Adeus às Armas escrita por A Taverna do Historiador


Capítulo 5
Tragédia em Família - Parte 1




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“A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos.” (Pablo Picasso (1881 – 1973) – Pintor, escultor e desenhista Espanhol).

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– Feliz Aniversario Godfrey! – Foi a primeira frase que ouvi ao acordar em certa manhã de minha 5ª primavera. E este foi um dos dias mais felizes de minha infância, e eu me lembro bem!

– Cinco aninhos! Meu filhinho esta virando um homenzinho! – Minha mãe, me abraçando carinhosamente, não conseguia conter a emoção...

– Meu neto! Feliz aniversário! Olha o que o vovô fez pra você!

Fiquei extasiado. Meu avô me deu um presente que significaria muito para mim, definindo o que me tornei durante toda minha vida: Basilan tinha entalhado, com alguns troncos, uma pequena espada e um pequeno escudo para que eu brincasse durante minha infancia.

– Vovô! Vovô! Que presente legal! – Fiz gestos contra minha própria sombra, dando pequenos golpes de espada no ar – Logo serei fortão igual você vovô!

– Conte com mais do que isso, meu neto! Já estou ficando velho e você logo ficará mais forte do que eu! – E me pegou no colo.

– Você viu o que ele me deu mamãe?

– Vi sim filho, olha o que eu fiz pra você! - me deu uma pequena capa vermelha, costurado a esmo.

– Obaaaaa! Brigadão mamãe! – E abracei minha mãe com força.

– Você merece filhinho!

– Agora eu quero treinar e matar o Cavaleiro das Trevas que machucou meu pai!

Basilan e Isabelle ficaram brancos de espanto. O silencio constrangedor foi cortado quando, de repente, Lysandra entrou na sala com um enorme bolo de pêssego:

– Feliz Aniversário, meu afilhadinho querido!

Abraçado aos três, foi uma das poucas vezes que eu tive oportunidade de falar que amava eles. Eu não tinha amiguinhos da minha idade no dia do meu aniversario, pois minha mãe era vista pela cidade com reservas. Por ser mãe solteira, o preconceito de outras famílias endurecia o coração das pessoas que moravam perto da minha pequena casa.

Minha vida era simples, e mesmo com dificuldades eu me sentia bem acolhido e amado. Perto destes três seres humanos meus primeiros anos de vida foram, com toda sinceridade, muito felizes. Enquanto a comemoração se findava no término da tarde, eu percebia duas figuras me fitando ao longe, de frente a minha casa.

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– Vê aquele garotinho? Faz cinco anos hoje...

– Sim meu irmão...

– Garanta a integridade dele, estamos no meio de um ninho de Argíopes e temo que a vida de meu filho e de sua família esteja em perigo...

– Então aquele rapazinho é meu sobrinho?

– Sim. Gostaria de ter voltado no tempo para reparar alguns erros, mas infelizmente escolhi o caminho da dor. Agora você tem noção do meu sofrimento e eu só posso contar contigo. Faça o que puder por nós.

– Os Ibelin nunca se rendem, meu amado irmão...

O dialogo acima foi feito pela pessoa que me observava do lado de fora da minha casa, sendo este o meu pai. E ao seu lado, uma obscura figura conversava com ele, desaparecendo logo em seguida. Meu avô e minha mãe não perceberam a presença de meu pai, e continuaram entretidos com o papo de Lysandra. Parte do que digo nesta passagem de minhas memórias foram resgatados por um relato um pouco posterior a estes acontecimentos.

Meu pai, Henry de Ibelin, havia mudado completamente. De um viril guerreiro, tornou-se uma pessoa deprimida e sem controle de suas ações. Após a perda de parte da capacidade motora, sofria com problemas de enxaqueca. Sua saúde piorou quando a força de seu braço esquerdo declinou. Em consulta a vários sacerdotes, meu pai não obteve êxito em uma possível cura, e sentiu que a enfermidade se alastrava cada vez mais rápido.

Seus soldados e servos sofriam com isto. Henry tentou controlar seus impulsos de raiva, mas suas fortes enxaquecas levavam-no bater sua própria cabeça contra a parede quando lhe sobrevinha uma crise de dores. A lealdade de seus soldados começou a declinar, e quase desabou por completo quando, durante uma Guerra do Emperium, seu castelo quase caiu em mãos inimigas. A custo de muito esforço e negociação segurou sua frágil posição no castelo de Brynhildr, herdado de meus ancestrais. Meu pai estava ficando mais fraco e isolado, contando com pouquíssimos amigos.

A depressão entortou ligeiramente sua boca, e seus olhos apresentavam características de uma pessoa febril, e quando sonhou com uma Valquíria cavalgando ao seu lado, logo compreendeu que a morte o cercava.

O que antigamente Frenhild via como exemplo de homem viril, agora ela enxergava meu pai como um reles estranho incapacitado de ocupar um trono. Cultivando sua ganância por mais poder, estava prestes a efetuar um plano de “limpeza” definitivo, plano este que já estava sendo executado em longo prazo, a fim de eliminar qualquer oposição as suas ambições.


