Cold Blood escrita por Miss America


Capítulo 4
Capítulo 3 — Home Sweet Home


Notas iniciais do capítulo

(Lar, doce, lar)

Senhora, é verdade que você prometeu capítulo no fim de semana passado e só está postando agora? NÃO, EU NUNCA FIZ ISSO!!!!!!!1!!11

Oi meus pandas cor de rosa, tudo bem? Primeiro, mil perdões pela demora. Eu tinha postado o capítulo, mas não tinha gostado dele e resolvi reescrever. Definitivamente esse é um capítulo super importante para a história e eu espero que vocês gostem dele. Antes que perguntem: sim, vai continuar tendo capítulo de sete mil palavras e se reclamarem, vai ter de dez mil.

Músicas do capítulo:
Banners - Ghosts
Hollow Coves - Home



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Capítulo 3

HOME SWEET HOME

 

 

Sam abriu os olhos lentamente, encarando o teto branco de seu quarto, mal acreditando que estava novamente pisando em território neozelandês. Seu voo da noite passada havia atrasado, ela precisou ficar esperando no aeroporto e o caminho de Auckland até Santa Kennedy demorou mais algumas horas, fazendo-a chegar em casa apenas de madrugada.

A morena respirou fundo, estava cansada e seus músculos doíam tamanha exaustão. Além do atraso, ela havia passado a maior parte da noite acordada pensando no seu passado em Santa Kennedy e por isso não conseguiu pregar os olhos por mais de meia hora. Com toda a disposição que tinha, Sam levantou-se da cama e espreguiçou-se enquanto encarava seu antigo quarto. Quando ela abrira a porta do mesmo na noite anterior, havia se surpreendido ao notar que estava igualmente como havia deixado.

Mesmo levando quase todas as suas coisas para Melbourne, na Austrália, o que restara na Nova Zelândia estava em perfeito estado. Sua cama, seus livros escondidos embaixo dela e até mesmo seus diários antigos que ela nem se quer lembrava que ainda existiam. Na parede ao lado da escrivaninha de carvalho branco, seu velho mural de cortiça ainda prendia fotos com seus pais e fotos aleatórias com as suas melhores amigas neozelandesas.

A garota ficou feliz ao encontrar-se em uma foto com quinze anos, ainda na época que seu cabelo era curto e repicado, como se ela mesmo tivesse o cortado. Ao seu lado estava Lexi, com os cachos dourados presos em um rabo de cavalo, seus olhos verdes estavam brilhando. Ela tinha um sorriso no rosto, deixando-a mais bonita do que naturalmente já era. As duas estavam em frente à igreja da cidade que não passava de ruínas. 

Sam sorriu involuntariamente com a recordação e lembrou-se de como Alexia tinha o poder de fazer com que todos gostassem dela e admirassem-na, mesmo que fosse maldosa na maior parte do tempo. Foi nesse exato momento em que a garota deixou o sorriso morrer no rosto, quando as piores lembranças da amiga vieram em sua mente. A festa, o primeiro dia de aula e seu desaparecimento haviam se tornado situações complicadas que Sam fazia de tudo para não se lembrar, mas que nunca mais poderiam ser apagadas pois ela era vizinha dos Grimes. Sua vista da janela dava para o quarto de Lexi, que continuava ali, intocável, como se ela ainda morasse na casa.

O dia estava amanhecendo. O sol aparecia lentamente entre as nuvens e perdida em seus devaneios de lembranças e recordações, Sam não percebeu quando seu pai, o professor Malcolm Langdon, já vestido para o trabalho, entrou em seu quarto com duas canecas de café.

— Bom dia, querida — ele disse animadamente e beijou-a na testa antes de entregar-lhe uma das canecas, seus olhos azuis analisaram-na de uma maneira intensa enquanto a filha apanhava a bebida. — Está com cara de sono, não dormiu à noite?

Sam sorriu, um tanto cansada.

— Um pouco — ela respondeu e sentou-se na cadeira da escrivaninha, aninhando-se na mesma, enquanto tomava alguns goles de café.

— Pois então, o que você achou da casa nova? — perguntou Malcolm, mudando de assunto. Sabia que não podia culpar a filha por sentir falta das praias ensolaradas da Austrália, dos amigos que tinha feito por lá e da mãe. 

— A casa não é tão nova assim. — Sam murmurou — Você não mexeu no meu quarto.

Seu pai sorriu sem graça e olhou para um canto aleatório do cômodo, apertando os dedos em torno de sua xícara. Sam aproveitou para estudar seu rosto depois de tanto tempo sem vê-lo. Malcolm tinha, assim como ela, um belo par de olhos azuis, estava na casa dos quarenta e mesmo que tivesse algumas linhas de expressões pelo rosto e alguns fios brancos, não deixava de ser um homem bonito e aparentava ser muito mais novo do que realmente era.

O seu único defeito talvez fosse a aparência exausta que ele sempre carregava no rosto depois de chegar do trabalho. Ser professor de um bando de adolescentes era um trabalho cansativo, mas ele amava o que fazia e Sam o admirava por isso.

