Cold Blood escrita por Miss America


Capítulo 7
Capítulo 6 — Bad Wolf


Notas iniciais do capítulo

(Lobo mau)

Wow, eu tenho muitas coisas para falar aqui. Então vamos lá:

1- HIATUS: Não vou falar sobre ele, porque já comentei sobre na minha ask. A boa notícia é que esse capítulo tá enorme em compensação a minha demora, então aproveitem.

2- NOVO TRAILER: Sim, sim, sim, minhas caras e meus caros Watsons, temos um novo trailer!!!!! *dancinha*. Vocês podem conferi-lo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=wmi2mTW93Rk. Tá lindo, tá bonito, tá xavoso, tá tudo de bom. Eu aprendi a mexer mais no Vegas (obrigada Deadler, você mora no meu core) e resolvi fazer outro, mais elaborado, também como recompensa pela minha demora. Espero que gostem.

3- REESCRITA: Vocês já devem estar sabendo mais ou menos, e quem não sabe, está sabendo agora. A fic foi reescrita, mas não foram todos os capítulos. Na real eu mais acrescentei cenas do que reescrevi. Aconselho a vocês relerem para não perderem nenhum detalhe (afinal, estamos em uma história de suspense e todos os detalhes são cruciais, né non?). Mas caso vocês não queiram ler tudo de novo, podem ir na minha ask (eu estou sempre por lá) e me perguntarem que eu explico tudinho de bom coração.

4- RECOMENDAÇÕES: Lola e Mabel, eu amei muito a recomendação de vocês. Podem ter certeza que vocês tem um lugarzinho no meu coração, viu? Muito muito muito obrigada, de verdade. Eu fiquei muito feliz. Todas as leitoras que recomendaram a fic podem escolher uma cena para acontecer na história. A Milly já escolheu a dela e eu amei forte, então me mandem uma mp para a gente conversar, ok? E de novo, obrigada.

5- WATTPAD: A história no wattpad está desatualizada e, como de costume, eu posto aqui primeiro para depois postar lá. Não estranhem isso, é que eu sou mais acostumada com o Nyah mesmo, hihi.

Bom, agora bora ler o capítulo. O capítulo é todinho de vocês, leitoras, e dos meus amiguinhos, Trícia e Gabriel (não fique com raiva de mim, i love you). ESPERO QUE GOSTEM.

Músicas do capítulo:
RIVVRS - Ready To Begin
Dorothy - Wicked Ones
Novo Amor - Cold
Ruelle - Monsters



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Capítulo 6

BAD WOLF

 

 

Catherine terminou de vestir o vestido rodado verde-água que havia ganhado de seu pai no Natal do ano anterior e trocou os tênis que tinha ido a escola naquela manhã por um par de sandálias baixas. Ela prendou o cabelo em uma delicada trança lateral, caminhou pelo longo corredor do primeiro andar e foi direto em direção a sala de estar, sentando-se no sofá de couro de sua mãe.

Os móveis da sala de estar eram iguais os outros do resto da casa: brancos, modernos e elegantes. Os olhos de Catherine foram desviados da mobília para seu relógio de pulso e ela suspirou. Andrea tinha combinado de ir com ela ao restaurante que os pais de Megan tinha aberto no centro da cidade, não muito longe de onde ela morava, mas a mulher estava atrasada uma hora e meia. Catherine suspirou mais uma vez e remexeu-se no lugar, sentindo-se incomodada com o silêncio em que a mansão se afundava. Ela contou até dez e refez a trança duas vezes, tentando fazer qualquer coisa que a distraísse. Quanto mais ela se recusava a pensar em tudo o que estava acontecendo, ela se lembrava do que tinha acontecido mais cedo, no hospital quando fora visitar Erin.

A loira andou lentamente até a ala dos pacientes em observação e parou na porta do quarto no exato momento em que Erin empurrava o garfo de volta ao prato em sua frente.

Eu não vou comer essa coisa nojenta. — a morena murmurou, fazendo uma careta. A chuva forte golpeava bruscamente o outro lado da janela do edifício. Uma enfermeira baixinha vestida de branco apareceu e pediu licença, recolhendo a comida intocável pela paciente, anotando alguma coisa ilegível em uma prancheta que trazia consigo.

Erin cruzou os braços e balançou os pés cobertos pelo lençol azul turquesa. Catherine acenou timidamente com uma das mãos e entrou no quarto calculando os passos, recebendo uma rajada de ar frio ao fazê-lo. Sam estava lá, com a mesma roupa do dia anterior, sentada no braço da poltrona branca ao lado da cama. Seu olhar estava perdido e ela tinha grossas olheiras debaixo dos olhos azuis por ter passado a noite inteira rolando na cama. Ela segurava a alça da sua bolsa transversal com tanta força que os nós de seus dedos estavam brancos.

Catherine engoliu em seco e encarou a pequena televisão do cômodo.

O canal de notícias locais transmitia uma reportagem sobre o que acontecera com Erin e Hector na represa.

O casal de adolescentes, de acordo com as informações cedidas pela polícia, foi atacado por um anônimo utilizando uma máscara inspirada na franquia de filmes “Pânico”, obras do consagrado diretor Wes Craven, hoje símbolo da cultura pop. O local é o mesmo onde um cadáver de uma jovem foi encontrado. — A repórter com aparência jovem informou. Atrás dela era possível enxergar o lugar abandonado onde havia acontecido a tragédia. Mesmo chovendo, vários policiais estavam no local e uma grande faixa amarela da polícia estava cobrindo todo o perímetro. — Investigações estão sendo feitas, mas os nomes das vítimas não foram divulgados.

O horário de visitas acaba daqui a vinte minutos. — Erin reclamou e com um movimento rápido, pegou o controle ao lado da cama e apertou o botão de desligar.

Catherine internamente suspirou aliviada, brincando com os berloques da sua pulseira. Sam se mexeu desconfortavelmente na poltrona, desviando sua atenção para a chuva trilhando linhas paralelamente tortas no vidro da janela em uma dança deprimente.

Vocês vão continuar brincando de estátua e me encarando como se eu fosse a reencarnação do Michael Jackson? — Erin voltou a quebrar o silêncio, sem conseguir mais aguentar aquela situação constrangedora.

Nós queríamos ver se você está bem. — Catherine murmurou, do modo mais delicado o possível.

Os lábios de Erin se contorceram em um sorriso irônico e ela descruzou os braços, puxando o lençol até que ele a cobrisse quase por inteira.

Eu estou ótima, barbie, muito obrigada por perguntar. Vocês podem parar de fingir estarem preocupadas e irem embora agora.

Tudo então aconteceu muito rápido.

Catherine mal conseguiu acompanhar. Ela pode jurar que o sangue de Sam ferveu de raiva, pois ela pulou do lugar, caminhou até contornar a cama da amiga, arrancando com força o tecido que a outra estava agarrada, fazendo-a olhar sem reação.

Você pode parar de ser egoísta uma vez e pensar em algo que não seja você? — gritou Sam, sem conseguir esconder a ira, assustando Catherine e até mesmo a própria Erin:

Caso você tenha dado um passo errado lá dentro daquela maldita represa, nós podemos ir para a cadeia e a culpa vai ser sua, Erin!

Os punhos da morena estavam fechados em torno da peça, como se ela fosse escapar de suas mãos caso ela a deixasse e ela precisou respirar fundo umas três vezes antes de jogá-lo de volta para Erin, fazendo com que um bilhete amassado voasse em direção aos pés de Catherine com o movimento.

