A Jornada do Príncipe escrita por Andy


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Olá, melhores leitores do mundo! Como vocês estão? :)
Aqui estou com o novo capítulo! A partir de agora, as coisas começam a tomar um novo rumo... E finalmente teremos algumas respostas sobre a elfa misteriosa, yay! Espero que vocês gostem!
Muito obrigada a todos os leitores que falaram comigo pela primeira vez no capítulo passado! Espero vê-los mais vezes nos comentários! :D
E quem ainda não deu oi... Por favor, falem comigo! Eu sou boazinha! :3
Hahaha! De qualquer forma, muito obrigada a todos que leem! E vamos ao que interessa!



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Legolas se surpreendeu com a rapidez com que eles conseguiram chegar de volta à beira da floresta. Aquela elfa, fosse quem fosse, parecia conhecer todos os caminhos mais curtos. Além disso, quando Legolas começava a pensar que estavam perdidos, ela apenas acariciava uma árvore e sibilava algumas palavras naquele idioma élfico que ele desconhecia, e logo eles estavam de volta à trilha. A noite ainda não havia chegado à metade, quando Legolas viu o campo aberto surgir diante deles.

— Impossível! — Ele sussurrou, passando à frente da elfa e correndo para verificar se seus olhos não o enganavam.

— Mas verdadeiro. — Ela se aproximou, tocando o ombro dele suavemente. Ele se assustou e saltou para fora do alcance dela.

Ele olhou para ela, um pedido de desculpas no olhar. Ver a forma como ela se comunicava com a floresta fez alguma coisa mudar no coração dele. Alguém que se entendia tão bem com as árvores, principalmente com as árvores de Fangorn, não podia ser má. Mesmo que sua sabedoria milenar e seu conhecimento da história dos elfos lhe dissessem o contrário, Legolas não podia rejeitar o que sentia em seu coração.

Gimli vinha atrás, muito quieto. Ele não gostava do que estava acontecendo ali. Diferentemente de Legolas, ele não confiava naquela elfa estranha, que insistia em aparecer diante deles do nada a todo momento e que já havia ameaçado matá-lo. Ele se ressentia do fato de que o amigo parecia não dar mais nenhuma importância a isso. Além disso, algo não lhe saía da cabeça: como ela tinha tido tempo para ouvir as notícias sobre Gondor, e depois alcançá-los tão rapidamente? Ou ela os estava seguindo o tempo inteiro, ou ela possuía algum tipo muito sinistro de magia. Isso parecia bastante claro para o anão. E admirava-o que Legolas não tivesse chegado à mesma conclusão. Aquela elfa tinha algum efeito muito estranho sobre o amigo. Gimli não gostava disso também.

— Tudo bem. E agora? — Legolas perguntou, não tendo rompido o contato visual que tinha estabelecido com ela por um segundo sequer.

Ela lhe deu um sorriso travesso e se voltou para a noite. A lua cheia estava alta no céu. Ela olhou para ela por um momento, depois inspirou fundo, fechando os olhos. Então, pôs os dedos indicador e polegar entre os dentes e assoprou, como se pretendesse assobiar. Não saiu som algum.

Por alguns momentos, Legolas e Gimli prenderam a respiração, esperando que qualquer coisa acontecesse. Conforme os segundos avançaram, porém, nada aconteceu. Apenas o capim alto se movia, agitado por uma brisa suave e quente.

— Então...? — Gimli perguntou, sugestivamente. Legolas tinha franzido o cenho, olhando através da noite, tentando ver alguma coisa. Mas não havia nada para ser visto.

— Shh... — A elfa sussurrou, ponto o dedo indicador sobre os lábios, abaixando-se para olhar para Gimli.

Um silvo muito baixo começou em algum lugar na campina, parecendo prolongar o sussurro da elfa. Legolas imediatamente voltou a cabeça naquela direção. Gimli demorou a compreender o que estava acontecendo, tendo sido tomado por um calafrio que lhe desceu a espinha por causa daquele som.