— Pensei que você preferia assim. Achei que tudo como antigamente lhe faria sentir-se em casa — ele disse, parecendo escolher bem as palavras. — Sei que você odeia Santa Kennedy, mas estou disposto a fazer você mudar de ideia.

— Acho que sempre irei preferir morar longe daqui. — Sam murmurou enquanto encarava a fotografia com Lexi fixada por um alfinete em seu mural, sentindo todas as lembranças voltarem.

— Nem se eu colocar uma prancha aqui, nessa parede? — ele perguntou, tentando não parecer ofendido ao mesmo tempo em que procurava animá-la, levantando-se e parando ao lado de uma das paredes brancas do quarto.

Sam não queria, mas riu.

— Pai, não é porque sou australiana que eu sei surfar.

— Mas não é o que os australianos gostam de fazer?

— Sim — ela revirou os olhos diante da expressão confusa do pai, entretanto não deixou de sorrir. Ele fazia de tudo para vê-la feliz. — Mas eu também sou neozelandesa.

Malcolm assentiu levemente:

— Bom, sorte a sua que tem um pai que se preocupa com você e que é obcecado por guardar coisas — ele disse e de repente, entregou seu café para Sam e correu para fora do quarto, voltando segundos depois carregando uma caixa de papelão que aparentava ser pesada.

— O que tem na caixa?

— Algumas coisas que eu achei naquela poeira que chamamos de sótão — Malcolm respondeu e deixando a caixa no chão. — Resolvi juntar tudo o que era seu na época de criança e estava guardando desde que sua mãe disse que você ia voltar para morar comigo... Claro, não tem uma prancha aí dentro, mas se você gostar de alguma coisa e quiser colocar aqui, está livre para fazê-lo e decorar seu quarto como quiser.

Sam sorriu, estava feliz pelo esforço do pai e pela sua preocupação em fazê-la se sentir confortável agora que ela havia retornado:

— Vou dar uma olhada.

— Tudo bem então, estou atrasado para o trabalho. Deixe a caixa no corredor quando acabar e desça para tomar café da manhã, você tem escola hoje.

Sam suspirou.

— Não posso faltar? Estou exausta da viagem e acho que vou demorar um pouco para me acostumar com o novo fuso horário.

— Sam, são apenas duas horas de diferença e você já morou aqui antes, não é tão difícil assim — Malcolm murmurou e colocou uma mão no ombro de Sam, vendo-a suspirar mais uma vez. — Não quer uma carona? Talvez você possa ligar para Kurt e quem sabe...

— Não.

— Samanta...

— Não precisa! — Sam o interrompeu e levantou-se até suas malas, abrindo-as e puxando algumas roupas aleatórias enquanto as jogava na cama. Ela parou para respirar fundo apenas quando viu que não tinha mais roupas. — Desculpe, estou muito cansada, eu só... Eu só não preciso de uma carona, ok? Nós moramos a quatro quarteirões da escola, eu consigo ir andando.

— Tudo bem, tudo bem, não se atrase ou irá perder os primeiros horários — Malcolm foi compreensível, depositando um beijo em sua cabeça antes de caminhar para fora do cômodo.

Sam concordou e assim que seu pai desceu as escadas, respirou fundo e deitou-se por cima das roupas espalhadas. Ela ficou encarando o nada até que ficou de pé e começou a procurar entre a bagunça o seu uniforme escolar.

A caixa de papelão que seu pai havia trago continuava no chão e Sam só lembrou-se de sua existência quando, depois de ter tomado banho e vestido as roupas íntimas, tropeçou nela no caminho até ao armário.

A morena soltou um suspiro e ajoelhou-se diante da enorme embalagem, rasgando metade do papelão. Ao se deparar com uma foto de suas quatro amigas na piscina de sua casa, ela franziu o cenho, não se lembrava de ter tirado aquela foto e sua piscina estava sendo reformada há mais de dois anos.

Um calafrio percorreu sua espinha no momento em que viu que o rosto de Lexi carregava um sorriso, mas continha uma expressão tensa, como se ela estivesse pensando em alguma coisa preocupante antes da foto ser tirada. Sam resolveu deixar a fotografia estranha de lado, se apressando em abrir o pacote que estava acomodado debaixo dela.

Quando o abriu, ela soltou um grito agonizado e levou as mãos até os lábios, assustada demais para pensar em quem teria feito uma atrocidade daquelas. Sam precisou tampar a respiração para encarar o coelho morto dentro do pacote e reuniu coragem para virar o pobre bicho ensanguentado, encontrando um bilhete preso às suas costas.

A garota pegou o papel e o desdobrou, encontrando uma mensagem, escrita com caneta vermelha, no centro da folha:

 

Você sabe o que dizem sobre os inimigos, eles moram na casa ao lado.

 

Sam procurou um remente, porém não encontrou. Nenhum nome, nenhum número e muito menos um endereço. Seus olhos percorreram as palavras sem sentido e ainda sem entender, ela ouviu o barulho de alguma coisa caindo mais ao longe e olhou para sua janela, percebendo que tinha a deixado as cortinas arreganhadas durante a noite. Ela tinha se esquecido de fechá-las e havia se trocado de roupa com elas abertas.