O que é isso? — Catherine perguntou, apanhando o papel do chão. Quando viu Erin arregalar os olhos e afastar-se da cama para pegá-lo, ela foi mais rápida, dando um passo para trás, esticando o seu longo pescoço para longe dela:

— “Primeira regra do jogo: não contar a polícia. É como jogar dominó, quando um cai, o resto vai junto. Abram o bico para os detetives e vocês vão acabar feito Alexia: debaixo da terra.” — ela leu e leu de novo só para conferir se era mesmo o que ela estava pensando. Seus olhos imediatamente encararam Erin e ela sentiu de repente o fôlego sumir e uma vontade imensa de colocar para fora todo o café da manhã que tinha tomado antes de pegar o carro da mãe emprestado para ir vê-la. — Isso é para nós? Erin, quando... Quando você recebeu essa mensagem?

Sam começou andar de um lado para o outro, com as mãos na cabeça.

Quando eu acordei, estava debaixo do meu travesseiro. — Erin explicou, com a cabeça abaixada. — Eu só fui à represa porque o corpo ainda não tinha ido para a autópsia, ou seja, eles ainda não tinham tirado ele da cena do crime e ok, eu sei o que vocês estão pensando, fui uma estúpida. Achei que podia tirar proveito disso e descobrir de quem era o cadáver antes de todo mundo e.... Eu acho que vocês deviam ser mais simpáticas comigo, eu me arrisquei por vocês.

O quê? — Sam a interrompeu e a encarou, incrédula demais para continuar ouvindo uma bobagem daquelas. Catherine deu um passo para o lado, por precaução. — Me desculpe, mas eu não me lembro de ter pedido para você entrar em uma cena do crime, bancar a super-heroína e depois fugir. Que droga, fugir não vai adiantar nada!

Engraçado isso vindo de você, Samanta. Você não pensou duas vezes quando teve oportunidade para a Austrália, um ano atrás. — rebateu a outra, cruzando os braços. As bochechas de Sam coraram e ela calou-se no mesmo instante. — Aposto que foi fácil virar as costas para suas amigas quando elas mais precisavam de você.

Foi uma perda de tempo vir aqui. — Sam sussurrou e andou até a poltrona a fim de recolher suas coisas. Depois que jogou tudo na bolsa e a pendurou no ombro, olhou para a loira enquanto trocava o peso de uma perna para a outra. — O meu carro morreu no estacionamento vindo para cá. Preciso de uma carona.

Meninas, por favor, sem brigas. Agora não é momento para isso. — Catherine suspirou e deu uma cotovelada discreta nas costelas de Erin. Ela não entendia o que havia acontecido entre as duas para elas se odiarem tanto de uma hora para a outra. Tudo bem, Sam tinha pegado o voo para Melbourne assim que teve chance e Catherine havia se afastado depois que Lexi desapareceu, mas Erin não era do tipo de garota que se importava com esse tipo de coisa.

Eu menti para a detetive, ok? — Erin começou a se desculpar, depois de fazer uma careta e segurar um palavrão pela dor repentina. — Eu disse que estava com Hector porque queria me despedir de Lexi, não queria ir sozinha e blá bla blá. Um louco apareceu e nos atacou, sem motivo algum. Se nós viramos suspeitas ou se a droga do cadáver desapareceu não foi culpa minha, eu não tenho nada a ver com isso. Armaram para mim.

Sam ouviu tudo, mas continuou calada. Catherine engoliu a seco e suspirou, era o máximo que ela podia fazer sem que as duas saíssem nos tapas. Ela fez questão de mudar de assunto:

Eu acho que com essa mensagem fica claro que a pessoa que tentou esfaqueá-la é a mesma que está mandando as mensagens para a gente.

E quer me colocar na cadeia. — Erin acrescentou, emburrada.

A loira assentiu.

É a nossa primeira pista. Alguém que odeia todas nós. Você se lembra de mais alguma coisa?

Não muita coisa que nos ajude a brincar de FBI. — Erin disse e deu de ombros, encarando a amiga. — A pessoa estava usando roupas pretas. Eu não sei, podia ser um homem, mas também uma mulher. Talvez Hector lembre de algum detalhe.

Hector ainda não acordou e eu duvido muito Christina deixar a gente entrar lá e falar com ele sem nos submeter a um raio-x antes. — Sam foi sincera e Catherine fez uma careta.

— E se Sarah...

— Impossível. Lexi disse que ela estava de viagem marcada para Christchurch no dia seguinte. — Erin interrompeu a loira, cruzando os braços. — E nós juramos não falar sobre isso. Ninguém sabe, a não ser que alguma de nós tenha contado. — ela terminou, olhando diretamente para Sam que apenas a encarou de volta, com uma sobrancelha erguida.

Então estamos na estaca zero? — Catherine perguntou mais do que afirmou, olhando para as amigas, com medo de que a mais alta devolvesse a provocação.

Mas eu tenho os meus palpites. — Erin voltou-se para ela, depois de perceber que Sam não iria discutir. — Kurt disse que Ethan devia ser investigado e talvez ele tenha razão. Qual é, ele desapareceu do nada e depois resolveu dar as caras justo no dia que o corpo na represa é encontrado. Fala sério, isso é bizarro.

Sam mordeu os lábios e começou a andar de um lado para o outro, abraçando os próprios braços. Catherine notou a sua inquietação, mas ignorou e voltou-se para Erin:

Ele ficou um ano no reformatório, não acho que...

Não pode ser ele. — a australiana a interrompeu, virando-se para as duas, chamando a atenção de ambas. — Ele mudou-se para a casa de Lexi, junto com a irmã, mais ou menos uns dois dias atrás. — ela murmurou com os ombros encolhidos, sem conseguir encará-las.

Você estava... escondendo isso da gente? Exatamente quando você pretendia contar isso, Samanta? No meu velório? — Erin grunhiu e virou-se para Catherine. — Pronto, matamos a charada. Já descobrimos quem está por trás das mensagens. Ethan, O Estranho, descobriu que a gente o colocou na cadeia e está atrás de vingança.

Eu só não contei porque não tinha motivos para isso! — Sam defendeu-se. Catherine a encarou, sentindo-se um tanto decepcionada por ela não ter lhe contado a novidade. — Pelo amor de Deus, Erin, eu fiquei de olho nele o dia inteiro ontem. Você acha que o que? Que eu estou tirando uma com a sua cara? Estamos no mesmo barco, no mesmo banco de réus, tudo o que acontece com você também acontece comigo!

Pelo amor de Deus, você, Samanta! — a morena esbravejou, negando com a cabeça. — Ele está morando na casa de Lexi, na porra da casa dela! Isso não é suspeito o suficiente para você?

Ele morar ou não na casa de Lexi não o faz mais culpado! Não podemos acusá-lo de uma coisa que ele não fez só porque o seu instinto de detetive diz que ele fez. — Sam devolveu no mesmo tom, olhando para Erin com raiva, fechando os punhos tamanha irritação. — Por que ao invés de apontar o dedo na cara das pessoas nós não procuramos por pistas? — a australiana sugeriu, um pouco mais calma depois de respirar fundo. — Nós mesmas, sozinhas, sem a ajuda da polícia. Com certeza essa pessoa que está fazendo tudo isso, seja Ethan ou não, tem ligação com Lexi, então vamos revirar as coisas dela, procurar pela Sra. Grimes, qualquer coisa que nos ajude a limpar o nosso nome.

Erin murmurou baixinho:

Procurar a mãe de Lexi não vai nos ajudar em nada.

