Cold Blood escrita por Miss America


Capítulo 8
Capítulo 7 — Partners In Crime


Notas iniciais do capítulo

(Parceiros de crime)

Surpresa!!!

Perdão pela demora do capítulo. Ele já estava escrito há séculos e eu nem ia postá-lo na verdade, mas resolvi dar a louca e postar no impulso mesmo porque aqui tem coragem. Para quem me acompanha na ask sabe que eu estou em ano de ENEM, então a única coisa que eu faço é estudar. Quando sobra algum tempinho eu dou uma escrevida, mas mesmo assim estou totalmente focada no vestibular. Espero que entendam. A responsabilidade chega para todo mundo e ela chegou para mim.

Enfimmmm, tudo o que eu tinha pra dizer já desabafei lá na ask, APENAS APROVEITEM O CAPÍTULO!!!!!

Músicas do capítulo:
The Black Keys - Too Afraid To Love You
Kaleo - Way Down We Go
Oasis - Stop Crying Your Heart Out



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Capítulo 7

PARTNERS IN CRIME

 

Já se passava de meia noite e o tempo estava frio. A lua cheia escondia-se atrás das nuvens e Sam estava de pijamas, enrolada no seu cobertor. Ela se agarrava a ele do mesmo jeito que fazia quando criança, achando que se ficasse imóvel debaixo dele ele a protegeria dos monstros debaixo da cama.

As únicas luzes que entravam no quarto era as dos postes da rua e a do quarto de Lexi, que permanecia acesa. Ela estava encarando a janela da amiga fazia horas, procurando por alguma sombra que indicasse que Ethan estava em casa, mas não havia visto nada além do movimento das cortinas. Por mais que ela tentasse esquecer, toda a confusão que havia acontecido pairava sobre ela como uma nuvem espessa de poeira negra. Se ela tentasse afastá-la, mais ela se dissiparia.

Suspirando, a garota ajeitou-se no travesseiro e desviou o olhar para o teto, respirando fundo quando os barulhos noturnos do farfalhar das folhas deram lugar ao som de três batidas na porta do seu quarto.

— Sam, você já foi dormir? — a garota apoiou-se nos cotovelos e olhou para a madeira branca, escutando a voz de seu pai do outro lado. A maçaneta levemente se mexeu e ela mordeu os lábios, podendo ouvir os degraus de madeira da escada começarem a fazer barulho.

— Não, pode entrar. Ainda estou acordada.

Os passos de Malcolm ecoaram pelo corredor e ele entrou, colocando apenas a cabeça para dentro para depois passar o resto do corpo e fechar a porta atrás de si de modo silencioso. Estava sem os óculos e a gravata vermelha encontrava-se torta em seu pescoço, como se ele tivesse ficado nervoso e tentado tirá-la.

— Você devia estar dormindo e eu devia brigar com você, mas não vou fazer isso, então aproveite o fato de eu ser um pai legal. — ele disse, dando um meio sorriso e caminhando até a filha. Sam retribuiu o sorriso e voltou-se a deitar, acomodando-se mais para perto das almofadas. Ele sentou-se ao seu lado, apoiando as costas na cabeceira da cama e suspirou, olhando para as paredes e a pouca mobília do cômodo antes de virar-se para ela. — Annie recebeu uma ligação de Ethan no meio do caminho. Ela me contou o que aconteceu. Você quer conversar sobre isso?

Sam engoliu em seco:

— Não. Minha cabeça está doendo. — murmurou, exagerando um pouco na parte da dor de cabeça, vendo o professor cruzar as mãos sobre o peito.

— Tudo bem, imagino que tenha sido um longo dia hoje. — Malcolm buscou uma das mãos de Sam por cima da cama. Assim que a achou, segurou-a entre as suas e fez um pequeno carinho com o polegar. — Eu já pedi o conserto da porta dos fundos para o seguro. Eles provavelmente devem vir amanhã de manhã.

Sam concordou com a cabeça.

— Você precisa ir dormir agora, ok? — ele disse, olhando para ela depois de alguns minutos de silêncio, beijando o dorso de seus dedos e levantando-se do lugar. — Amanhã conversamos sobre isso.

Ele já ia se afastando e girando a maçaneta da porta para ir embora quando Sam o chamou:

— Pai? — o professor virou-se para ela, olhando-a com preocupação. — Você pode conferir se as portas estão trancadas?

— Hm, claro. — ele ficou sem jeito diante do pedido e olhou para a porta do quarto da filha antes de encará-la. — Essa não está. — e deu uma leve batida na madeira com a ponta dos dedos. Sam sorriu, um pouco mais tranquila, levantando as sobrancelhas em contentamento. — Não precisa ficar com medo, ok? Eu estou aqui.

A garota deixou o sorriso morrer no rosto e desviou o olhar, imediatamente recebendo os braços do pai em volta de si como resposta.

— Eu estou aqui. — ele a abraçou mais forte. Sam fechou os olhos e aproveitou do momento, que lhe trazia uma sensação de segurança que ela não sentia há muito tempo. — Eu não vou deixar nada de ruim lhe acontecer, eu prometo.

— Eu sei. — a garota sorriu, apoiando a cabeça no ombro do homem, sabendo que ele faria de tudo para transformar a promessa em verdade, mas só se permitiu relaxar quando eles se desgrudaram e ela ouviu os seus passos no andar debaixo, escutando-o balançando as maçanetas de todas as portas.

