Cold Blood escrita por Miss America


Capítulo 5
Capítulo 4 — Bitch's Hunting Season (Parte I)


Notas iniciais do capítulo

(Temporada de caça às vadias: parte I)

Oi meus pandas coloridos, tudo bem? Primeiro, gostaria de dizer o quanto estou feliz com o feedback positivo que a história vem recebendo. Sério, muito muito muito obrigada, amo vocês e quem ainda não comentou, pode vir que ainda tem espaço no meu coração.

O capítulo de hoje não tem o Anônimo, mas vocês verão como a mensagem enviada por ele no anterior mexeu com cada uma. Também temos um personagem novo e aproveitando o espaço aqui, vou fazer uma perguntinha: vocês estão shippando alguém? Se sim, me digam quem.

Músicas do capítulo:
Wake Owl - Wild Country
Howard - Religion



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Capítulo 4

BITCH'S HUNTING SEASON

(Parte I)

 

Depois de receberem a mensagem e do susto ter passado, Erin, Catherine e Sam concluíram que aquilo era uma brincadeira estúpida de quem gosta de brincar com a dor dos outros. Resolvendo ignorar todos os tipos de comunicação desconhecidos destinada a elas, elas excluíram de seus celulares a mensagem ameaçadora e foram cada uma para suas respectivas salas.

Erin confundiu-se com seu horário no caminho e por isso, chegou ao laboratório de química faltando exatamente um minuto para a professora fechar a porta. A mulher podia até ser nova, mas já se comportava como uma velha ranzinza e não aceitava desculpas. Os atrasos tornavam-se intoleráveis e ela deixava essa regra bem clara de ser pontual quando mandava todos os atrasados para a detenção.

— Detenção logo no primeiro dia de aula, Erin?

— Não vai acontecer de novo.

A Sra. Smith analisou Erin por cima dos óculos e acabou dando um passo para o lado, apenas o suficiente para que a morena passasse e caminhasse para os fundos da sala, onde havia apenas uma bancada disponível com dois lugares vazios.

A professora fechou a porta e voltou-se para o quadro negro, parando no meio dele. Como era comum em todos os primeiros dias de aula, apresentou-se e começou falando um pouco da matéria que iriam estudar naquele ano.

Erin até tentou prestar atenção, mas sua mente ficava trabalhando como uma máquina tentando compreender a origem daquela mensagem. Ela não era inteligente e tirava nota máxima em todas as provas como Sam, entretanto se esforçava para conseguir entrar em uma faculdade e estava tentando achar uma resposta quando Peter, que estava fazendo dupla com um asiático estranho na bancada da frente, virou-se para trás e estralou os dedos bem na cara da morena.

— Oi, você está bem? — ele perguntou ajeitando os óculos de grau no rosto. Ela piscou com força, concentrando-se nas palavras do rapaz.

Erin não respondeu nada e apenas balançou a cabeça, abaixando-se para pegar seu livro em sua mochila. Assim que o achou, jogou-o na bancada de granito com tanta força que Peter quase se arrependeu de fazer a pergunta.

— McCarthy! Por acaso há algum problema entre você e o senhor Thomas? — A Sra. Smith gritou e os dois imediatamente olharam para frente.

Erin engoliu em seco, Peter viu o nervosismo da morena pelo canto do olho e pigarreou antes de tomar iniciativa:

— Não, senhora, foi absolutamente tudo culpa minha. — Peter disse de um modo tão sincero que pareceu convencer a mulher. Ela assentiu e voltou a explicar sobre uma reação química que os alunos teriam que fazer naquela primeira aula experimental do ano.

Peter não aguentou e novamente virou-se para trás.

— Que droga, Peter, o que você quer? — Erin sussurrou irritada quando ele cutucou seu braço enquanto ela tentava acompanhar a explicação.

— Você ontem saiu mais cedo do trabalho depois que o detetive apareceu e me prometeu que iria voltar e cobrir o meu turno, mas não veio e me abandonou para morrer naquela espelunca que chamamos de trabalho. Sabia que Frank e Mark não largaram do meu pé um minuto? 

Erin olhou para o amigo e revirou os olhos. Sabia que ele não iria parar de perguntar até conseguir respostas e sentiu remorso, não podia culpá-lo por ser um bom amigo.