Cala a boca, Erin, que droga. Você ir na represa também não nos ajudou em nada e mesmo assim você foi. — Sam argumentou, cansada de tantas provocações. A garota hospitalizada revirou os olhos e mordeu a parte interna da bochecha, se controlando para ficar calada.

E se o anônimo atacar, de novo? — Catherine se pronunciou, vendo Sam encará-la com uma expressão aflita. — O que vamos fazer, Sam? Nós precisamos contar para a polícia que estamos sendo ameaçadas, é o certo. Procurar pistas não é com a gente, nós somos estudantes de ensino médio, não detetives.

— Eu não sei. Vamos focar apenas nisso agora, ok? A polícia não vai acreditar na gente e mesmo que acredite tudo o que a gente fez na festa pode vir à tona e.... Nós mentimos para a polícia e colocamos a culpa outra pessoa, isso é crime. — ela murmurou e a loira suspirou. Ficar sem fazer nada poderia ser pior. A maior prova disso estava lá, no quarto ao lado, dormindo profundamente por culpa dos analgésicos.

Então eu acho melhor nós não nos encontrarmos mais. — Catherine disse, encolhendo os ombros, não por estar de acordo com a ideia, mas sim por medo do que poderia acontecer caso continuassem juntas.

Não em público, para não levantar suspeitas. — Sam concordou, achando que o acordo seria uma boa ideia, assentindo. — Vamos marcar de nos encontrar em algum lugar, todos os dias.

Catherine não disse mais nada e Erin também não.

A enfermeira entrou no quarto segundos depois, avisando que Erin tinha uma consulta e as duas precisavam ir. Catherine despediu da amiga com um beijo no rosto e deu uma carona para Sam até a casa dela. A chuva havia parado e nenhuma das duas falou nada durante o trajeto. Assim que Sam entrou para dentro, a loira continuou com o carro no mesmo lugar, segurando o volante com as mãos tremendo.

A casa de Lexi, que agora pertencia a Ethan, estava bem a sua frente. Era uma casa vitoriana, como todas as da cidade. O gramado continuava bem aparado e a caixa de correspondência ainda tinha o sobrenome dos Grimes. Catherine não conseguia acreditar que a residência estava sendo mesmo ocupada por Ethan. Tudo bem, ela não fora a favor da ideia de colocar a culpa nele desde o começo e, de fato, não esperava que ele fosse preso, mas se ele fora algemado até a delegacia naquela noite isso significava que os policias tinham achado alguma coisa de errado com ele.

A loira respirou fundo mais umas três vezes.

Quando ia girar a chave na ignição para cair o fora dali, um movimento a fez parar. A porta da garagem começou a se abrir e Catherine entrou em pânico. Ela tentou subir o vidro do carro para esconder-se atrás dele, mas o automóvel estava desligado e se ela o ligasse, ele ia fazer barulho. Com medo de ser vista, ela fez a primeira coisa que pensou, soltou os cabelos e pegou um panfleto há muito tempo esquecido dentro do automóvel, colocando-o na frente do rosto.

A garota ficou encarando as propostas da ONG ativista do panfleto por alguns minutos e levantou a cabeça apenas o suficiente para ver Ethan tirando a sua moto da garagem. Ele subiu em cima das duas rodas e deu partida sem olhar para trás. Catherine ficou olhando ele se afastar e quando viu, já estava ligando o carro, pisando no acelerador. Tomando cuidado para manter distância do rapaz, ela lhe deu uma vantagem de cinco minutos e o seguiu até saírem da área urbana de Santa Kennedy e entrarem em uma estrada de cascalho abandonada, na parte rural onde as fazendas pequenas da região davam lugar a uma vasta vegetação.

As placas indicavam que eles estavam nos limites do munícipio e Catherine imediatamente reconheceu aquele caminho. As árvores densas e o cheiro de terra molhada... eles estavam perto do lago Waikidamo. Era o único lugar em Santa Kennedy onde tinha água. A praia mais próxima ficava em Bethells Beach, algumas horas dali.

Ethan desceu da moto e olhou para os lados, desaparecendo na floresta. Catherine estremeceu. Ela não sabia o que fazer e não tinha coragem de seguir Ethan para onde quer que ele tenha ido. Ela suspirou e pegou o seu celular na mochila, discando para Sam. A ligação caiu na caixa postal e ela desistiu, voltando para casa com inúmeras dúvidas na cabeça.

Sentada ali, sozinha em frente a lareira da sala, esperando sua mãe dar algum sinal de vida, entre um quadro de De Kooning e outro de Rauschenberg, a loira escondeu o rosto entre as mãos com vontade de chorar.

*

O tempo passou mais rápido do que Sam gostaria. O sol se escondeu entre as montanhas e o clima abaixou suas temperaturas o suficiente para que a australiana tirasse do armário uma jaqueta em um tom de marrom, que combinava com o seu tom bronzeado de pele, e calças jeans.

Ela vestiu a roupa em tempo recorde e foi para a varanda dos fundos de sua casa, sentando-se nos degraus da velha escada de madeira que dava para o quintal dos Grimes, escutando-os ranger. Sam passou a mão pelos cabelos e desviou o olhar para a piscina e o balanço enferrujado nos fundos do quintal, sem vontade nenhuma de entrar e ajudar Malcolm com a mesa.

O jantar estava marcado para as oito e já eram sete e meia. As luzes da casa dos Grimes estavam acesas e a movimentação nos quartos de cima da residência indicavam que Ethan e Annie não demorariam.

— Nós costumávamos ficar aqui caçando vagalumes quando você era pequena. — Malcolm disse, encostado na porta da varanda atrás de Sam. Ele aproximou-se da filha e sentou-se ao seu lado, fazendo carinho em suas costas. — Sua mãe me xingava dizendo que você iria pegar um resfriado.

— E eu respondia que garotas fortes não pegavam resfriados, elas davam uma surra neles. — ela completou e tentou sorrir pela lembrança feliz, mas não conseguiu. A imensa vontade chorar veio e ela se perguntou se Catherine e Erin, que havia sido atacada, também estavam assustadas como ela.

— Ei, tudo bem? — seu pai percebeu. Ela o encarou antes de negar com a cabeça, deixando que as lágrimas caíssem livremente. Malcolm a abraçou meio sem jeito por não vê-la chorar há muito tempo. — É por causa de sua mãe? — ele perguntou. — Sam, sou seu pai, você pode confiar em mim.

Sam fungou. Sua cabeça estava a mil, com todas as engrenagens trabalhando de uma vez só. As provocações de Erin só lhe fizeram se sentir mais desesperada e culpada.

— A polícia está atrás de mim, eles acham que eu e as meninas temos alguma coisa a ver com o corpo encontrado na represa. — ela murmurou, atropelando as próprias palavras. — Agora o corpo desapareceu novamente e.... Não sei o que pensar ou o que fazer, eu estou confusa.

Malcolm abraçou-a mais forte.

— Você não precisa pensar em nada, isso é com os policiais. — ele garantiu, sussurrando palavras de conforto para acalmá-la. — Eu já sabia disso tudo antes de você me contar, para ser sincero. A polícia marcou uma espécie de reunião, com os pais de Catherine e os de Erin no dia que acharam o corpo. Eu só... estou surpreso com sua reação. Desculpe por não ter lhe contado, talvez você não estaria chorando agora.

Sam limpou as lágrimas com as mãos, parecia que fazia um mês desde que tinham achado um corpo, mas na verdade não havia nem se passado dois dias direito.

— Tudo bem. Eu fico triste com toda essa história, mas... Estou feliz. Por estar aqui, agora, em Santa Kennedy, com você. — ela confessou. O professor levantou as sobrancelhas, surpreso. Ela riu da expressão confusa dele. — Você sempre está aqui para me apoiar.

