Progenitor escrita por BlueDaze


Capítulo 3
Capítulo II - Invasão


Notas iniciais do capítulo

Tem tanta coisa que eu queria falar aqui, mas acho que, em primeiro lugar, eu queria agradecer por todos os favoritos e comentários, e se no SS quem me endoidou foi a @annelander, aqui eu só tenho a agradecer à @Bad Girl e a @Tatá, que me deixaram feliz como uma maluca de hospício! XD
Eu realmente amei tudo, de verdade.
Esses comentários fazem todas as dificuldades do dia a dia não importarem muito em relação a escrever essa história. Obrigada mesmo pelo apoio, galera.

Espero que curtam esse capítulo.

[Chegou tarde, mas é porque vida de universitário não perdoa.
Ai, a maravilha da independência.]

Nos vemos nas notas finais!

Música que me inspirou: youtu.be/KqF8_UcUQdQ



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Quatro dias anteriores à partida de Ada.

17h43min da tarde, floresta de Rheinfeldt, Áustria.

Leon estava andando há horas.

Mas não estava cansado, nem um pouco.

Com uma mochila de suprimentos na costa, e respirando metodicamente, oxigênio entrando pelo nariz e gás carbônico expelido pela boca, ele adentrava cada vez mais naquela floresta temperada, cercada de árvores altas e fria como um refrigerador, com uma névoa tão densa que ele praticamente não enxergava um palmo além do próprio nariz.

Além de que estava escuro. Muito escuro. Na floresta, tudo acontecia mais cedo. Amanhecia mais cedo e anoitecia mais cedo. Ainda não eram nem seis horas e tudo estava praticamente preto como piche, o sol um ponto vermelho brilhante e distante, seus raios visualizados fracamente através das árvores e da névoa. O zumbido de insetos era intenso, incômodo, segredos mantidos além das árvores, tudo podia simplesmente acontecer.

Com uma lanterna iluminando precariamente seu caminho, ele procurava andar da melhor forma que podia.

Mesmo com o auxílio de Barry, aquele foi o ponto mais próximo do castelo que ele conseguiu chegar. Barry lhe forneceu o máximo de apoio que pôde. Com seus contatos, ele conseguiu oferecer um transporte discreto e sigiloso a Leon, e poder de fogo suficiente para acabar com a porra de um batalhão. Apesar da vontade dele de acompanhar Leon, no entanto, o loiro insistiu para fazer aquilo sozinho, e não deixou abertura para oposições. Ele não queria envolver Barry, ou deixar sua família preocupada. Aquilo era algo que ele mesmo precisava resolver. Além de que, ele era extremamente útil oferecendo suporte à distância – pelo menos é o que Leon falava ao tentar, sem sucesso, convencê-lo.

Com o casaco cor de pele lhe oferecendo um pouco de calor naquele gelo transbordante que parecia ser o ar, ele apertou a mochila nas costas, sentindo a mão esquerda lhe incomodar profundamente. Fazia algumas horas que ela parou de formigar, e começou definitivamente a coçar e doer se ele demorasse a tomar os comprimidos. Ele estava odiando a dependência que estava tendo em relação àquelas drogas. Mas não tinha escolha. No entanto, lá estava ele, procurando dar um fim aquele pesadelo. Era tudo ou nada, mas ele realmente esperava que fosse tudo. Tudo o que procurava.

Em seus pensamentos mais sombrios, ele temia que toda aquela história não passasse de enganação. Uma esperança perdida. Ele não era de rezar, mas se existia alguma coisa lá em cima, ele esperava realmente que não fosse um filha da puta tirando onda com a sua cara. De verdade.

