Progenitor escrita por BlueDaze


Capítulo 4
Capítulo III - Intersecção


Notas iniciais do capítulo

Em primeiro lugar, assim como eu disse na minha outra fic, eu nunca mais marco uma data para postar! XD
Nunca consigo fazer dar certo. Ai ai.

Desculpem a demora, amores. O capítulo já estava praticamente pronto desde MUITO tempo atrás, mas existiam traços da história que eu precisava rever. Além de ter tido um surto de imaginação onde eu escrevia o capítulo 04, o 05, começava outras fanfics, fazia tudo o que tinha que fazer, menos terminar de revisar isso! XD
Falando de outra maneira, existiu um momento em que eu esqueci que não tinha postado essa parte! XD
E lá estava eu, toda malucona escrevendo e pirando no capítulo 04, e quando eu vou checar meu Documentos... Lá estava esse, triste, no cantinho, só esperando para ser mandado! XD
Além de que eu costumo postar os capítulos das minhas duas fics atuais juntos ("Progenitor" e "O Inferno de Jill"), para não priorizar nem um nem outro, mas acaba que essa tática atrasa tudo e meio que as coisas não ficam dando muito certo. Éééé, eu vou repensar minha estratégia de guerra.

Mas enfim, chega de falação!
Espero que curtam o capítulo, amores.
Nos vemos nas notas finais ♥

Música que me inspirou: https://www.youtube.com/watch?v=o46LHR6wEQ4



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Leon

19h59min, jardim do castelo, Áustria.

Certa vez eu li um poema estranho, em um livro muito antigo, que não estou lembrando o nome agora.

Eu nunca fui realmente um amante da leitura, mas as coisas interessantes sempre ficaram guardadas em minha cabeça. O verso que mais havia me chamado a atenção dizia algo sobre um homem deitando em um leito de flores sob uma sombra, enquanto ele se sentia adormecer lentamente, sem preocupações, até enfim morrer.

Acho que eu nunca realmente entendi o sentimento daquelas frases, daquela melancolia, até agora. Eu realmente ficava tentado a entender como o escritor se sentia, procurando por ele mesmo adormecer para sempre. Porém, olhando para esse estranho e gigantesco jardim, eu me lembrei do leito de flores que ele tanto admirava, e acho que finalmente compreendi um pouco do que ele queria falar.

Era um lugar estranho, aquele.

Ele realmente te quer fazer dormir para sempre por ali.

***

Leon piscou um pouco enquanto olhava para aquele lugar. Ele nunca havia visto um jardim daquele jeito. Era tão, tão grande, que ele não sabia onde acabava, nem onde começava. Olhando para a lua, ele se perguntou se na verdade não estava alucinando novamente. Mas não estava se sentindo como se estivesse em outro mundo. Ainda era o seu mundo. Bizarro como sempre foi.

Ele começou a andar, os pés chacinando a areia preta, enquanto ele tentava enxergar por entre aquelas flores. Eram altas, quase de seu tamanho, mas de um tipo que ele nunca vira. Tinha pétalas que ele não sabia dizer se eram roxas ou azuladas, com uma estranha aparência aveludada, como camurça, além de um exótico odor adocicado, mas não enjoativo, que permeava todo o lugar. O vento da noite balançava toda a estrutura das plantas, enquanto elas se inclinavam levemente para o lado.

Ele já estava se perguntando que diabos estava fazendo ali, se havia errado o caminho, se aquele atalho pelo cemitério estava realmente certo – Ele não conseguia imaginar o porquê de alguém querer conectar um cemitério a um lugar tão... Intrigante – Quando ele enxergou, bem ao longe, mas muito mesmo, os segundos muros dos schloss, e não muito mais distante, o próprio. Mesmo de longe, ele achava aquela construção assustadora. Ele tinha certeza de que aquilo não chegava nem perto de ser a maior construção que existia naquela região, mas ainda assim... Ela possuía um algo de intimidador que chegava a ser difícil de descrever.