— Sempre, antes de qualquer coisa. Você é minha filha, eu te defenderia mesmo depois de cometer um crime. — Malcolm sorriu para ela e a beijou nos cabelos. — Os pais de Erin insistiram para que nós contássemos a vocês que estávamos ciente de tudo, mas eu e Andrea fomos contra. Vocês são adolescentes, não queríamos tirar a liberdade de vocês de ter uma vida normal.

— Obrigada, mas acho que isso não adiantou muita coisa, tem viaturas rondando a droga da nossa rua de três em três horas.

— Já conversei com os detetives sobre isso. — Malcolm desviou o olhar por um segundo, como se procurasse pelas palavras certas. — Eles não podem acusar menores de idade sem um responsável por perto ou um advogado de defesa, portanto todas as acusações contra você, Catherine ou Erin não valem diante da justiça. Você não precisa se preocupar com isso.

Sam sentiu-se imensamente aliviada com a notícia apesar de saber que ela e as amigas ainda continuavam na mira da polícia. Ela prometeu a si mesma que assim que pegasse o celular iria correndo mandar uma mensagem para elas contando tudo.

— E mesmo com advogados, eles não têm provas, nem contra você e nem contra Erin. É por isso que eles estão mandando viaturas no bairro o dia inteiro e ficam atazanando vocês, com perguntas e provocações. Se eles não podem acusá-las, eles então farão vocês confessarem.

— Aposto que quem disse isso foi a mãe de Catherine e não você. — ela brincou e Malcolm bagunçou seu cabelo, sorrindo.

— Você é igualzinha sua mãe.

A garota riu.

— Ela diz o contrário.

O momento foi interrompido quando a campainha ecoou pelas paredes da casa. Sam suspirou e seu sorriso morreu no rosto. Ela encarou seus pés, mordendo o lábio. Malcolm a apertou nos braços.

— Você não precisa ir lá se não quiser.

— Seria falta de educação.

— Você pode ser mal educada de vez em quando. Eu deixo. — ele piscou e ela riu, antes de ficar séria e ser direta:

— Você acredita na inocência dele?

Malcolm levantou as sobrancelhas, sabendo de quem a filha estava falando. Ele tirou os braços de torno dela e levantou-se, oferecendo seu braço para que ela o segurasse.

— Se eu não acreditasse, querida, não teria o chamado para vir jantar essa noite conosco.

*

Peter conferiu se o corredor do hospital estava vazio duas vezes antes de entrar no quarto de Erin. A garota, que estava atrás da porta, o puxou para dentro pela gola da camisa e checou uma última vez antes de fechá-la, virando-se para o amigo.

— Você trouxe o que eu pedi? — ela perguntou e o garoto assentiu, tirando da mochila uma embalagem de papel pardo.

Erin nem esperou ele fechar o zíper e arrancou o pacote de suas mãos, dando um rápido abraço no amigo antes de abrir a embalagem. O cheiro de muffins do Kai’s que ela estava tão acostumada invadiu suas narinas e ela pegou um, abocanhando-o e revirando os olhos de prazer enquanto mastigava.

Peter riu do exagero da amiga.

— Minha mãe passou aqui ontem à noite só para dizer que estou proibida de comer qualquer coisa com açúcar. — ela justificou de boca cheia e estendeu um pedaço de muffin para o rapaz, que recusou. Ela deu de ombros. — Amanhã eu vou querer um big mac.

O moreno tomou impulso e sentou-se na cama dela, balançando as pernas.

— Eu pensei que você fosse receber alta amanhã.

— E vou, mas não antes de comer treze mil calorias. Como foi a escola?

— A Sra. Smith e o diretor perguntaram de você. — ele contou e ajeitou os óculos no nariz enquanto ouvia a amiga sussurrar alguma coisa sobre a professora ser uma velha mal amada. — Você meio que virou agora uma Kardashian esquecida na Nova Zelândia.

A garota notou que ele não estava a encarando e engoliu o outro muffin rapidamente, estreitando os olhos.

— O noticiário não divulgou o seu nome e nem o de Hector na televisão, mas bom... Você sabe como o pessoal da escola é. Eles já descobriram e todos estão se perguntando o que aconteceu na represa.

— Você contou. — ela não o deixou terminar.

Peter levantou a cabeça e olhou-a com os olhos arregalados, assustado com a queixa. Erin sacudiu a cabeça negativamente e amassou a embalagem dos muffins até que ela virasse uma bolinha, atirando-a na cabeça do amigo.

— Você é um mentiroso! — ela o acusou. Peter olhou para ela sem saber o que dizer.

— Ok — ele admitiu, encolhendo os ombros. — Talvez eu tenha contado para alguém ali e outro lá, mas...

Erin deu um tapa na própria testa, sem conseguir acreditar.

— Você é um péssimo amigo.

— Eu trouxe os muffins que me pediu e... Ei, você não devia ficar de repouso?

— Não use minha diabete para justificar seus erros! — ela o ignorou.

Peter suspirou.

— Você vai continuar fazendo piada, Erin, mesmo depois que tudo aconteceu?

— E esse é o placar final, queridos telespectadores, Erin McCarthy engana a morte mais uma vez. — ela brincou e sorriu, fazendo um movimento com os braços, como se tivesse marcado um gol no hóquei. O amigo, entretanto, não achou graça e continuou sério. Erin revirou os olhos e jogou a cabeça para trás, sentando-se ao lado dele na cama. — Não se sinta culpado. Eu não sou sentimental o suficiente para consolá-lo.

Peter ficou em silêncio e então, ergueu o rosto em sua direção:

— Você pensou que ia morrer?

Erin foi pega pela pergunta de surpresa. O sorriso desapareceu do seu rosto. Ela queria poder lhe contar tudo, desde as mensagens até o que realmente tinha acontecido na represa, mas não tinha certeza se estava preparada.

— Eu fiquei apavorada. — confessou, deitando a cabeça no ombro do garoto, aproveitando a sensação de tê-lo por perto.

— Igual as mocinhas dos filmes de terror? — ele virou-se para ela, que riu e deu-lhe um soco de brincadeira no seu ombro.

— Não, eu fui mais esperta. — ela sorriu e ficou séria, levantando a cabeça para olhá-lo nos olhos. — Eu preciso de um favor seu.

O moreno remexeu-se desconfortavelmente.

— Já sei que não tenho escolha. O que você quer?

— Preciso do seu talento para teatro emprestado.

                                                                *

— Então... O que você está achando da cidade, Annie? — Malcolm perguntou, quando todos estavam sentados ao redor da pequena mesa da sala. — Santa Kennedy mudou muita coisa durante esse um ano que vocês estiveram fora.

Sam desviou o olhar para o seu espaguete em seu prato, sem apetite. Ela pensou imediatamente no toque de recolher que fora instalado depois de Lexi desaparecer e no policiamento extra nas ruas, mas não comentou nada, preferindo ficar em silêncio.

Seu pai tinha feito um ótimo trabalho. Os móveis de madeira estavam brilhando e os livros teóricos que ele espalhava pelos cantos da casa tinham milagrosamente sumido. A residência inteira estava cheirando a produtos de limpeza. Sam não se lembrou de outra situação em que seu lar estivera daquele jeito, todo arrumado, como se fosse uma casa saída diretamente das revistas de decoração.

