês.

— Podemos... tentar viver em paz? Eu prometo dar o meu melhor para te fazer feliz.

A moça nada respondeu, apenas maneou a cabeça positivamente. O rapaz deu um meio sorriso, não era de felicidade, mas era um sorriso.

— Obrigado.

Aproximou-se da prima, ergueu seu pequeno queixo e colou seus lábios nos dela.

Pegou-a nos braços e depositou-a lentamente na cama. Não abriu os olhos, não queria fita-la, então continuou beijando-a até chegar ao pescoço da moça, que emitiu um gemido. Sentia os dedos de Meiling passearem em suas costas, vez ou outra lhe arranhando por alguma carícia mais intensa. Logo alcançou seu colo, enquanto suas mãos ágeis proporcionavam emoções cada vez mais loucas à moça.

— Eu sonhei tanto com este momento, Xiao Lang.

Exclamou em um fio de voz, antes de se entregar totalmente ao prazer que Syaoran lhe apresentava.

O rapaz, por sua vez, não pôde deixar de pensar na japonesa de olhos esmeraldas, que tanto amava. Lembrou-se das inúmeras noites que a fez sua. Lembrou-se de quando a encarava durante o ato e via o verde dos seus olhos inflamados de tanto desejo. Lembrou-se de como era bom ouvi-la chamar seu nome em meio de tantos murmúrios e suspiros. Lembrou-se da forma como se entregavam de corpo e alma um para o outro. Lembrou-se de todas as promessas, sonhos e planos compartilhados.

Por mais que tentasse, não conseguia se livrar do sentimento de culpa por estar possuindo outra mulher, mesmo que fosse para proteger sua querida flor.

And I will walk on water
And you will catch me if I fall
And I will get lost into your eyes
I know everything would be all right

And I will walk on water
And you will catch me if I fall
And I will get lost into your eyes
I know everything will be all right
I know everything is all right

— Não é um bom momento para fechar contrato com o Líbano, o país está passando por um conflito interno, é questão de tempo para a economia desestabilizar.

— Concordo, mas o que temos que levar em conta que a obra prima irá baratear...

Syaoran olhava para os seus tios, ouvia os argumentos de cada um enquanto fazia uma análise dos lucros e riscos que teriam. Entretanto, seu raciocínio foi interrompido com breves batidas na porta de seu escritório, na cede da corporação Lee. Observou sua secretária adentrar. Todos ficaram em silêncio.

— Sim, senhorita Maki?

Observou a mulher abrir um sorriso tímido, enquanto pedia desculpas pela intromissão.

— Ligaram da mansão senhor, a senhora Lee está entrando em trabalho de parto.

O tempo parou para o jovem chinês. Imediatamente seus tios se levantaram, comemorando a notícia. Afinal, o herdeiro finalmente nasceria.

Instintivamente, olhou para uma foto que havia em sua mesa. Nela, estavam Sakura, ele e Nadeshiko. A criança tinha algumas horas de vida, e estava em seus braços, enquanto Sakura abraçava tanto pai quanto filha, sorrindo feliz.

As lembranças do dia do nascimento de seu botão de flor bombeavam em sua mente.

Flash Back

Com os olhos vendados, Syaoran treinava artes marciais no gramado de sua fazenda. Era um dia quente, sentia o suor correr em seu rosto.

— Xiao Lang!

Ouviu um grito ao longe, tirou a faixa que lhe cobria os olhos e por um momento o sol o cegou, mas logo a imagem de uma moça com longos cabelos negros se formou. Era Meiling.

— A bolsa estourou. O bebê vai nascer.

A bolsa estourou. Ele seria pai. Correu o mais rápido que pôde na direção de sua casa. Chegando à porta, Sakura descia as escadas com a ajuda de alguns funcionários.

— Vai nascer, Syaoran! Nossa menininha vai nascer!

Syaoran sorriu ao ver a alegria da esposa. Sim, seu bebê iria nascer. Logo correu para ajuda-la a entrar no carro.

— Como se sente? Já está tendo contrações? Ela está se mexendo muito? De zero a dez, quão bem você está? Onde está a mala com as suas coisas?

Sakura riu. O marido estava mais nervoso que ela própria.