Ele então se lembrou de que precisava se apressar, e sair dali.

“O que está fazendo aqui?” Uma voz rouca e alta falou em suas costas.

Ele levou um susto, os ombros retesados pela repentina voz.

Por Deus, que não fosse sério, ele pensou, antes de se virar rapidamente para a voz.

Um homem velho e de rosto enrugado o olhava fixamente. Mas não foi a aparente idade do homem que o incomodou.

Foram os estranhos olhos dele. Olhos leitosos e brancos, sem vida e sem brilho, a catarata lhe cobrindo completamente a visão. Aquilo era horrível. A boca era torta, a pele escura e um pouco queimada, as costas eram curvadas, e de seu pescoço uma grande e grossa corrente escorregava até sumir pelo meio de suas roupas. Ele carregava uma espécie de lampião, em que uma chama azul queimava vividamente. Ele sentia um cheiro estranho vindo daquele fogo, contido na estrutura de vidro, ao mesmo tempo que sentia que aquele homem não o carregava para iluminar seu caminho. Leon sentia que ele nem precisava enxergar um caminho.

Ele parecia ter saído de um filme de horror de baixo orçamento.

Com o revólver apontado para o homem, Leon tentou pensar no que deveria fazer.

“Quem é você, o que está fazendo aqui?!” Repetiu o homem, com mais voracidade.

Tudo bem, ele havia sido pego no flagra. Leon estava sem reação, não sabia o que fazer, apenas apontava a arma para aquele horrível rosto derretido.

O homem, que ainda tinha em mãos o lampião cheio de um estranho óleo, começou a mexê-lo ruidosamente.

Ele começou a tremer, e Leon deu um passo para trás, cuidadoso.

“Você não pode entrar aqui. Você tem que sair. Não tem permissão para entrar aqui e não pode ficar aqui e vou te matar se não sair e você é um intruso que precisa morrer e precisa sair e precisa fugir e precisa sair e saia saia saia saia saia saia saia

Saia.

Saia.

Saia saia saia SAIA DAQUI!”

E ele jogou o lampião na direção de Leon. Imediatamente, ao tocar no chão, ele se encheu de chamas azuis, e o homem atravessou o fogo e pulou em cima dele. Leon rapidamente se desvencilhou, empurrando o velho, que caiu de boca no chão.

“Espera, se acalma!” Ele tentou falar, tentou puxá-lo pela gola de sua roupa, mas o homem se debateu para longe, e Leon sentiu algo se romper em sua mão, enquanto o velho se virava para outro lugar.

Ele sentiu o corpo arder com o fogo que queimava ao redor. Imediatamente, quando a cobertura de vidro do lampião se fragmentou, um cheiro horrível veio de encontro ao seu nariz, um odor inidentificável, que o fez tossir e tapar a boca com as mãos. O calor aumentava sem parar, as chamas incinerando as gramíneas, quase alcançando o estranho jardim, a fumaça ardendo e queimando nos olhos de Leon. O fogo aumentava, bloqueando cada vez mais a entrada por que Leon havia chegado.

Ele tossiu outra vez, se afastando do lugar.

Já distante, ele observou o homem velho cambalear para longe, e ele tentou segui-lo, mas o fogo o impediu. E com os olhos coçando e lacrimejando, ele se afastou do lugar, atravessando as flores, se escondendo ou fugindo? Ele não sabia.

No entanto, mesmo com todo aquele repentino acontecimento, tudo o que ele conseguia fitar era a corrente rompida em suas mãos, e uma grande chave pendurada em sua ponta, balançando lentamente contra seu corpo.

***

Dias atuais.

17h18min, vila de Chuckie, Áustria.

Os aldeões estranharam quando aquela peculiar mulher desceu de uma enorme moto negra, equilibrada em curtos e grossos saltos de uma bota, e estacionou perto de um bar e ficou parada, encostada em uma mesa por um tempo indeterminado, como se não soubesse o que fazer.