— Eu soube que abriram um novo restaurante na avenida principal. — Annie comentou, tirando-a de seus pensamentos. A garota olhou para a mulher, ainda sem saber direito se gostava dela ou não. Eles estavam falando do restaurante que o pai de Megan Ahuana tinha aberto recentemente no centro da cidade. O lugar era moderno e estava fazendo um sucesso imenso com os turistas que vinham de outras cidades para Santa Kennedy, atraídos pelo seu charme de cidade pequena. — Fiquei de marcar um dia para ir lá conferir.

— Podemos ir juntos. — Malcolm ofereceu e sorriu para a moça. Sam levantou uma sobrancelha. Annie estava bonita, tinha deixado os cabelos soltos e usava um vestido cinza que ia até os joelhos, deixando as tatuagens dos braços e das pernas a mostra.

A mulher sorriu de volta e mexeu com o seu garfo no ar.

— Esse espaguete está maravilhoso, Malcolm. Não sabia que além de professor, você era também é um cozinheiro.

Sam precisou se concentrar no seu copo de água para não rir e falar que não fora Malcolm que fizera a comida e sim, um restaurante. Ele tinha esquecido de preparar o mais importante do jantar — o próprio jantar — e precisou ligar correndo para um drive-thru para que eles entregassem a tempo.

— E quanto a você, Ethan, o que está achando de estar de volta? — Malcolm perguntou por educação depois de responder ao elogio de Annie e Sam engoliu em seco. Se Annie estava bonita, Ethan estava mais ainda. O cabelo cor de areia tinha sido penteado para trás e ele usava calças jeans escuras e uma camisa cinza de botões.

— Acho que vai ser bom para mim encarar tudo o que aconteceu. — ele disse e sorriu enquanto se acomodava de um jeito presunçoso na cadeira, com o cotovelo apoiado nas costas do móvel e os pés cruzados um sobre o outro, largando o garfo ao lado do prato. — Posso aproveitar minha liberdade agora.

Malcolm murmurou alguma coisa sobre saber como era vivenciar uma situação daquelas, servindo-se de vinho. Os dois e Annie iniciaram uma conversa animada sobre a cidade, o futuro de Ethan e outras coisas que Sam não conseguiu prestar atenção. Ela empurrou a cadeira que estava sentada para trás, levantando-se e se retirando da mesa sem pedir licença.

Atravessando a cozinha com passos firmes, a garota empurrou a porta de vidro que dava acesso a varanda. Seu corpo reagiu contra o frio da noite, mas ela não se abalou e abraçou os próprios braços enquanto descia as escadas de madeira. Ela as contornou e abaixou-se na altura das mesmas, puxando um parafuso de um degrau solto para cima, arrancando a tábua. De dentro do buraco improvisado, ela tirou improvisado uma garrafa uísque que tinha guardado ali mais cedo caso as coisas piorassem e a abriu, bebendo direto do gargalo.

A garota fechou a bebida depois de deixa-la quase pela metade e a escondeu debaixo da blusa, caminhando até o velho balanço. Suspirando, ela encostou a ponta dos dedos no metal frio das correntes, pensando que não pronunciara uma única palavra durante todo o jantar. Exausta de pensar em tudo o que estava acontecendo, ela sentou-se no assento do brinquedo e impulsionou o corpo levemente para frente e para trás, escutando a velharia guinchar depois de tantos anos de desuso.

— Ei, ruiva.

Sam quase deu um pulo de susto. Ela estava tão focada em seus pensamentos e nas estrelas brilhantes que iluminavam aquela noite que não percebeu quando Ethan sentou-se ao seu lado, no outro balanço.

— Seu pai pediu para chamá-la. Está frio aqui fora.

A australiana sentiu cada nervo do seu corpo se contorcer quando tomou coragem e olhou nos olhos dele pela primeira vez naquela noite. Suas feições relaxadas carregavam a sua habitual expressão indiferente e, ao mesmo tempo, misteriosa, como se ele guardasse por trás daqueles olhos cor-de-mel inúmeros segredos.

— Não foi ele quem fez o jantar. — ela murmurou, sentindo o vidro frio da garrafa sobre a sua pele debaixo da blusa. Ele estava tão próximo dela que ela conseguia ver como seus cílios eram espessos. — Nós pedimos em um restaurante no centro uns dois minutos antes de vocês chegarem.

— Eu desconfiei. — o garoto respondeu, balançando-se levemente no assento. — Annie pede nesse mesmo restaurante toda noite. Ela é um desastre na cozinha.

Sam forçou um sorriso, mas ele não durou muito tempo. O que acontecera no dia anterior e o jeito que ele havia se comportado, invadindo seu espaço pessoal, ainda a trazia uma sensação incômoda. Ela olhou para as suas mãos sem saber como reagir dali para a frente e respirou fundo, tirando a garrafa do esconderijo.

— Uma oferta de paz. — anunciou, inclinando a bebida na direção do rapaz, e deu seu melhor sorriso, querendo disfarçar seu nervosismo.

Ethan hesitou, mas por fim aceitou e tomou um gole. Seus dedos se tocaram quando ele pegou a bebida e ela sentiu um calafrio percorrer a sua espinha. Ele notou e seu lábio superior curvou-se em um meio sorriso que Sam nunca tinha visto. Era um sorriso que não parecia combinar com ele, quase infantil, que abria duas covinhas profundas em cada bochecha dele.

— Seu pai não se importa de você beber com estranhos? — ele perguntou, casualmente, depois de entregá-la de volta o pertence.

— Meu pai acredita na sua inocência, se é isso o que você quer saber. — a morena foi franca e levantou a cabeça, forçando-se a encará-lo nos olhos e sustentar o olhar. Ela tentou dar de ombros o mais naturalmente possível e pegou a garrafa, virando-a de uma vez, sentindo o álcool queimar sua garganta. Ela ainda não sabia se realmente acreditava na inocência dele, mas preferiu fingir que sim para evitar que o medo consumisse suas entranhas.

— Eu fui um pouco rude com você ontem. — o loiro admitiu depois de alguns minutos de silêncio e olhou para o céu estrelado da noite antes de virar-se para ela, que o encarava surpresa. — Não é meu feitio pedir desculpas, mas... Não sei, sinto que não devia ter agido daquele jeito. Eu estava de cabeça quente com algumas coisas e.... Eu costumo ser rude nas horas erradas.

Alguns vagalumes apareceram e começaram a piscar em volta dos dois. O garoto olhou para ela e a encarou, do mesmo jeito intenso que a observava pela janela do quarto dias antes, sorrindo de lado:

— E nas horas certas também.

— E eu pensei que você estava sendo simpático. — ela tentou não gaguejar, sentindo seu rosto esquentar, não sabendo se era de vergonha ou pelo álcool.

— Se cometer erros fosse crime, acho que todos nós estaríamos na cadeia, não é, anjo? — ele quase sussurrou a última palavra, parecendo se divertir com as provocações. — Então eu pareço um garoto normal agora. — murmurou, desviando os olhos e espantando um vagalume com a mão. — Legal.

— Depende. — ela riu, sem graça, e colocou de volta atrás da orelha uma mecha de cabelo castanho-ruivo liso que tinha escapado do lugar. — O que você define como “garoto normal”?

O rapaz deu de ombros.

— Talvez um garoto que não tenha passado um ano em um reformatório por algo que não fez já é um bom começo.

Com a visão periférica, Sam viu que ele a fitava como se pudesse enxergar cada um de seus pecados. Ela desviou o olhar e contornou o bico da garrafa com o indicador, sentindo todo o seu interior paralisar, como se um soco invisível tivesse acertado em cheio o seu estômago.