Assim que a luz do corredor se apagou e nenhuma fresta luminosa passava por debaixo da porta do seu quarto, a garota levantou-se e caminhou no escuro até a sua escrivaninha, acendendo o pequeno abajur que ficava ali. Sendo mais silenciosa o possível, ela sentou-se na cadeira em frente à mesa e se espreguiçou antes de abrir o notebook.

A tela do eletrônico se acendeu e ela passou a mão pelos cabelos presos em um rabo baixo, respirando fundo antes de abrir o navegador e começar a pesquisar tudo o que podia sobre o corpo encontrado nas represas Holloway. Os resultados não demoraram para aparecer. O caso tinha ganhado força na mídia exterior, porém todos os sites diziam a mesma coisa: o corpo era uma Jane Doe, na faixa dos dezesseis anos.

Sam continuou pesquisando durante toda a noite, procurando uma razão para o porquê do corpo não ter sido identificado, anotando no bloco de notas de seu celular as poucas coisas que ela considerava importante. Ela só parou quando seus olhos começaram a se fechar sozinhos e o despertador marcava quatro da madrugada. Desligando o computador e voltando para a cama, ela sabia que as respostas que procurava não estavam na internet e rapidamente caiu no sono.

*

O dia amanheceu e seguiu normalmente com uma falsa sensação de calmaria. Catherine ajeitou a boina vermelha na cabeça e olhou para o prédio principal do Santa Kennedy High antes de descer do carro.

O gramado e as escadarias, como sempre, estavam cheios de alunos, porém ela tinha a impressão de que a escola estava mais vazia do que no ano passado. Talvez o desaparecimento de Lexi tenha feito algumas famílias se mudarem, ela pensou e balançou a cabeça, tirando a chave da ignição e recolhendo suas coisas no banco do passageiro.

Sua mãe resolvera emprestar-lhe o carro depois que havia furado o jantar como forma de pedir desculpas. Ela e Mary Anne tinham ido visitar apartamentos para alugar em Auckland e a loira mais velha tinha se esquecido de deixar um bilhete. Talvez de propósito, talvez não, Catherine não tinha certeza. Mary estava estranha, elas não se falavam desde que a arquiteta tinha apresentado o namorado a família e Catherine não sabia o que pensar sobre isso.

A garota suspirou e desceu do automóvel, com os livros e um cardigã azul nos braços e a mochila nas costas. Ela ativou o alarme e guardou as chaves, atravessando o estacionamento e o gramado com passos rápidos, sentindo o sol queimar suas costas por debaixo da camisa manga três quartos do uniforme.

Assim que virou o corredor principal e pisou no dos armários, viu Megan ao lado do bebedouro da sala dos professores, conversando com uma garota negra que ela reconheceu ser Zoey Shaw e virou o rosto para o outro lado, torcendo para que a amiga não a visse e continuou seu caminho. Algumas garotas acenaram para ela, mas a loira as ignorou e andou direto em direção ao seu destino.

— Hey, Miss Santa Kennedy! Você não respondeu a minha mensagem. — Catherine ouviu a voz da gótica cantarolar em seus ouvidos no mesmo segundo que abriu a porta do seu armário. Ela encarou o reflexo da morena no espelho e virou-se de modo devagar, sorrindo gentilmente para a amiga.

— Oi, bom dia, hã... Você me enviou uma mensagem? Eu não devo ter visto. — ela tirou uma mecha loira da frente do rosto e colocou atrás da orelha, encolhendo os ombros. — Desculpe.

— Tudo bem. Não era nada importante. — Megan balançou a mão e olhou para a loira, balançando-se para frente e para trás nos próprios calcanhares, com uma expressão ansiosa no rosto.

— O que? Aconteceu alguma coisa? — Catherine perguntou, dando um meio sorriso, estranhando a garota que tinha recém pintado as pontas do cabelo de vermelho.

— Você precisa voltar para o time! — ela disparou, fazendo com que os piercings falsos nos lábios cintilassem. — Sério, aquelas vadias são umas desengonçadas! Eu falo para elas irem para a direita e elas vão para a esquerda. Você precisa voltar, pooooor favor, por mim.

Catherine suspirou.

— Você está agindo assim só por que eu sou a nova capitã? — Megan caminhou em torno dela, apoiando-se no armário do lado com os braços cruzados. — Você está com raiva de mim?

— Não! — a outra respondeu, um pouco alto demais. Ela fechou os olhos por um segundo e escorou-se na lateria, segurando um livro junto ao corpo, respirando fundo antes de continuar. — Eu só estou... com problemas agora, ok? Não estou com raiva de você, é que... essa história do corpo encontrado na represa está me deixando aflita.

— Ai meu Deus, esqueça essa coisa. — Megan grunhiu, revirando os olhos e pegou de modo brusco o livro que ela tinha em mãos. — O corpo provavelmente é de alguma sem noção que cheirou até a morte. Lexi deve estar por aí, sendo a vaca que sempre foi, torrando o cartão de crédito ilimitado dela e dando para uns idiotas.

— Eu... eu pensei que você achava que ela tinha morrido. — a loira murmurou, engolindo em seco enquanto a encarava.

Megan abriu a boca para falar, mas revirou os olhos, bufou alto e mexeu na franja, tirando-a dos olhos.