Eles estavam acostumados com a visita de motoqueiros, mas aquela mulher tinha uma coisa de diferente em toda a sua aparência e jeito. Ela ficava olhando e olhando para a fortaleza que ficava a oeste daquelas delicadas casas de tijolos vermelhos, logo após abaixando a cabeça para um pequeno aparelho, como se lendo algo, finalmente retirando a jaqueta de couro que estava cobrindo seus ombros, a abandonando em cima da mesa, e se sentando em uma cadeira de madeira dobrável.

O garçom, que ficou por um tempo ocupado com outros fregueses, não havia percebido a mulher sentada à pequena mesa do lado de fora. Quando a notou, ele se apressou em atende-la.

“Posso ajudar a moça?” Ele perguntou em um forte sotaque alemão.

A mulher parecia ter demorado a percebê-lo, até que ao ouvir a voz grave e estrondosa do homem em suas costas, seus ombros se arquearam como em um susto. Ela então olhou para ele, seus olhos estreitos e claros meio arregalados de surpresa. Mas então se acomodou, sorrindo amigavelmente logo em seguida.

“Oh, não.” Sua também grave, mas levemente rouca voz respondeu, falando em um alemão tão delicado que podia-se jurar que havia crescido por entre aquelas cidades austríacas. “Eu já estava de saída. Apenas parei para descansar um pouco, enquanto decidia por onde seguir.”

“Seguir?” Ele perguntou, curioso.

“Sim, estou querendo visitar a fortaleza próxima à floresta de Rheimfeldt. Dizem que é um lugar magnífico, sempre quis conhecê-la.” Ela respondeu, apontando com o rosto para a construção enorme que se erguia sobre várias elevações.

O castelo era interessante na opinião dela, apesar de não ser o mais elaborado ou mais estonteante ou ornamentado, pelo menos não do lado de fora. Na verdade, seu exterior era simplesmente deprimente. Mas existia algo naquela melancolia que não a repelia totalmente. Tinha compridos muros, muito altos também, que cercavam toda a estrutura cinza. De dentro, não se dava para ver muita coisa, apenas algumas torres que sobrepunham a muralha. Observando de outra forma, a construção em harmonia com o ambiente possuía um certo charme até, principalmente naquele horário, em que a tarde branca dava lugar aos tons alaranjados e violetas do crepúsculo, deixando todo o ambiente onírico. Parecia uma cena feita a mão e tinta. Magnífico.

Ela quase não percebeu quando o garçom sorriu em sua direção, quase que penalizado.

“Que pena, garota. Eu espero que sua viagem não tenha sido longa, porque com certeza ela foi para nada.”

Ela pareceu subitamente atenta.

“Ora, mas por que você diz isso?”

“O schloss não está aberto para visitas faz algum tempo. Tudo está trancado e isolado, ninguém pode entrar lá. O que é uma droga, se me permite falar, porque muitos dos ganhos dessa vila vinham do turismo na fortaleza. Depois que ela fechou, ficamos completamente sem saber o que fazer.”

Ela parecia confusa e frustrada, olhando para o garçom.

“Ah, mas... Isso é impossível, ainda lembro da última vez em que meu tio disse que havia visitado esse lugar. E eu tenho um amigo... Ele mesmo me mandou uma mensagem dizendo que chegou aqui há quatro dias. Na verdade, era para nos encontrarmos nesse lugar, mas perdi contato com ele nesses dias exatos. Você não se lembra de ninguém diferente vindo aqui? Um homem alto, cabelo loiro com franja, olhos azuis, bem americano? Não duvido que ele possa ter aparentado estar totalmente perdido. Ele não fala um milímetro de alemão.”

O homem pareceu pensar um pouco, para então negar com a cabeça, sem nada em mente.

