"A vida é como andar de bicicleta. Para ter equilíbrio você tem que se manter em movimento".

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Era outubro e o clima em New Jersey estava começando a esfriar. Os dias estavam mais nublados e os casacos já faziam parte do figurino diário.

Noite passada eu havia dito a Levy que iria acertar tudo para a minha primeira viagem. Depois iria até a Editora e deixaria o mais complicado por último.

Contar para os meus pais.

Mas nisso eu pensaria depois. No momento, Levy estava me acompanhando até a Agência de Viagens perto do nosso trabalho.

Estava ansiosa, isso seria uma tremenda aventura para mim. Arriscada, mas estava disposta a arcar com tudo.

Conversei por um bom tempo com a moça que trabalhava na Agência, ela fora muito gentil. Explicou-me tudo o que eu precisava fazer, e ainda mostrou-me um mapa com diversas pousadas e hotéis.

No fim, comprei minha passagem apenas de ida para o México, na cidade de Guadalajara.

Eu já havia reservado um quarto no hotel Casa Dulce María, e pretendia ficar lá por dois meses.

Saímos da Agência e rumamos direto para a Editora, onde eu tive uma séria conversa sobre minhas possíveis férias. Expliquei aos meus superiores que seria bom para aumentar minha inspiração, afinal, fazia um bom tempo desde que lançara um livro, e isso pareceu convencê-los. Eu tinha o tempo que eu precisasse. Desde que mandasse um manuscrito a cada final de mês do meu novo projeto.

Com a viagem acertada e o trabalho resolvido, havia chegado a hora que eu tanto temia.

Meus queridos pais.

Eu estava na casa de Levy, com minhas malas já prontas. Ela teve a gentileza de buscar meus principais pertences na minha antiga casa, que depois do acordo, ficou pertencendo apenas a Sting.

Agora eu estava com o celular na mão, pensando em como falaria com a minha mãe. Suspirei fundo diversas vezes antes de discar seu número e levar o aparelho a orelha.

O som de chamada soou por cinco vezes. Eu já estava desistindo quando a voz delicada de minha mãe, Layla, falou.

– Minha filha!

Sorri com a saudação carinhosa. Eu amava minha mãe demais, e sentia falta dela. Mas quase nunca ligava para conversarmos. O trabalho atrapalhava, e com todos os meus problemas, eu não achava tempo para dedicar-me a minha família.

Que pensamento egoísta, Céus...

– Oi mamãe, como vai a senhora? - Perguntei.

– Estou bem, querida e você?

– Vou levando. - Falei devagar.

– Hum... Por que eu sinto que você quer me contar algo mais? Afinal, não é todo o dia que telefona para a sua velha mãe...

"Por que essa adivinha precisa saber de tudo"? - Pensei rindo internamente.

– Ah Dona Layla... Tem uma coisa que eu preciso te dizer. - Confessei enquanto sentava no sofá, tentando me acalmar.

– Então diga.– Falou com certo tom de preocupação.

– Eu vou viajar por um tempo. Sair do país e visitar partes do mundo. Não sei quando eu volto.

O silêncio do outro lado da linha começou a me deixar angustiada. Eu sabia que não seria fácil para ela aceitar, Layla era uma mãe muito protetora.

– Mas e o seu trabalho? E Sting, o que pensa disso? Ele vai com você?– Ela disse de repente.

– Parte do meu trabalho consiste em escrever, mamãe. Vou usar esse tempo longe para criar um novo livro. E depois, Sting não precisa opinar sobre isso. Nós... Nos divorciamos. - Falei triste e sentindo meu interior apertar. Ainda era um assunto recente na minha vida.

– Por quê? O que aconteceu Lucy?– Mamãe comentou com a voz triste também.

– Não estava mais dando certo. Gosto muito de Sting mamãe, mas não consegui continuar com esse casamento. Eu... Não sei mais o que fazer com a minha vida, e esse é um dos principais motivos que me fizeram querer começar essas viagens.

– Certo... Bem, eu sou sua mãe. Apenas quero o melhor para você. Se acha que isso vai lhe fazer bem, então...

– Obrigada mãe. - Falei e sorri para o nada. Fiquei feliz que ela entendera meu lado.