Ele ouviu o ranger de seus passos esmagando galhos secos, um crac crac que tinha um efeito estranho sob seu psicológico. Ele não teve tempo de aprender muitos caminhos em direção ao castelo, mas sabia que se seguisse em linha reta em direção ao leste, chegaria onde queria. O negócio era conseguir andar em linha reta. Tentar seguir uma única direção em uma floresta era como tentar escalar uma montanha com o pé. Ou algo parecido com isso. Mas se ele saia do caminho, sempre dava um jeito de voltar a sua posição original. Ele tinha que suportar bem aquela caminhada nada generosa, longa e fastidiosa, sem contar os declives e depressões que existiam no lugar.

Era horrível estar pegando aquele caminho complicado, mas era o mais viável para alguém que não queria ser pego, nem rastreado, ou algo assim. Ele tinha que ser invisível.

Além de que, o castelo era totalmente fechado ao público. Uma história macabra o cercava, de um assassinato em massa que ocorreu vitimando empregados e patrões, alguns anos atrás. Desde então, ele virou propriedade privada de algum magnata misterioso de quem ele não lembrava o nome, mas sem propósito nenhum para seu uso. Nunca foi nem visitado pelo dono.

E Leon realmente não entendia a cabeça do pessoal da Umbrella. Tantos lugares mais próximos para se fazer um laboratório ilegal escondido, não, eles tinham que escolher a droga de um porão de um castelo esquisito com a porra de um histórico sangrento.

“Bando de idiotas.”

Ele estava com os olhos azuis fixos no caminho a percorrer, com as mãos envolta do aparelho GPS que havia trago, quando um barulho diferente chegou aos seus ouvidos.

Foi outro crac, semelhante ao som que seus pés faziam ao quebrar os galhos secos do chão, só que um pouco mais distante de onde ele estava. No mesmo instante, seu sexto sentido alertou que ele não estava sozinho. Ele pegou a pistola que estava próximo de seu peito, ficando alerta, com a respiração novamente calculada e os ouvidos atentos ao mínimo barulho feito.

Podia ser um animal.

Podia não ser.

De qualquer modo, quando não escutou mais nada, ele voltou a caminhar, ainda em alerta, procurando sair o mais rápido possível daquele lugar. Não estava gostando daquela atmosfera. Já estava muito frio e tudo parecia apenas escurecer mais e mais. Fungando, a ponta do nariz vermelha pelo frio, ele apertou o passo, mal sentindo o peso da bagagem nas costas, sempre procurando andar com destreza e não tropeçar em nada.

Algo impossível naquelas circunstâncias.

Foi quando aconteceu novamente. Ele ouviu novamente passos, e ele torcia seriamente para que fosse apenas sua imaginação pregando peças.

Mas ele não conseguia ver nada, simplesmente nada. A floresta estava nublada, sua visão estava nublada, uma nuvem desceu dos céus para dificultar sua vida.

Porque estar para bater as botas por um vírus filha da puta não era o suficiente, manda mais um pouco de dificuldade, as coisas estão muito fáceis, ele pensava.

Foi quando uma dor chegou como uma bala para sua mão, tanto que ele teve um espasmo pelo susto, caindo de joelhos no chão, segurando o pulso.

Ele não conseguia respirar direito.

Alguma coisa estava muito muito errada.

Sentindo os dedos se contorcerem freneticamente, ele tentava se manter atento, suor frio descia de sua testa, e a dor, dor queimante em sua mão parecia irreal. De alguma forma, as coisas ali pareciam irreais.

Ele sentiu todo o ambiente ao seu redor girar, as narinas em chamas, tudo tomando uma forma azulada e estranha. A névoa ainda parecia espessa, mas ele não ligou para nada. Ele fez um esforço extremo para se levantar, precisava se levantar, precisava voltar a andar, era o que sua cabeça repetia, mas na verdade tudo estava girando em sua mente, ele não conseguia organizar realmente um pensamento coerente.

No entanto, com um verdadeiro esforço, ele se ergueu em suas pernas bambas, sentindo a panturrilha queimar com o esforço. Ele fez o possível para se alinhar o melhor que podia, e cambaleante, ele voltou a se movimentar meio se arrastando pela mata fechada.