“Alguns mochileiros e motociclistas passaram por aqui nos últimos dias, mas nenhum que se encaixe totalmente em sua descrição. Acho que seu amigo pode ter lhe dado o calote. Desculpe.”

Ela parecia tensa, olhando para o castelo de novo.

“Não, me recuso a acreditar. Desculpe, mas não existe nenhum modo de entrar lá, mesmo? Ele era um aficionado por aventura, teimoso ao extremo, não seria estranho ele ter dado um jeito de entrar escondido.” Ela parecia triste “Esta era uma de nossas últimas paradas em nossa lista de viagem para finalmente podermos voltar para casa. Ele teve um problema e precisou ir na frente para resolver, e nós iríamos nos encontrar ontem, mas acabei me atrasando porque minha moto teve o pneu furado no meio do nada, entende?” A mulher suspirou “De qualquer modo, porque o castelo foi fechado? Não creio que pudemos ser tão distraídos ao ponto de não percebermos isso.”

“É estranho mesmo que vocês não saibam disso” O homem parecia ter esquecido que ele estava em trabalho, entretido com a conversa com a moça. Ele parecia ter certeza que aquele amigo dela a tinha enganado para sair sozinho por aí. Homens são assim. E considerando as austríacas mulheres especialmente belas, o garçom tinha certeza que o homem estava se divertindo em algum lugar longe, apesar de já achá-lo um tolo por fazer isso, com aquela mulher tão bonita a procura dele. “Ele fechou por causa de um assassinato que ocorreu. Até hoje, ninguém nunca descobriu quem fez aquela loucura. O senhor, a mulher dele, os quatro filhos e mais umas três pessoas que acho que eram empregados, todos massacrados. Foi uma coisa horrível demais, e tudo em uma noite de fim de semana.” Ele respirou um pouco antes de continuar falando “O pior é que todos eles pareciam ter sido estraçalhados. Alguns lugares ficaram destruídos, como se um animal tivesse atravessado a chutes as portas. Eu falo porque estive lá. Eu fazia negócios com a família Karnstein, era dono de uma horta na época, e vivia vendendo para eles. Eu fui lá porque era dia de entrega. Você tinha que ter visto a bagunça que estava aquele lugar. Era gente gritando, chorando, tendo ataque, parecia coisa de filme de terror. A gente nunca conseguiu descobrir porque alguém faria aquilo. O senhor Karnstein era um homem honrado. A mulher e todos os quatro filhos também. Estudaram e ainda voltaram para cá, ajudavam muito a aldeia. Eles até trabalhavam para uma empresa que está até fechada agora, a Umbrella.”

A mulher estreitou os olhos, ato que passou despercebido pelo garçom, ainda de pé, que havia parado por outro instante para tomar fôlego.

“Ah, é? Aquela empresa que foi acusada de várias experiências com seres humanos e armas biológicas?”

“Essa mesma. Mas na época, ninguém nem desconfiava de nada. Era só orgulho para aquela família ter os filhos trabalhando numa corporação desse tamanho.”

“Eu imagino.”

“Sim. Tanto que algumas pessoas até começaram a dizer que tinha coisa da empresa no Schloss. Sabe, apenas uma parte pequena do castelo era aberta para visitação, e somente em dias certos, de modo que no resto ninguém sabia o que tinha. Então esses boatos estúpidos começam a correr depois que toda essa tragédia aconteceu.”

Ela parecia ouvir atentamente, mas depois olhou novamente tristonha para o castelo. E então voltou a mirar o garçom.