— Eu estou bem, e a nossa pequena também. Já está no carro.

Syaoran sentiu a aproximação de Tomoyo, que tinha as chaves do carro em seus dedos.

— Vá no banco de trás com ela, eu dirijo.

Syaoran não discutiu, mas antes de partir pediu a alguns funcionários que informassem a família Lee sobre o nascimento da criança.

O rapaz entrou no carro, deitando Sakura em seu colo, o casal deu as mãos. Estavam prestes a serem pais. Sorriram de pura felicidade.

Fim do Flash Back

Syaoran segurava a mão de Meiling, enquanto esta fazia força para empurrar o filho. A moça estava encostada no peito do rapaz, enquanto sua mãe empurrava a barriga da chinesa para baixo e a parteira esperava a criança passar pela região pélvica. Syaoran sentia as mãos e o corpo de Meiling suarem, enquanto lágrimas de dor caíam de seus olhos a cada contração.

— Força, menina! – Proclamou a parteira.

— Eu nã-não consigo... Estou cansada.

Syaoran apertou a moça contra o seu corpo, transmitindo-lhe confiança. Abaixou-se até alcançar o ouvido da prima.

— Força, Meiling, ele está quase vindo.

Sentiu a morena apertar-lhe ainda mais a mão. Syaoran via que a esposa estava sofrendo e que logo chegaria ao seu limite. Abraçou-lhe enquanto dizia palavras de conforto.

Não demorou em a parteira avistar a cabeça da criança. E então, o choro estridente invadiu o quarto, e o tempo parou para o jovem chinês. Ele seria pai, ele teria uma segunda chance. Sorriu verdadeiramente.

Sentiu o corpo de Meiling amolecer em seus braços, e então a parteira ergueu um pequeno corpinho. Era o seu filho, seu menininho.

— Pegue-o.

Ouviu Meiling pedir em uma voz fraca. Levantou-se de vagar e delicadamente apoiou o corpo da moça nos travesseiros. Ouviu-a suspirar aliviada.

Andou lentamente em direção à criança, emocionado.

— Quer cortar, senhor?

Syaoran olhou a mulher e entendeu que ela se referia ao cordão umbilical, fez que sim com a cabeça. A mulher estendeu a tesoura para o rapaz e mostrou-lhe como fazer, então ajeitou o bebê nos braços e Syaoran separou o pequeno da mãe. Em seguida a mulher banhou brevemente a criança, enrolou-o em uma manta e entregou ao pai.

Syaoran fitou o filho. Tão pequeno e tão inocente. Diferente da irmãzinha, o menino nasceu com muito cabelo e era castanho escuro, como os dele. A pele era naturalmente bronzeada, característica comum entre os Lee. Seus olhinhos eram vermelho-rubis, iguais aos de Meiling.

Com a ponta dos dedos, Syaoran tocou os dedinhos pequenos e gordinhos do filho, que se fecharam em seu polegar. Syaoran olhou brevemente para Meiling e sorriu feliz.

— Ele é lindo, Meiling. E é tão forte.

Não esperou para ver a reação da mulher, logo voltou seus olhos novamente para a criança.

— Oi, meu pequeno – Fez um pequeno carinho nas bochechas do menino – Aqui é o papai.

Observou por mais alguns segundos a face do bebê, então Meiling pediu para vê-lo, e o rapaz sentou-se ao lado da moça. Ambos admiravam a criança.

— Vou avisar que o bebê já nasceu, vamos Naoko – Disse a tia de Syaoran, saindo pela porta junto com a criada, deixando-os sozinhos. Meiling abriu um sorriso.

— Ele parece com você, sabia?

Syaoran observou a moça dar o peito para o filho mamar, enquanto ele fazia carinho nos cabelos do garotinho. Sorriu. A sensação de ser pai novamente era indiscutivelmente boa.

Por um momento, seus olhos tornaram-se opacos. Não pôde deixar de pensar em Nadeshiko. Se estivesse viva, estaria com quase cinco aninhos, e provavelmente ele e Sakura estariam planejando um irmãozinho para ela. Sentiu uma vontade louca de chorar.