– Vou sempre apoiar você, querida. Bom, quando e onde você vai?

– Amanhã, para o México. Vou ficar lá por uns dois meses e depois, eu não sei. Farei o que a minha intuição mandar. - Expliquei.

– México, é? Interessante. Quem sabe, se eu conseguir convencer seu pai, nós dois também não nos aventuramos para fora de Dallas, não é?– Ela disse rindo, mas eu me mantive séria.

– E... Como Jude está? - Perguntei por educação.

– Bem. Está melhorando.– Ela disse, polidamente. Sabia o quanto a relação entre Jude e eu era complicada.

Jude era o meu pai, mas eu não conseguia vê-lo em minha mente como uma figura paterna. Infelizmente, não era uma coisa fácil.

– Ok, eu só queria avisar a senhora. Vou viajar cedo, mas prometo manter contato, está bem? - Falei trocando de assunto abruptamente.

– É o que eu espero. Faça uma boa viagem filha, vou estar aqui te esperando.– Layla disse, a voz carregada de carinho. Deixei-me aproveitar essa sensação boa de atenção de mãe.

– Obrigada, até logo mamãe...

– Até, minha filha.– Despediu-se e eu encerrei a ligação. Segurei o aparelho contra o peito e respirei fundo.

Agora que tudo estava resolvido, bastava apenas esperar pelo o amanhã.

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– Pegou seu passaporte? Todas as suas malas estão aqui? Celular? Documentos? - Levy listava tudo freneticamente, enquanto entrávamos no aeroporto. Eu apenas ria de todo a sua preocupação exagerada.

– Sim Levy, está tudo em ordem. - Falei soltando o ar nervosamente. Eu já havia voado antes, a ansiedade não estava em pegar o avião e sim no que eu faria assim que chegasse ao meu destino.

O Aeroporto Internacional de Newark Liberty, localizado a três quilômetros de New Jersey, estava movimentado como de costume. Eu e Levy sentamos nas cadeiras próximas ao meu portão de embarque, enquanto eu checava todas as minhas coisas mais importantes, como dinheiro e documentação.

Como eu não sabia quando seria a minha volta, acabei pegando a boa quantia de bens que eu estava guardando, e achei que seria o suficiente.

Eu estava apostando todas as minhas fichas nessa jornada. Espero de todo o coração que valha a pena.

Depois que eu despachei minhas malas maiores, ficando apenas com uma bolsa em mãos, minha melhor amiga resolveu pagar-me um último café antes de minha viagem.

Conversei com ela sobre o México nesse meio tempo. Era um país que eu sempre quis conhecer, a oportunidade se fez presente. Será maravilhoso.

– Atenção passageiros do voo 465 com destino à Guadalajara - México, por favor, dirijam-se ao portão 5 para embarque.

A voz feminina de tom calmo soou pelo aeroporto chamando nossa atenção.

Sorri para Levy nervosa, e esta apenas apertou firmemente minha mão, passando forças.

Caminhamos até o meu portão, onde já se encontrava uma fila mediana. Abracei Levy fortemente.

– Cuide-se minha amiga, faça uma boa viagem e não apronte enquanto estiver fora! - Levy brincou e nós rimos.

– Pode deixar. Digo o mesmo da senhorita, juízo!

– Eu sou mais responsável que você! - Exclamou mostrando a língua e retribuí o gesto infantil.

– Prometo uma coisa a você. Quando eu estiver saindo de um país para o outro, lhe escreverei uma carta contando tudo o que fiz, certo? - Sugeri.

– Vou cobrar isso hein! Estou ansiosa para saber das suas aventuras...

– Última chamada para o voo 465 com destino a Guadalajara.

Abracei Levy uma última vez antes de correr para fila de embarque. Antes de entrar, acenei para ela e caminhei par dentro do avião. Procurei minha poltrona, que era na janela, ao lado de uma simpática senhora.

O tempo passou rápido e quando eu finalmente notei, já estávamos sobrevoando entre as nuvens do céu limpo da manhã.

Soltei o ar algumas vezes e sorri para o meu reflexo na janela. Encostei minha cabeça na poltrona e pensei:

"O que me será que México está reservando para mim"?