“É uma história e tanto, mas... Ainda estou preocupada com ele, meu amigo. Não duvido que ele possa ter dado um jeito de ter entrado no castelo. Ele não descansaria até fazer isso. Você, que conhece esse lugar a tanto tempo, realmente não sabe mesmo se existe uma maneira alternativa de entrar?” Ela olhou para ele, meio esperançosa. O garçom queria dizer que não e a desiludir, dizer que quem ela procurava já deveria estar longe. Mas ele não conseguiu. Seja por aquele olhar dela, que se estranhava entre o infantil e o sedutor, ou pela maneira com que ela mexia os ombros, o colo quase que totalmente exposto e com a blusa de alças finas parecendo extremamente frágil, prestes a se romper, ou a voz dela, que tinha um timbre tão diferente e tão sério e ao mesmo tempo tão agradável e convincente...

“Bom” Ele pareceu pensar “Antes, no cemitério da aldeia, havia sido construído um túnel que o conectava a uma área deserta do schloss. Eu nunca entendi o motivo. Isso foi feito há umas décadas atrás, mas foi fechado igualmente a muito tempo, logo que os filhos dos Karnstein nasceram. Aquele cemitério agora está inativado, ninguém mais o utiliza, de modo que só os mais velhos daqui ainda enfrentam uma caminhada para visitar os parentes que faleceram. Mas ainda que não tivessem fechado a entrada, seria impossível passar por lá agora.”

“Por que?”

“Eu estive lá há dois dias, para visitar o túmulo de um familiar. Você teria que saber todo um caminho no meio da floresta, mas, além disso, quando passei pelo que seria a entrada, tudo havia desabado.”

A mulher pareceu realmente empalidecer por um instante.

“Há dois dias, você diz?”

“Sim. O pior é que tinha uma marca de mão ensanguentada em uma das pedras que eu revirei. Eu não fiquei lá por muito tempo depois de ver aquilo. Não estava daquele jeito quando fui lá há um mês, entende, tudo desabado. Só poucos sabem que aquele lugar guardava uma porta, mas absolutamente ninguém sabia como entrar. E duvido que uma pessoa em seu juízo perfeito tentasse fazer isso. O castelo foi comprado por uma dona muito rica, mas o nome ou quem ela é? Ninguém aqui faz a mínima ideia. Na verdade, nem sabíamos que era uma mulher a proprietária, até um tempo atrás. Mas ela deixou a área totalmente inacessível, com segurança até o olho do... Bom, não tem como entrar por nenhum dos portões existentes naquele lugar.”

Ela pareceu sorrir por um instante, uma tentativa falha e trêmula.

“É... De qualquer modo, já que está tudo desse jeito, não tem... Não tem como ele ter ido por ali.”

“Seria uma pena se ele fosse o dono daquela marca da mão.” Ele quis brincar, mas ela não pareceu encontrar nenhuma graça na tentativa.

“De qualquer forma, acho que já tomei muito do seu tempo” Ela procurou em uma pequena bolsa uma soma qualquer de dinheiro, para dar como gorjeta por tudo o que o garçom havia falado, coisa que ele prontamente recusou, mas ela deixou em cima da mesa do mesmo jeito “Eu vou dar uma volta para ver se o encontro. Ou simplesmente para passear.”

O homem olhou desconfiado para ela.

“Agora? Mas já está prestes a escurecer. Você não vai tentar entrar nesse lugar, não vai, moça?”

Ela sorriu, e ele percebeu um algo de divertimento e malícia que minutos atrás ele não imaginaria nela, os lábios finos quase que em uma linha de sorriso com toques de escárnio.

“Oh não, isso seria estupidez de minha parte. Além disso, se está tudo trancado, e sem nenhuma esperança de nova entrada, como eu poderia atravessar aqueles muros?” Ela apontou com o queixo para a muralha ao longe “Só se eu desse uma Homem-Aranha e escalasse tudo aquilo, não é?” Ela falou, quase divertida.

Ele pareceu meio aturdido, apenas concordando com a cabeça o que ela falava.

“Relaxe, querido. Talvez eu volte aqui amanhã para te mostrar que ainda estou viva.”