— É, tanto faz, foi o que eu disse. — disse, com desdém, e entregou o livro para a garota guarda-lo depois dela fechar a porta do armário e colocar a mochila de volta nos ombros. — Sinceramente, ela viva ou morta não faz diferença para mim. Ela é uma vadia e provavelmente deve estar queimando no inferno agora.

Catherine abaixou os olhos, evitando olhá-la por não saber reagir diante daqueles tipos de comentários típicos que a morena fazia. Às vezes ela ainda perdia tempo se perguntando do porquê as duas continuavam amigas.

Foi quando Lexi desapareceu que tudo começou. Megan se tornou uma pessoa completamente diferente da garota esquisita que sofria bullying. A loira não entendia como ela conseguia mudar em tão pouco tempo, mas tinha que concordar que ela era uma garota legal por trás daquela maquiagem preta que definitivamente não combinava com ela. O problema, além do batom preto e o rímel em excesso, era que as vezes ela não queria ser a garota legal.

— Vamos voltar ao mundo dos vivos. — ela chamou sua atenção. — Sabe o atendente? Então, eu descobri que ele é casado, dá para acreditar? C-A-S-A-D-O. — a maori soletrou. — Eu não acredito que caí na dele. Ele até deve ter filhos! Imagine eu, sendo madrasta de dois pirralhos. Nunca! Nunca mesmo, nem que me pagassem um bilhão de dólares.

Megan começou a tagarelar e por mais que a Catherine estivesse do seu lado escutando tudo, seu foco mantinha-se diretamente em Erin, que estava do outro lado do corredor, junto com Peter. Ela assustou-se a princípio, pois a garota só receberia alta no fim de semana. Os alunos que passavam pela garota pareciam ter a mesma reação que a sua e ela notou que a amiga estava tentando agir normalmente em meio aos olhares interrogatórios que lhe lançavam. Suas mãos, entretanto, estavam socando os livros no armário com força.

Quando ela se virou, ambas se viram e Erin começou a caminhar em sua direção. Catherine pensou que ela iria vir até ela e pedir desculpas pelo que tinha acontecido no dia anterior, entretanto a garota passou reto, sem olhá-la, e seguiu seu caminho para o fim do corredor. Peter viu o desapontamento no rosto da loira e ficou constrangido, sem saber o que fazer, acenando para ela antes de seguir a outra rumo as aulas.

Catherine olhou para a cena atônita e um tanto magoada, mas logo balançou a cabeça e se recompôs, retribuindo o cumprimento do garoto. Ela e Sam tinham trocado mensagens combinando que iriam se encontrar nas arquibancadas durante o treino de hóquei e poderiam aproveitar a oportunidade para conversar sobre o comportamento estranho da garçonete.

— Ok, você não quer mais ser líder de torcida, mas você vai aparecer nos testes hoje, não vai? — Megan perguntou, atrás de si.

— Desculpe, o que você disse? — a loira voltou-se para ela quando sentiu a sua mão entrelaçando o seu braço.

— Eu disse para você aparecer nos testes hoje.

— Claro, eu vou. — Catherine respondeu, não tendo outra opção senão deixar ser levada pelos corredores.

— Eu preciso de você lá para decidir qual novato vou chamar para sair. — Megan sorriu de um jeito malicioso e continuou a falar besteiras, apertando mais o braço da loira contra o seu enquanto o sinal tocava e elas iam caminhando até a próxima aula que teriam juntas.

O único garoto que Catherine mantinha preso em seus pensamentos era Ethan Williams e não era por um motivo bom.

*

Erin hesitou antes de entrar no laboratório de química. Ela parou diante da porta e ficou encarando a maçaneta, podendo sentir o objeto frio por entre os seus dedos. Imagens distorcidas da noite da festa pularam na frente dos seus olhos e a garota fechou os olhos com força, quase dando um grito de susto quando a voz de Peter a trouxe de volta para a realidade.

— Só para caso você não saiba. Nós... Hum, não estamos num filme do Tim Burton. — ele sussurrou. — A maçaneta não vai ganhar vida e começar a falar com você. Bom, eu espero.

— Obrigada pela informação. — ela resmungou e deu um leve empurrão no garoto com o antebraço, revirando os olhos antes de abrir a porta.

A reação dos colegas de classe foi como exatamente como ela esperava: eles pararam de fazer o que estavam fazendo e a encararam com as mais variadas emoções. Alguns a olharam surpresos e outros trocaram olhares curiosos. O único que não demonstrou reação nenhuma, talvez por conhece-la e passar alguns intervalos com ela, fora um garoto franzino que usava óculos chamado Alfred.

Peter ficou vermelho e cutucou sua cintura, apontou com a cabeça para uma bancada com dois lugares vazios, no fundo da sala. Eles se sentaram juntos e Alfred deu um tchauzinho para os dois, mas Erin estava tão aborta que não foi capaz de fazer o mesmo. A professora Smith chegou um minuto depois, fazendo com que todos se calassem e parassem de encará-la feito leões esquadrinhando suas presas. A garota agradeceu mentalmente e remexeu-se desconfortável no banco quando viu a docente iniciar a aula e pará-la no meio ao notar sua presença, caminhando até ela.