A mão de Meiling pressionar a sua, em um pedido silencioso para que ele a olhasse. A moça sabia o que se passava em seu coração.

— Olhe, ele está bem aqui – Disse a moça carinhosamente, enquanto apontava para o bebê – Seu filho, você terá uma segunda chance.

Encarou a prima e sorriu de forma triste, concordando com ela. Meiling nunca o recriminou por se lembrar de sua antiga vida, muito pelo contrário, sempre o apoiou e fez o possível para amenizar a dor e a culpa que sentia. Mesmo que nunca a amasse da forma que merecia, seria eternamente grato a ela.

Ficou mais um tempo observando o pequeno mamar até pegar no sono. Encarou o seu quarto, com os pensamentos distantes. Seu olhar escureceu mais uma vez ao pensar no que estava por vir.

Levantou-se em silêncio, calçando os sapatos.

— Vou tratar daquele outro assunto – Olhou para Meiling, que o encarava apreensiva – Tente não se preocupar, não é bom para o leite.

— Mas...

Syaoran colocou seus dedos nos lábios da moça e a encarou nos olhos.

— Eu voltarei, Meiling – Observou os olhos rubis suavizarem – Só preciso resolver isso de uma vez, e então tudo será como eu te falei.

Sorriu forçadamente e roçou os lábios nos de Meiling, beijou a cabecinha do bebê que dormia tranquilamente e então saiu do quarto e foi em direção a sala, onde toda a sua família esperava. Quando apareceu na porta, as vozes tomaram conta do cômodo. Precisou elevar o seu tom para ser ouvido em meio ao alvoroço.

— O bebê nasceu com saúde, no momento ele está dormindo e Meiling está muito cansada, por favor, entrem aos poucos e não façam muito barulho.

Os integrantes da família Lee concordaram. Enquanto alguns primos e tias passavam por ele para ver Meiling e o bebê, seus olhos procuravam por alguém. E encontrou. Fixou o olhar em um único homem, o único ancião que lhe interessava. Seu tio e sogro, Jing Quo Lee.

Syaoran fez sinal para o homem o seguir, e ambos foram para o seu escritório. O rapaz fechou a porta atrás de si e virou-se lentamente. Ergueu os olhos e encarou friamente o tio.

— Cumpri com a minha parte do acordo. O herdeiro nasceu. Sua vez.

Observou o ancião analisá-lo por alguns segundos.

— Sua japonesa está na fazenda onde moravam.

O rapaz arregalou os olhos ao ouvir as palavras do tio.

— Não imaginava, não é mesmo?

Incrédulo, Syaoran deu um passo para trás, se apoiando na porta. Este era o último lugar no mundo que procuraria por Sakura. Recriminou-se por não perceber antes. A moça de olhos verdes estava escondida justamente na fazenda onde moravam antes de tudo acontecer. Era óbvio demais para ser verdade. Depois do acidente, voltou pouquíssimas vezes para a fazenda, pois tudo que havia nela lembrava-lhe sua filha e a vida que costumava ter.

— Sabe o que é mais engraçado? Quem propôs tudo, foi justamente a pessoa em que você mais confiou – O homem riu ao observar o semblante descrente do sobrinho – Sim, a doce Tomoyo.

Syaoran gelou. Tomoyo estava por trás de tudo? Ela havia planejado este golpe? Por quê?

Saiu em disparada, enquanto discava algo no celular.

Everything is all right

Everything is all right

Tomoyo voltava de sua costumeira caminhada da tarde. Observava a grande fazenda, agora vazia. As plantações já não eram cultivadas, e os celeiros estavam vazios. Agora havia poucos funcionários, todos fiéis aos anciões. Qualquer passo fora da fazenda, qualquer atitude suspeita, corriam contar para a família Lee. Suspirou, sentindo-se um passarinho preso em uma gaiola, com cobras aos arredores prontas para dar o bote.

Aproximou-se da entrada da casa e avistou um carro parado de frente a esta. Franziu o cenho, constatando que não conhecia o automóvel. Subiu as escadas, dando para o hall de entrada. Adentrou na sala, encontrando Rika, a enfermeira que cuidava de Sakura, sentada em uma poltrona.

