Encontros escrita por Alexandra Eagle


Capítulo 4
Capitulo 4 - Angústia




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Marguerite acordou deitada em uma grande cama coberta por peles de animais, ela estava sozinha e com muito medo. Ela olhou ao redor, viu uma porta e foi correndo ver se estava aberta; então uma mulher entrou no quarto. Ela parecia ter mais ou menos 50 anos, de cabelos longos e grisalhos presos por uma trança, estava segurando uma bacia com água e alguns panos. Marguerite ficou parada olhando para ela com receio.

– Quem é você? E onde estou?

– Eu já estava ficando preocupada com você, está dormindo a quase dois dias. Deve estar morrendo de fome.

– Não, obrigada. Eu estou mais interessada em saber onde estou.

– Você está na aldeia Anchaiyas.

– O QUE? ONDE? Agora eu estou me lembrando... Aquele brutamontes me arrastando e... Eu não sei o que aconteceu... ONDE ESTÁ VERÔNICA? O QUE FIZERAM COM ELA?

– Se acalme! Randor não vai gostar se você começar a gritar!

– Quem é esse tal de Randor? Eu quero saber o que fizeram com a minha amiga e o que estou fazendo aqui?

– Eu não sei nada da sua amiga. Randor te trouxe na noite passada sozinha e me mandou cuidar de você. Randor é o líder da aldeia e, se eu fosse você, não iria irritá-lo por seu próprio bem.

Marguerite ficou chocada com o que ouviu e sentiu uma tontura e começou cambalear. A mulher a segurou e ajudou a se deitar na cama.

– Menina, você deve está passando mal de fome, eu vou buscar algo pra você comer!

A mulher saiu do quarto e Marguerite continuou deitada tentando entender a sua situação atual. Dez minutos depois a mulher chegou com uma bandeja de frutas, pão e água.

– Vamos, coma. Você precisa se alimentar, está muito fraca.

Marguerite, muito a contragosto, fez o que a mulher pediu, até por que a fome falou mais alto do que o orgulho, mas Marguerite estava cheia de dúvidas e queria respostas...

– Qual o seu nome?

– Cleiá.

–E o seu é...?

– É Marguerite. Você sabe por que esse Randor me sequestrou? O que ele quer de mim?

Cleiá teve pena, mas disse a verdade, por mais dura que fosse.

– Ele quer você. É comum os homens da aldeia raptarem moças para casamento e comércio! Você é muito linda, de pele branca, não há nenhuma mulher por aqui como você.

– NÃO! DE JEITO NENHUM! Meus amigos virão me buscar e esse Randor vai pagar por ter me sequestrado. Tomara que a Verônica tenha conseguido fugir...

Marguerite começou a sentir náuseas, pôs a mão no estômago e não conseguiu segurar o vômito. Cleiá se assustou com o mal-estar da bela morena e a ajudou a se limpar com a água e os panos que havia trazido. Marguerite, ainda muito pálida, começou a se sentir bem melhor ao beber a água que Cleiá havia trago para ela.

– Menina, está se sentindo melhor?

– Acho que sim.

– Me diga, há quanto tempo você vem se sentido mal? Será que você está grávida?!?!

Marguerite a encarou com medo nos olhos sem saber o que dizer, ela só queria sair logo dali e se aconchegar nos braços de Roxton.

– Eu não sei... Eu não tenho certeza.

– Ahhh Randor vai te matar se você estiver grávida. E, pela minha experiência, eu tenho quase certeza que você está. Se ele não descobrir eu duvido que você segure essa criança depois que ele...

Cleiá parou de falar quando viu o medo nos olhos de Marguerite.

– NÃO! ELE NÃO VAI ENCOSTAR EM MIM NUNCA! EU NÃO VOU DEIXAR!

– E o que você pode fazer? Ele é muito maior e mais forte do que você. Se quer um conselho, fique bem quieta e deixe ele fazer o que quiser, assim você vai poupar o esforço e se machucar menos.

– Me ajuda a fugir, por favor? O meu lugar não é aqui e, se eu estiver grávida, não posso perder o bebê. Não posso!