— Bem vinda de volta, McCarthy. — a mulher disse, tirando os óculos dobrados da gola da blusa e os colocando no rosto. — O diretor Hollis pediu que sua detenção fosse retirada. O pedido foi concedido, mas quero vocês dois separados. — e olhou de modo duro para Peter, que imediatamente guardou suas coisas em cima da bancada e colocou as alças da mochila nos ombros, ficando de pé. — Espero que o que aconteceu não atrapalhe o seu desenvolvimento escolar. — ela virou-se novamente para Erin. — Suas notas ano passado foram péssimas.

— Claro. — ela murmurou e deu um sorriso de lado, batendo continência e abaixando os olhos, quando viu que a gracinha não tinha sido uma boa ideia. A professora lhe encarou de um jeito ameaçador e alguns alunos em volta das duas riram. A sua vontade era mandar todos, inclusive a mulher, cuidarem de suas vidas e mostrar-lhes o dedo do meio, porém a garota se conteve pois não queria arranjar mais confusão.

A professora olhou-a uma última vez e deu meia-volta, caminhando em direção ao quadro, parando assim que ouviu uma batida na porta. Os cochichos recomeçaram e Erin, que tinha desviado o rosto e estava com o olhar perdido na paisagem do lado de fora janela do prédio, notou a movimentação pela classe e levantou a cabeça, sentindo o seu sangue gelar.

Todos os olhares que estavam antes nela foram direcionados exclusivamente para o loiro que entrava na sala: Ethan, com um olho roxo e um curativo na sobrancelha.

Ele voltou-se para a professora e sussurrou algumas palavras para ela, que tinha uma expressão descontente no rosto, entregando-a uma folha dobrada.

— O próximo atraso é detenção, Williams, que fique avisado. — a professora parou um instante para conferir o sobrenome de Ethan no papel que ele havia acabado de lhe entregar e ajeitou os óculos no nariz. — Vejo aqui que o senhor está sendo transferido de Otago e que houve um erro com os seus horários... Bom, isso não me interessa por ora, bem-vindo. Sente-se ali, do lado da McCarthy, e não incomode a minha aula.

Erin deu um pulo no lugar e abriu a boca para protestar.

— Ele não...

— Algum problema? — a mulher a olhou por debaixo dos óculos.

— Não, senhora. — ela encolheu os ombros e a mulher deu continuidade à aula enquanto Ethan caminhava por entre as mesas até a garota, vendo-a cruzar os braços e levantar o queixo, movimentos que o fizeram sorrir.

O loiro usava uniforme de um jeito que nenhum dos outros garotos usava, com os primeiros botões da camisa social aberta e a gravata frouxa, deixando à mostra o início de uma tatuagem no peito que parecia ser um pássaro com asas abertas. Algumas garotas se abanaram em uma atitude ridícula quando ele passou por elas, fazendo Erin querer vomitar.

O rapaz sentou-se ao lado dela na bancada. Apoiou os cotovelos na mesa e cruzou as mãos em frente ao rosto, virando-se para encarar a morena que mantinha-se com o rosto virado em direção à vista do lado de fora da sala. Ele contorceu os lábios em divertimento quando a viu olhar de canto e levantar uma sobrancelha.

— Que merda você está fazendo?

Ethan deixou um sorriso escapar.

— Te encarando. — sussurrou, inclinando-se na direção da morena. Ele olhou-a de cima a baixo e deu de ombros. — Olhar não arranca pedaço.

Erin abriu a boca para falar, porém desistiu e revirou os olhos.

— Não fale comigo. — ela mordeu a parte interna da bochecha, precisando se concentrar para não falar coisa pior e sinalizou para que ele se afastasse. — Eu sei o que você fez.

— O que eu fiz ou o que você fez? — ele perguntou, com uma das sobrancelhas arqueadas. O seu curativo no supercílio ameaçou sair do lugar.

— Eu não sei do que você está falando. — ela engoliu em seco e ficou imóvel, olhando para a delicada caligrafia da professora Smith na lousa há alguns metros dos dois, sentindo seu coração parar de bater por um segundo.

O sorriso de Ethan alargou no rosto e o garoto se ajeitou no banco.

— Qual é o seu filme de terror favorito? — ele murmurou, tão próximo do seu ouvido que ela conseguiu sentir o hálito do garoto fazer cócegas em sua nuca.

Ela virou-se e olhou para ele incrédula, com os olhos arregalados. Sua expressão endureceu no rosto e ela disse, entre dentes, sentindo seus lábios tremerem:

— Vai se foder.

Pelo contrário do que a garota esperava, Ethan sorriu e levantou as sobrancelhas, colocando dramaticamente a mão no peito, fingindo estar ofendido. Antes que ele tivesse a oportunidade de dizer uma palavra, entretanto, o sinal indicando o fim da aula bateu e Erin levantou-se do seu lugar rapidamente. Guardando suas coisas na mesma velocidade, ela jogou seus pertences de qualquer jeito dentro da bolsa e saiu da sala feito um furacão, esbarrando com Peter que a esperava do lado de fora da sala.

O impacto da batida dos dois fez com que o garoto deixasse cair os livros que carregava. Erin abaixou-se para pegar os pertences do amigo enquanto ele a enchia de perguntas.

— Ei, o que aconteceu? — ele perguntou, extasiado, abaixando-se também. — Foi o Ethan? Ele disse alguma coisa?

— Não aconteceu nada. — ela respondeu e o encarou antes de levantar-se do chão.

— Erin...

— Não foi nada, Peter! — ela o interrompeu, revirando os olhos.