O barulho dos insetos, por Deus, estava ensurdecedor. Ele estava querendo enfiar uma faca em seus ouvidos. E não era só isso, outros barulhos, outros sons incômodos e incômodos e incômodos penetravam seu canal auditivo, chegavam ao cantinho mais profundo de sua mente, dizendo coisas ilegíveis de um modo tão irritante que o estava enlouquecendo.

Tudo ainda estava azul, ele não conseguia se concentrar em nada, a não ser em andar e andar e andar, sempre ao leste, sempre em linha reta. Ele tentou verificar o GPS, mas suas pupilas dilatadas não conseguiam focar coisa alguma.

Ele estava grogue. Não lembrava do que deveria fazer para melhorar.

Foi quando a sensação de estar sendo seguido chegou novamente, e profundamente irritado, ele sacou a arma, apontando para vários nadas ao seu redor.

Com a testa molhada de suor, ele, em meio a cacofonia de pensamentos em sua cabeça, percebeu o quanto estava sendo ridículo.

“Pare com isso, Leon. Pare. Volte a andar. Volte a respirar. Volte para seu objetivo. Volte agora, não existe nada aq-”

E então ele foi jogado para trás, pego de surpresa.

Uma sombra vinda do meio na névoa pulou em cima dele, desequilibrando, fazendo-o bater a cabeça em uma pedra. Seus olhos se fecharam pela dor, o mundo se turvou a sua volta, e tudo escureceu

escureceu

escureceu

Nem um som.

Nem uma visão.

Nem um sentido.

E ele se sentiu dormir...

Para três segundos depois ele abrir os olhos abruptamente, se preparando para um novo golpe, as costas tesas, os olhos arregalados, mas não viu nada.

Não existia nada ali.

E ele ficou estirado no chão, o tórax em um movimento alucinado de cima para baixo, sem parar.

Segundos depois, ele gemeu de dor, sentindo o sangue quente escorrer de uma fenda em sua cabeça, e com o estômago embrulhado, ele se levantou, pontos pretos surgindo em sua visão, se apoiou em um galho qualquer e vomitou em uma árvore próxima. Então ele se lembrou do que deveria ter feito.

Tomar seus remédios.

Em algum momento no início daquela loucura, ele tinha um horário para tomar os comprimidos. Mas à medida que os sintomas avançavam e se tornavam mais violentos, o horário certo era aquele em que tudo começava a ficar insuportável. Por precaução já não servia mais.

Ele tateou placidamente a jaqueta de couro, a procura do grande cilindro de vidro, até finalmente encontra-lo e absorver seu conteúdo.

E ele não se sentou, esperando algo fazer efeito.

Ele apenas continuou andando, enquanto sentia a cabeça rachada latejar em uma dor excruciante, enquanto se arrastava para Deus sabe aonde.

Ele não deveria estar muito distante do castelo. Definitivamente não.

O ponto mais próximo era... Era... Ele não lembrava.

Mas começou a se sentir mais aliviado quando sua visão, que estava azulada e embaçada, como se um papel celofane azul estivesse na frente de seus olhos, voltar lentamente ao normal, enxergando apenas as silhuetas das árvores iluminadas precariamente pela lua, e por sua lanterninha, sempre à mão.

Ele imaginava o que estava ocorrendo.

Alucinações. De vez em quando vinham, mais agora estavam muito mais intensas. E ele se sentia como em um sonho, apesar de tudo girar e mudar, ele nunca sabia realmente como começava. Parece que sua cabeça entrava em curto, como se a parte lógica de seu cérebro se desativasse. Como quando você dorme e vivencia as situações mais loucas como se aquela fosse sua única e verdadeira realidade. E naquela situação, em que ele estava totalmente sozinho em um lugar estranho, tudo parecia ser muito mais perigoso.