Ao invés de responder, entretanto, ela concentrou sua atenção exclusivamente na tarefa que a professora passava no quadro.

Os alunos teriam misturar dois líquidos coloridos para formar uma reação química e Erin fez uma careta para os dois béqueres na sua bancada. No momento em que ela iria dizer para Peter que estava ocupada e por isso havia quebrado a promessa da noite passada, ele cortou-a antes de pronunciar qualquer sílaba:

— Olha, Erin, eu cansei de ser o amigo legal com você. Vou direto ao ponto: sei que você não gostava de Alexia e por isso duvido que seu nervosismo todo seja só por causa do corpo encontrado pela polícia.

Erin não conseguiu controlar.

A abordagem surpresa do assunto que tanto a aterrorizava fez com que suas mãos tremessem. Os dois frascos que segurava se espatifaram na bancada e os líquidos coloridos se misturaram, ganhando uma coloração estranha ao mesmo tempo em que começavam a borbulhar.

A Sra. Smith deu um grito na frente do quadro, fazendo com que todos os alunos olhassem para a garota e o pandemônio que estava acontecendo na sua bancada.

— Erin, afaste-se da bancada! — A professora ordenou e como Erin ficou paralisada no lugar sem saber o que fazer, teve que caminhar até a garota e empurrá-la para longe dali:

— Vocês dois, chamem o zelador, digam que é urgente! — A mulher pediu para os alunos da bancada de trás. Quando eles correram para fora da sala, ela se virou para Erin, que a olhava apavorada, sem saber o que dizer.

— Eu...

A Sra. Smith cruzou os braços:

— Não quero saber, McCarthy! Me poupe de suas desculpas esfarrapadas, dirija-se a sala do orientador pedagógico e não apareça aqui pelas três próximas semanas!

— Mas...

A professora dirigiu-se rapidamente para a saída da sala e abriu a porta, apontando para que Erin desaparecesse dali o mais rápido possível. Alguns alunos riram no fundo da sala e ela revirou os olhos, caminhando mal-humorada em direção à porta.

Catherine prendou seus fios loiros em um rabo de cavalo mal feito, suspirando pela aula de educação física somada ao dia quente típico neozelandês. O campo de futebol da escola estava servindo de treino para as líderes de torcida e para os jogadores de hóquei, que se aqueciam e jogavam algumas partidas na grama antes de treinarem no gelo.

O ringue de patinação onde eram realizados os jogos do campeonato era localizado no andar inferior do colégio e por mais que Catherine não entendesse nada do esporte, ela sabia que os jogadores tinham que se equilibrar e marcar pontos acertando o gol com o disco.

— Como é o primeiro dia do ano, não vou pegar pesado com vocês. — A treinadora Richards disse depois de assoprar o apito duas vezes seguidas.

As garotas levantaram-se da arquibancada que estavam sentadas e Catherine arrumou seu uniforme da melhor maneira possível. Independentemente se eram líderes de torcida ou não, as alunas tinham que usar uma regata azul clara com o brasão do colégio ao lado direito do peito e shorts azul escuro que eram curtos demais.

— Como já devem ter sido informadas, vocês são obrigadas a participar de grupos extracurriculares. Não acho que ficar agitando a saia e distrair a torcida é uma atividade extracurricular, mas são as regras do colégio. Portanto, todas as novatas que estiverem interessadas em serem líderes de torcida, por favor, se inscrevam com a capitã do time, Megan Ahuana. Gostaria que as demais que não vão se inscrever corressem os cem metros do campo com obstáculos.

Catherine franziu as sobrancelhas, sem entender enquanto metade das meninas ia até sua amiga tagarelar sobre o sonho de ser uma animadora de torcida e a outra metade se dirigia até a linha de partida da quadra para se alongarem.

— Treinadora? — ela chamou e tocou de modo sutil o braço da mulher negra de cabelos cacheados, depois da mesma soprar o apito colorido em seu pescoço e mandarem as meninas correrem mais rápido. — Sem querer ser indelicada, mas... Acho que eu sou a capitã das líderes de torcida.

— Claro, querida, venha comigo. — A treinadora largou o apito e sorriu docemente para a loira, colocando suas mãos em seus ombros, empurrando-a delicadamente para um canto mais afastado. — Depois do comunicado que nos foi dada essa manhã, Megan veio falar comigo. Ela disse que você estava chocada demais com a notícia para continuar se responsabilizando pelo resto do time e se ofereceu para ficar no cargo.