E quando o anão piscou, havia dois cavalos negros como a noite parados em frente ao trio. Legolas arregalou os olhos, boquiaberto. A elfa riu de leve, passando o dedo indicador sob o queixo dele para fazê-lo fechar a boca:

— Você não se importa de carregar o anão, não é, amorzinho? Não tenho nenhum pônei disponível.

O loiro olhou para ela:

— Como... De onde...?

Ela suspirou, balançando a cabeça como se estivesse desapontada com ele:

— Você não aprendeu até hoje? — A voz dela era suave, parecia irreal. Legolas nunca tinha ouvido nada como aquilo, mesmo tendo conhecido muitas outras elfas, através dos séculos. Nem mesmo Lady Galadriel falava daquela forma. O coração dele parecia acompanhar o ritmo de suas palavras. — Para todo ser da luz, existe um equivalente das trevas, meu amor. — Ela o encarou por alguns segundos, e ele teve dificuldades em manter o contato visual, mas lutou para não quebrá-lo. Ela lhe deu um sorriso suave e se voltou para o cavalo maior, que roçava o focinho no cabelo dela, tentando lhe chamar a atenção. Os olhos vermelhos do animal pareciam brilhar na escuridão. Ela montou nele e completou, olhando para Legolas do alto: — Este é o irmão negro de Scadufax(1), seu nome é Hrímfaxi(2).

— O cavalo de Mithrandir? — Legolas estendeu a mão, inseguro, ao mesmo tempo querendo tocar o focinho do animal e temendo fazê-lo. Ele parou no meio do caminho.

A elfa se inclinou para segurar a mão dele, puxando-a para que ele tocasse o pelo do cavalo. Ela manteve a mão sobre a dele enquanto falava:

— Sim. Não se preocupe, ele é tão bom quanto seu parente iluminado.

Legolas sentiu-se corando novamente. Ele acariciou levemente o pelo do cavalo.

— Ele é lindo...

Gimli pigarreou alto, chamando a atenção para si:

— Então, nós não estávamos com pressa aqui?

A elfa puxou a mão, segurando-se ao pescoço de sua montaria, contrariada.

— O anão tem razão. Devemos partir imediatamente. — Ela fez um gesto, e o outro cavalo se aproximou, parecendo feliz por ter sua atenção. — Este é Alsvidhor(3), servo de Hrímfaxi. Tenho certeza de que ele ficará feliz em lhes servir, como um favor a mim.

O cavalo bufou e Legolas se aproximou dele. Gimli o seguiu, ficando atrás dele por precaução. Ele ainda não confiava na elfa nem em nada que viesse dela. O elfo estendeu a mão lentamente, com a palma voltada para o animal. O cavalo se aproximou e tocou o focinho na mão dele. Legolas sorriu e começou a lhe fazer carinho.

— Muito me admira que essas valorosas criaturas não sejam mencionadas em nenhuma das canções que conheço.

— A mim, não. — A elfa replicou. Legolas olhou para ela. — Quantas vezes as criaturas escuras são mencionadas nas lendas, se não de forma depreciativa, como se todas servissem ao mal? — A amargura no tom dela era evidente. Sua voz falhou no final, e ela rompeu o contato visual com Legolas.

O loiro não ousou responder. De fato, muito pouco era dito sobre os elfos escuros(4) nas histórias de outrora que ele já tinha ouvido. E menos ainda era dito de forma benevolente. Sem dizer nenhuma palavra, ele se certificou de que o animal estava tranquilo e logo tratou de montar nele com agilidade. Então, ele estendeu a mão para Gimli, que olhou para sua palma em dúvida.

— Como nos velhos tempos. — Legolas lhe sorriu com os olhos, tentando tranquilizá-lo.

~~ ♣ ~~

A elfa guiou o caminho durante todo o tempo, e o trio não trocou uma palavra sequer. Os cavalos viajavam a tamanha velocidade que Legolas e Gimli tinham dificuldades em manter os olhos abertos, devido ao vento que eles provocavam. Eles nunca haviam visto animais tão rápidos. Nem mesmo Scadufax parecia se igualar a eles. Gimli por fim desistiu e fechou os olhos, encostando a cabeça às costas de Legolas e confiando plenamente nele.

