Adeus às Armas escrita por A Taverna do Historiador


Capítulo 4
A Infância de Godfrey




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"A primeira coisa que um ser humano deveria aprender é a diferença entre o bem e o mal, e jamais confundir o primeiro com a inércia e passividade." (Maria Montessori (1870-1952) – Médica e educadora Holandesa).


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– Vem filhinho! Você esta quase lá! Vem dar um abraço na mamãe! – Eis o que ouvia de minha querida mãe nos dias em que eu estava aprendendo a andar. Incrível eu ainda me lembrar disso, mas tenho certeza que, o que conservou a memória de minha infância, foi o amor de minha mãe e meu avô...

Lysandra não pode deixar de comentar ao ver tal cena:

– Nossa, o Godfrey já esta andando?! Esse menininho é um prodígio!

– Lógico, é meu neto, e tem o nosso sangue! – Disse Basilan, orgulhoso de minha pequena conquista...

– Não fale assim que você ainda vai mimá-lo... – Minha mãe falou brincando ao meu avô.

– Realmente esta certa filha, logo ele crescerá e terá que aprender a manifestar suas vontades por conta própria.
Isabelle sabia que o tom duro de meu avô era uma raiva contida que ele sentia por meu pai, mas ainda assim ela contemporizava a situação desconfortante. Quando via que o assunto requeria tocar no nome de Henry, ela desconversava. E achava melhor assim, pois minha mãe sempre se sentia feliz ao ver minha vida irradiar de alegria o seu coração. Mas se a questão era mimo, isso eu devo também a Lysandra, que foi indicada pela minha mãe, em meu batismo, com minha madrinha:

– Você vai deixar eu ensinar meu afilhado a falar né? Quero ensinar ele a conversar com o vovô, com a mamãe...

– Tagarela do jeito que é com certeza ele aprenderá rapidinho.

Lysanda não concordou com a brincadeira, e, pra falar a verdade, acho que nem chegou a ouvir, já que ela conversava comigo balançando um boneco de Chonchon.

E o tempo passava. Minha mãe me levava pelas ruas de Prontera, e, sempre que possível, me mostrava os arredores da cidade. Em um desses passeios, experimentei sorvete pela primeira vez, e via uma enorme variedade de pessoas vestidas em trajes diferentes. Tinha três anos quando surpreendi meu avô e minha mãe:

– Vovô! Vovô! Olia qui bunito vovô!

Meu avô retrucou:

– Estes vícios de linguagem! Vou chamar um sábio pra ensinar a Lysandra a falar direit...

Fez uma pausa em sua fala. Quando prestou atenção no que eu viu, ficou boquiaberto. Apontei entusiasmado para as brilhantes armaduras de alguns templários que haviam acabado de se graduar na profissão. Os meus olhos brilhavam. Apesar de ser pequeno, e não entender muito bem os mecanismos de meus sentimentos, os meus instintos gritavam para que eu abraçasse aquele futuro. Meu avô, curioso, me levou pra perto de um deles.

– Olia vovô! Eu quer um desse! – E apontei para a espada do Templário...

– Hey garotinho! Faltam alguns anos pra você manejar uma espada! – O Templário, tão entusiasmado quanto eu, retribuiu meus pequenos anseios acariciando minha cabeça. Minha mãe e meu avô mal podiam acreditar. Ambos ficaram emocionados e, ao mesmo tempo, preocupados. Preocupados por não gostar da maneira altruísta ao qual um Templário se comportava em uma luta.

–Tem... plário?! É perigoso... - Minha mãe indagou assustada.

– Eu entendo a preocupação de vocês. - Disse o Templário, e continuou: - Mas a escolha deste garotinho é uma das mais bonitas que alguém pode ter. Todas as profissões têm os seus riscos, e nós, Templários, acreditamos em nossa fé para combater pelos nossos irmãos. Sempre somos os primeiros e entrar em batalha e os últimos a sair dela, enquanto ninguém esta a salvo. - Assim disse um dos Templários, que se identificou com o nome de Tancredo. Este mesmo ja parecia ser um experiente instrutor, visto pelas suas cicatrizes e sabedoria.

– Entendo, eu já fui espadachim e iria me graduar Templário, mas minha esposa morreu quando minha filha ainda era bebê... – Basilan tentou contornar seu constrangimento vide a resposta sábia do jovem, porem experiente Templário. Em parte, meu avô foi sincero em suas palavras, e ainda era, ate aquele momento, um aposentado, mas exímio espadachim.

– Garotinho, vou te dar um presente! – O Tancredo tirou de sua mochila de campanha um Rosário. – Pense em sua família e em seus amigos e aperte-o com força e com fé, quando tiver medo... – E pôs em minhas mãos.

– Terei que ir para Glast Heim agora, se me dêem licença. Vocês têm sorte, este garotinho é muito perspicaz, será um grande homem. - Em breve reverencia, juntou-se aos seus e disse - Adeus!

Com emoção, minha mãe e meu avô despediram-se do jovem Templário e, enfim, perderam parte de seus temores a respeito de meu futuro.


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Meses depois, minha mãe me levava para Lysandra, com o intuito de continuar meu aprendizado quanto a minha fala. Já com quatro anos, eu percebia que vários garotinhos de minha idade tinham a companhia de um pai, e eu não.