— Eu sinto muito. — foi tudo o que ela foi capaz de dizer, depois do longo silêncio que durou quase uma eternidade. O sussurro foi tão baixo que ela achou que o rapaz não tinha a ouvido quando ouviu a resposta:

— Tudo bem.

Sam não conseguiu identificar se ele estava falando aquilo de coração ou estava sendo sarcástico, mas ela sentia como se um peso tivesse deixado suas costas.

A possibilidade dele saber que fora ela que o denunciara passou feito um vulto pela sua mente, mas ela tratou de espantá-la do mesmo jeito que ele espantou o bichinho luminoso minutos atrás. Ela realmente sentia muito por ter mentido para a polícia e ter contribuído para a ida dele para um reformatório, por mais que os motivos para isso não tenham tido conexão nenhuma com Alexia.

— Acho melhor nós entrarmos. — ela disse. Sua cabeça estava começando a dor pela bebida e ela se levantou de repente, deixando a garrafa na grama, não esperando pela resposta do garoto. Ele esperou mais um tempo sentado antes de segui-la, mas logo ela ouviu o barulho que o tênis dele fazia contra a grama e ficou mais tranquila.

Pela primeira vez na pacata Santa Kennedy, Ethan Williams parecia menos assustador.

*

O plano, segundo Erin, era fácil. Peter praguejou em nome de todos os álbuns que Britney Spears que conhecia enquanto andava em direção ao policial que estava parado na porta do quarto onde Hector estava.

O homem de farda parecia um poste e era tão grande, alto e musculoso que o garoto quase desistiu da ideia maluca e voltou correndo, não o fazendo por pouco.

A expressão fechada somada aos braços cruzados que duplicavam o tamanho de seus braços gritavam para Peter que era melhor manter distância, mas ele insistiu, respirou fundo e o cumprimentou:

— Oi. — ele disse e o homem continuou impassível, olhando para frente. Peter ficou em dúvida se cutuca-lo era um desacato a autoridade, então ele apenas enfiou as mãos no bolso da calça jeans e chutou uma pedrinha invisível. — Você sabe... Hm, onde fica a máquina de café?

O policial não moveu um centímetro.

— Fala sério. — Peter murmurou para si mesmo, revirando os olhos. Não havia nenhuma enfermeira por perto. Ele deu meia volta e estava distanciando-se do tira quando uma ideia brilhou em sua mente como uma lâmpada sendo acesa.

Ele caminhou até o fim do corredor calmamente, onde não podia ser visto, esperou um pouco e correu de volta para onde o homem estava.

— Cara, aquela viatura lá fora é sua? — o garoto perguntou, fingindo estar desesperado. O oficial baixou os olhos para ele, a expressão emburrada dando lugar ao interesse. — Tem uns caras tentando roubá-la com um pé de... — ele não conseguiu terminar a frase porque o policial o empurrou de uma maneira brusca contra a parede e saiu correndo em direção a saída do hospital.

Peter xingou e massageou o ombro recém-dolorido enquanto ia até o quarto de Erin ao lado, abrindo a porta. Ela estava roendo as unhas da mão direita quando viu o amigo.

— Você conseguiu?

— Não desmaiei como você sugeriu, mas fiz o cara correr. Seja rápida, você tem alguns minutos.

— Obrigada, Peter Pan. — ela desceu da cama com um pulo e beliscou a bochecha do amigo. — Fico te devendo uma.

— Explique isso para o meu ombro.

Erin olhou para os lados para verificar se tudo estava seguro para que ela saísse antes de seguir pé ante pé até o quarto do ex-namorado. No momento em que ela chegou na porta do cômodo, agora livre de segurança, uma exclamação saiu involuntária de seus lábios e ela travou no lugar. Hector tinha uma perna engessada e estava com uma bandagem em volta da cabeça. Uma faixa que tinha início na clavícula e desaparecia por dentro da camisola do rapaz fez ela pensar que talvez a facada no peito não fora o único ferimento que o mascarado proferiu contra ele.

— Oi. — ela reuniu coragem e aproximou-se do mexicano com passos preguiçosos, tomando cuidado para não esbarrar nos equipamentos elétricos ao lado da mesma. Quando ela entrou completamente para dentro do quarto, percebeu que eles não estavam sozinhos. — Hã... Oi para você também.

Kurt estava apoiado na parede, perto da janela. Erin enrubesceu e acenou para o rapaz de um jeito acanhado. Ele deu um sorriso de lado tão pequeno que só a garota percebeu e retribuiu o comando, avisando que iria deixar os dois sozinhos, passando propositalmente tão perto dela que ela conseguiu sentir o frescor do seu perfume cítrico.

Assim que os deixou, Hector tentou se ajeitar na cama, mas a movimentação o fez sentir dor e ele abandonou o feito, virando a cabeça lentamente na direção da ex-namorada, sorrindo de uma maneira engraçada.

Uma agulha estava espetada em um dos seus braços e Erin só não sorriu de volta para as covinhas dele porque estava chocada demais com as marcas vermelhas agora visíveis em seu pescoço.

Tinham tentando estrangulá-lo.

— Então, boneca, como você está?

A garota cruzou os braços, em um movimento mediato de autoproteção, dando um passo para trás.

— Acho que era eu que devia estar fazendo essa pergunta. — ela respondeu e sorriu, nervosa, tentando não parecer preocupada demais. — Aposto que Kurt não veio aqui para ficar de guarda-costas. O que ele queria?

— Nada demais. — Hector deu de ombros. — Apenas queria ver se eu estava ok e me alertar sobre os treinos. Nada de açúcar, exercício na piscina, não forçar muito os músculos... esse tipo de coisa.

A morena assentiu e se aproximou da cama do rapaz, pegando uma de suas mãos. O toque áspero dos dedos dele contra os dela era familiar e a trouxe uma lembrança nostálgica, como se as famosas borboletas no estômago de fato existissem.

Ela balançou a cabeça e o soltou.

— Quando você vai poder voltar a jogar? — ela perguntou e virou-se de costas, não querendo que o rapaz visse que lágrimas começavam a formar no canto de seus olhos. Ela não gostava de chorar na frente dos outros porque isso a fazia vulnerável e ela odiava se sentir vulnerável.

— Se eu me recuperar rápido, ainda esse semestre, a vaga de winger ainda é minha. — explicou o latino. — Kurt não é muito difícil de convencer.

Erin voltou-se para ele, com os ombros encolhidos.

— Você se lembra do que aconteceu?

Hector olhou para ela e desviou o olhar rapidamente.

— Eu preciso que você me fale tudo o que você lembra, Hector. — ela insistiu. — Eu não tenho muito tempo.

— Caramba, boneca, você não era assim tão autoritária quando nós namorávamos. — ele brincou, tirando do rosto alguns cachos negros que escapavam da bandagem.

Erin tentou ser indiferente, dando de ombros:

— As pessoas mudam.

— Eu não lembro de muita coisa, Erin, não sei se posso te ajudar.... Tudo o que aconteceu comigo você estava lá para ver com os seus próprios olhos. — ele a encarou. — Depois que você acertou o cara na cabeça, eu o soquei e me arrastei para longe. Ele tentou me estrangular e eu apaguei. Quando acordei, estava aqui, no hospital.

— A polícia te interrogou? — Erin desviou o assunto, martirizando-se por ter agido feito uma covarde e tê-lo deixado sozinho.

— Não. — ele pareceu não notar o desinteresse dela pelo que tinha acontecido. — Meu pai exigiu que isso fosse feito na presença de um advogado.

— Você, não sei, viu o rosto da pessoa?

Hector suspirou, olhando para o teto.

— Não tenho certeza.

A morena arregalou os olhos.