O elfo mantinha os olhos abertos e atentos ao caminho que estavam tomando. Ele sentia que havia algo errado ali. Havia algum tempo, eles passaram por Lórien, contornando a floresta. Legolas havia pensado que a elfa tinha a intenção de se afastar das montanhas, para se distanciar dos inimigos e evitar que eles fossem vistos ou pegos de surpresa por eles, mas depois viraria para o Leste, e depois para o Sul. No entanto, eles continuavam se dirigindo incessantemente para o Norte. Por fim, quando ele percebeu que ela olhava para as estrelas para conferir a direção pela terceira vez, e não mudou o curso, Legolas decidiu que precisava interferir. Afinal, pelo caminho que estavam seguindo, ela os estava levando para cada vez mais longe de seu objetivo.

— Ei! — Ele chamou. Ela não olhou para trás. Legolas havia notado que ela parecia aborrecida desde o comentário sobre as criaturas escuras. — Para onde estamos indo? Não deveríamos estar indo para o Sul agora?

Ela demorou um tempo para responder, e Legolas começou a se perguntar se havia possibilidade de ela não o ter ouvido, mesmo com seus ouvidos élficos. Gimli abriu os olhos para espiar. Por fim, ela respondeu, ainda sem olhar para eles:

— Confie em mim.

Não muito tempo depois, eles chegaram de volta a Greenwood. Legolas estava confuso. Ainda que eles estivessem bem ao Sul da floresta, o caminho não fazia o menor sentido para ele. A elfa vinha parecendo angustiada, nos últimos quilômetros, como se estivesse fugindo de alguma coisa. Ela sussurrava para os cavalos constantemente naquela língua que Legolas não conhecia, provavelmente instigando-os a andar mais rápido. Quando eles se encontraram sob a sombra da floresta, ela pareceu aliviada, embora eles tenham tido que diminuir consideravelmente o ritmo. O sol estava prestes a nascer, a essa altura.

Então ela finalmente fez os animais se voltarem para o Sul. Gimli cutucou Legolas:

— O que estamos fazendo aqui? — Ele perguntou, tão baixo quanto possível.

Legolas abriu a boca para responder que não fazia ideia, mas foi interrompido:

— Estamos indo para Dol Guldur.

O elfo franziu as sobrancelhas e todo o seu corpo enrijeceu com a tensão. Ele estava pronto para saltar do cavalo com Gimli ali mesmo, se fosse necessário:

— Por quê?

A elfa finalmente olhou para ele de novo, mas parecia fazê-lo contra sua vontade, a julgar pela expressão em seu rosto:

— Estes animais têm uma desvantagem. Eles não podem viajar sob a luz do sol. Ela faz mal a eles. Uma maldição antiga.

— Mas isso...

— Isso quer dizer que vamos ter que esperar a noite cair novamente para seguir viagem.

— Mas nós não temos...

— Tempo? Você viu a velocidade destes animais. Quanto tempo você e o anão levaram para chegar a Fangorn? Com estes animais, eu fui até lá e trouxe vocês de volta em menos de uma noite.

Legolas se calou.

— Não se preocupe com os orcs. Eles não conseguirão atravessar as montanhas antes que nós estejamos atrás dos muros de Gondor. — O loiro não respondeu. A elfa sentiu a hesitação dele. — Quando foi que eu deixei de cumprir uma promessa que fiz a você?

Legolas franziu o cenho de novo. Aquelas palavras lhe soavam familiares, de algum modo.

— Você nunca me prometeu nada.

Ela lhe abriu um sorriso sarcástico e provocador:

— Então você não tem por que não acreditar em mim.

~~ ♣ ~~

Quando chegaram à frente de Dol Guldur, a elfa desceu de seu cavalo, acariciando-lhe o focinho. Legolas fez o mesmo e ajudou Gimli a descer.

— Não vamos amarrá-los? — Gimli perguntou, desconfiado. — Nossos animais já desapareceram nesta floresta maldita antes.

Olhe como fala da minha... — Os dois elfos começaram, juntos. Eles arregalaram os olhos, se entreolhando.

— ...Casa. — Legolas completou, estupefato.