A morena cobriu-se com um dos braços e com o outro livre, pegou a toalha que tinha deixado cair no chão e colocou o tecido em frente ao corpo, afastando-se de volta para o banheiro. Apenas depois de subir a saia pelo quadril e caminhar em direção as cortinas a fim de fechá-las, foi que ela entendeu o que a mensagem misteriosa dizia.

A garota arregalou os olhos, fechando as cortinas tão rapidamente que quase as rasgou na meio tamanha pressa.

No quarto de Lexi, do outro lado da janela, Ethan Williams estava encarando-a. 

*

Catherine entrou na cozinha naquela manhã e viu sua mãe sentada na bancada com uma caneca de café repousada ao seu lado. Mesmo estando de costas para ela, a loira conseguiu vê-la ajeitando um monte de papéis. Analgésicos para dor de cabeça estavam diante da papelada e a garota franziu o cenho ao notar que a cartela de comprimidos estava vazia.

— Quer café? Acabei de fazer. — Sua mãe perguntou de repente, assustando Catherine que não esperava que ela tivesse percebido sua presença. Andrea se virou e olhou a filha por debaixo das lentes grossas dos óculos.

A mãe parecia que tinha passado a noite inteira acordada e Catherine observou-a bem. Pela quantidade de papéis que estava sobre a bancada e pelas duas garrafas de café vazias perto do escorredor de louças, ela não duvidou de que Andrea realmente tivesse passado a noite sem dormir.

— Bom dia e não, obrigada. — Catherine respondeu educadamente e deixou a mochila que carregava perto da bancada. Caminhou até o outro lado da cozinha e procurou pela sua tigela favorita cor-de-rosa entre as louças recém-lavadas. Quando a achou, não perdeu tempo e abriu a geladeira de portas duplas, pegando o leite e despejando uma boa quantidade da bebida para depois ir até o armário e pegar a caixa de cereais:

— Muito trabalho? — ela perguntou, tentando puxar assunto.

— Sou uma mulher da justiça e a justiça nunca tira férias, não posso reclamar se tenho trabalho a fazer. — Andrea respondeu com o resto de bom humor que tinha e então, suspirou pesadamente e retirou os óculos, colocando-os sobre a bancada enquanto fechava a pasta e a guardava em sua bolsa. — Desculpe, eu só... estive pensando muito sobre nossa família essa noite.

— Aconteceu algo que eu deveria saber? — Catherine perguntou, com um pouco de receio na voz enquanto sentava-se diante dela com a tigela de cereais em mãos. 

— Não, não é nada. — A mulher esboçou um sorriso. Olhou nos olhos da filha e pegou suas mãos, apertando-as forte antes de soltá-las. — Não esquente a cabeça com isso. Eu resolvo a situação, ok?

Catherine deu de ombros e afundou a colher no seu café da manhã enquanto alternava seu olhar entre os flocos de milho remexendo-se na tigela e Andrea, não sabendo como abordar o próximo assunto:

— Semana passada, eu vi uma postagem no facebook sobre as inscrições do “Miss Santa Kennedy” estarem abertas — ela começou, desconcertada depois de enfiar uma colherada generosa de cereal na boca. — Sei que Mary ganhou adolescente, então... fiquei interessada esse ano e me inscrevi pelo site, só preciso esperar pela carta de aprovação. 

O rosto de Andrea iluminou-se com um sorriso sincero pela primeira vez naquele dia, mas antes que ela falasse alguma coisa ou tivesse a chance de pensar, Mary Anne entrou na cozinha com um imenso sorrido no rosto enquanto balançava duas correspondências no ar.

— Mamãe? — ela praticamente gritou e sentou-se ao lado de Catherine que precisou fazer força para não revirar os olhos com o entusiasmo forçado da irmã. — Estou tão feliz, consegui aquela vaga de emprego!

Catherine quis revirar os olhos mais uma vez, porém ela se controlou e resolveu apenas escutar. Mary Anne era formada em arquitetura e estava há mais de cinco meses procurando um projeto para trabalhar e finalmente ela havia conseguido. Ela tinha recebido um e-mail do Waverly Houston Medical, o hospital psiquiátrico de Santa Kennedy que já estava desativado e não funcionava mais, dizendo que os proprietários gostariam de convidá-la para arquitetar o projeto de uma obra para transformá-lo em um hotel luxuoso.

— Os donos do Houston entraram em contato comigo! — A loira mais velha prosseguiu, eliminando todas as chances de Catherine continuar sua conversa sobre o concurso de beleza. — Querem demolir aquela espelunca e construir um hotel no lugar.

Catherine sorriu sem graça e mexeu-se na cadeira, inquieta:

— Então, mãe... eu estava falando sobre o concurso...

— Você consegue acreditar nisso, mãe? De todos os arquitetos da cidade, eles me escolheram! — Mary falou ao mesmo tempo, interrompendo-a de propósito enquanto balançava a correspondência com o símbolo do sanatório Waverly na frente do rosto da mãe. — Não é incrível?