— Do que você está falando?

— Eu acho que o vi.

— Era um homem? — Erin levou as mãos ao rosto. — Quem era, Hector?

O rapaz ajeitou-se na cama, engolindo em seco antes de encará-la:

— Ethan.

Erin não teve tempo de cobrir a boca com as mãos ou socar a primeira coisa que estava na sua frente. Christina os interrompeu, empurrando a porta e invadindo o cômodo, seguida pelo policial que vigiava o quarto e por Peter, que vinha logo atrás sendo puxado pelo homem, cabisbaixo.

— Que surpresa encontra-la aqui, McCarthy. — a detetive foi sarcástica e cruzou os braços, em uma postura rígida. O distintivo estava preso por um cordão em seu pescoço e ela tinha uma arma presa a cintura.

— Você sabe, eu sou uma caixinha de surpresas. — Erin tratou de agir naturalmente e respondeu no automático, porém Christina continuou séria. Atrás dela, Peter se controlava para não deixar um sorriso escapar.

— Você sabe que basta uma ordem para eu prende-la, não sabe? — A mulher aproximou-se da adolescente, olhando-a desconfiada. A morena deu um passo para trás.

— Eu sou menor de idade. Você está blefando.

— Não duvide de mim, Erin. Ser menor de idade não a isenta de ser suspeita. Eu posso acabar com a sua vida em um piscar de olhos e nem o melhor advogado vai conseguir poupá-la. — Christina levantou uma sobrancelha e, como a garota ficou calada, continuou:

— Eu não sei o que você veio fazer aqui, mas você já se meteu demais onde não devia. — ela disse e com a mão livre, agarrou o braço da jovem e a levou delicadamente para fora do quarto, fechando a porta atrás de si. — Hector está sobre proteção judicial até segundas ordens. Sem permissão você não pode visitá-lo. Não quero mais esse seu nariz enfiado nos meus casos. Vou fazer questão de que você receba alta amanhã de manhã, o mais rápido possível.

— Isso é uma ameaça? — Erin tentou se soltar, mas a detetive segurou-a firme.

— Não melhor que essa: no seu depoimento, na noite em que Alexia desapareceu, você disse que chegou na festa depois das suas amigas porque seu carro quebrou no meio da estrada, mas isso é mentira. Você estaria infringindo uma lei dirigindo depois das dez e eu tenho certeza que você não é burra o suficiente para isto. — Christina abriu a porta do quarto da jovem e a empurrou para dentro. — Eu recebi ordens para ficar de olho em cada movimento seu e não vou parar até que descubra o que você está escondendo, garota, seja lá o que for.

Erin ficou pálida.

— Tenho uma testemunha que a viu deixando Catherine e Samanta no local. Você e Alexia desapareceram por uma hora e então, você voltou para a festa. Sozinha, meia hora depois. Alexia Grimes depois não foi mais vista e você e suas amigas, sim. Se você achava que Matherson ficava no seu pé, saiba que serei muito pior. — ela olhou uma última vez enfurecida para a garota antes de soltá-la e ir embora com passos firmes, deixando a para trás em completo estado de choque.

*

Quando Catherine acordou com um barulho de mensagem, já se passava das nove horas da noite. A loira olhou para os lados, sonolenta, e percebeu que a casa continuava vazia e ela tinha sem querer pegado no sono.

Suas costas doíam e ela estava morrendo de fome. Espreguiçando-se, a garota se levantou e procurou o seu celular entre as almofadas do sofá.

Assim que o achou, Catherine desbloqueou a tela e viu que tinha três mensagens. Uma era de Megan, perguntando por que ela tinha sumido, uma de sua mãe pedindo desculpas por ter que cancelar o compromisso e a outra era de um número desconhecido. Ela clicou em “ler” e precisou de um minuto para processar as palavras que estavam diante de seus olhos:

“Era Ethan na represa. Hector o viu.

Separe o taco de hóquei do seu pai.”

A loira soube imediatamente que a mensagem era de Erin. Ela abriu a tela de discagem e errou o número da morena duas vezes antes de conseguir realizar a chamada.

Caixa postal.

Erin estava no hospital. Era óbvio que ela não ia responder. Catherine se xingou e correu até as janelas da sala. Abriu as cortinas com uma mão e discou o número de Sam com a outra.

A rua estava vazia e as casas tinham suas luzes apagadas. O toque de recolher já devia ter sido posto em prática. Sam não atendeu. Catherine atravessou o corredor e procurou as chaves do carro de Mary Anne no aparador de canto. Não as encontrando, ela resolveu que iria andando até a casa dos Langdon.

A garota pegou um casaco de lã grosso no cabideiro atrás da porta de entrada e o vestiu, enrolando no pescoço um cachecol de qualquer jeito, abrindo e fechando a pesada porta de madeira com um baque. O ar noturno fez cócegas no seu rosto e em suas pernas descobertas, mas ela trincou o maxilar para que os dentes parassem de bater e continuou andando. Só parou quando seu celular apitou no bolso do casaco e ela precisou parar no meio do asfalto para pegá-lo e abrir a mensagem, vinda de um número bloqueado:

“Tic-tac, Catherine.”

Anexada junto a ameaça havia uma foto de Sam e Ethan, no que parecia ser o quarto da australiana.  

Catherine sentiu seu coração acelerar.

Ela correu os dedos pela tela e aproximou o zoom, tentando puxar na memória todos os detalhes que se recordava acerca da mobília. Aquela cômoda azul-escuro, cheia de estrelinhas prateadas coladas nas primeiras gavetas sempre esteve ali, tão próxima a estante? A garota levou uma mão ao rosto, apavorada, tentando se lembrar da decoração do quarto da amiga. Droga, ela não pisava no quarto dela fazia no mínimo uns dois anos e a foto tinha sido tirada de um ângulo que não dava para enxergar muita coisa.

Ela guardou o aparelho no lugar de origem e começou a correr, sabendo que não tinha tempo para pensar em outra solução.

Santa Kennedy àquela hora da noite parecia mais deserta do que já era. Ela era uma cidade pequena e como em todas as cidades pequenas as casas não ficavam longes uma das outras e era fácil ir a pé de um lugar para o outro. Catherine correu o mais rápido que pode, esforçando-se para não tropeçar enquanto colocava força nas pernas, discava para o celular de Sam e lhe mandava inúmeras mensagens, pegando todos os tipos de atalho que conhecia.

Primeiro ela viu a casa de Alexia, sem nenhuma luz acesa. Ela arfou e contornou o gramado do jardim dos Grimes, sentindo o frio cortante dar-lhe calafrios pelo corpo.

Catherine avistou a escada que dava para a varanda da frente da casa de Sam e parou, apoiando as mãos no joelho para recuperar o fôlego, se assustando quando viu que a porta da casa da amiga estava aberta. Uma silhueta masculina saiu de dentro do domicílio, correndo com os punhos fechados em sua direção.

A loira arregalou os olhos e só não se escondeu atrás de um arbusto achando que se tratava de Ethan porque o homem esbarrou nela durante a fuga e ela viu os olhos azuis de Kurt encontrarem os seus. Ele estava furioso e passou reto por ela, sem virar-se para trás.

Sam desceu os degraus varanda, com uma lanterna na mão, minutos depois. Após iluminá-la com o feixe de luz, ela acenou brevemente com a cabeça e regressou de volta para dentro da casa. Catherine engoliu em seco e a seguiu com passos lentos, sentindo um pressentimento ruim.

Assim que ela entrou pela porta e viu o que tinha acontecido, levou um susto e arregalou os olhos.