A elfa, parecendo perturbada, se voltou em direção à velha fortaleza em ruínas, atravessando a perigosa ponte de pedra que levava até ela. Legolas foi atrás dela, sentindo a face ardendo ligeiramente, e Gimli o seguiu de perto.

Dol Guldur já estava ruindo quando Gandalf esteve ali, muitos e muitos anos antes, tendo ele próprio contribuído um tanto para sua destruição, durante a luta contra Azog e Sauron. Agora, o local estava muito pior, e Legolas se perguntava como alguém podia ainda viver ali. Pior ainda, há quanto tempo ela estaria vivendo ali, sozinha em meio aos escombros empoeirados?

Chegando à fortaleza, ela se voltou para eles:

— Minha casa... Sua casa. — Ela gesticulou, abrangendo toda a fortaleza com os braços. — Sintam-se livres para andar por aqui. Mas eu sugiro não irem para o lado Nordeste. Ele foi particularmente prejudicado na luta de Sauron contra seu amigo.

Gimli, que estava andando justamente naquela direção, parou e deu meia-volta. Ele girou em torno de si mesmo, olhando ao redor, indeciso. Por fim, decidiu não ir a lugar algum e sentou-se ali mesmo, olhando sugestivamente para Legolas.

— Obrigado. — O elfo disse, tentando fazer com que a elfa olhasse para ele. Sem sucesso.

— Eu vou sair para uma caçada. Nós não vamos a lugar algum por algumas horas, então é melhor aproveitarmos e comermos. Sabe-se lá em que estado estarão as coisas em Gondor quando chegarmos lá. Talvez não dê tempo de fazer uma última refeição. — Legolas notou que ela estava falando mais que o costume. Parecia nervosa por algum motivo.

Ela sacou uma espada, que nem Legolas nem Gimli haviam notado que ela carregava. Era uma lâmina negra e muito fina, com poucos centímetros de diâmetro. Parecia frágil demais. Só então Legolas notou que ela não carregava um arco. Ela já ia se distanciando, quando ele falou, elevando um pouco o tom de voz:

— Você não tem um arco?

Ela parou onde estava, olhando para o chão. Respondeu ainda de costas para ele:

— Não.

Ele franziu a testa:

— Que tipo de elfo anda sem um arco?

Ela se voltou para olhar para ele. A julgar por sua expressão, estava irritada. Sua voz saiu um pouco menos suave que o natural ao replicar:

— Eu. E, pelo que eu saiba, Thranduil Verdefolha também não era exatamente o maior arqueiro que esta floresta já viu.

Sem dizer mais uma palavra, ela se virou e começou a atravessar a ponte de Dol Guldur a passos rápidos, parecendo ansiosa para se afastar dele. Legolas se encolheu. Não fora sua intenção ofendê-la, ele apenas ficara surpreso ao ver uma elfa que não carregava um arco. E ela tinha razão a respeito do pai dele. Legolas olhou para Gimli, e eles se encararam por um momento. Gimli não precisou perguntar para saber o que o amigo estava pensando. Também não se surpreendeu quando o loiro correu atrás dela. E não precisou ouvir para saber o que ele diria quando finalmente a alcançou, já em meio à floresta:

— Espere! — Ele correu até parar à frente dela, estendendo a mão para que ela parasse. Ela o encarou com um par de olhos frios como gelo. Ele sorriu de leve, tirando o arco das costas e se curvando levemente para ela, como mandam as leis do cavalheirismo: — Você tem o meu arco.

Ela tentou resistir por um momento, mas acabou sorrindo de volta para ele.

~~ ♣ ~~

Os elfos retornaram com os braços cheios de esquilos mortos. Fora fácil para eles, encontrá-los e capturá-los estava em sua natureza. A elfa ficou encantada, porém, com a agilidade de Legolas. Nunca tinha visto um arqueiro tão bom antes, e não foram poucas as vezes em que ela viu um arco-e-flecha na vida. Legolas também se surpreendeu com o que ela era capaz de fazer com aquela lâmina estranha. Ela era, acima de tudo, muito rápida e flexível. Ele nunca havia visto arma igual. E a agilidade da espadachim não ficava nem um pouco aquém daquela que ele reconhecera em Aragorn ou mesmo em seu pai.