Catherine sentiu-se triste, mas colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha antes de limpar a garganta e continuar:

— Eu ainda não ouvi sua resposta sobre o concurso, mãe. — ela sorriu sem graça e tentou mais uma vez, elevando o tom de voz para que a mãe ouvisse. 

Mary interrompeu-a novamente:

— O salário é razoável. Claro, vou receber um aumento depois que eu arquitetar o projeto, mas por enquanto é o suficiente para mim.

Catherine suspirou pesadamente e por fim, desistiu. Ela chutou o pé da mesa com força sem querer, fazendo uma careta por causa da dor. Mary sorriu contente e levantou-se para pegar uma xícara. Quando voltou para a mesa, sentou-se do lado da mãe com um sorriso de orelha a orelha, serviu-se de café, tirou do bolso dos jeans um envelope amarelo e o jogou na direção da irmã.

— Estava no correio, acho que era para você. — disse ela, sem esconder o desgosto.

A loira pegou a carta amarela, sorrindo ao ver seu nome escrito na frente e o nome do concurso no remente. Seus dedos finos percorreram pelo papel e deslizaram sobre os arabescos em alto relevo enquanto ela o abria cuidadosamente. Quando leu o que a carta dizia, piscou algumas vezes, relendo as informações com cuidado, sem conseguir acreditar.

 

Nome completo: Catherine Alison Gilbert-Bianchi.

Inscrição número 187, feita no dia 02/01/2015.

Resultado: REPROVADA.

Motivo: violação das regras.

 

— Filha, alguma coisa de errado? — Andrea perguntou, vendo sua cor esvair de seu rosto, carregado de uma expressão apavorada.

— Só mais uma daquelas propagandas de arrecadações da igreja, esse ano eles estão juntando alimentos não perecíveis. — A loira mentiu e forçou um sorriso, guardando a carta rapidamente no bolso da mochila. 

— Sabe, eu estive pensando em alugar um apartamento em Auckland — Mary Anne comentou e puxou delicadamente o braço da mãe para que ela focasse sua atenção exclusivamente nela. Catherine estava visivelmente nervosa e apoiou o queixo no dorso da mão, tentando disfarçar e se mostrar interessada. — Ryan tem um emprego no hospital e eu arrumei esse emprego agora, temos uma relação e uma situação financeira estável, então talvez eu pensei que...

— Morar juntos? — Andrea levantou as sobrancelhas e cruzou os braços, mantendo a postura rígida. — Não, de jeito nenhum.

— Por quê? Mas, mãe, nós somos...

— Maiores de idade? Não quero nem saber, Mary Anne! Vocês namoram faz menos de um mês. Em hipótese alguma deixarei minha filha viver com um homem que mal conheço, assunto encerrado. A resposta é não. — Andrea disse decidida e ficou de pé, guardando seus pertences na bolsa de couro. — Catherine, você vai perder o primeiro horário.

Catherine assentiu, pegou sua mochila obedientemente e colocou-a nos ombros, subindo as escadas até o banheiro enorme de seu quarto para escovar os dentes. A garota encarou seu reflexo no espelho, sentindo no fundo do seu interior uma vontade de chorar.

Ela ficou se olhando por longos minutos, esperando a vontade passar, pensando que ela não era mais aquela Catherine ingênua que obedecia Lexi por ter medo dela e agia como sua sombra, aceitando ser sua marionete. Claro, ela sentia falta da amiga, mas... Bem, ela gostava de pensar que Lexi estava por aí, curtindo a vida em uma das praias da Califórnia, bem longe da chatice entediante de Santa Kennedy, tomando um drinque com aqueles guarda-chuvinhas que Catherine nunca ia saber o nome, rindo da cara das amigas.

Catherine estava cansada de chorar pela amiga e se isso consistisse em ela esquecer de uma vez o quanto Lexi fora egoísta, pensando apenas nela mesma ao fugir quando teve a oportunidade, ela esqueceria.

Ela balançou a cabeça, querendo esquecer de Lexi e a sensação ruim que ela trazia quando pensava nela. Abrindo a primeira gaveta do armário e pegando seu corretivo, ela inclinou-se sobre a bancada de granito, querendo esconder as olheiras monstruosas que estavam debaixo dos seus olhos.

Depois de ter acabado consideravelmente com a roxidão das marcas recém-adquiridas, ela aproveitou e retocou os cílios com uma fina camada de rímel.

Foi com esse pensamento que a loira sorriu para seu reflexo e ajeitou seu uniforme: uma camisa social azul clara, uma gravata também azul, só que de um tom mais escuro, e uma saia quadriculada. Respirando fundo, ela guardou as maquiagens, escovou os dentes rapidamente e fechou a gaveta, decidindo de uma vez por todas que seria uma nova Catherine.

*

O tempo estava úmido e a brisa farfalhava as folhas levemente, os pássaros pairavam em um pinheiro daquela manhã de segunda-feira e os raios solares aqueciam as bochechas de Erin. O haras era o único da cidade e mesmo que algumas pessoas odiassem aquele cheiro de esterco, ela amava caminhar por aqueles currais e havia se passado muito tempo desde que ela estivera ali pela última vez.