— Tem certeza? — ele a olhou, procurando por algum sinal no rosto dela que a fizesse ceder.

— Sim. Eu só... vou pedir para ir para casa.

Os alunos começaram a movimentar o corredor, andando de um lado para o outro em volta dos dois e Erin trocou o peso de uma perna para a outra. Ela precisava sair dali caso contrário iria enlouquecer.

— É só isso, ok? Não estou me sentindo bem. Talvez eu não apareça no Kai’s hoje, avise Tweedledee e Tweedledum por mim. Eu cubro o seu turno amanhã. — ela voltou-se para o amigo e então entregou os livros para ele, desviando das pessoas em seu caminho e partindo em direção a enfermaria.

*

Catherine abriu a porta do banheiro feminino, olhando para os lados e para trás antes de entrar. O lugar estava vazio e todas as cabines estavam abertas.

Ela entrou com cautela e fechou a porta em suas costas com o mesmo cuidado. Sam tinha mandando uma mensagem para ela no meio da aula, avisando para elas se encontrarem lá. O local não lhe era estranho. Ela, Lexi e as amigas tinham se encontrado ali diversas vezes para conversarem sobre garotos no intervalo das aulas na sexta série.

Os seus olhos azuis claros procuraram pela australiana, entretanto não encontrou nenhum sinal da amiga e levou a mão aos lábios, começando a roer a unha cor-de-rosa do dedo anelar, um hábito horrível que ela queria excluir da sua vida, porém nunca conseguia. Escoroando-se na bancada onde ficavam as quatro pias e o espelho enorme, ela deixou a unha de lado e cruzou os braços. As horas no seu celular indicavam que elas teriam dez minutos no máximo para conversarem e já tinha se passado três.

A luz do banheiro piscou momentaneamente. Catherine tirou os olhos do aparelho eletrônico e inclinou o pescoço para trás, olhando para as lâmpadas herméticas em cima de sua cabeça. A maçaneta da porta do banheiro se mexeu e ela deu um pulo, afastando-se da bancada e entrando na cabine mais próxima.

Ela guardou o celular junto ao peito e por um momento, não conseguiu escutar nada. Quem quer que tenha entrado no sanitário parecia ter entrado e ido embora em seguida. O lugar estava em silêncio completo exceto pela sua respiração descompassada.

Catherine encostou a testa na porta e relaxou os músculos. Ainda estava assustada com o que tinha acontecido nos últimos dias e por isso empurrou para o fundo da sua mente a possibilidade de acontecer o mesmo com ela. Ela estava na escola e não precisava se preocupar. Uma aluna qualquer devia estar matando aula e entrou no banheiro para fugir de algum professor. Nada demais.

A loira respirou fundo e passou as mãos no cabelo, se acalmando aos poucos. Desbloqueando o celular, ela digitou uma mensagem para Sam perguntando onde ela estava e enviou, encarando o visor esperando por uma resposta.

No mesmo segundo ela viu um vislumbre pela fresta da porta, bem próximo aos seus pés. Botas de caça, grandes o suficiente para serem masculinas.

A garota deu um salto para trás, batendo com a parte de trás das panturrilhas na cerâmica do vaso sanitário, quase deixando o telefone cair na água. Ela encolheu-se contra a parede oposta da cabine e as botas sumiram de vista por meio segundo. Suas mãos voaram para a fechadura do cubículo e ela a procurou em desespero, encontrando apenas o trinco que mantinha-se no “livre”.

Ela encarou cada centímetro da madeira e então percebeu que os parafusos estavam para o lado de dentro. Suas pernas bambearam. Alguém a tinha parafusado ao contrário, de modo que a parte de fechar ficasse para fora. Seu coração deu pulos no peito e ela arregalou os olhos, entrando em pânico quando viu os calçados negros reaparecerem e o trinco fazer um click do outro lado, mudando para “ocupado”.

— Socorro! — ela gritou, começando a bater na porta com toda força que seus punhos permitiam. — Eu estou presa! Por favor, alguém me ajude! Socorro! — seus pulmões começaram a arder e uma sensação de queimação apoderou-se em torno do seu pescoço.

Ela parou de socar a porta e levou as mãos a ele, sabendo os sintomas que viriam a seguir. Tontura, falta de ar, formigamento, asfixia, dor no peito... Todos ela começou a sentir, um por um, até que as botas sumiram de novo e ela escutou uma voz conhecida logo depois:

— Catherine?

— Ai meu Deus, Sam? — a loira murmurou e voltou a esbofetear a cabine, vendo um par de sapatilhas azuis aparecer no seu campo de visão. — Samanta? É você? Sam, por favor, me tire daqui!

O trinco voltou para “livre” e Catherine viu a amiga olhar para ela assustada quando ela abriu a porta e correu para fora, quase esbarrando com a morena. Apoiando-se com as duas mãos na bancada em frente ao espelho, ela fechou as pálpebras com força e respirou fundo.

— Você está bem? — a australiana perguntou, hesitando em aproximar-se.

Catherine levantou o rosto e abriu as obsidianas azuis, respirando com dificuldade. Respira, inspira, respira, inspira, ela tentou se recordar das instruções das aulas de ioga que Andrea tinha marcado para ela aos sábados e levou uma das mãos a testa, sentindo a sua temperatura corporal abaixar.

— O que aconteceu?