E colocando o capacete e dando uma leve piscada para o garçom que havia ficado parado no bar, Ada Wong sentiu sua Grapple Gun bater levemente contra sua barriga, presa em sua jaqueta, enquanto acelerava a moto e se afastava rapidamente daquele vilarejo, o zunido do motor a acompanhando e deixando um estranho eco para trás.

***

Quatro dias atrás

Ele praguejou mais uma vez quando a chave que tinha em mãos não entrou naquela fechadura. Ele já havia perdido as contas de quantas tentativas já fizera e por quantas portas já passara, mas nada corria muito bem por ali. Tentando refazer o caminho que ele achava que aquele homem velho havia seguido antes de encontrá-lo, ele pensara que uma hora ou outra alguma porta se abriria, ele não podia ter andando tanto. Mas à medida que avançava, ele se sentia apenas mais perdido. Aquele lugar parecia a porra de um labirinto.

E como era de se esperar, estava totalmente abandonado, existindo insetos estranhos e teias de aranha em todos os cantos.

O que mais o surpreendeu, no entanto, foi o fato de coisas como algumas luminárias elétricas ainda estarem acesas, mas apenas na parte externa do lugar – Não parecia existir iluminação nas aberturas visíveis do enorme edifício. Ele se perguntava se aquilo tinha de algum modo a ver com o fato de uma parte do sistema de energia ainda se manter em funcionamento, mas ele duvidava muito que isso fornecesse luz para todo o castelo.

Uma garoa fina caia desde que ele havia saído daquela espécie de jardim. Ele andou como um louco para sair daquele lugar, principalmente pela estranha sensação que todo o ambiente lhe causava, e o pior, as estranhas coisas que sentia quando havia se medito no meio daquelas flores para sair.

Enquanto ele andava, notava roçar algo escorregadio por seus pés. Eram rápidos, corrediços, e de algum modo, ele sabia que não era sua imaginação. Com as flores lhe alcançando a cabeça, ele não conseguia olhar para baixo, para ver o que era. Ele nem sabia se queria descobrir. Já era um milagre conseguir andar por aquele lugar.

E aquilo... Eram como cobras escorregando por entre seus tornozelos. O bizarro é que ele não sentia nenhum ataque ou movimento hostil, apenas... Um movimento qualquer, meio confuso até. Mas esse fato não o deixou mais tranquilo ou animado. Isso fez com que ele andasse totalmente focado, concentrado em encontrar o mais rápido possível um meio de sair daquele lugar.

Ele quase não percebeu quando atravessou um portal arredondado rapidamente, penetrando os muros menores de maneira vaga e ao mesmo tempo destra, parando apenas para respirar e compreender que o jardim havia ficado para trás, olhando ao redor e percebendo que estava em um corredor de pedra, do lado de dentro da segunda muralha, ainda ao ar livre.

E então foi embora.

Leon fungou um pouco enquanto andava, o olfato estranhando o cheiro que sua jaqueta exalava. De algum modo, seu corpo havia ficado impregnado com o odor que aquela chama parecia alastrar, de algo que ela queimava, mas ele não pensou muito nisso, já que a chuva fina parecia estar meio que tirando aquilo.

Ele sentiu seu estômago roncar enquanto atravessava um portão fino e descia algumas escadas. Ele então decidiu parar para respirar, apertando a chave entre seus dedos enluvados.

Ele a observou, com um pouco mais de cuidado. Ela era maior do que a maioria das chaves, quase do tamanho da palma de sua mão. Era pesada e grossa, e parecia enferrujada, tendo um estranho símbolo no topo. Era algo como um brasão, gravado de maneira diminuta na parte superior do objeto.

Talvez aquilo fosse uma pista.

Ele começou a olhar para a fechadura das portas, procurando uma imagem semelhante à que estava gravada na chave.

E percorrendo aqueles corredores de pedra sob a luz amarela de luminárias antigas, não demorou até ele chegar em uma enorme porta dupla com o brasão gravado em baixo relevo na maçaneta.