Observando tudo de dentro da caminhonete velha que pertencia a seu irmão mais velho na adolescência, a morena se lembrou de quando treinava para as competições, antes do desaparecimento de Lexi. Lembrava-se muito bem de seu falecido treinador e sentia falta dele berrando em seu ouvido as instruções. Foram inúmeras competições ganhas e se não fosse pelo velhote, provavelmente Erin seria só mais uma tentando não cair do cavalo. Desde a festa de início de ano, ela abandonara as competições e descartara a ideia de continuar competindo nas estaduais. Por mais que seu coração estivesse apertado, ela sabia que a possibilidade de um dia voltar a cavalgar nunca aconteceria.

No momento em que se aproximou do estábulo, um pouco distante de onde a caminhonete estava estacionada, ela logo avistou seu parceiro de competições relinchando para ela. O cavalo era um puro-sangue inglês e parecia sentir saudade em vê-la.

— Oi, garotão, também estou feliz em ver você. — Erin riu com a animação do cavalo e da mochila que usava, tirou algumas maçãs que havia trazido unicamente para o amigo. 

Distraída enquanto acariciava o pelo negro do animal, ela nem notou que um garoto de ombros largos e chapéu de caubói a observava minuciosamente. Apenas quando ela virou-se para fazer carinho nos outros cavalos que ela o viu e o mesmo sorriu, cumprimentando-a com um toque na aba do chapéu.

— Falando sozinha? — ele perguntou com a voz rouca. Seu cabelo castanho-escuro parecia desarrumado por debaixo do chapéu e seus olhos brilhavam, tão negros como a noite, combinando perfeitamente com a pele morena. Suas sobrancelhas arqueadas davam-lhe um aspecto brincalhão e o rosto fino com o nariz alongado e reto deixavam-no extremamente charmoso.

— Tem alguma regra nova que me proíba de falar com meu cavalo? — Erin perguntou, com as sobrancelhas arqueadas. Seus olhos estudaram o rapaz e ela viu que ele estava carregando feno para os fundos do estábulo, nem precisando observar o crachá pregado em sua camisa azul para descobrir que ele era funcionário do haras.

O moreno deu de ombros.

— Não é uma coisa que vejo todo dia, principalmente de garotas como você.

— O que você quis dizer com isso?

Ele deu de ombros.

— Nada, só acho que esse lugar não faz seu estilo.

Erin olhou-o incrédula e cruzou os braços, fazendo uma rápida análise de suas roupas. Aparentemente não tinha nada de errado: ela estava usando o seu uniforme escolar, meias três quartos, all stars pretos e suspensórios.

— Por acaso você sabe o que faz ou não faz meu estilo? — perguntou ela, voltando sua atenção para o seu cavalo.

— Seu rosto é famoso nos jornais... Você era amiga da garota morta, não era? — o moreno prosseguiu desviando o assunto e ajeitou o chapéu na cabeça após ver que os ombros de Erin subiram e desceram rapidamente.

— Isso não diz nada sobre mim.

— Tem razão, mas sua personalidade também não ajuda muito, fica difícil descrevê-la desse jeito. A propósito, eu sou o James.

A garota virou-se para ele.

— Obrigada, mas não preciso de um caubói disfarçado de cartomante para descrever o meu mapa astral.

— Ok, miss simpatia, não está aqui mais quem falou. — O moreno levantou as mãos, fingindo estar ofendido. — Posso saber pelo menos seu nome?

— Meu nome é o nome de alguém que não está nem um pouco a fim de ter uma relação sociável com você. — Erin rebateu e o rapaz fez o que ela menos esperava, riu. Ela não entendeu o motivo da graça. — Eu disse alguma coisa engraçada?

O moreno apoiou um pé na parede na qual estava encostado e sorriu, mostrando seus dentes perfeitamente alinhados.

— Então quer dizer que você tem sempre uma resposta na língua?

Erin sentiu o sangue começar a subir pela cabeça.

— Então quer dizer que você é um enxerido que não tem nada para fazer da vida e fica aqui, cuidando da minha?

— Está com medo do que eu vá pensar de você? — ele continuou provocando-a, divertindo-se ao vê-la irritada.

— Pelo contrário, provavelmente nunca mais vou cruzar com você na vida.

— Não acredita em destino?

— Não e mesmo se acreditasse, tenho certeza que ele não ia colocar um idiota como você no meu caminho.

O garoto voltou a rir.

— Uau, você é boa nisso. Tudo bem, eu desisto. Você tem a beleza de uma princesa, mas é arrogante feito uma marinheira.

Erin revirou os olhos e fechou a cara, mostrando o dedo do meio para ele antes de acariciar o pelo negro de seu cavalo uma última vez e caminhar para longe dali com passos firmes.

Não demorou muito e ela chegou ao estacionamento, procurando pela caminhonete velha de seu irmão na vaga na qual havia estacionado. Assim que a encontrou, não hesitou em caminhar até ela. Abriu sua bolsa e estava procurando pelas chaves do carro enquanto caminhava para perto da lataria quando levantou os olhos e assustou-se. Sua expressão mudou drasticamente, ela quase deixou cair as chaves e suas pernas tornaram-se trêmulas. Matherson esperava perto da porta do motorista com os braços cruzados, esperando-a com um sorriso presunçoso no rosto.