— Alguém... Alguém me prendou dentro da cabine. Eu... Eu estava quase tendo um ataque de pânico. — ela respondeu e olhou-se no espelho. Estava pálida, quase sem cor.

Sam foi até ela e colocou uma mão no seu ombro, apertando-o.

— Tudo bem ficar nervosa as vezes. — ela murmurou, lembrando-se do que a loira dissera para ela no dia anterior, com um sorriso afetuoso nos lábios.  Catherine olhou para ela e piscou, sentindo-se um pouco mais calma. — Você viu quem foi?

Uma lágrima trilhou um caminho sinuoso pela sua bochecha e ela a limpou, com os dedos tremendo:

— Não, mas era um homem. Eu tenho certeza.

Sam sentiu seu corpo ficar tenso, porém tratou de disfarçar. A loira aparentava estar mais tranquila, porém tremia, não só as mãos, mas o resto do corpo inteiro. A australiana tirou o moletom que usava e o jogou sobre os ombros da garota, encarando-a pelo reflexo.

— Deve ter sido uma brincadeira de mau gosto, ok? — ela acariciou o cabelo da amiga e deu mais um sorriso carinhoso, tentando evitar com que as lembranças da noite passada invadissem sua mente. — Um garoto não entraria aqui, tem câmeras no corredor. Quem quer que seja provavelmente estava tentando te assustar.

Catherine assentiu, segurando as mangas do moletom em volta do pescoço.

— Vamos falar disso depois. Eu tenho aula de História agora e você sabe como meu pai é, ele não tolera atrasos. — Sam revirou os olhos de brincadeira e trombou de leve com a sua bolsa na cintura da loira, arrancando-lhe um pequeno sorriso. — Vem, vamos sair daqui.

*

— Pronto, aqui está. Agora vá para casa e descanse. — foi o que a enfermeira, uma pequena mulher de cabelos ruivos e sorriso amigável, disse para Erin assim que voltou da sala do diretor, carregando um papel em mãos.

A garota assentiu e pegou a autorização que lhe era estendia, descendo da maca da enfermaria com um impulso. O lugar não tinha nada demais, as paredes eram de um tom de verde claro que deixava qualquer um enjoado e havia apenas duas camas minúsculas perto da porta junto com um pequeno armário.

Erin tinha dito que estava dor de cabeça pela medicação do hospital e precisava ir para casa. Ela quase pode jurar que os olhos da enfermeira brilharam de excitação quando a mulher ligou uma coisa à outra e reconheceu que ela era a garota que tinha sido atacada na represa. A mulher, entretanto, não fez nenhuma pergunta sobre e a liberou sem muita burocracia, coisa que Erin agradeceu mentalmente assim que pôs os pés para fora do lugar.

Ela colocou a mochila em um ombro só e começou a cantarolar Stop Crying Your Heart Out. Quando dobrou o corredor dos armários e passou pelo banheiro feminino, teve a impressão de que estava sendo seguida e parou no lugar, hesitando antes de virar-se para trás.

— Boa tentativa, Ethan, mas seu charme não funciona comigo. Sinto muito. Eu vi oito temporadas de Dexter. — ela disse e olhou para todos os lados antes de voltar-se para frente e retornar a caminhada dessa vez com passos rápidos, apertando a alça de couro da mochila contra a clavícula por debaixo do uniforme.

Os corredores estavam vazios, exceto por um ou outro aluno perdido. Erin virou o corredor principal em direção a saída e estava passando pelo bebedouro quando ouviu uma porta ranger atrás de si e sentiu duas mãos a agarrando de modo firme.

A primeira foi direto para o seu rosto e se posicionou entre sua boca e o nariz, impedindo-a de pedir ajuda. A segunda enlaçou sua cintura e a puxou pela blusa até a minúscula sala que ela foi descobrir depois ser a do zelador. As mãos a soltaram e ela estava pronta para gritar no momento em que a luz — uma lâmpada amarela suspensa apenas por um fio — foi ligada e ela reconheceu quem estava em sua frente com um sorriso no rosto.

— Mas que... O que você pensa que está fazendo? — ela por pouco não deu um soco no braço de Kurt, que conseguiu pará-la a tempo, segurando seu pulso.

— Queria te fazer uma surpresa. — o garoto disse e a soltou, descendo as mãos pela cintura da garota, fazendo-a revirar os olhos.

— Claro, me fazendo ter um ataque cardíaco? Eu literalmente acabei de voltar da enfermaria. — Erin reclamou, balançando a autorização na frente do nariz do rapaz.

Kurt riu.

— Talvez. — ele piscou um dos seus olhos azuis enigmáticos na direção da garota e a puxou para mais perto de si, tirando o papel das mãos da garota.

— Você não devia estar tendo aula?

— Devia, mas fui dispensado mais cedo por causa do treino. — ele explicou e avançou sobre ela, afastando os seus cabelos do seu pescoço.

— Não. — ela afastou-se, conseguindo dar apenas um passo para trás pelo fato do lugar ser minúsculo. — Hector está no hospital.

— Você quer dizer: o seu ex-namorado está no hospital. — ele a corrigiu, vendo-a cruzar os braços.

— Isso não... Isso não tem nada a ver com ele ser o meu ex-namorado ou não. — ela rebateu.

As mãos do jogador foram de encontro as suas e as descruzou, colocando-as em volta do seu pescoço enquanto as dele desciam novamente em direção a sua cintura.