No entanto, elas sempre eram associadas à quando exagerava na dose do medicamento. E ele se sentiu confuso. Aquilo foi completamente diferente de tudo o que já tinha passado. Normalmente eram apenas tonturas, imagens borradas, mas nada parecido de como se tivesse acabado de ingerir uma dose de LSD. O que estava acontecendo com seu corpo, com sua mente?

Ele tocou a ferida no couro cabeludo, o sangue sujando seus dedos e o crânio latejando pelo toque e pela batida. Sua cabeça doía demais para processar tantas coisas. Porém, apesar da dor e da quantidade de sangue expelido, foi apenas uma pequena fenda que se abriu, já ia coagular.

Ele suspirou, tropeçando em uma raiz.

Começar com uma rachadura na cabeça, com sangue quente vazando para fora, não era tão ruim. Poderia ter sido pior.

Ele então sentiu algo incomodar seu bolso traseiro, e retirou lá o retângulo de tela espatifada que seria seu GPS.

“Puta que pariu.”

Ele sentiu o celular em seu bolso começar a vibrar, e com as mãos ensanguentadas, ele atendeu a chamada, com a dor na cabeça desgraçadamente horrenda e se sentindo fraco e enjoado.

“Leon, onde você está?”

“Barry?” Ele falou, com a língua meio se enrolando, enquanto se apoiava no tronco de uma árvore para conseguir respirar “Eu... Eu não sei. Tenho certeza que não estou longe do castelo, mas mais do que isso... Eu...”

“Ei, você tá legal? Alguma coisa aconteceu? Parece que você levou uma puta surra” Leon voltou a andar, e puxou o canto dos lábios ao responder.

“É, não foi muito distante disso.”

“O que aconteceu com o teu GPS? A gente te perdeu há alguns minutos, aqui.”

“Bem, aconteceu uma maravilha, ele virou sucata. Olha, eu...”

Leon parou de falar, distraído, abaixando as mãos e estreitando dos olhos.

A alguns metros à frente, as árvores começavam a se distanciar, com uma clareira se formando. Ele foi se aproximando mais e mais, a lua nova, cheia pela metade, brilhando grande e intensamente sobre sua cabeça.

A medida que se aproximava, ele percebeu o gradeamento ao redor, e uma grande e enferrujado letreiro, com suas inscrições borradas e meio apagadas pelo tempo, mas ainda legíveis no centro.

CEMITÉRIO

Bom, ele finalmente havia chegado onde queria.

E com escárnio, esperava que aquele não fosse o lugar para onde voltaria.

***

Leon

Eu quase sorri quando percebi que havia chegado. Mas estava me sentindo tão enjoado, que nem isso consegui fazer. Mas bem, isso não é o mais importante, eu precisava manter o foco, porque a porra toda não tinha nem começado. Eu nem comecei direito a primeira fase, pra cair logo agora, nem amarrado.

O pior daquela situação é o fato de eu sentir que fiquei jogando basquete com a minha cabeça. Não parava de doer, e isso consumia boa parte da minha atenção, além do fato de que ter perdido uns 20 litros de sangue – ou não – havia me deixado tonto e nauseado. A coisa boa é que o sangramento havia estancado. A coisa ruim é que o sangue endureceu no meu cabelo e no meu rosto. Sim, terrivelmente incômodo. Mas nada que não pudesse ignorar.

Foi tentando limpar meu rosto que percebi que o celular ainda estava em minha mão.

Que ótimo, deixei o Barry falando sozinho.

Assim que tentei retomar o contato, no entanto, não havia nenhum meio de comunicação. A chamada havia caído.

“Barry? Alguém?” Eu tentava, mas nada ocorria. Tentei voltar para onde estava, procurando sinal novamente, mas não tinha jeito.

Eu senti um suor frio escorrer por minhas costas, ao perceber que estava, naquele momento, sem ninguém com quem contar, apenas comigo mesmo.

Isso não era uma missão qualquer. Se eu sumisse, Barry nem ninguém poderiam vir aqui me buscar, mesmo se quisessem. Isso não era por um bem maior. Era pelo meu bem. Era uma missão totalmente egoísta em que eu era o único e maior interessado no sucesso. Eu tinha que me virar pra sair daquela, por mim mesmo.