— Você estaciona muito mal, senhorita McCarthy. Se eu fosse um guarda de trânsito, faria questão de multá-la.

Erin engoliu a seco, mas logo tratou de se recompor e ergueu a cabeça, olhando-o nos olhos. Já estava impaciente por causa de Jason, Jack, ou seja lá o nome do caubói de nariz em pé. 

— Seria uma pena se você fosse apenas um detetive que só sabe me infernizar.

Matherson sorriu, continuando na mesma posição de propósito. O detetive era um homem bonito e Erin não duvidava de que ele era um daqueles tiras que usava o charme a favor do trabalho. Tinha no máximo trinta e poucos anos, loiro e provavelmente musculoso por debaixo daquele terno cinza-escuro, era dono de um par de belíssimos olhos azuis que se focaram nas obsidianas negras de Erin, fazendo-a levantar as sobrancelhas.

— Fala sério, você está me seguindo? — Erin quebrou o contato visual e tentou alcançar a maçaneta da porta, praguejando ao ver que não conseguiria sem ter que empurrá-lo. — Eu não posso nem sair mais de casa agora, é isso?

O detetive deu de ombros.

— São informações confidenciais da investigação.

— Pois bem, Sherlock Holmes, que tal você pegar essas informações secretas e investigar mais para lá, longe da porta do meu carro? Se não se importa, eu tenho um futuro para construir em uma faculdade. — Erin disse e agradeceu com um sorriso falso no momento em que o homem deu licença.

Matherson continuou observando-a enquanto ela ligava o carro e pisava fundo no acelerador, saindo cantando pneus.

O loiro riu sozinho vendo a caminhonete azul desaparecer aos poucos e seus olhos azuis percorreram o haras em que se encontrava.

Santa Kennedy era literalmente localizada no meio do nada, cercada por pequenas montanhas e florestas densas. Era uma cidadezinha aconchegante e aparentemente pacata das ilhas norte do mesmo país que a cantora Lorde nascera.

As praias mais próximas ficavam a quilômetros e ao invés de água salgada, Santa Kennedy era prestigiada por cachoeiras e vários lagos de água doce, rodeados por milhares de fazendas e propriedades rurais. Sua população era metade vinda do campo e metade estrangeira pelo mesmo fato. Os imigrantes viam na cidade uma oportunidade de construir suas famílias e ficarem ricos criando ovelhas. 

Depois de muitos minutos de reflexão sobre aquela cidade nem um pouco atrativa, o detetive perguntou-se por que de tantas outras cidades neozelandesas, como Wellington, Auckland, Christchurch e até a bela paisagista Queenstown, um desaparecimento fora acontecer ali, em uma cidade que nem aparecia no mapa e que muitos nem sabiam da existência.

Matherson balançou a cabeça, desistindo de entender a lógica dos psicopatas. Por mais que na sua carreira ele tenha enfrentado dos mais piores criminosos, de assaltantes até estupradores e necrófilos, no fim ele nunca conseguia compreendê-los.

O homem caminhou apressado até seu carro e no caminho, cruzou com James, cumprimentando-o com um simples aceno. Estacionado não muito longe dali, ele logo encontrou seu automóvel preto luxuoso e entrou nele, abrindo o porta-luvas e pegando as fotos que tinha ganhado de Erin no primeiro dia da investigação. De acordo com o seu chefe, dentre as três amigas de Alexia Grimes, ela era a mais suspeita e ele precisava ficar de olho nela caso quisesse solucionar aquele mistério.

*

Catherine olhou para sua mãe antes de descer do carro, se perguntando por que diabos ela estava tão séria aquela manhã e por que não dera uma única palavra durante todo o caminho como fazia, puxando conversa sobre escola ou qualquer outro assunto aleatório.

— Tem certeza que não está acontecendo alguma coisa? — perguntou Catherine depois de sua mãe parar em frente ao gramado da Santa Kennedy High School, onde alguns alunos estavam conversando eufóricos sobre suas férias e sobre o último jogo dos Kennedy Settlers, como o time de hóquei do colégio era popularmente conhecido. Outros estavam mexendo em suas mochilas e celulares, rindo de besteiras.

— Não, de maneira alguma. — Andrea respondeu sorrindo. Catherine notou que mesmo com um sorriso estampado no rosto, ela ainda tinha a aparência preocupada. As mãos da mãe acariciaram seu braço e ela ajeitou os óculos com armações grossas no nariz. — Já disse, só estou com alguns problemas no trabalho, não se preocupe.

— Ok. — Catherine suspirou, se dando por vencida. Ela sabia que sua mãe era teimosa e não diria se estivesse realmente acontecendo alguma coisa preocupante. — Vou passar no Kai’s depois da aula, tudo bem? — avisou e como não ouviu uma resposta, beijou-a no rosto antes de pegar sua mochila no banco de trás e descer do carro, subindo as escadarias do colégio, onde algumas meninas a cumprimentaram e alguns garotos piscaram para ela.