Legolas, como a maioria dos elfos, não gostava muito de carne, por isso comeu pouco dela, deixando a maior parte do que lhe cabia para Gimli e preferindo os vegetais que colhera na floresta. A elfa, porém, não parecia se importar em comer a carne, assando seus esquilos na fogueira. De qualquer forma, os três comeram até estarem satisfeitos, e ainda faltava muito para anoitecer quando terminaram. Agora só lhes restava esperar. Gimli se deitou de barriga para cima e adormeceu ali mesmo, roncando alto. Legolas e a elfa se viram, assim, sozinhos. Um silêncio um pouco constrangedor tomou conta dos dois. Legolas, por fim, decidiu tentar fazer aquela pergunta novamente:

— Ei. — chamou e esperou que ela olhasse para ele. Ela o fez quase imediatamente, embora parecesse distraída antes, perdida em pensamentos. Ao menos não estava mais zangada com ele, ao que parecia. — Eu... — Ele engoliu em seco. Não sabia por que, mas se sentia ansioso. — Eu ainda não sei o seu nome.

Os olhos dela ficaram tristes de repente, e ele quase se arrependeu da pergunta. Ela ficou apenas olhando para ele por um momento, avaliando-o. Por fim, respondeu:

— Madlyn.

— Madlyn... — Ele repetiu. — É um nome bonito.

Ela sorriu de leve, um sorriso sem humor, e desviou o olhar.

— Não, eu realmente achei.

— É, tá. Certo.

Legolas apoiou as mãos no chão de pedra e se arrastou para se sentar um pouco mais próximo dela:

— De verdade. — Ele esperou até que ela olhasse para ele. Parecia surpresa com a aproximação dele. Ele tentou fazer a pergunta da maneira mais suave, porém mais direta possível: — De onde você veio, Madlyn?

De novo, aquela sombra de tristeza tomou conta do rosto dela. Ela não disse nada. Legolas esperou, encarando-a. Ela virou o rosto. Ele continuou olhando-a intensamente e virou a cabeça ligeiramente para o lado, demonstrando sua curiosidade sutilmente. Ele vira o pai fazer aquilo com a mãe milhares de vezes, quando era pequeno. Syndel sempre acabava sorrindo e olhando de volta para Thranduil. Foi exatamente isso o que Madlyn fez. Quando ela falou, sua voz parecia triste:

— Se eu te contar, tenho medo de que vá embora.

A resposta o surpreendeu. Ele sentiu um frio enregelante tomando conta de seu estômago subitamente, e se perguntou o que era aquela sensação. Ele pensava tê-la sentido antes, mas isso fora há muito, muito tempo. Em outra Era. Ela olhava para ele, esperando, tentando ler a confusão em seu rosto. Ele pigarreou levemente e se afastou um pouco dela, virando o rosto, que subitamente parecia em chamas:

— Eu não vou a lugar algum. Ainda que quisesse, não poderia. — Ele se calou, esperando pela resposta, mas então percebeu que ela poderia interpretar mal sua resposta e completou, apressado, atropelando as palavras: — Eu não tenho um cavalo, quero dizer. E também não posso ir embora, preciso de ajuda para chegar a Gondor a tempo. E também tem o Gimli, eu não acho que ele iria muito longe, tendo comido tanto quanto... — Ele parou de falar quando ela começou a rir.

— Você é engraçado, amorzinho.

Ele sentiu-se corando ainda mais e apertou os olhos com força, numa autorrepreensão. Ele nunca tinha se envergonhado daquela forma antes. Não sabia o que havia de errado consigo.

Madlyn respirou fundo, olhando enquanto ele se recuperava. Enfim, decidiu falar:

— Eu sou Madlyn de Nan Elmoth, filha de Eöl(5), a que chamam o Escuro.

Legolas na verdade já esperava por algo do tipo, julgando pela cor dos cabelos dela, mas não imaginava que ela fosse filha do próprio Eöl. Ele não pôde evitar encará-la em choque, incapaz de dizer qualquer coisa que fosse. Ela desviou o olhar, intimidada pelas acusações silenciosas que julgava ver nos olhos dele. O silêncio que se estabeleceu então foi ainda mais constrangedor, e Madlyn começou a sentir vontade de chorar, já se amaldiçoando por ter dito a verdade.