— Sim. Quer dizer, ainda não sabem se o corpo é de Alexia e eu fico triste só de pensar, mas...

A mulher interrompeu-a, apertando-lhe levemente o ombro:

— Eu sei que está sendo difícil para você. Também já perdi alguém próximo e sei como é horrível. Megan é uma ótima amiga e você devia ficar feliz por ter uma pessoa que se preocupa tanto com você igual a ela.

Catherine sorriu sem graça, olhando para a amiga que estava rodeada por várias outras garotas no meio do gramado. Ela amava esquiar no gelo e fazer coreografias ritmadas, mas talvez realmente fosse melhor se manter afastada das tarefas que exigiam muito de si. Sua cabeça estava cheia demais para ter que dar conta de um time todo de garotas histéricas.

— Claro, eu não poderia estar mais agradecida por ter alguém como ela do meu lado — ela murmurou para a treinadora e suspirou, pensando um pouco e estreitando os olhos antes de continuar. — Acho que esse ano vou ficar no banco. 

Tudo veio como uma avalanche, os panfletos de desaparecimento com a foto de uma Alexia Grimes sorridente assombraram os pensamentos da loira e ela ainda conseguia escutar o noticiário e visualizar a repórter em frente ao lago Waikidamo, localizado a poucos metros de onde acontecera a festa.

Catherine respirou fundo e balançou a cabeça, fechando os olhos com força. Querendo afastar as lembranças daquela noite para longe, ela afastou-se ainda mais da treinadora, correndo em direção à linha de partida da quadra, pronta para começar a correr de seu passado.

*

O conselheiro sorriu para Erin assim que abriu a porta e a viu, parada de braços cruzados no meio do corredor.

Ele era conhecido apenas como Abraham, ninguém sabia seu sobrenome e ninguém o chamava de senhor porque não era casado e também era muito novo para isso, fato que contribuía para ele virar um assunto comentado por todo o colégio. Havia vários boatos e conspirações sobre seu passado obscuro e o mais recente era que ele estava tendo um caso com aquelas alunas que passavam mais tempo na sala dele, coisa que Erin particularmente achava idiota e não acreditava.

Naquela tarde, o homem estava vestindo uma camisa amarrotada. Erin revirou os olhos para ele antes de entrar e se jogar em uma das duas poltronas vermelhas em frente à mesa de madeira onde antes ele estava sentado.

A sala era pequena, mas ainda sim conseguia ter uma estante de livros e um armário de metal, semelhante ao dos alunos nos corredores, onde os históricos de cada um eram documentados. Erin sempre teve curiosidade em acessar aqueles arquivos, gostaria de ler o que falavam dela, principalmente depois das constantes visitas que ela havia feito durantes os últimos meses.

— O que faz aqui, querida, logo no primeiro dia de aula? — o psicólogo quis saber, ajeitando os olhos de armações redondas que estavam, segundo Lexi, fora de moda.

— O que você acha? — Erin murmurou e então o encarou, arrependida pelas palavras, afundando-se mais no estofado. — Incrivelmente ganhei três semanas de detenção e o melhor: sem querer

O homem passou a mão pela barba feita e levantou-se da mesa, andando pela sala.

— Já estou acostumado com sua personalidade e seu comportamento... diferente. — ele disse e a garota levantou uma sobrancelha.

— Eu tento não fazer de propósito. — ela murmurou fazendo graça. Um silêncio reinou no ambiente e a morena voltou a explorar o cômodo com os olhos, logo ela notou um porta-retrato no canto direito da mesa que antes não estava ali. Era uma foto de uma mulher loira e de uma criança, ambas tinham olhos castanho-claros e um longo nariz, assim como os do conselheiro:

— Não sabia que o senhor era casado e tinha uma filha.

— Eu não diria casado quando a esposa acabou de pedir o divórcio — Abraham comentou disperso e então balançou a cabeça, se esticando sobre a mesa e abaixando o retrato, um tanto envergonhado pela curiosidade da estudante. — Estamos aqui para falar sobre a sua situação e não sobre minha vida pessoal, senhorita McCarthy. Poderíamos voltar aos motivos de sua detenção, por favor?

— Pois bem, eu cheguei atrasada.

