Burn Bright escrita por fire wasnt made to be held


Capítulo 3
Crianças da noite.


Notas iniciais do capítulo

HEY PEEPS ・゚・(ノД`)・゚・。
5 meses depois... CÁ ESTOU EU NOVAMENTE.
Sim, eu não tenho vergonha na cara, vocês podem me dar uns tapas/umas frigideiradas na fuça ;; tem umas explicações nas notas finais, mas, welp, num geral eu queria agradecer a quem teve paciência de esperar por uma atualização (vOCÊ QUE NÃO DESISTIU DE MIM, UM BEIJO PARA TI), e principalmente a Dana porque eU NÃO SERIA NADA SEM ESSA MOLIER. ALGUÉM TRAGA UM OSCAR PARA ELA PFVR OBG DND ・゚・(ノД`)・゚・。

E eu acho que é isso ~-~
Divirtam-se e até a próxima! o



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/636394/chapter/3

“Sério que ele explodiu a vasilha do gato?”

Há uma centelha de diversão e incredulidade nos olhos de Jason, e Dick o encara incapaz de acreditar que, de todo o sermão, a informação mais inútil foi tudo o que o outro guardou. Todd mal consegue evitar o sorriso, confortavelmente esparramado no sofá. Suas roupas estão imundas, e Grayson tem uma expressão dividida entre a total consternação e a dúvida ― silenciosamente questionando a sanidade mental do ruivo. Jason não se importa, não de verdade; ele está ocupado demais achando graça da situação para se incomodar com a maneira como Dick se inquieta com sua aparente falta de interesse pelo assunto.

“E não queimou nada?”

“Todd!” O moreno cruza os braços para evitar avançar sobre o mais novo e sacudi-lo pelos ombros. “Eles poderiam ter se machucado, pelo amor de Deus! Você não pode largar essas coisas por aí!”

Jason ignora a reprimenda, cruzando os braços atrás da cabeça e lançando ao teto um olhar sonhador, embora exista o desejo de provocar o mais velho, perguntá-lo “não posso?” e pontuar todas as coisas que Dick tem feito, sem considerar que poderia afetar alguém, desde que chegou. Ele se lembra de quando passava tardes e mais tardes lutando para construir uma coisa que funcionasse, que pudesse usar para passar o tempo brincando com algo barulhento e emocionante sem precisar arranjar briga para tal. A maioria não deu certo, não funcionava como ele queria, então acabou abandonando a ideia.

A curiosidade acaba falando mais alto.

“Você sabe como ele consertou?” E Grayson o encara sem entender. O ruivo revira os olhos e se ajeita no sofá. “Qual é a tua, Dick? Você não tá aqui pra cuidar de ninguém. E eu aposto minha jaqueta favorita que eles não te pediram nada.”

“Ninguém me pediu nada.” Apesar de concordar com a afirmação do outro, Dick tem uma expressão severa. “Jason, é sério, você não pode...”

“Eles já são bem grandinhos, que saco!” O ruivo cruza os braços, já sem paciência para a conversa. “Eu não vou pedir desculpas, se é o que você quer. Também não vou conversar com os dois ou procurar minhas coisas e guardá-las. Se o substituto e o pequeno demônio querem sair por aí explodindo caixas, ótimo! Eu não tenho nada a ver com isso.

Grayson quer socá-lo. Muito. Suas mãos coçam para fazê-lo, mas ele sabe que não pode e, mais que isso, não deve. Mas a vermelhidão em seu rosto talvez denuncie suas intenções assassinas, porque Jason sorri debochado em sua direção. E Dick não consegue entendê-lo. Não consegue entender como ele se importa tão pouco com as pessoas ao seu redor. Quer perguntar qual é o problema dele; quer mandá-lo deixar de ser egoísta e conversar com os outros garotos, porque a convivência não pode ser assim tão ruim.

“O papo tá legal, mas eu realmente preciso dormir.” Todd desfaz o sorriso e se espreguiça, levantando-se logo em seguida e esfregando a nuca. “Noite, Dick.”

O mais alto o encara até Jason desaparecer mansão adentro, e sente como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros. Grayson não gosta disso. Não gosta de tomar para si a responsabilidade de cuidar dos outros por ser mais velho. Ao mesmo tempo em que tem plena consciência de que não pode simplesmente fechar os olhos para os conflitos entre eles, não quer que todos se odeiem e troquem farpas sempre que possível. No fundo, ele quer uma convivência pacífica, quer poder conversar e trocar ideias.

Porque, ainda que tê-los como irmãos não o agrade, Dick não se incomoda com a possibilidade de ter amigos.

I

Damian está deitado há pelo menos uma hora, mas seus olhos estão bem abertos, fixos no teto; a expressão um tanto perdida. Ele se sente desconfortável, mas não sabe o porquê disso. Não fez praticamente nada durante todo o dia, não depois de perseguir Tim, e duvida que o almoço ou a janta tenham lhe feito algum mal. Tenta entender o que pode causar tamanho desconforto, porém não tem a menor ideia de por onde começar.

E a culpa é de Dick. A culpa é toda de Dick, é o que o herdeiro de Bruce realiza poucos minutos depois, irritado. A culpa é toda de Dick, porque nem mesmo Talia já o tratou da forma como o mais velho o fez. Damian foi sempre do tipo que sentia muito orgulho de si mesmo por nunca ter precisado de castigos; ele odeia pensar que a repreensão nos olhos de Grayson o lembra muito da maneira como o avô costumava encará-lo quando era mais novo.