Ele torceu para ser aquela.

Ele rodou a chave na fechadura, e suspirou de alívio ao sentir um suave estalar vibrar pelo metal.

E sentindo um arrepio correr por suas costas, não querendo ficar um minuto a mais do lado de fora do castelo, ele novamente entrou em outro mundo desconhecido.

Se ele realmente entendesse que paredes rachadas são mais sufocantes que flores...

CONTINUA


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Notas finais do capítulo

✗ "Schloss" é como são chamados os castelos da nobreza, em algumas províncias da Áustria. A maioria dos "schloss" foram construídos no período medieval, feitos para serem residências nobres, apesar de algumas serem originalmente fortalezas - Essas provavelmente datando do período feudal. O termo alemão costumeiro para um castelo é "Burg", e para uma fortaleza é "Festung", no entanto, muitos castelos costumam ser chamados de "schloss", especialmente aqueles que foram utilizadas como residências depois de terem perdido seu significado defensivo. No caso, a fortaleza da fanfiction é um desses castelos adaptados para a moradia, porém ainda apresentando características de um castelo fortificado, no caso, feudal. Mas essas características vão ser percebidas ao longo da fic - A medida que eu melhorar meu senso descritivo também! XD

✗ Grapple Gun, em tradução de alguém que não sabe inglês muito bem, significa "arma de agarrar", ou simplesmente "arma de garra". Foi vista pela primeira vez em RE4, e é basicamente a arma que Ada usa para voar de um lado para o outro e fazer todo mundo de besta - Sim, é de longe o meu objeto preferido em todo o jogo! -
Também pode ser chamada de Hookshot, que significa algo como "tiro de gancho".

✗ Uma curiosidade sobre a história que eu achei interessante citar: para dar nome a alguns personagens e lugares da fanfic eu me inspirei, ou tirei mesmo, várias termos do romance gótico de 1871, "Carmilla", de J. Sheridan Le Fanu - Que é um negócio que eu adoro pra caramba, ahueahueahue - Se alguém curte uma história de quase dois séculos atrás com uma pitada de GL (Girls Love), esse é o negócio certo.

✗ A boa notícia no meio de toda essa falação é que o próximo capítulo já está quase finalizado (Ebaaa!) e que a maioria das coisas estão sendo escritas todas certinhas, de modo que a ideia é não me demorar muito na revisão.

✗ Ah, e mais uma coisa! Tem umas imagens abandonadas do antigo beta de RE4 que me ajudam MUITO na hora de escrever, então de vez ou outra eu vou postando uma aqui, até para vocês conseguirem imaginar um pouco determinado cenário como eu costumo ver. A imagem que eu olhava TODA HORA pra fazer esse capítulo é essa aqui: http://www.gamefm.com.br/wp-content/uploads/2013/04/beta1.jpg
Não tem NADA demais, mas adoro tanto essa daí! X3

E é isso, amores! Sinto que estou esquecendo de falar algo, mas o que eu lembrar deixo para o próximo capítulo! XD
Peço desculpas de novo pela demora, mas é assim mesmo. E a coisa é que escrever essa história é algo totalmente único, eu amo demais fazer isso e depois enlouquecer com as coisas que eu mesma escrevo! XD

E não esqueçam de comentar, queridos, só separem um tempinho mesmo, acreditem, quando eu mais preciso, a maior inspiração para tudo é eu ler os comentários que vocês mandam. Eu leio e releio e não me canso NUNCA de fazer isso, porque é um dos meus combustíveis preferidos. De verdade.
— E gente, se tiver algo estranho ou desconexo na história, me avisem! A revisão principal, que é a antes de postar, eu não fiz direito - Muito sono aqui - então qualquer zoeira sem sentido, podem mandar que eu conserto! XD

Até o próximo capítulo, galera.
Fiquem ligados nas novidades, ahueahueahue.

Até ;3



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