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Dois dias depois, estava brincando com minha espada de madeira e meu pequeno escudo. Estávamos fora de Prontera. Meu avô se distraiu e cochilou ao som dos pássaros, enquanto pescava ao lado de um pequeno córrego, perto da entrada dos Esgotos de Prontera. Distanciei-me um pouco, já que estava familiarizado com o lugar que meu avô me levava pra passear. Foi quando eu vi um mercador que havia matado um Fabre à procura de felpas. Com minha espada em riste, fui fazer o mesmo.

Basilan acordou em um sobressalto. Olhou para os lados e havia se esquecido de mim. Sua preocupação havia parcialmente se extinguido quando apareci chorando a ele.

– Bhwaaaaaaaaaah!

– O que foi meu neto! O que aconteceu?

– Fui brincar de templário e um Fabre me mordeu! TA DOENDO!

– Eu te falei pra não ir tão long...

Olhou para o lado e pensou que estava sonhando. A poucos metros, viu dois porings e três fabres feitos em pedaços, alem de uma erva vermelha murcha e usada.

– Godfrey... Foi você que fez aquilo?

– Sim! Bhwuaaa!

Basilan olhou espantando e não acreditava no que eu fiz. Faltavam ainda três anos para que eu adentrasse na escola de aprendizes e estava juntando as economias que podia para me equipar no futuro dia de inscrição. Mas após ver o que eu fui capaz de fazer com apenas cinco anos, viu que eu já me encontrava mais avançado que muitos aprendizes maiores do que eu.

– E o que é isso vermelho em sua perna?

– Erva vermelha, vovô! Passei em cima da mordida. Titia Lysandra me ensinou a usar essas coisas, porque dizia que eu aprontava arte e podia me machucar. Muito bobona ela! Aiii, ta doendo. – Meu avô se espantou mais uma vez, não esperava por uma situação como aquela...

– Calma, já sarou! Agora não saia de perto de mim, fique brincando do meu lado enquanto eu pesco. – E pegou mais um cochilo.

– Ta bom vovô... - Engoli o choro.

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Um senhor de trajes elegantes apareceu em minha frente, e eu, mais uma vez, estava distante de meu avô:

– Esta perdido garotinho?

Meu pai! Pela primeira vez ele conversava comigo e eu senti, a um primeiro momento, que ele representava algo para mim, embora eu não o conhecesse...

– Não, não moço! Estou caçando o poring que fugiu com minha maçã e...

Henry viu o que sempre sonhou em sua vida e não conseguiu controlar a lagrima que descia em seus olhos. Arrependeu-se amargamente de não assumir seu amor pela minha mãe e de não poder me recuperar como filho.

– Esta triste moço? O poring pegou sua maçã também?

Henry riu de minha ingenuidade e passou a mão em minha cabeça:

– Não garotinho. Estou feliz agora...

Viu minha espada e meu escudo de madeira. Queria poder dizer algo, mas sua voz estava embargada. Sabia que não haveria uma nova oportunidade para me ver e sabia também que eu poderia correr algum risco caso ele se prolongasse nesta breve visita.

– Como é seu nome?

– Godfrey! E o seu?

– Henry! Vi que luta bem com uma espada.

– Sim! Quero salvar meu papai do Cavaleiro das Trevas um dia!

Henry novamente se entristeceu. Viu que Isabelle tinha renegado sua existência ao seu próprio filho, único herdeiro dos Ibelin. Naquela altura percebeu que orgulho e nome não importavam mais, e que ele havia feito tal ato por imaturidade.

– O que aconteceu com seu papai? – Disse Henry.

– Minha mãe não sabe explicar, ela disse que meu papai sumiu quando foi pra Glast Heim. Ultimamente ela anda triste por não ter meu papai em casa, e eu o quero de volta.

Henry viu que não iria segurar sua emoção, mas para o meu bem resolveu não se exaltar. Teve uma sensação estranha e sabia que havia alguém espionando ele.

– Quero te dar um presente pra ajudar a encontrar seu papai.

– Não sei, meu vovô disse para eu não aceitar coisas de estranhos...

– Aceite, sou seu amigo, e sei que vai precisar algum dia...

Deu-me um pequeno colar com a insígnia do clã Ibelin, representado por duas espadas entrelaçados nas asas de uma águia.

De repente, ouço a voz enfurecida de meu avô:

– Godfrey, já te falei para não falar com estranhos! – Apareceu apontando sua lâmina para Henry.

– Desculpe-me senhor! Já estava de saída!

Com seu braço tremulo direcionou sua Lâmina para o meu pai, que sussurrou:

– Este foi o melhor dia de minha vida, por favor, deixe-me reparar o meu erro...

– Tudo tem seu tempo, seu inglório... – Meu avô embainhou a espada de volta a cintura, e sua frase já foi o suficiente para acender uma centelha de esperança e felicidade no coração de meu pai.

– Farei o que for para reparar todo dano causado por mim. – Disse Henry ao se distanciar...

– Agora saia, antes que você estrague meu dia... – Disse meu avô por fim...

Eu não estava entendendo nada naquele momento, mas se aquele colar significaria a chance de ver o meu pai algum dia, resolvi guardá-lo junto comigo.


Continua...


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