— Rika? O que faz aqui? Achei que havia lhe pedido para ficar com a Sakura.

A moça se levantou ao ver Tomoyo.

— Senhorita Tomoyo, o senhor Lee está com a senhora Sakura. Pediu-me para deixa-lo a sós com ela.

Tomoyo sentiu o sangue escorrer. Aquele desgraçado! Mataria aquele velho caso fizesse algum mal a Sakura. Droga! Mil vezes droga! Ele já conseguiu o que queria, Syaoran se casou com Meiling e o filho dos dois estava em tempos de nascer. O que mais ele queria? A prima já não era um impedimento, um problema. Então por que eliminá-la?

Tomoyo correu, subiu as escadas aos pulos enquanto sentia seu coração sair pela boca. Chegou de frente para o quarto da prima e abriu com tudo.

— Tire as mãos dela, seu maldi...

Gelou.

Rika não se referia a Jing Quo Lee, e sim a Syaoran Lee.

Tomoyo observou o rapaz erguer o olhar para ela, seus olhos ambares tornaram-se negros, enquanto segurava uma das mãos de Sakura na altura dos lábios.

Syaoran estava ali, a sua frente, em carne e osso. Isso significava que...

— Seu filho...

— Nasceu.

Tomoyo sentiu os pelos do seu corpo eriçarem com a voz cortante de Syaoran. Ele queria respostas, e ela teria de dá-las. A moça observou o amigo depositar a mão de Sakura na cama, enquanto se levantava da cadeira onde estava sentado e se dirigir a ela.

— Por que, Tomoyo? – O rapaz parou a poucos centímetros da moça, olhando-a nos olhos. E então, disse em uma voz quase inaudível - Eu confiei em você.

A moça caiu de joelhos, escondendo o rosto entre as mãos enquanto soluçava.

— Eu sei Syaoran, eu sei. Por favor, me perdoe, por favor, por favor. Eu tive tanto medo!

Sentiu o amigo abaixar-se para encará-la.

— Ela iria morrer se eu não fizesse algo. Sakura é a minha vida, eu a amo mais que tudo, por favor, coloque-se no meu lugar.

Irritado, rapaz pegou os ombros de Tomoyo, obrigando a moça a lhe encarar.

— E o que você acha que eu sinto por Sakura? O que acha que ela significa para mim? Por Deus, Tomoyo! Você tramou contra mim, você e os meus tios. Por que fez isso? Eu fui obrigado a aceitar um casamento que eu não queria, fui obrigado a gerar um filho que eu não queria. E sabe o que mais? Não foi só com a minha vida que você brincou, foi com a vida de Meiling também. Acha que ela será feliz ao meu lado? E a criança, Tomoyo? Um inocente é fruto dos seus trambiques, da sua covardia, sua e da minha família. Você foi traiçoeira e ardilosa. Eu esperava isso de qualquer um, menos de você.

O rapaz observava a querida amiga de olhos violetas chorar cada vez mais forte a cada palavra que ouvia. Respirou fundo, tentando manter o controle. Por fim, sentou-se no chão, esperando Tomoyo recuperar-se.

— Eu... se-sei... – Tomoyo encarou o amigo sentado a sua frente, esperando explicações – Eu não queria nada disso, Syaoran, eu juro que eu não queria.

Tomoyo contou-lhe tudo, contou-lhe da ameaça crescente da família Lee, contou-lhe da discussão que ouviu atrás da porta, e como isso a influenciou em conversar com os anciões e propor que Sakura fosse teoricamente raptada, pois só assim Syaoran cederia às pressões da família. Também lhe contou que ela própria teve a ideia de esconder a prima na fazenda onde moravam, pois seria o último lugar que o amigo imaginaria que ela estivesse. Contou-lhe como foi feita a remoção de Sakura de dentro da mansão sem que ninguém desconfiasse. Contou-lhe que fez tudo o que fez para proteger a prima, pois caso ela não tomasse uma atitude, com toda a certeza a família Lee tomaria mais cedo ou mais tarde, e talvez isso custasse à vida de Sakura.