— Apenas isso? Não creio que...

— Ok, eu entendi. — Erin o interrompeu. — Cheguei um minuto antes daquela bruxa rabugenta fechar a porta, não calei a boca e ainda fiz uma experiência errada que acabou resultando em alguma maldita reação química. — ela bufou e abaixou o tom de voz, brincando com a ponta da saia quadriculada do seu uniforme. — Enquanto estava vindo para cá ouvi alguém dizer que por sorte não explodi a sala.

O conselheiro olhou-a pensativo e assentiu, voltando a sentar-se em frente à mesa. Demorou um minuto para abrir a última gaveta do armário de metal e pegar uma pasta colorida que Erin nunca tinha visto antes.

— Sei que a senhorita não fez todas essas ações de propósito — Abraham disse pausadamente e a garota revirou os olhos. — Gostaria de falar o motivo? Há alguma coisa acontecendo para tanta distração?

Erin pensou no que dizer enquanto sentia aquela pergunta atingindo o fundo da sua alma. Ela segurou nos braços da poltrona e apertou a madeira tão forte que os nós dos seus dedos ficaram brancos. Tudo o que ela mais queria era poder falar o que estava sentindo, os segredos que estava sendo obrigada a guardar e toda a complicação que Alexia Grimes havia criado na sua vida.

A garota engoliu em seco e olhou para o conselheiro. Eles haviam se tornado amigos, era verdade, mas Erin não estava pronta para falar sobre e provavelmente, nunca estaria, nem com ele e nem com ninguém. A mensagem que tinha recebido mais cedo deixava clara aquela situação e só de pensar na possibilidade de Lexi estar viva lhe causava calafrios.

— Não quero comentar sobre isso. — ela murmurou e desviou o olhar para o relógio vintage que fazia um irritante barulho na parede ao lado.

Abraham pigarreou e chamou a atenção da moça:

— Eu chamei seus pais para uma reunião hoje à tarde.

Erin arregalou os olhos e levantou-se tão rápido do lugar que o porta-retrato com a foto da perfeita família feliz do conselheiro tombou para trás.

— Você o quê? — ela perguntou em um fôlego só e o homem sorriu com uma calma invejável enquanto abria a pasta colorida e tirava de dentro dela uma folha, estendendo-a para a garota.

— Por favor, querida, sente-se. Eu conversei com eles pelo telefone e eles...

Antes que ele continuasse, entretanto, Erin o interrompeu e pegou o papel das mãos dele com brutalidade, lendo as anotações feitas de caneta azul. Suas pernas ficaram fracas e ela levou uma das mãos à testa, sem conseguir acreditar no que estava diante de seus olhos.

— Atitudes agressivas? Estresse pós-traumático e... uso de drogas? — ela leu incrédula e em um momento de fúria, seus olhos encheram-se de lágrimas e ela jogou a folha de volta para o homem, por pouco não derrubando mais objetos de sua mesa. — Você não pode fazer isso, deve ter alguma lei ou alguma... Alguma outra coisa que o proíba de... Eu pensei que minhas vindas aqui eram particulares!

— Erin — o orientador começou, tocando-a gentilmente uma das mãos. Ela em uma situação normal não recusaria o toque ou se esquivaria, mas naquele momento a proximidade a deixou irritada e ela se distanciou, engolindo as lágrimas e os xingamentos presos na garganta. — Seus pais querem o seu bem. Eles estão preocupados com você.

— Eu não quero ninguém preocupado comigo, isso é difícil de entender? — A garota começou, sentindo uma lágrima trilhar involuntariamente um caminho até sua bochecha. Ela limpou-a com raiva, deixando um arranhado vermelho no lugar e caminhou com passos firmes até a porta da sala, parando no meio do caminho:

— Não tem nada de errado comigo! Você e meus pais acham que eu sou assim porque o desaparecimento de Lexi mexeu comigo, mas é exatamente o contrário. Alexia está morta e eu já aprendi a conviver com isso, ao contrário de vocês.

 *

O ensurdecedor sinal indicou o fim das aulas e como o corredor estava livre já que metade dos alunos haviam ido embora, Sam não foi mais motivo de atenção.

A morena pegou os livros que precisava no armário e guardou-os na sua bolsa transversal, indo direto para casa. Como o lugar ficava apenas a quatro quadras da escola, ela aproveitou o tempo para refrescar a mente e pensar sobre a confusão que havia sido aquele primeiro dia de aula.