Catherine entrou no corredor dos armários e teve que pedir licença muitas vezes. A loira abriu seu armário e recolheu alguns livros, criando uma nota mentalmente de que iria devolvê-los para biblioteca depois da aula. O espelho em formato de coração pregado na porta do armário reluziu e Catherine virou-se exclusivamente para ele, vendo que uma foto polaroide dela com Lexi fazendo caretas ainda estava colada em uma de suas extremidades.

— Sabe aquele atendente super gato da loja? Então, eu pedi o telefone dele e adivinha só, ele me ligou! — Megan apareceu como um fantasma ao lado de Catherine enquanto ela ainda encarava a fotografia.

— Pensei que você estava numa fase de não namorar ninguém — a loira observou, suspirando e fechando seu armário.

— E eu estou, mas Randy é realmente um cara legal.

— E bonito. — Catherine provocou com um sorriso meigo e Megan revirou os olhos. Ela abriu a boca para responder, mas um trecho do hino oficial de Santa Kennedy começou a tocar nos autofalantes dos corredores do colégio e todos os alunos pararam o que estavam fazendo para escutarem a voz potente do diretor ecoando pelo lugar.

Alunos, sejam primeiramente muito bem-vindos ao começo de mais um ano letivo. Antes de irem para suas respectivas aulas, gostaria que todos comparecessem ao auditório imediatamente para um comunicado.

— Você acha que é uma coisa grave? — Catherine perguntou para a amiga, pensando no que de pior poderia acontecer.

— Acho que se fosse alguma coisa grave, eles teriam chamado nossos pais para irem junto. Provavelmente é sobre aquela babaquice dos grupos extracurriculares. — Megan murmurou e entrelaçou seu braço no da loira, puxando-a até as escadarias que davam acesso ao anfiteatro. 

*

Sam abriu as portas duplas do auditório e arrependeu-se no mesmo instante, querendo ter o poder de voltar no tempo. A morena ficou sem reação, não sabendo agir diante de mais de trezentos olhares voltados exclusivamente para ela. Havia decidido numa péssima hora que iria obedecer às ordens do diretor e não esperava que ela fosse uma das últimas a chegar para o comunicado.

O auditório era grande e bem iluminado, como o anfiteatro de qualquer outra escola. Catherine olhava para ela espantada, mas por fim deu um pequeno sorriso e acenou para ela. Sam retribuiu o aceno discretamente e até pensou em arrumar um lugar ao seu lado, porém quando viu que a loira estava entre Megan Ahuana e uma garota asiática que devia ser novata, desistiu.

Não havia lugares disponíveis nos fundos e a morena viu-se obrigada a caminhar entre as fileiras da frente para tentar encontrar uma cadeira livre. Enquanto fazia isso, ouviu diversos “Ela voltou?” e vários comentários do tipo “Pensei que ela tivesse desaparecido junto com Alexia!”. O lugar estava tão cheio que alguns alunos estavam em pé e outros, sentados no chão, perto da fileira na qual ficavam os professores um do lado do outro.

Erin, sentada entre um garoto acima do peso e outro de óculos, olhou-a espantada quando a mesma passou por ela e Kurt, seu ex-namorado sentado com o resto do time de hóquei, fez o mesmo. Sam tentou sorrir para ele, mas não conseguiu. Ethan Williams, isolado sozinho na última fileira, encarava-a da mesma forma como olhou para ela em seu quarto mais cedo. Ela ficou surpresa. Uma onda elétrica instantaneamente percorreu seu corpo e ela agradeceu ao achar um lugar ao lado de seu pai, na primeira fileira.

No palco, o diretor estava esperando para que os mais de trezentos alunos calassem a boca e parassem de cochichar uns com os outros sobre assuntos alheios. Eles não podiam culpá-los, afinal, a presença de um detetive e do delegado os deixavam eufóricos e a volta inesperada de Sam foi só mais um pretexto para que eles especulassem teorias.

— Agradeço a presença de todos. — Cameron Hollis, o diretor de meia idade dono de um bigode motivo de piadinhas pelos corredores, levantou-se de seu lugar no momento em que os alunos ficaram em silêncio e ajeitou o microfone à sua altura enquanto falava. — Antes de tudo, gostaria de dar boas-vindas a cada um, principalmente aos novatos. Infelizmente, o motivo que os reúno aqui nesse auditório é outro e posso adiantar que não é muito agradável.

Malcolm acariciou suavemente o braço de Sam.

— Ainda com raiva de mim? — ele perguntou sussurrando.

— Eu não estou com raiva de você, pai. — Sam respondeu no mesmo tom e ele sorriu abertamente para ela, dando-a um beijo na testa. Ela aproveitou que estava com uma ótima visão e encarou os indivíduos no palco. Além do diretor, havia dois policiais, um homem loiro de terno que Erin parecia odiar já que a mesma o ignorava e o delegado Martínez.

O homem engravatado deu um passo à frente e pareceu escolher bem as palavras antes de receber o microfone do diretor.