Ethan estava caído no chão, com uma mão no rosto.

A mesa de centro entre o sofá e as duas poltronas da sala estava quebrada, com os pedacinhos de vidro estilhaçado espalhados pelo carpete.

— O que ele está... O que aconteceu aqui? — ela perguntou e Sam, que tinha desaparecido para dentro da cozinha, voltou segurando um saco de gelo enrolado em um pano.

— Kurt aconteceu. — a australiana murmurou, notando a sua presença. Ethan se remexeu no lugar quando ela encostou o gelo em sua pele. Sangue escorria do seu nariz e seu olho direito estava vermelho, quase roxo, de um jeito que Catherine achava impossível um olho ficar. — Você pode me ajudar a colocá-lo no sofá?

A loira piscou, sem saber o que fazer, lembrando-se da mensagem que havia recebido poucos minutos antes. Ela olhou apavorada para a amiga e balançou a cabeça, hesitando antes de agachar ao lado do rapaz e pegar um dos seus braços enquanto Sam pegava o outro, arrastando-o para o sofá cor de abacate da sala, evitando os cacos de vidros pelo caminho.

— Eu já volto. Vou pegar mais gelo. — Sam informou e sorriu para a amiga, deixando-a sozinha com Ethan.

Catherine engoliu em seco e trocou o peso de uma perna para a outra, procurando não fazer barulho. O garoto estava imóvel, deitado por cima das almofadas de linho do sofá, com os olhos fechados. Ele respirava ruidosamente e teria uma expressão serena no rosto que o deixaria bonito caso o inchaço não o transformasse em um vilão de filme de terror.

— Você está me encarando. Eu não vou te morder. — ele murmurou de repente e abriu os olhos, olhando para a garota com o olho não machucado por debaixo da bolsa térmica improvisada. — Só se você pedir.

Catherine deu um passo para trás. Ela abriu a boca para dizer alguma coisa, mas estava assustada demais para reagir ao fato de que ele de algum jeito sabia que ela realmente estava o encarando.

— Desculpe. — ela murmurou quando conseguiu se concentrar e deu mais um passo para trás, sentindo suas costas baterem contra o corrimão das escadas que davam para o segundo andar. — Eu não queria.... Eu vou.... Eu vou ver se Sam precisa de ajuda.

A loira girou os calcanhares e andou o mais rápido possível até a cozinha moderna dos Langdon, encontrando a dona da casa tentando desenformar uma fôrma de gelo.

— Meu pai convidou ele para jantar conosco essa noite. — Sam explicou, sem que Catherine precisasse pedir, chacoalhando o recipiente de cima para baixo para que os cubinhos se desgrudassem. — Estava tudo bem até que a campainha tocou e eu fui abrir a porta. Kurt entrou aqui, chamou Ethan de psicopata e o socou.

Catherine juntou as sobrancelhas, entendendo porque Kurt parecia estar furioso quando os dois se esbarraram na calçada.

— E o seu pai? Onde ele estava na hora?

— Ele saiu para comprar milk-shakes com Annie. Estávamos sozinhos. Quando Kurt entrou, eu não sei o que deu nele, ele ficou louco.... Eu tentei pará-lo, mas ele voou para cima de Ethan e começou a soca-lo. Eu pensei em ligar para os pais dele, mas ele é emancipado, não sei se vai adiantar muita coisa. — Sam estava sacudindo a fôrma de gelo de um lado para o outro com força. Catherine viu que seus dedos tremiam e a parou no movimento, colocando sua mão macia sobre o pulso da amiga. A australiana olhou para ela, com os olhos arregalados.

— Está tudo bem. — Catherine sorriu de modo doce, apesar de também estar nervosa. Entre as quatro do grupo, Catherine era e sempre fora a mais calma que acalmava as outras. Sam suavizou a expressão e largou a fôrma de gelo, passando as mãos pelo rosto. Dois cubinhos congelados se soltaram e um deles foi deslizando do balcão da pia até cair no chão e ir para debaixo da porta da despensa.

— Desculpe, eu estou uma pilha de nervos com isso. — ela murmurou e fechou os olhos, encostando-se na bancada de mármore que dividia a cozinha em dois ambientes.

Catherine colocou uma mão no ombro da amiga.

— Tudo bem, eu também estou, mas acho que agora não tem mais jeito da gente fugir disso. Eu vi ele no lago, depois que te deixei em casa. — ela sussurrou, olhando para onde Ethan estava, atraindo a atenção da morena. — E Erin também me mandou uma mensagem.

— Sobre ele ser o mascarado que a atacou na represa, é, ela me enviou a mesma coisa. — Sam suspirou e cruzou os braços, olhando para o rosto da amiga. — Mas não tenho certeza se podemos confiar.

— Você acha que Hector está mentindo? — a loira voltou-se para ela, apreensiva. — Por que ele mentiria para a gente?

Sam deu de ombros.

— Eu não sei. Hector pode ser filho do xerife, mas ele não é um santo, você sabe. — ela balançou levemente a cabeça. — Não sei em quem podemos confiar e esse é justamente o problema: eu não sei.

As duas foram interrompidas pelo som de algo se quebrando no cômodo ao lado. Sam pulou no lugar e Catherine levou as mãos à cabeça, por reflexo. Elas se entreolharam e a australiana abaixou-se diante do armário mais próximo, tirando de dentro dele um faqueiro.

— O que você vai fazer? — Catherine perguntou, com os olhos azuis arregalados, vendo ela tirar uma faca de tamanho médio e segurá-la junto ao corpo.

A loira ficou em dúvida se também pegava uma faca ou não. Ela segurou o cabo de plástico de uma das facas por alguns segundos, podendo sentir a sua textura áspera, antes de soltá-la e desistir.

Sam aproximou com cautela da parede que dividia o corredor da sala, fechando os olhos por um segundo. Catherine respirou fundo e a seguiu, vendo que ela estava contando baixinho de um até três. Ela tentou segurá-la pelo braço, mas a amiga já estava fora do seu alcance.

Quando Catherine tomou coragem e foi atrás de Sam, a encontrou parada próxima ao sofá, olhando para o carpete com as sobrancelhas franzidas. Ela soltou a respiração que nem se deu conta de que estava prendendo e viu que a janela da porta dos fundos estava com um buraco do tamanho de uma bola de futebol.

— É um disco de hóquei. — Sam murmurou, assim que Catherine aproximou-se dela, encontrando o que estava lhe deixando intrigada: era mesmo um disco de hóquei, com um papelzinho colado em sua superfície emborrachada.

— Onde está Ethan? Ele sumiu. — Catherine perguntou, vendo que o loiro tinha desaparecido. O gelo enrolado no pano de prato estava no que sobrara da mesa de centro. Ela abraçou os próprios braços, olhando enquanto Sam pegava o bilhete e o desdobrava, lendo-o em voz alta:

— “Vocês podem tentar colocar a culpa em alguém, mas eu ainda não esqueci o que vocês fizeram.


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Notas finais do capítulo

E aí, como está o coraçãozinho de vocês? Ainda estão vivas, respirando? Espero que tenham gostado e por favor, não odeiem o Kurt porque ele vai aparecer muito ainda.

Perguntinhas do capítulo (porque eu sei que vocês amam): Quem é Sarah? O Hector é confiável? Erin está louca pra colocar o nosso mozão na cadeia, sim ou claro? Quem vence a briga e dá mais tapa na cara da outra: Sam ou Erin? Façam suas apostas.

Estou na metade do capítulo 7 e fortes emoções vem aí.

http://ask.fm/sterollarke

Beijinhos.