Syaoran ouvia a tudo atentamente, não interrompeu a narrativa da amiga uma única vez. Queria sentir raiva de Tomoyo, mas ela apenas protegeu alguém precioso para ela. Não foi a melhor opção, mas situações desesperadoras remetem atitudes desesperadas. Ela queria apenas que Sakura saísse da mansão e não corresse riscos, e para isso acontecer, jogou com todas as suas cartas.

— Você podia ter me contado, eu não teria duvidado de você. Tudo isso seria evitado.

— Você não entende Syaoran? Se eu tivesse te contado, eles perceberiam. Você é observado o tempo inteiro, é monitorado vinte e quatro horas por dia. E mesmo que você tentasse tirar a Sakura das vistas dos anciões, iria dar o que eles queriam? Iria se casar? Ter filhos? Não. Sakura continuaria na mira da sua família, a morte ou o sumiço dela era a única forma de fazer você aceitar o que eles queriam – As lágrimas nos olhos de Tomoyo já não escorria com tanta frequência, a moça olhava para o amigo suplicando para que ele a entendesse - Me desculpe, Syaoran, sei que fui fria e calculista, sei que manipulei a sua vida e isso teve várias consequências. Eu não me orgulho do que fiz, mas eu não tinha outra opção. Era isso, ou sentar e esperar seus tios tomarem alguma medida contra Sakura.

Syaoran olhou para baixo, encarando o chão. Ela estava certa.

— Acabarei com cada um deles, Tomoyo. Eu prometo.

Longos minutos de silêncio se passaram, e então o celular de Syaoran tocou. O rapaz olhou para a tela, constatando o inevitável. Levantou-se, ajudando Tomoyo a fazer o mesmo. Encarou a amiga.

— Contratei um avião para levá-las até o Japão – Syaoran tirou sua carteira do bolso e estendeu um papel dobrado para Tomoyo – Pegue, é um cheque. Chegando lá, quero que contrate outro avião e uma equipe médica, para transportá-las para qualquer outro lugar, longe do oriente. Procurei por Touya durante algum tempo, e não o encontrei. Agora que já sei de tudo, imagino que ele também esteja a par da situação, correto?

A moça maneou positivamente com a cabeça, e então teve uma ideia.

— Posso falar com Eriol e...

— Não! Não me conte nada! Eu não posso saber onde vocês estão. Não quero me sentir tentado a... – Pausou, não queria e não podia se sentir tentado a abandonar tudo e correr para onde Sakura estava, pois além de colocar a vida dela em risco, agora tinha um dever com Meiling e o filho - Eu tenho um bebê para cuidar, Tomoyo.

Apreensiva, a morena juntou as mãos e levou na altura do peito, entendendo o que Syaoran estava fazendo.

— Não lhes faltará absolutamente nada. Preciso apenas que você me passe o número da sua conta e agência, depositarei todo mês uma quantia alta. Você sabe como me encontrar. Ligue-me apenas quando ela acordar, ou quando... – Pausou, se negando a concluir a frase - Bem, não quero ter notícias suas, nem dela, não quero saber onde estão. Entendeu, Tomoyo?

A moça podia sentir toda a dor que emanava dos olhos ambarinos de Syaoran, sua voz saía fraca e reprimida, o que era totalmente compreensível, pois estava abrindo mão de Sakura para protegê-la de sua própria família.

— Quando ela acordar, eu ligarei. Prometo.

— Obrigado.

Tomoyo abraçou o amigo, tentando inutilmente confortá-lo.

— Cuide dela, Tomoyo. Arrisque todos os tratamentos, não economize um centavo sequer. Faça o possível e o impossível para mantê-la viva. Prometa-me.

— Eu prometo – Disse a moça, enquanto fazia carinho nos cabelos rebeldes.

Syaoran observava algumas malas sendo colocadas dentro do avião, enquanto uma equipe médica preparava o leito de Sakura para a viagem. Syaoran sorriu aliviado, constatando que a amada finalmente deixaria de estar no radar da família Lee. Por outro lado, sentia-se nostálgico, pois sabia que não poderia manter contato com Tomoyo e nem poderia visitar Sakura, tinha que abrir mão de tudo para mantê-la segura. Isso seria um martírio, um golpe doloroso. Pediu aos Deuses para tirar moça de seu coração e pensamentos, mas sabendo que isso não era possível, pediu para que lhe dessem forças para aguentar a saudade e a vontade de estar com ela.