— Bom dia a todos, eu sou o agente Matherson e estou sendo responsável para solucionar o caso Alexia Grimes. Depois de quase doze meses de investigações, foi encontrado recentemente um corpo de uma garota nas represas Holloway. — disse o detetive e as reações foram exatamente como ele esperava. Alguns alunos arregalaram os olhos, outros cobriram a boca com as mãos e outros engoliram em seco. Porém, antes que os burburinhos recomeçassem, ele continuou:

— Não sabemos se de fato o cadáver é de Alexia Grimes, o corpo em breve será encaminhado para a perícia e creio que hoje ou amanhã irão sair os resultados. Outrora, gostaria de pedir a ajuda de todos, seja o corpo de Alexia ou não, vou interrogá-los sobre suas vidas e suas respectivas relações com Alexia. Gostaria de avisar que não deixarei a cidade até finalizar todos os meus serviços.

Sam não conseguia respirar e ela provavelmente tinha ficado gelada como um cubo de gelo, pois seu pai apertou sua mão e sussurrou que ia ficar tudo bem. As palavras de reconforto eram inúteis àquela hora, a única coisa que ela conseguiu fazer foi virar-se para trás e encarar as amigas. Catherine estava tremendo de um jeito assustador com as mãos no rosto e Erin tinha a cabeça abaixada, fazendo Sam se perguntar se ela já sabia da notícia.

Alguém das fileiras do meio gritou:

— A vadia desapareceu há mais de um ano. O cadáver já deve estar em decomposição!

O detetive voltou-se para o microfone.

— Nós temos uma família desolada querendo saber o que aconteceu com sua filha. Qualquer detalhe é crucial para descobrirmos seu paradeiro e se realmente o cadáver for da vítima em questão, o meu dever é...

— Você só está perdendo o seu tempo, cara.

O detetive, o diretor, os professores e os demais presentes viraram-se em direção a voz que impediu a continuação do discurso. Sam fechou os olhos e respirou fundo quando viu que o comentarista era Kurt, sentado com o resto do time de hóquei.

— O assassino está bem aqui, nesse auditório. — o moreno de olhos azuis disse, apontando para Ethan, nas últimas poltronas. — Quem garante que ele é mesmo inocente? Aposto que os pais dele compraram sua inocência e pagaram uma...

— Já chega, Husenburg. — O diretor Hollis tomou o microfone das mãos do detetive enquanto Ethan mantinha-se calado, com os braços cruzados, apenas observando a discussão em seu canto longe dos demais. — Não admito nenhuma acusação sem fundamento contra meus alunos.

Sam não teve tempo de ouvir quando o conflito tornou-se uma desordem de acusações e xingamentos. A garota levantou-se de uma vez e deixou seu pai sem entender quando saiu em direção as portas duplas do auditório.

Erin sentiu seu estômago revirar. Não queria vomitar na frente de todos e muito menos ter um ataque de pânico. A garota também se levantou de seu lugar e com passos apressados, correu até a saída, cruzando com Sam no momento em que ia empurrar as portas pesadas.

— Acho que precisamos conversar. — foi o que Sam disse assim que Erin a olhou com uma mistura de raiva e indignação.

Não deixando a morena mais baixa raciocinar, Sam agarrou-a pelo punho e com o ombro, empurrou as portas e puxou a garota até as escadarias que davam acesso ao primeiro andar do colégio.

— Olha, eu sei que não avisei sobre a Austrália e provavelmente, você está magoada comigo até hoje, mas... Eu recebi uma mensagem de um número privado essa manhã — ela disse nervosa, abrindo sua bolsa e procurando o seu celular dentro dela. — Acho que eu deveria mostrar para você antes que sejamos interrogadas pela polícia ou o corpo de Lexi seja autopsiado.

Erin sussurrou baixinho:

— O detetive veio falar comigo ontem.

Sam parou imediatamente de procurar seu celular e levantou os olhos, encarando a amiga.

— Então você já sabia sobre o corpo, antes de todo mundo?

— Vocês acham que ela realmente está morta? — uma voz fina as interrompeu e as duas imediatamente se viraram, encontrando Catherine com os olhos marejados.

Os segundos foram suficientes apenas para as duas se entreolharem. Não sobrou tempo para elas responderem à loira ou começarem uma discussão sobre a amiga estar ou não debaixo de sete palmos de terra. Seus celulares tocaram, indicando a chegada de uma nova mensagem.

Erin franziu as sobrancelhas, Sam tirou seu celular da bolsa e Catherine desbloqueou a tela de seu sofisticado smartphone importado. Elas apertaram na tecla “ler” e seus fôlegos desapareceram, dando lugar a batidas descompassadas de seus corações. Nenhuma das três precisou de tempo para entender a mensagem do número desconhecido, as palavras cravaram-se na mente de cada uma como ervas daninhas no gramado perfeitamente verde e bem cuidado de suas casas.

Vocês acharam mesmo que tinham se livrado de mim?

Quem nasceu rainha nunca perde o seu trono.

Eu ainda estou aqui, vadias.


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Notas finais do capítulo

Quem vocês acham que é o anônimo das mensagens? O que vocês acham sobre esse encara encara do Ethan e da Sam? Quero ver todo mundo nos comentários #somostodosrainhas.