Mas saber disso não tornava as coisas mais simples.

Porém, eu não estava apavorado. Já enfrentei situações quase tão terríveis quanto aquela, e eu me saí bem, e ainda me sairei bem. Desde que não deixasse coisas como o pânico ou dúvidas tomarem conta de mim. O estranho é que, mesmo já tendo passado por muita coisa, apreensão e incerteza sempre duram, nunca realmente vão embora, assim como o medo, que nunca me abandona, apesar de eu já saber conviver com ele. Desde que saí de Raccoon, um incrível valor à vida me consome. Eu não iria morrer. Não daquele jeito. Não consumido por aquilo que sempre lutei.

Percebendo que não iria ter sucesso nenhum com o celular, eu o guardei no bolso da jaqueta, perto de onde minha pistola estava. Qualquer sinal de comunicação eu perceberia, e esperava que não demorasse muito.

Dessa forma, eu comecei a explorar o cemitério.

Cercado de grades pontudas e enferrujadas, ele se estendia para não muito longe, mas estava tudo muito escuro e eu realmente não enxergava onde ele ia parar. O portal tinha uma de suas portas pendurada em apenas uma das dobradiças, pendendo para o lado, totalmente torta. E outra jogada no chão a poucos metros de onde eu estava. Vários túmulos, de variados tamanhos compunham aquele cenário, além da terra poeirenta e de umas típicas árvores secas que existiam em todo bom filme B.

Meio que sorri.

“Acolhedor.”

Uma coisa que achei interessante era o porquê de tantos túmulos. Alguns não eram realmente túmulos, dava pra ver onde a areia estava batida e cavada, alguns tinham algumas cruzes, mas outros apenas um mato já enorme por cima. Longe de qualquer cidade ou aldeia próxima, era difícil acreditar que alguém pudesse andar tanto só para enterrar alguém, ou que alguma família fosse capaz de encher tudo aquilo.

Eu comecei a andar, passando por cima da grade caída, sentindo o metal ranger sob o tênis. Os túmulos formavam várias sombras ao redor. Realmente, aquele não era o lugar que um cara gostaria de passar o final de semana. Um pouco mórbido demais para ser uma opção, se é que me entendem.

Acontece que eu estava quase que completamente cego, se não fosse pela lanterna que tinha na mão. Achar o que eu procurava era o mesmo que tentar encontrar uma palha num agulheiro, principalmente levando em conta o aparente tamanho daquele lugar, e aquela porra de névoa que não ia embora.

Tentei tirar esses contras da cabeça, e comecei a andar por entre os túmulos.

Alguns eram bem barrocos, com adereços complicados e estátuas enormes de anjos, umas totalmente quebradas, ou com um nariz ou braços faltando... Era uma coisa muito bonita. Os nomes eram ilegíveis, todos estavam manchados de limo e sujeira.

O objetivo era chegar ao centro daquele lugar. Existia algo lá que me faria entrar em um corredor que possivelmente levaria ao castelo. Eu realmente queria enfiar a possibilidade de erro na bunda de alguém, mas com certeza isso não me ajudaria a chegar ao lugar certo. O que eu sabia era que o terreno era totalmente irregular e tinha várias curvas. Era como se eu estivesse tentando achar o centro de fone de ouvido enrolado, ou algo estranho e totalmente enroscado em si mesmo.

Eu segui por um caminho de pedra totalmente arruinado, ele tinha algumas bifurcações, mas eu sempre tentava ir por apenas uma direção.

Foi uma caminhada não muito longa, até que eu cheguei em um grande hexágono de pedra, com uma figura que destoava completamente das outras. Em cima havia uma escultura bem estranha, que parecia muito antiga e cheia de rachaduras, de um homem sendo perseguido por cobras. Ele se encontrava com o corpo em uma posição como que em corrida, as pernas contraídas, o rosto contorcido, e um braço longo, estendido para fora do hexágono, os dedos detalhados, apontando para alguma coisa.