Mesmo que ela e as amigas tivessem combinado que iriam apagar a mensagem assustadora, Sam fez uma cópia dela e a guardou em uma pasta com senha no celular por precaução. Não, ela não esperava que Lexi jogasse pedrinhas na sua janela e aparecesse magicamente sentada em seu sofá, mas pensar na possibilidade da amiga estar viva era algo que Sam tinha se esquecido de fazer e aquela mensagem podia ser o sinal. Fora tantas lágrimas e tanto choro que a garota desistiu e parou de pensar em um final feliz. Lexi sempre fora maldosa quando o assunto era brincadeiras e Sam conseguia imaginá-la rindo enquanto apertava a tecla de enviar.

Menos de dez minutos se passaram e a morena já se encontrava destrancando a porta da frente e pisando em segurança dentro de casa enquanto pensava sobre aquelas questões sem resposta. Estava acabando de deixar a bolsa cheia de livros no sofá quando entrou na cozinha e viu uma enorme cesta de vime embalada para presente em cima da mesa de quatro lugares.

Um bilhete colorido autocolante pregado à embalagem chamou sua atenção e ela o pegou, encontrando apenas uma mensagem datilografada sem remetente no meio do papel:

 

“A casa dos Grimes foi vendida. Toque a campainha e não se esqueça de desejar boas-vindas aos vizinhos.”

 

Sam franziu levemente o cenho e sentiu seu coração parar por um minuto. Malcolm podia ser a pessoa mais desatualizada do mundo acerca da tecnologia, mas não saber que era Ethan Williams, o suspeito número um de matar Alexia Grimes, o seu mais novo vizinho? Seu olhar se focou na cesta e Sam reconheceu algumas frutas secas e inúmeros potes de conserva. Uma careta formou-se em seu rosto, ela odiava qualquer coisa enlatada e que estivesse conservada dentre um pote.

Por mais que a situação fosse um tanto estranha, Sam pegou a cesta e carregou-a nos braços em direção a casa que ela conhecia tão bem. Malcolm era adorado por todos da cidade, era receptivo com os novos moradores e ela sabia que ele iria ficar profundamente magoado se ela não o obedecesse.

Sua respiração tornou-se descompassada no momento em que ela girou a chave da porta dos fundos e avançou em direção ao quintal dos Grimes. Sam estava com medo de Ethan, por mais que fora ela que inventara que ele era o culpado, ele ainda era indecifrável. Se fosse mesmo inocente, ele teria se defendido naquela noite diante dos policias e deixaria claro hoje mais cedo que fora preso injustamente, quando Kurt o acusou.

Seu coração apertava a cada passo e ela precisou respirar fundo antes de tocar a campainha da casa vizinha. A vontade da morena era deixar a cesta no capacho e correr o mais rápido possível antes que ele abrisse a porta, mas ela não podia fazer isso. Seria covarde, afinal ela e suas amigas só haviam decidido mentir para a polícia dizendo que ele era suspeito porque ele era o único que, teoricamente, seria dispensado de primeira. Ethan Williams era o novato na escola, não tinha amigos e muito menos família na cidade, ninguém desconfiaria dele e elas estavam achando exatamente isso quando Sam foi pega pela própria sorte e o encontrou algemado em direção a delegacia.

Agora tudo estava confuso. Sam não sabia se acreditava na inocência dele e ela respirou fundo mais uma vez antes de tocar a campainha. Alguns minutos se passaram, ela trocou o peso de uma perna para a outra e estava quase tocando a campainha novamente quando ouviu o barulho de alguma coisa pesada caindo nos fundos da casa.

A garota seguiu na direção do barulho e contornou a casa até o jardim de ambrósias que a Sra. Grimes cultivava no verão, dando de cara com as portas dos fundos aberta. Sua curiosidade falou mais alto e ela colocou a mão no puxador gélido, empurrando a porta cuidadosamente para que a mesma não rangesse. Sua visão ficou turva por culpa da claridade repentina, mas ela logo voltou ao normal e Sam pôde enxergar perfeitamente a cozinha branca que antes ela e Lexi faziam chocolate quente no inverno.

— O que você está fazendo aqui?