Cleiá sentiu muita pena, mas o medo do líder impiedoso falou mais alto; ela deu as costas e saiu do quarto deixando a porta trancada.

Marguerite levantou rápido da cama e começou a procurar qualquer coisa que pudesse usar para se defender; ela sabia que logo Randor faria uma visita bem desagradável. Infelizmente ela não encontrou nada e só pôde torcer para que Roxton chegasse a tempo para salvá-la.

Randor estava na taverna da aldeia negociando com traficantes de escravos, ele havia comandado um ataque à aldeia vizinha e tomado várias mulheres e crianças para o comércio. Nesse meio tempo, um forasteiro chegou na aldeia chamando atenção de todos os habitantes; era nítido que ele não era um nativo. Ele se dirigiu para a taverna. Ao abrir a porta os olhares e as caras feias não o intimidaram, ele seguiu até o balcão e se serviu de uma bebida.

Randor olhou por cima do ombro e continuou a negociação; os ânimos estavam alterados, pois nenhuma parte queria ceder a um acordo. Então, um dos homens do traficante foi chegando sorrateiramente por trás de Randor e puxou uma faca; o forasteiro viu tudo e sacou uma arma para o capanga. Randor ficou sem entender nada, então ele olhou para trás e viu a faca na mão do homem, pronto para dar o bote. O chefe dos traficantes tentou se explicar, mas antes que pudesse dizer uma palavra, Randor enfiou uma faca na garganta do homem; o sangue jorrou longe e, em seguida, Randor deu uma facada em cheio no peito do capanga. Os outros saíram correndo com medo da fúria do líder local. Randor, coberto de sangue, caminhou até o forasteiro.

– O que te traz aqui em minha aldeia?

– Estou viajando e preciso de suprimentos.

– O viajante tem um nome?

– Ah sim, claro, meu nome é Jacob Miller.

Randor era um homem cruel, que não media esforços e nem derramamento de sangue para conseguir o que queria, mas tinha certos princípios. Bem, se um homem salva a sua vida a troco de nada, o mínimo que você pode fazer é oferecer uma refeição digna.

– Venha. Me siga. Será meu convidado em minha casa e terá o que precisa e amanhã cedo quero você fora daqui.

Jacob ficou com receio de seguir o líder da aldeia até a sua casa, mas não poderia fazer essa desfeita; então, ele agradeceu e o seguiu.

Jacob avistou uma grande cabana, sem dúvida a maior de todas da aldeia. Ao entrar, ele avistou algumas mulheres preparando a comida e escutou gritos de uma mulher vindos do fundo da cabana; o sotaque britânico chamou a sua atenção. Randor começou a gritar por Cleiá e ela veio correndo.

– Sim, senhor, estou aqui.

– Já ouvi que ela acordou.

– Sim, senhor, ela acordou. Eu já a alimentei e ajudei ela a se limpar.

Randor deu ordens para Cleiá alimentar Jacob e dar ele o que precisasse para seguir viagem. Em seguida, caminhou sem olhar para trás até o quarto, quase atropelando Cleiá que estava morrendo de medo do líder descobrir que a mulher que ele trouxe estava grávida de outro homem.

– Ai, coitada dessa moça...

– Olá, sou Jacob. E então, essa moça mora na aldeia?

– Bem, agora esse é o seu lar. Até quando ela sobreviver...

Isso só deixou Jacob mais curioso e apreensivo olhando para os fundos da cabana tentando escutar alguma coisa.

Randor abriu a porta do quarto e Marguerite se afastou com medo de quem poderia ser. Ele fechou a porta e olhou pra ela com um olhar faminto; Marguerite estava apavorada... Ela pensou: “Cleiá tinha razão. O homem é enorme, eu não tenho a menor chance”. Randor foi chegando perto e Marguerite foi se afastando e acabou caindo sentada na cama. Ela tentou se levantar, mas Randor a agarrou pelos braços e foi se debruçando encima dela. Marguerite entrou em pânico e começou a gritar por socorro, Randor rasgou a camisa dele, que Marguerite ainda vestia. O corpo nu e a pele branca e macia fizeram o sangue daquele homem ferver. Marguerite tentava lutar para se livrar dele, mas era inútil, as mãos grandes e calejadas percorriam por todo o seu corpo com ferocidade, os apertos deixavam marcas vermelhas nos seios, cintura e coxas. Marguerite se debatia e chorava, ele abriu-lhe as pernas segurando firme e quando ele se debruçou entre elas, Marguerite fechou os olhos e esperou o pior.