— Ele se machucou, para valer, e eu vou visita-lo amanhã. — ela continuou a falar, sendo interrompida pelos lábios quentes do rapaz em contato com a sua pele. — É sério, deve ter um batalhão de policiais circundando o perímetro do hospital. Não posso aparecer com roxões no pescoço.

— Ok, eu prometo não deixar marcas. — ele sussurrou e voltou a fazer uma trilha de beijos, parando quando sentiu as mãos de Erin descerem do seu pescoço e pararem no seu no peito, o empurrando com um olhar sério no rosto.

— Tudo mudou agora, Kurt. Sam está de volta. — ela disse, vendo-o deixar os braços caírem ao lado do corpo. — Eu vi o jeito que você olhou para ela no auditório. Você gosta dela. Eu não quero ficar no meio de vocês dois, tenho problemas demais na minha vida. Não preciso de mais um.

— Erin...

— É entediante, como ver Titanic, só que sem a parte do iceberg. — a garota o ignorou, torcendo o nariz. — E eu estou tentando fazer as coisas do modo certo agora, começando por dar um fim no nosso... seja lá o que isso que nós temos chame. — ela completou e o encarou. Ele estava sem expressão e em silêncio, com a luz amarela fantasmagórica brincando de desenhar formas em seu rosto.

Kurt encarou-a por um minuto antes de sorrir com ironia. Os olhos azuis queimando-a por dentro feito fogo antes dele inclinar-se sobre ela e passar o braço por trás do seu corpo. Erin achou que ele ia aproveitar a oportunidade de estarem sozinhos para tentar novamente beijá-la, mas logo ela ouviu o barulho que a maçaneta fez atrás de si e entendeu que ele estava apenas abrindo a porta para que ela fosse embora.

— Vou estar te esperando. Amanhã à noite, atrás do hospital.

Erin assentiu timidamente antes de virar-se. Quando o fez, o garoto a impediu levantando o outro braço na frente da sua passagem.

— Eu não desisto tão fácil assim. — o rapaz murmurou. — E eu gosto de você, não dela. — ele pegou uma mecha de cabelo dela e colocou atrás da sua orelha, fazendo-a encará-lo.

A morena tentou pensar depressa, vasculhando no seu repertório de piadas sem graça uma que encaixasse perfeitamente naquela situação. Não encontrando nenhuma, ela desviou o olhar.

— Isso... nós dois... não é certo. — sussurrou.

— Desde quando você é alguém para dizer do que é certo ou errado, Erin? — ele sorriu de lado.

O espaço entre os dois era tão pequeno que a garota podia jurar que se o seu coração batesse um decibel a mais o garoto iria escutar. Ela suspirou e mordeu a parte interna da bochecha, resolvendo ser direta:

— Me deixe ir, por favor.

Se o rapaz ficou magoado, ela não soube. Ele não disse nada, apenas concordou com a cabeça e lentamente deixou o caminho livre para que ela virasse as costas para ele e fosse embora.

Erin não demorou mais um minuto. Saiu da sala do zelador sem saber o que estava sentindo e seguiu em direção ao estacionamento da escola. Eram tantos problemas jogados em suas costas que ela não queria continuar aquele relacionamento enrolado com o jogador para ter que aguentar o peso de mais um.

Os dois tinham construído aquela amizade cheia de altos e baixos depois que Sam embarcou rumo à terra dos cangurus. O garoto estava emocionalmente afetado e Erin também, por mais que ela odiasse admitir. Eles já tinham ficado uma vez, quando ele e a australiana namoravam e a garota lembrava-se de todos os detalhes daquela noite porque fora a semana anterior da festa em que Lexi desaparecera.

Kurt havia brigado com Sam e ela estava tentando superar o fato de que Hector estava saindo com uma garota do primeiro ano e parecia ignorá-la. O seu irmão mais velho estava em uma festa da faculdade e Erin o seguiu, esbarrando com o moreno de olhos azuis na entrada do lugar.

Os dois se afastaram para um canto isolado do campus e conversaram durante toda a duração da rave até que em um momento — ela não se lembrava especificamente qual — eles ficaram em silêncio e o beijo aconteceu. Foi tão natural que quando eles se separaram, o clima continuou descontraído e eles continuaram a conversar, como se nada tivesse acontecido.

Foi só quando deu a hora de ir embora e Tyler McCarthy descobriu que a irmãzinha caçula tinha ido de penetra e começou a gritar com ela que Kurt se manifestou, oferecendo para leva-los para casa. Tyler resmungou bêbado durante a viagem inteira, dizendo que Erin era irresponsável e que seus pais o matariam caso soubesse que ela tinha ido atrás dele em Auckland, mas nenhum dos dois deu ouvidos.

O sedã preto parou na entrada da casa dos McCarthy e o universitário saiu do automóvel às pressas, cambaleando para vomitar no banheiro. Erin e Kurt ficaram rindo da situação até que ele aproximou-se dela do mesmo modo calculado e estrategista que ele invadia a zona de defesa do time adversário no hóquei e a pegou de surpresa, beijando-a.

O casal ficou se beijando e os dedos do rapaz esbarraram no fim da blusa da garota. Erin sorriu entre o beijo e tirou a jaqueta jeans que vestia sem parar de beijá-lo, jogando-a em qualquer canto. Tudo estava indo maravilhosamente bem. Ela levantou os braços para cima para tirar a peça de roupa, parando ao ver um vislumbre pelo espelho retrovisor.