– Mamãe... Quem é meu papai?
Isabelle se assustou. Estivera pensando desde o meu nascimento sobre o que falar se algum dia eu perguntasse, e este dia chegou:

– Bom, o seu papai? Ele... ele sumiu...

– Como mamae?

Estava despreparada. Ela pensava que seria justo se falasse que Henry tinha morrido, pois se dependesse de meu pai, eu nem estaria existindo. Mesmo assim, desconversou:

– Ele... foi brigar contra um... Cavaleiro das Trevas e... nunca mais vimos ele. Seu vovô acha que ele morreu.

Eu ainda não entendia o significado da morte, e tampouco eu sabia distinguir a diferença de uma veracidade comparado à uma mentira, e não continuei o assunto por simples ingenuidade infantil.

Mas o destino apronta. Virando a esquina, meu pai estava à espreita, aguardando ao lado da Loja de Utilidades. Há tempos que ele via a espionar os passos de minha mãe e, neste dia, ele falaria com ela de qualquer jeito.

– Isabelle!

Minha mãe ficou branca e sem reação. Respirou fundo e falou:

– Te conheço, moço?

– Não faça assim Isabelle, ainda amo você e... Este garotinho...

Pela primeira vez olhei para o meu pai, mesmo sem saber quem era ele...

– Não encosta a mão nele, senão grito ate a Cavalaria de Prontera te liquidar! – Minha mãe estava desesperada.

– Isabelle, por favor, me escute, também estou sofrendo e...

– BASTA, SAIA JÁ DE PERTO DE MIM! – Minha mãe começou a chorar descontroladamente. Por instinto, me agarrei à perna de minha mãe.

Henry me encarava e seus olhos se enchiam de lágrima. Eu simplesmente não entendia o que estava acontecendo. Escutando os gritos de minha mãe, dois caçadores se aproximaram de meu pai:

– Algum problema que a gente possa resolver, Sir? O que esta plebéia te fez?

– Não aconteceu nada - Disse meu pai enfurecido. Ele já estava cansado dos “cães de guarda” que sua esposa colocou em seu encalço. Tratou de desembaratar aqueles encrenqueiros. – Não há nada que eu faça que eu venha a precisar de vocês!

Viu que se alterou, e resolveu partir, sem antes falar com uma figura misteriosa,que obervava a cena ao longe, em roupas escuras e capuz:

– Não tire os olhos de Isabelle e seu filho. Garanta a segurança deles mesmo que tenha que dar sua vida. Você não vai querer ver seu sobrinho morto!


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Durante estes quatro últimos anos, Henry tinha se tornado um homem amargurado. Ostentava uma brilhante posição de Cavaleiro, e era grandemente conhecido pelo reino, desde Comodo, até Aldebaran, mas logo ele viu que sua fama em Guerras do Emperium não lhe traria a devida felicidade.

O seu próprio casamento foi arranjado. Casar-se com Frenhild daria a estabilidade necessária em seu clã, conforme imaginara seus pais. Alem disso, eram notórias as crueldades que a Arruaceira fazia-se valer para demonstrar sua força.
Henry, um dia, falou com Frenhild:

– Logo chegara à hora de povoar nosso castelo de filhos, isso seria uma grande alegria para os meus pais, ao ver sua genealogia se perpetuar ao som de crianças. Não há nada melhor que a alegria de um filho para...

– Não me venha com essa! Eu me nego a ter filhos! Isto estragaria meu lindo corpo e não tenho paciência com fedelhos!

A partir deste dia, a amargura de meu pai piorou, e ele passou a ser cruel com seus subordinados. A Arruaceira adorava presenciar seus acessos de fúria, pois isso era apontado a ela erroneamente como sinal de virilidade.

Após a morte do Rei e da Rainha, meu pai ficou depressivo, e passou a ter problemas motores, sendo obrigado a abandonar algumas batalhas por não conseguir controlar a tremedeira em suas mãos. E a enfermidade, que veio de forma sorrateira, começou a se agravar pouco a pouco...

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– Então ele viu o Godfrey? – Disse meu avô preocupado, e, ao mesmo tempo, irritado.

– Sim papai, ele tentou falar comigo, e eu não quis, eu não sei o que eu faço...

Meu avô pôs a cabeça no lugar e resolveu dar um basta em parte da situação:

– Sei que realmente Henry nos causou muitos problemas, mas um dos problemas dele nos trouxe uma felicidade: a vida de Godfrey. Mesmo que ele tenha tentado negar a existência de seu filho, acho que não seria certo ocultar do Godfrey, sobre quem realmente é o pai dele...

– Não papai, isso não...

– Calma minha filha, falaremos isso quando for o tempo certo.
Lysandra administrava um Chá com Ervas e Mel a minha mãe e ela se acalmou. Sentia-se impotente, mas sabia que era o mais sensato a fazer o que meu avô lhe falou. Olhava para mim, dormindo em minha cama, e disse baixinho:

– Sim, ele realmente deve saber que tem um pai, não seria justo ocultar isto dele. Mas ainda não estou preparada pra isso.

– Entendo minha filha, esperaremos um pouco mais para que Godfrey entenda isso no futuro. Agora descanse que eu cuidarei da casa...


Continua...


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