Randor sentiu uma pancada forte na cabeça; se levantou meio zonzo para ver quem o tinha atingido. Virou-se para trás e viu o rosto indignado do homem que há pouco tempo tinha salvado sua vida.

Jacob ouviu o choro e os pedidos desesperados de socorro de Marguerite e, mesmo que ele morresse tentando, não podia ficar lá parado. Ele deu outra pancada no meio da cara de Randor com o rifle, mas o homem apenas cambaleou. Randor rugiu como uma fera, foi pra cima de Jacob e o jogou no chão. O líder da aldeia estava furioso; agarrou o pescoço do rapaz e começou apertar com toda a sua força. Marguerite correu, pegou o rifle, apontou pra cabeça de Randor e apertou o gatilho; pra sua surpresa, o rifle estava sem balas.

– Ah, eu não acredito!

Com um raciocínio rápido, ela acertou o rifle com toda sua força na cabeça do brutamontes. Randor aliviou o aperto no pescoço de Jacob, que já estava quase morrendo. Marguerite acertou outra vez e o grandão, finalmente, caiu. Jacob tossiu e se levantou com um pouco de dificuldade, Marguerite foi ajudá-lo.

– Anda, precisamos sair daqui antes que ele acorde.

Jacob olhou para Marguerite e ficou deslumbrado com a beleza dela, também reparou que ela estava apenas vestindo uma camisa toda rasgada que mal cobria o seu belo corpo. Cleiá, que estava escondida atrás da porta ouvindo tudo, veio correndo para dentro do quarto.

– Venham comigo, tem uma saída aqui pelo fundos.

Eles seguiram a mulher mais velha e chegaram a uma porta. Marguerite olhou para Cleiá com gratidão.

– Obrigada.

– Cuide do seu bebê.

Cleiá olhou para Jacob que ficou meio sem entender o que acabara de ouvir.

– E você cuide bem dela... Agora vão depressa e cuidado para não serem vistos.

Eles saíram da cabana tentando se esconder atrás de carroças e barris, que estavam por perto; quando viram que não havia ninguém eles correram em direção à selva.

E correram e correram... até não poder mais. Sem fôlego eles avistaram um rio logo à frente. Marguerite estava em um estado lamentável: suja, com a roupa toda rasgada e os pés feridos. Chegando nas margens, Marguerite caiu de joelhos na beira do rio, exausta, ela bebeu um pouco de água e passado o susto veio a curiosidade... Quem era esse homem que a salvou e que depois ela o salvou?!?!

Jacob olhou para ela com preocupação, tirou a jaqueta e pôs em cima dos ombros da morena.

– Oi, vista isso. Já vai anoitecer e ficará frio, e não deu tempo de me apresentar como deveria... Meu nome é Jacob Miller.

Ele estendeu a mão para cumprimentá-la e Marguerite retribuiu o gesto.

– Meu nome é Marguerite Krux. Posso ver que você não é nascido no platô, com esse sotaque americano e essas roupas de explorador e um rifle sem balas.

Marguerite, então, observou o seu salvador com admiração: olhos azuis, cabelo castanho, alto, ombros largos e um sorriso encantador, ele vestia uma camisa branca, uma calça cáqui e botas e carregava uma mochila, o coldre com uma arma chamou a sua atenção.

– Você é muito observadora minha cara. Eu sou americano, estou nesse platô há 5 anos, vim em uma expedição para a América do Sul para estudar e levar medicamentos a algumas tribos distantes na Amazônia. Porém, fomos atacados por tribos rivais e corremos em direção a algumas cavernas, andamos sem rumo por dias tentando achar uma saída e quando finalmente encontramos a saída, demos de cara com um dinossauro enorme!

– Aposto que você levou um susto e tanto...