Dentro de Legolas, um conflito se formava. Ele conhecia a história e a má fama de Eöl e, principalmente, de seu filho, Maeglin, o Traidor. Desde o momento em que pusera os olhos em Madlyn, seus pensamentos foram instantaneamente remetidos a essas histórias de outrora, que lhes contaram seus pais e outros elfos sábios que ele conhecera ao longo de sua vida. Seu coração, no entanto, se debatia, porque não conseguia ver mal em Madlyn, nem em suas ações. Era verdade que ele de início não havia gostado dela e tinha por ela grande desconfiança, mas até então suas ações só tinham tido a intenção de ajudá-lo, e ele não podia deixar de reconhecer isso.

Ele balançou a cabeça, tentando clarear seus pensamentos, mas não chegando a lugar algum. Estava confuso como nunca estivera antes. Fosse nos tempos de sua juventude, e Legolas provavelmente não pensaria duas vezes antes de seguir seu coração. Mas suas experiências ao longo dos séculos o haviam ensinado a ser mais cauteloso. Afinal, na última vez que ele se deixara guiar exclusivamente por seu coração...

Legolas se mexeu inquieto quando imagens de um passado distante surgiram em sua mente. Uma cidade no lago. Uma casa de um barqueiro. Um anão doente. E olhos verdes lhe pedindo desculpas silenciosamente.

Antes que se desse conta, ele estava falando, movido pela urgência de levar sua mente em outra direção:

— Então, acho que eu não precisava ter me preocupado em relação ao Gimli, não é?

Madlyn arregalou os olhos, passando a mão rapidamente pelo rosto para ocultar uma lágrima que Legolas não tinha visto surgir. Ela mal podia acreditar no que tinha ouvido. Não pôde evitar uma risadinha nervosa, olhando para o anão que dormia atrás de si.

— Não mesmo. Eu na verdade não os odeio. Nem um pouco. — Ela sorriu para Legolas. — Quando criança, eu costumava brincar nas minas com alguns deles.

O loiro fez uma careta um tanto exagerada, fazendo-a rir de novo. Ele a acompanhou, rindo levemente também. Uma brisa morna começava a soprar agora e o sol já estava bastante baixo no horizonte. Logo seria hora de partir novamente.

Legolas precisava perguntar. Sentindo o coração batendo cada vez mais rapidamente no peito, prevenindo-o de que talvez ele não quisesse saber da resposta, ele olhou para Madlyn:

— O que aconteceu? Por que... Por que você não tomou a barca de Círdan(6)?

Madlyn soltou o ar num silvo sarcástico:

— Como eu poderia? Eu devia estar morta há muitas eras.

— Não diga is...

— Você conhece a história de Eöl e Maeglin, com certeza. — Ela o interrompeu, e a dor em sua voz era tão pungente que Legolas sentiu vontade de abraçá-la, apesar de tudo. — Você sabe o fim que eles tiveram. Mas meu nome não aparece nas lendas. E só por isso eu consegui sobreviver. — Ela virou o rosto, não querendo que ele visse as lágrimas que lhe subiam pela garganta. — Meu povo, os servos de Eöl, um a um foram dizimados. E alguém se lembra? Alguém se importa? Alguém sequer notou quando eu fiquei sozinha? — Ela apertou os olhos, arranhando o chão de pedra com as unhas das mãos, tentando conter a vontade de chorar. Ela se levantou, dando dois passos rápidos em direção à ala Nordeste da fortaleza. Legolas se pôs de pé também, disposto a impedi-la: — Por acaso alguém sentiu a minha falta, quando a Barca partiu?

— Madlyn... — Ele estendeu a mão na direção dela, mas a deixou cair, sem jeito.

Ela limpou os olhos com a mão rapidamente e se virou para ele:

— Acorde o anão. — Ela disse, simplesmente. — Já está quase na hora de partir. — Ela apontou para cima, e Legolas seguiu com os olhos a indicação dela. A primeira estrela surgia no céu.