O que foi aquilo? — ela perguntou e puxou a regata para baixo, encolhendo-se contra o estofado do banco do passageiro tão rápido que sem querer bateu o cotovelo no encosto da porta, provocando um estalo que ecoou pelo automóvel.

Kurt tirou suas mãos de volta dela e inclinou o pescoço para olhar para trás, a procura de algum pervertido. A rua sem saída estava vazia e tanto a casa dos McCarthy quanto a casa vizinha tinham suas luzes apagadas.

Não é nada. Não tem ninguém lá fora. — o garoto murmurou, voltando-se para ela. Tinha os lábios inchados, o cabelo escuro desarrumado e a roupa amassada. Erin não duvidava de que estava com a aparência idêntica e soltou um risinho assim que sentiu o moreno começar a distribuir beijos pela base do seu pescoço. Um arrepio percorreu pela espinha e no momento em que cogitou fechar os olhos para aproveitar a sensação, algo lá fora chamou sua atenção.

Não! — ela o empurrou com força, respirando todo o oxigênio que tinha lhe faltado durante os beijos de uma vez só, voltando a encostar as costas no banco do passageiro.

Tinha alguém lá fora. Alguém de cabelos loiros e grandes olhos verdes que adorava colecionar segredos e chantagear as pessoas.

Erin quis se socar. Droga, ela estava tão ferrada.

Eu... Eu preciso... eu preciso acordar cedo amanhã e.... Sam... Ela não... Vocês ainda namoram... É melhor eu ir embora. — a garota gaguejou, sussurrando nervosa enquanto recolhia sua jaqueta do banco de trás e a passava as mangas pelos braços.

Kurt suspirou e assentiu, travando o maxilar e agarrando o volante com força. Os seus olhos azuis faiscavam feito relâmpagos com a luz do poste da rua. Erin olhou para o rosto dele no escuro e abriu a boca para falar mais alguma coisa, porém desistiu e abriu a porta para sair do carro.

Eles não se encontraram mais durante aquela semana, mas foi só Sam aterrissar em Melbourne que eles ficaram atrás das arquibancadas, no vestiário, no quarto da garota, no banheiro dos funcionários do Kai’s ou em qualquer outro lugar escondido.

Erin atravessou o estacionamento do prédio escolar o mais rápido que conseguiu. Não queria ficar sozinha ali por muito tempo e por isso não demorou a achar a sua velha caminhonete, estacionada debaixo da sombra de uma grande árvore.

Ela abriu a porta do automóvel com um solavanco e jogou sua mochila no banco do passageiro enquanto se acomodava no do motorista e escutava as molas rangerem com o seu peso por debaixo do estofado.

Murmurando xingamentos contra a velharia, ela fechou os olhos e respirou fundo, encostando a cabeça no encosto. Abriu os olhos pronta para girar a chave na ignição e engatar a marcha ré quando lembrou-se que não podia sair sem a autorização e ela tinha ficado com Kurt.

— Merda. — ela revirou os olhos e colocou-se para fora do carro. Assim que o fez, notou uma coisa que não tinha visto antes: um envelope, encaixado entre o vidro e os limpadores de para-brisas da janela da frente.

A garota olhou para os lados procurando por quem quer que tenha feito aquilo, mas não encontrou ninguém e suspirou enquanto curvava-se sobre o capô para conseguir alcançar o papel.

Seus dedos foram de encontro a abertura do envelope e ela o abriu, deixando uma polaroide cair em cima de seus all stars. Erin virou o conteúdo em mãos de um lado para o outro à caça de um remetente antes de agachar-se para pegar a fotografia. Quando a apanhou e olhou para o que estava diante dos seus olhos, sentiu o mundo parar de girar e soltou uma exclamação.

Era ela, nos braços do jogador, minutos atrás.

Erin olhou para os lados novamente e rasgou a fotografia o máximo de pedacinhos que conseguiu, atirando-os no asfalto. A possibilidade dela estar sendo observada a fez desistir de voltar para a escola e ela abriu a porta da caminhonete decidida a fugir o mais rápido dali, assustando-se quando escutou o celular vibrar ao seu lado no banco do passageiro.

Ela o pegou e desbloqueou a tela, vendo a mensagem piscar diante dos seus olhos:

“Quantos segredos você consegue guardar?”


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Notas finais do capítulo

Erin, Erin, Erin... assim não dá pra te defender, linda.

Perguntinhas do capítulo: Quem prendeu a Cath no banheiro? Eu sou a única que ama o pai da Sam e o jeito como ele age com ela? MALCOLM ME ADOTA. Kurt é confiável ou vocês acham que ele atira para todos os lados? Um passarinho verde me contou que essa segunda opção é bem favorável hein... O que Ethan sabe sobre a Erin e o que Erin sabe sobre o Ethan? Tan tan tãnnnnnn.

Aproveitando o espaço, vocês preferem festas temáticas (havaiana, hell x heaven, fantasia, anos 60 e etc) ou preferem festas normalzinha mesmo? Eu particularmente acho que temáticas virou o marco da fic. Anyway, escrevam sua opiniões aí nos comentários, vou adorar ler cada uma ♥

http://ask.fm/sterollarke

Beijossss.