O Negrume escrita por Aryalie


Capítulo 4
A Arca no Sótão


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que fiquei muito tempo sem atualizar, mas meu computador estava horrível de escrever, então foi por uma causa justa. Agora tenho um novo e vou postar com mais frequência. Desculpe qualquer erro, não revisei e escrevi ás pressas já que eu já estava nervosa por deixar a história por tanto tempo e queria atualiza-la logo.

Enfim, sem mais delongas, boa leitura!



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O dia amanheceu escuro, frio e nublado. Relâmpagos iluminavam o céu e trovões soavam, mas a chuva não caía. Decidimos então passar o dia em casa. Catarina trouxera consigo seu notebook e alguns DVDs, então a programação do dia era assistir filmes. Pegamos cobertores e fizemos café, para então nos acomodarmos no sofá.

     O papai saiu para uma entrevista de emprego em Laranjal, uma cidade próxima. Estávamos sozinhas em casa.

     Harry estava muito inquieto. Ele nunca fizera isso antes, mas não conseguia ficar quieto. Ficava resmungando e querendo Annika. Não ficava quieto nem no colo da mãe, mas com ela melhorava um pouco. Não estava com fome, e sua fralda já fora trocada. Nós não sabíamos o que fazer.

    Catarina já estava ficando irritada com o bebê.

     –Faz ele calar a boca!

     –Ele está assustado com alguma coisa. –eu digo o defendendo

     –Será que tem algo a ver com o bilhete? – Annika pergunta olhando para mim com os olhos arregalados.

    –Que bilhete? – Catarina pergunta com um sorriso estranho –Vocês não me contaram nada disso. 

     –Não sei se devemos ficar falando sobre isso, Ann... – eu falo, cautelosa

      –Ah, que besteira! – Catarina cruza os braços – Podem ir me contando.

      Sempre me irritou esse jeito mandão e infantil de Catarina, mas talvez ela realmente tivesse o direito de saber. Dei de ombros e Annika prosseguiu.

        –Nós encontramos aqui na casa, em uma das gavetas de um criado mudo velho. Um bilhete provavelmente para futuros moradores dessa casa. E veio junto com... Bem, o bilhete nos dizia para tomar cuidado com as janelas. Também mencionava algum... mal. Não sei, talvez o dono anterior curtisse uns entorpecentes. – Annika tentou fazer graça, mas ninguém riu. – E deixaram uma arma, também. Não entendo muito de armas, mas era de verdade e estava carregada.

       Quando ela terminou de falar, tudo que se ouvia era a nossa respiração. O clima ficou ruim, como se o que quer que fosse o mal mencionado no bilhete tivesse despertado com o simples fato de termos tocado nesse assunto.

       O Bebê Harry berrou mais uma vez, e enquanto Annika corria para silenciá-lo, ouvimos batidas na porta.

      –Quem será? – Catarina pergunta com a voz trêmula.

     –Wendy?! – uma voz chamou do lado de fora

     –Essa coisa sabe o seu nome! – Catarina se assustou

      Eu não pude deixar de rir.

      –Claro que sabe, é meu amigo. –eu disse enquanto abria a porta, revelando um Edgar sorridente segurando um frango.

      –Quem é esse? – Catarina pergunta ainda desconfiada

      –É Edgar, do moinho. Esqueci de avisar que ele viria. Desculpa te assustar. –sorri para ela, que revirou os olhos.

      –Chegou na hora certa. –disse Annika – Eu já vou servir o almoço. –Harry se acalmara um pouco

     –Depois vamos assistir filmes! – eu disse, animada

     Annika e Catarina foram para a cozinha, e Edgar me pediu para lhe mostrar a casa.

      Comecei a mostrar tudo pelo térreo. A cozinha parecia ser a parte mais nova da casa, apesar de não poder ser considerada nova. Toda a mobília viera com a casa, e na cozinha havia uma pequena mesa de quatro lugares, que estava um pouco bamba. Mostrei a sala de jantar e de estar, ambas com o velho papel de parede descascando, e piso de tábuas que rangiam. Edgar parecia achar tudo fascinante, olhando cada detalhe.

      No próximo andar haviam os quartos. Um deles ocupado por mim, minha irmã e Harry, e o outro por nosso pai, deixando um quarto vazio. As janelas deixavam entrar uma corrente de ar, que uivava ao passar pelas frestas e buracos pequenos.