*

Catherine entrou pelas portas duplas do Kai's, ouvindo o pequeno sino tilintar acima da sua cabeça, anunciando sua chegada. Seus olhos azuis escuros esquadrinharam cada centímetro do bar rústico que naquele horário da tarde estava mais para uma cafeteria, servindo seus cafés e seus famosos muffins.

A loira reconheceu alguns colegas de classe e deu um sorrisinho, acenando para eles assim que passava pelos mesmos enquanto olhava em direção ao balcão de madeira, procurando por Erin entre os inúmeros clientes que se apoiavam para fazerem seus pedidos.

Sem sucesso na busca pela amiga, ela caminhou em direção à saída quando parou de repente, avistando Peter do outro lado do caixa. O garoto parecia totalmente desajeitado e sem jeito enquanto tentava atender os clientes que falavam todos ao mesmo tempo.

— Peter! Oi, tudo bem? — Catherine cumprimentou-o depois de pedir licença para algumas pessoas e se aproximar do moreno. Peter estava usando seus óculos de grau e tinha uma caneta presa à orelha, outra entre os dentes e uma terceira sendo usada para anotar os pedidos de uma mulher ruiva. — Onde está Erin? Não a vi atendendo nenhuma mesa.

Peter olhou para ela e assim que conseguiu atender todos os clientes, foi até ela o mais rápido possível:

— Oi — cumprimentou ele um pouco envergonhado, tirando a caneta ente os dentes, ajeitando-a na orelha livre. — Erin ficou de detenção, vamos fechar mais cedo hoje.

— Quer dizer que ela não vai voltar hoje?

— Acho que não, Frank e Mark a deixaram faltar e bom... ela é a Erin, nem se pagassem mil dólares ela viria trabalhar depois de uma hora com a Sra. Smith na detenção. É como pedir um feat entre a Katy Perry e a Taylor Swift — Peter debochou e jogou o pano de lavar louças sobre um dos ombros, olhando as horas em seu relógio de pulso. — Olha, meu turno acaba daqui a cinco minutos. Você ainda mora na mesma rua? Vou visitá-la assim que sair, posso te dar uma carona.

A loira pensou antes de responder, colocando uma mecha de seu cabelo dourado atrás da orelha.

— Não, obrigada — ela sorriu, negando com a cabeça. — Vou dar uma passadinha no shopping antes de voltar para casa. Obrigada, de qualquer forma.

Catherine despediu-se do rapaz depois que ele assentiu e saiu do estabelecimento. Ela não ia fazer compras uma hora dessas, mas olhar as vitrines das poucas lojas luxuosas que o shopping de Santa Kennedy tinha já era o suficiente para fazê-la se sentir melhor.

A loira respirou fundo e decidiu que iria ligar para Erin antes de partir.

A mensagem que elas haviam recebido mais cedo estava sufocando-a e ela precisava comentar aquilo com alguém. Sam não parecia ser uma boa opção depois de tanto tempo afastada e Erin continuava ali, sendo a mesma Erin reclamona e sem educação que era desde a sexta série. Pegando seu celular do bolso externo da mochila e desbloqueando tela, Catherine nem precisou procurar pelo número da amiga porque já tinha decorado.

Depois de duas chamadas, Erin apareceu no outro lado da linha:

— Erin? Oi, sou eu, Cath.

Oi... — Catherine reconheceu a voz da amiga. — Confesso que estou surpresa de você ainda ter o meu contato.

— Eu nunca a exclui, você sabe disso. O que você está fazendo? Você pode falar agora? Eu passei no Kai’s e Peter disse que...

Erin interrompeu-a, parecendo nervosa:

Eu estou ocupada.

— Mesmo? Fazendo o quê?

O outro lado da linha ficou mudo por um instante.

Tentando salvar o meu cactus.

— Sério? — Catherine perguntou desconfiada, franzindo o cenho. — Eu pensei que você não gostava de plantas.

Sim, mas... ele começou a morrer e caramba, eu achava que eles só morriam com uma arma, um tornado ou sei lá, um apocalipse nucelar. Minha mãe vai pirar. Acho que ainda tem como salvá-lo, preciso desligar.

— Não, espere...

Até mais. 