Eu olhei para a direção que a pedra apontava, procurando algo mais fora do comum ali.

Tive que andar mais, tentando enxergar com clareza o que existia. Não demorou muito até eu encontrar um retângulo alto que ia até minha cintura. Apontando a lanterna para o objeto, eu o examinei até perceber que havia uma espécie de manivela travada atrás, e um olho de fechadura no lado.

Ah... É sério isso? É sério que eu vou ter que sair por aí procurando uma chave para Deus sabe o quê e por Deus sabe onde? Esses arquitetos antigos eram loucos. Por que eles só não deixavam as coisas juntas, como pessoas normais e civilizadas? Ninguém merece.

Eu apenas voltei para o hexágono, examinado melhor a figura daquele homem. Não existia nada, na mão que apontava para o retângulo, mas a outra estava fechada, como que segurando algo. Eu subi naquela pedra, sentindo-a balançar um pouco com o meu peso. Eu observei a mão e, realmente, existia algo lá dentro. E eu mexi e mexi naquilo, até sentir um objeto metálico cair em meus dedos.

Eu voltei para a outra peça, e procurei novamente a fechadura, encaixando o que havia pego ali, e girando-a para a direita. Logo, a pedra se mexeu e destravou algo. Eu olhei para o lado, percebendo a manivela já podia ser movimentada. Sem esperar muito, eu apenas a girei, ouvindo um barulho alto vir da outra escultura. Eu fiquei fazendo aquilo por alguns minutos, até que ela finalmente engatou, e não se mexeu mais. Com isso, eu voltei para o hexágono, quase surpreso com a imensa entrada que havia surgido no chão.

Eu olhei para a escultura, agora distante. Senti que deveria me apressar. De alguma forma, ele parecia prestes a desabar, com todas aquelas rachaduras aumentando cada vez mais.

***

Era um túnel estranho. Ele era completamente irregular, dando a impressão de que havia sido cavado de qualquer jeito. Era não muito mais alto que eu, mas largo o suficiente para várias pessoas circularem sem dificuldade. O lugar era úmido e tinha um cheiro que incomodava meu nariz, um odor de mofo e putrefação. O chão era cercado por água, e isso estava me incomodando, por perceber que a ponta da minha calça já estava molhada, além de um pouco das meias e do tênis. Não parecia estar enchendo, aquele lugar, no entanto eu queria saber a origem de toda aquela umidade. Ou melhor, eu queria saber onde estava a saída. Eu perdi a conta de quanto tempo fiquei andando naquele lugar escuro, a lanterna tentando luminar o melhor que podia, até que me deparo com uma bifurcação. Não tive muito problema para escolher qual caminho seguir. Um lado se estendia por apenas alguns metros, mas logo terminava. Estava completamente destruído, bloqueado por grandes pedras. É, foi um belo desabamento.

Mas, do túnel bloqueado, eu sentia ainda mais forte aquele cheiro de podre. E, de alguma forma, fiquei feliz por saber que o que quer que tivesse ali, estava bloqueado e sem chance de saída. Senti uma vertigem com aquele cheiro. Aquilo me lembrava Raccoon. Eu precisava sair dali. Se existia um laboratório da Umbrella naquele lugar, é lógico que também existiriam brinquedinhos da empresa. Não é à toa que eu tive que vir armado até o olho, nunca se sabe o que pode aparecer, apesar de ainda ter uma esperança de que tudo continuasse como deveria estar. Abandonado e totalmente morto.