Caminhou em direção a cama móvel de Sakura. Ouvia as árvores ao longe balançarem. Parecia que tudo ao seu redor se despedia da moça de olhos verdes. Olhou para sua querida e amada flor, e então sorriu timidamente.

Os fios castanhos antes curtos, agora estavam longos e o vento bagunçava as madeixas de forma graciosa. Linda. Sakura estava sempre linda, não importava as circunstâncias. A pele alva e branquinha fazia contraste com a boca naturalmente vermelha. Parecia um anjo dormindo. Seu semblante lhe trazia paz e confortava sua alma calejada.

Encostou sua testa na dela, olhando-a adormecida. Sentiu a primeira lágrima rolar em sua bochecha até cair na face da amada. Naquele momento, tudo que importava era ele e Sakura.

— Como eu queria que as nossas vidas tivessem sido diferentes, Sakura – Sentiu a segunda lágrima correr até a ponta do seu nariz - Como eu queria estar comemorando os cinco aninhos de Nadeshiko. Como eu queria ouvir sua voz, mesmo que para gritar comigo – Riu, ao lembrar-se de como a esposa ficava histérica às vezes - Como eu queria olhar novamente para o verde dos seus olhos. Como eu queria lhe ver sorrir – Sentiu a terceira lágrima descer, enquanto seu coração apertava mais e mais – Obrigado por me dar a chance de te conhecer, obrigado por ser a minha amiga, obrigado por aceitar o meu pedido de namoro, obrigado por me tirar da escuridão, obrigado por se tornar a minha esposa e a minha vida. Muito, muito obrigado por ser a mãe da minha filha, por me mostrar o que é o amor e a importância de ter fé na vida. Obrigado principalmente por ter me feito o homem mais completo, e mais feliz do mundo.

Tomoyo se aproximou do casal com lágrimas nos olhos. Encostou a mão no ombro do amigo, avisando-lhe que já estava tudo pronto. Viu o rapaz enterrar o rosto no pescoço da prima, em uma doce agonia, enquanto balbuciava algumas palavras inaudíveis a ela.

— Eu preciso lhe ver de novo, então não desista da vida, porque eu sei que um dia você irá acordar. E não se esqueça de mim, pois eu nunca me esquecerei de você – Pausou, recuperando o fôlego – Você e Nadeshiko estarão sempre, sempre em meu coração e pensamentos. Eu te amo Sakura, eu te amarei até o meu último dia de vida. Você é o meu pilar, a minha força. Apenas acorde. Apenas viva.

Beijou-lhe o cabelo, a testa, os olhos, a bochecha e finalmente os lábios. Permaneceu ali por alguns segundos, apenas pressionando sua boca contra a dela, enquanto sentia uma dor fina no peito. Sabia que esta era a dor da despedida, que este era o momento que teria que dizer tchau por tempo indeterminado.

Afastou-se lentamente, encarando a face serena e bela. Sorriu verdadeiramente.

— Até breve, minha flor.

“Que o vento sopre levemente às suas costas,

Que o sol brilhe morno e suave em sua face,

Que a chuva caía de mansinho em seus campos,

E, até que nos encontremos de novo...

Que os Deuses lhe guardem na palma de Suas mãos. “

 


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Notas finais do capítulo

Oi, gente!

Mais um capítulo fresquinho de Alguém Como Você. Nada mais, nada menos que vinte e duas páginas no word, ufa!

A música presente no capítulo se chama Storm e pertence a banda Lifehouse. Vale a pena dar uma olhadinha na tradução! Há também a presença de uma oração celta, eu conheço como Oração Celta do Amor, não sei ao certo a origem, mas é linda.

Bom, eu sei que prometi o capítulo para o fim de novembro, mas não deu tempo, mil desculpas.

Queria agradecer as pessoas que estão acompanhando, e pedir para vocês comentarem, pois eu realmente gostaria de saber suas opiniões.

O próximo e provavelmente último capítulo sai em breve, então aguardem!

Acho que é isso, um feliz natal e um próspero ano novo a todos.

Beijinhos,
Bely.



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