Catherine suspirou irritada, vendo que Erin havia desligado na sua cara de propósito. Já decidida a ligar de novo até que a amiga atendesse e parasse de inventar desculpas esfarrapadas, ela estava apertando as teclas e discando o número para realizar a chamada distraidamente quando um carro preto começou a se aproximar de repente, avançando em sua direção.

A loira percebeu tarde demais e os seus olhos se arregalaram enquanto o automóvel ganhava ainda mais velocidade. Um grito ficou preso na sua garganta e tudo aconteceu muito rápido. Dois braços masculinos puxaram-na para longe do perigo no último segundo e ela caiu no chão, com o seu corpo indo de encontro ao do garoto que havia acabado de salvar-lhe a vida.

Seus pulmões estavam tentando puxar o máximo de oxigênio que conseguiam e só depois do susto ela foi notar que o rosto de seu herói estava tão próximo que seus narizes quase se tocavam. Loiro de olhos cor-de-mel, tinha o cabelo mais longo na frente e levemente bagunçado. O maxilar triangular era acompanhado por uma fina barba quase imperceptível e seus braços com poucos musculosos circundavam o corpo fino de Catherine.

— Você... está deitada bem em cima do meu tórax. — O garoto disse com a voz esganiçada por conta do peso da loira. — Não que eu esteja reclamando, mas... eu não consigo respirar.

Catherine sentiu suas bochechas corarem como o inferno e ela arregalou os olhos, jogando suas pernas para o lado, levantando-se de cima dele completamente constrangida.

— Me desculpe, você está bem? — ela perguntou com vergonha depois de sacudir a cabeça e voltar de seus devaneios, tentando ajudá-lo a levantar da melhor maneira possível. — Obrigada por ter me salvado... Hm, eu não sei o seu nome.

O loiro sorriu de canto e aceitou de bom grado a mão que a garota esticava em sua direção, mesmo que ela fosse mil vezes menos fraca que ele e não conseguisse levantá-lo. Seus olhares se encontraram e o sorriso no rosto do garoto aumentou enquanto ele ajeitava a roupa no corpo:

— August, mas você pode me chamar de Gus.

*

Erin desligou o celular para evitar mais ligações indesejadas e colocou o capuz azul-marinho de volta sobre os fios castanhos, olhando disfarçadamente para os lados antes de pegar impulso para pular a cerca de madeira da represa Holloway, a única das demais que ainda permanecia ativa em Santa Kennedy. Sua visão estava um pouco embaçada por causa da chuva fina que havia começado a cair naquela tarde e ela xingou quando sentiu uma farpa entrar na sua mão, fazendo-a gemer de dor e ficar sem apoio, caindo de mau jeito.

A morena revirou os olhos e rapidamente levantou-se, sabendo que não podia perder tempo. Já havia perdido alguns minutos por causa da detenção e precisava ser rápida antes que alguém ali perto a encontrasse invadindo a propriedade. Ela olhou mais uma vez para os lados e por fim, agachou e engatinhou por baixo da fita listrada de amarelo da polícia que circundava todo o perímetro enquanto praguejava por ter que sujar suas novas calças jeans. A fim de cobrir suas digitais, ela puxou as mangas do agasalho até que ele cobrisse suas mãos e empurrou a porta de madeira da sala de controle da represa com esforço. Um calafrio percorreu seu corpo e ela teve que apertar os olhos para enxergar onde estava pisando.

Erin deu mais um passo. Segundo o plano esquematizado na sua cabeça, ela precisava encontrar as chaves que davam acesso aos tanques de água. Outro passo e ela parou de repente, tendo o pressentimento de estar sendo observada. A morena olhou para os lados desconfiada e seu coração parou ao notar que sua respiração não era a única ali naquela sala, dando um pulo de susto quando sentiu dedos se fecharem por cima de seu ombro.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Se sim, não deixem de deixar sua opinião nos comentários.

Quero novamente agradecer o feedback positivo e dizer que não sei quando irei postar o próximo, já que tenho uma prova super importante segunda (torçam por mim).

Como sei que vocês gostam, aqui vão as perguntinhas dos capítulos: Por que Megan resolveu bancar a falsiane? Quem pegou a Sam invadindo a casa dos Grimes? E o que nossa dona da simpatia, vulgo Erin, estava fazendo na represa onde o corpo ainda não identificado foi encontrado?

Caso queiram falar comigo ou fazer perguntas sobre a história,
http://ask.fm/sterollarke

Beijos.