      –Certo. – disse Edgar limpando as mãos em sua calça depois de ter arrancado um pedaço de papel de parede empoeirado.

     Pela primeira vez reparei em suas calças. Era um modelo muito antigo, parecida com uma calça social. Normalmente com essa idade se usa jeans, ou um moletom ou conjunto de abrigo. Eu nunca vira ninguém usar uma calça como aquela no dia a dia. Uma calça que faria um par perfeito com um suspensório.

     Achei engraçado o fato de tudo ali em Vila do Sul parecer ter parado no tempo. As casas, as roupas. Tudo tão antigo...

     –Está satisfeito agora?– eu pergunto cruzando meus braços, um pouco zangada com o fato de ele parecer estar avaliando tudo.

     –Não podemos subir?– ele pergunta, e por um instante fico confusa. Até que ele aponta para um alçapão no teto, que eu curiosamente ainda não havia notado.

                                                                               ➵➵➵

    Demoramos muito tempo tentando encontrar um meio de alcançar o alçapão. Finalmente encontramos no quintal nos fundos uma velha escada de madeira que deve ter sido usada em reformas no passado. Não parecia ser muito firme, mas devia servir.

     Edgar insistiu para que eu subisse na frente, e concordei, mesmo sem muita vontade. Os degraus não estavam tão firmes quanto eu gostaria, mas respirei fundo e subi.

     O ar lá em cima estava poeirento e pesado. Tossi algumas vezes antes de conseguir respirar direito. Tudo parecia muito sujo e coberto por uma espessa camada de poeira. Edgar subiu movimentando mais sujeira, e precisei cobrir meu nariz e boca com a manga da blusa para impedir outro acesso de tosse.

    Era um sótão espaçoso, mas de teto baixo. Eu fiquei de pé tranquilamente, mas Edgar precisou abaixar um pouco sua cabeça. O cômodo estava cheio de caixas de papelão velhas, com livros antigos e louças, a maioria quebradas. Nada que realmente pudesse chamar nossa atenção.

      Exceto por um único objeto no cômodo. Uma arca de madeira entalhada, que nos atraía como imãs. Nos entreolhamos, e sem dizer uma palavra descemos a arca para o térreo.

      Estávamos cobertos de poeira, e Annika e Catarina se assustaram com a nossa aparência.

      –Onde vocês se meteram?– pergunta minha irmã com as mãos na cintura.

     –No sótão.– Edgar responde com naturalidade

     –É. – eu confirmo – descobrimos que temos um sótão.

      Ela franze a testa, desconfiada. Edgar arrasta a velha arca que encontramos para que Annika e Catarina possam ver.

      –É muito bonita!– exclama Annika – Por quê deixariam uma coisa dessas para trás?– ela pergunta intrigada

      –Talvez tenham esquecido. Talvez nem se lembrassem do sótão. Nós mal o vimos ao chegar aqui.– eu dou de ombros e me agacho para tentar abri-lo.

     Há um cadeado com uma corrente, mas a corrente está tão velha e enferrujada que cede facilmente. Porém, a tampa de madeira maciça era pesada de levantar, e Edgar me ajudou.

     Seu interior era forrado por uma espécie de veludo negro empoeirado. Havia duas caixas de madeira simples, que eu abri imediatamente, movida pela curiosidade. Dentro da primeira caixa haviam estranhos blocos de cera, de mais ou menos dez centímetros de comprimento pela metade de largura. Não entendi qual era seu propósito, então a deixei de lado e fui para a próxima.

     Esta era maior e mais pesada. Parecia ter um conteúdo importante, ou ao menos mais relevante do que a outra. Todos pareciam ansiosos por seu conteúdo, então resolvi abri-la sobre a mesa de jantar, para que todos a vissem.

     Ao remover sua tampa pude ver a capa de couro vermelho de um livro. Parecia ser velho e usado, já que seu couro estava gasto e cheio de marcas. Sobre ele havia um pedaço de papel bem dobrado.

    Desdobrei com muito cuidado o papel que também tinha um aspecto antigo e frágil. O passei para que Annika o lesse primeiro.

    Ela o recebeu e leu, com os olhos semi-cerrados e a testa franzida em concentração. Ao terminar o pousou na mesa e eu o li. Dizia:

                                 

                               Espero que não precisem

                                  disso, mas é a única

                                  coisa que o silencia.

   

 Nos entreolhamos, com um medo implícito de saber que era "ele". Mal sabia eu que logo nos tornaríamos íntimos.


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