– Ah levei sim! E meus companheiros também. Então corremos em direção à selva, muitos morreram. E como uma mulher linda como você veio parar nessa selva cheia de criaturas pré-históricas e homens covardes que raptam moças indefesas?

– É uma longa história e eu preciso voltar pra casa, meus amigos devem estar me procurando.

– Imagino que o seu marido deve estar muito preocupado...

Marguerite arregalou os olhos e não sabia o que responder. “John deve estar louco de preocupação, mas ele não é o meu marido e como vou contar da gravidez?”.

– Ei você está bem?

– Sim, eu estou bem. Só quero voltar logo pra casa da árvore e esquecer esse pesadelo horrível com aquele homem nojento!

Jacob pegou a mochila e uma fruta.

– Aqui, pegue essa maçã. No seu estado você não pode ficar sem comer.

– Oh Obrigada!

– Você disse sobre uma casa da árvore?

– Sim, meus amigos e eu quando chegamos aqui conhecemos uma garota da selva, Verônica. Os pais dela construíram uma casa na árvore maravilhosa, com elevador, laboratório, vários quartos e muito mais. E ela nos acolheu.

– Vocês tiveram mesmo muita sorte, depois do ataque do dinossauro sobraram apenas eu e 2 amigos e ficamos vagando pela selva tentando sobreviver a homens macacos, canibais, entre outras coisas; até chegarmos a uma aldeia amigável onde fomos bem recebidos. Eu sou agora uma espécie de curandeiro rsrsr. Uso os meus conhecimentos de medicina pra ajudar os aldeões.

Marguerite ficou admirada com o altruísmo do rapaz. Eles continuaram caminhando pela selva, o sol já estava se pondo e precisavam achar um lugar para passar a noite. Mas ambos estavam muito curiosos pra saber mais um do outro.

– Sr. Miller, o que faz fora da sua aldeia então? Imagino que um curandeiro não deve se ausentar por muito tempo.

– Você tem razão, mas eu precisei sair por um tempo. Preciso saber mais sobre esse platô e buscar uma saída; não posso simplesmente ficar estagnado. Prometi voltar algum dia, fiz grandes amigos que posso até chamar de família.

– Comigo aconteceu o mesmo. A expedição Challenger chegou a esse platô com cada membro buscando o seu próprio objetivo e com o passar do tempo e as dificuldades, sem querer, nos tornamos uma família. Se você contar que eu disse isso vou negar cada palavra!

– Challenger? Por acaso você não está falando do professor George Challenger?

– Sim, ele mesmo. Você o conhece?

– Sim. Eu assisti a algumas de suas palestras, o homem é brilhante!

– Bem, isso não dá pra negar. Você precisa ver as melhorias que ele fez na casa da árvore.

– Quem mais veio com você na expedição?

– Professor Arthur Summerlee, o repórter Ned Malone e o famoso caçador Lord John Roxton.

– Que incrível! Eu já ouvir falar de todos eles!! Há quanto tempo vocês estão aqui?

– 3 anos.

– Veja, há uma caverna logo ali. Eu vou verificar se não há ninguém ou alguma fera; fique aqui e se esconda.

– Ok.

Jacob caminhou até a caverna com cautela, olhou mais de perto e verificou que não havia nada; então chamou Marguerite.

– PODE VIR! Está seguro!!

Marguerite saiu dos arbustos, deu alguns passos e se sentiu tonta. Jacob percebeu e correu para segura-la; Marguerite se apoiou em uma árvore, ele a pegou no colo e foi em direção a caverna.

– Ei, o que você está sentindo?

– Uma tontura. Não é nada demais!

– Mas é claro que é alguma coisa. Você está grávida! Eu preciso te levar logo pra sua casa, é muito perigoso aqui e você precisa de cuidados.

Jacob a segurava no colo com cuidado e Marguerite repousou a cabeça no ombro dele. Ele acariciou o rosto pálido da herdeira, ela estava linda e tão frágil em seus braços, foi perdendo a consciência aos poucos e sussurrou um nome:

– John...

Jacob, então, deduziu quem era o pai do bebê que Marguerite carregava em seu ventre.


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Notas finais do capítulo

Grandes surpresas surgirão no capítulo 5. Aguardem!



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