O outro lado da bifurcação era um pouco inclinado para cima, e no momento em que eu comecei a seguir por ele já pude sentir uma corrente de ar por aquele caminho, que aliviava um pouco aquela sensação de sufoco e náusea que a caminhada – e a própria trilha – causava. A medida que eu seguia em frente, o túnel parecia menos cavado aleatoriamente e mais planejado, as paredes de pedra tomando uma forma um pouco mais lisa e o chão menos batido e mais plano. Focando a lanterna em vários pontos do lugar, não iluminei na minha frente, e acabei tropeçando em uns degraus de terra bem desnivelados. Apontei a luz para o alto, visualizando uma pequena portinhola de madeira alguns metros acima de mim.

Finalmente.

Comecei a subir os degraus, curioso para ver aonde aquilo ia dar. Naquele momento, a água já era uma realidade distante, mas eu pude sentir as paredes úmidas e algumas gotas caindo em cima de mim. Provavelmente existia algum córrego ou rio por perto, de modo que a água se infiltrava pelas paredes. Não dei muita importância àquilo, chegando finalmente na porta velha e cheia de teias de aranha. Sentia o vento frio passar por entre as frestas e chegar em meu rosto. Eu estava completamente suado naquele lugar abafado.

Antes de fazer qualquer coisa, no entanto, eu ouvi um imenso estrondo atrás de mim, que ecoou por todo aquele corredor escuro. Um barulho de algo se despedaçando, se desmontando, caindo. Engoli em seco. Acho que aquilo foi a minha entrada indo para o além. Mas o que foi que causou isso? Será que ela tentou voltar para o lugar e se quebrou, ou algo a destruiu, para me manter lá dentro?

Puta merda, não importava.

Eu precisava sair dali.

Torcendo para que a porta não estivesse trancada, girei a maçaneta rapidamente, sentindo o metal enferrujado ranger entre meus dedos. Ela ainda ficou presa, as dobradiças enferrujadas não se moviam. Eu forcei a porta com o ombro, batendo e batendo, até que na quarta tentativa, com um barulho alto e irritante, a porta se abriu.

Ao mesmo tempo em que uma lufada de ar gélido vinha em minha direção, eu fiquei pasmo com o lugar onde vim parar. Mas, mais assustado ainda, foi quando bati a cabeça no canto da passagem, que era baixa o suficiente para fazer eu ter que me encolher.

Quando passei os dedos no cabelo, não senti nada. Nenhuma dor pelo roçar, ou melhor, nenhuma fenda nem nada.

Nada nada nada nada nada.

Eu tateei por toda minha cabeça, mas não havia nenhum vestígio de que eu havia quase fraturado o crânio em uma queda. Apenas o sangue seco e duro em meu cabelo, como uma lembrança estranha de algo que parecia ter sido um sonho.

A dor na cabeça havia sumido em algum momento enquanto eu tentava atravessar aquele lugar. Assim como o ferimento.

Por Deus, eu preferia mil vezes que aquela porra de buraco ainda estivesse aberta e doendo como o caralho. Porque nenhuma pessoa normal se cura tão rápido assim.

Olhando para a paisagem ao meu redor, e sentindo meu corpo se afogar em uma sensação desconhecida, uma determinação estranha se apossou de mim, ao mesmo tempo em que uma verdade que eu estava quase ignorando veio à tona.

Eu senti que a contagem regressiva havia iniciado.

Quanto tempo como humano eu realmente ainda tinha?


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo vai demorar mais um pouquinho para chegar, porque eu tenho prova no dia 02, de modo que só pro final da semana que vem é que eu vou conseguir postar, se tudo der certo.

Mas enfim, espero que tenham curtido, amores.

Ele já estava pronto a bastante tempo, só demorou mesmo porque eu tinha que ajeitar uma parte dele - A parte da escultura que eu deixei por último para escrever, HÁ! XD - de modo que tem umas coisas que eu escrevi de novo e nem revisei direito a coisa toda, querendo postar logo.
Qualquer erro ou incoerência, me avisem, okay?
[De verdade, se tiver algo doido, DIGAM XD]

E muito obrigada, de novo, para quem comenta ou acompanha. Isso me faz a pessoa mais feliz do mundo.

Até!



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