Quando o loiro olhou de novo, Madlyn já estava desaparecendo nas trevas da ala Nordeste de Dol Guldur. Ele não ousou segui-la, nem achava que tinha esse direito.

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Sem mapa desta vez, porque eu queria postar algo muito especial... Essa fanart PERFEITA que a LivdSloan fez para mim! *---*

A leitora Arya pediu para eu postar uma foto da Madlyn... Eu não me inspirei em ninguém em particular para criá-la, então não tenho uma foto, foto. Mas essa fanart é simplesmente perfeita, de verdade! Eu até agora não consigo acreditar em como a fofa da desenhista conseguiu captar tão bem a imagem da Madlyn... Ela é exatamente como eu imagino! Sério! Parece até que ela olhou em minha mente, haha! Então... Muito obrigada mais uma vez, Liv! Xoxo


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Notas finais do capítulo

(1)“Scadufax” ou “Shadowfax” é o cavalo branco que Gandalf monta, quando vai de Fangorn até Edoras, após ter encontrado Legolas, Gimli e Aragorn.

(2)“Hrímfaxi” não pertence ao universo tolkiano, mas também não foi inventado por mim. Na mitologia nórdica, ele era o cavalo de Nótt (noite), que, junto com seu irmão Dagr (dia) puxava a carruagem do sol através do céu.

(3)Alsvidhor é outro nome de “Hrímfaxi”. Eu apenas adaptei um pouco a escrita, porque a original utiliza um símbolo que eu acho que o sistema do Nyah! não suportaria.

(4)O termo “elfos escuros” é utilizado no Silmarillion com três significados diferentes. Inicialmente, ele designava os elfos que nunca haviam estado em Aman, também chamados de “moriquendi”. Durante o período do Exílio dos Noldor, porém, ele passou a designar qualquer elfo que não fosse um noldor (como Lady Galadriel e Lady Arwen) ou um sindar (como Thranduil, Syndel e Legolas), tendo como sinônimo o termo “avari”. Nesse trecho, porém, eu o utilizo pensando mais na terceira acepção do termo: “elfo escuro” era como era chamado Eöl, um elfo sindarin que viveu na Terra-Média durante a Primeira Era.

(5)[AVISO: Esta nota contém SPOILERS sobre um trecho de "O Silmarillion"!] A história de Eöl é um pouco longa demais para contar em uma nota de rodapé, mas vou tentar resumi-la. Ele foi um elfo sindarin que viveu durante a Primeira Era e era parente de Thingol, pai de Lúthien. Nan Elmoth era uma floresta menor, que ficava próximo a Doriath, terra de Thingol. Lá, Eöl vivia nas trevas profundas, pois era apaixonado pela noite e pelas estrelas. Seus cabelos eram escuros como a noite e seus olhos podiam enxergar longe na escuridão. Eöl ficou conhecido por gostar mais dos anões do que qualquer outro elfo daquela era e aprendeu muito com eles, tornando-se assim um grande ferreiro. Certo dia, Aredhel, irmã de Turgon, antepassado de Elrond, passou por Nan Elmoth e Eöl armou para que ela não conseguisse sair dali e a tomou por esposa. Dessa união nasceu Maeglin, seu filho. Anos depois, porém, Maeglin e Aredhel se cansaram da vida nas trevas e decidiram fugir para Gondolin, a cidade oculta em que vivia Turgon. Eöl, ao descobrir sua fuga, ficou furioso e foi atrás deles. Em Gondolin, acabou entrando em conflito com Turgon e foi condenado à morte, tendo sido renegado pelo filho, que amaldiçoou. Eöl não era muito bem visto na época, conforme registrado nO Silmarillion. Os noldor particularmente lhe tinham muita inimizade. (Para a história completa, cf. “O Silmarillion”, capítulo XVI, “De Maeglin”)

(6)A barca de Círdan é a barca em que Gandalf, Frodo e Bilbo partem para as Terras Imortais, depois da Guerra do Anel. Tecnicamente, era para todos os elfos da Terra-Média, exceto Legolas e Arwen, terem ido com eles.