Não que Damian tenha problema com figuras autoritárias ― ele é muito bom em cumprir ordens, na verdade ―, o problema é imaginar que Dick tentou assumir uma postura mais rígida por se sentir responsável por ele e Tim; porque isso é ridículo. Na verdade, é o cúmulo do ridículo.

Damian não precisa que ninguém cuide dele ― nunca precisou, muito obrigado. Ele está ok se virando para cuidar da própria vida, Grayson não precisa ficar bancando o responsável, o diplomata.

O herdeiro de Bruce odeia admitir que a pior parte dessa total perda de tempo é se incomodar com a possibilidade de Dick algum dia tentar reivindicar para si o título de figura paterna da casa ― uma vez que seu pai está sempre fora, ocupado demais com o trabalho para ser o intermediário. Wayne franze o cenho, desconfortável com o pensamento. Não gosta disso. Não gosta de pensar que Dick se sente responsável por ele ― ou por qualquer um dos outros dois ―, porque Damian não precisa dele, nunca precisou.

O filho de Talia sempre teve orgulho de dizer que sabe se virar sozinho. Ele não depende de ninguém, nunca esteve numa situação tão extrema ao ponto de precisar de ajuda. Tratando-o como um garotinho por suas ações ― embora Damian reconheça que talvez tenha merecido ―, Dick rouba dele essa independência e o transforma num irresponsável. E o problema é que o mais novo quase consegue entendê-lo. Há uma admiração relutante que se manifesta em Wayne sempre que ele se pergunta como deve ser para Grayson estar no meio disso tudo.

Porque Dick foi o primeiro. Enquanto Damian aprendia letras e seus deveres como neto de Ra’s al Ghul, Dick estava sendo apadrinhado por seu pai e criado na Mansão Wayne. O herdeiro de Bruce não o odeia por isso ― ele nunca precisou de um pai ―, mas o odeia por Dick parecer acreditar que deve fazer o mesmo consigo, por Dick ter tanta esperança em “apadrinhá-lo” também. Ele o odeia por fazê-lo se sentir mal sobre isso. Porque Damian não é uma droga de moeda de troca pelas dívidas que Grayson acredita ter com Bruce.

Damian não precisa que alguém o esteja constantemente ajudando ou protegendo, como Dick aparenta desejar fazer.

Ele não pode precisar.

II

Jason sente fome. Seu estômago se revira de maneira desconfortável. Tem certeza de que está imundo até o último fio de cabelo, e que suas roupas provavelmente estão ainda piores. Ele não pode se importar menos com isso enquanto volta para casa; ou, pelo menos, o que ele chama de casa. E Jason não consegue pensar em muito para fazer no Beco do Crime, não consegue pensar no que conseguirá para acabar com a fome. Ocupa sua mente imaginando que, com sorte, ainda restam alguns pedaços do pão que conseguiu há alguns dias. E é nisso que se concentra, quando outra coisa lhe chama a atenção, e a visão o arrebata.

É um carro diferente de qualquer outro que Todd já tenha visto. Seus olhos crescem como bolas de cristal, porque ele jamais encontrou algo tão lindo em toda a sua vida. Por alguns minutos, Jason apenas permanece parado, admirando a lataria escura, os detalhes do design, as rodas imensas para seus dez anos. E o ruivo duvida que algum dia tenha se sentido tão sortudo quanto no momento em que corre para o apartamento vazio que ocupou e encontra a chave de roda a tempo de voltar e encontrar o carro exatamente no mesmo lugar, quase que o esperando.

Todd trabalha rápido ― tão rápido quanto a fome lhe permite ―, a energia renovada pela possibilidade de conseguir dinheiro com a venda das rodas. Talvez isso o ajude a ter comida pelos próximos dias ― quem sabe até uma semana! ―, e a promessa o faz se dedicar com mais afinco à tarefa. A verdade é que, no fundo, ele não gosta de roubar. Quando pequeno, na escola, todos o diziam que era errado fazê-lo e que a punição seria severa; mas seus pais logo o mostraram que aquilo não passava de uma grande besteira para assustá-lo e que, se quisesse continuar vivendo, teria de roubar. Com alguma prática, Jason acabou conseguindo ― e isso se mostrou muito útil algum tempo depois, quando passou a viver nas ruas.

Ele balança a cabeça, afastando os pensamentos, terminando a quarta e última roda, quando um “Eu não acredito” o interrompe. Todd se levanta entre a confusão e o alarme, e seus olhos se arregalam quando percebe quem está ali.

É claro que Jason conhece o vigilante ― quem não conhece? O justiceiro de Gotham é motivo de terror entre os garotos de rua; ainda que o ruivo sempre o tenha achado ocupado demais com os “caras grandes” para se preocupar com ladrõezinhos. Ainda assim, uma fagulha de pânico se manifesta sob sua pele quando ele se dá conta do que esteve fazendo nos últimos minutos: roubando as rodas do carro do Batman.

Oh, merda.

Jason solta a chave sem pensar duas vezes.

 

Ele acorda suando frio, completamente desnorteado.

Seu coração martela no peito, seus olhos assustados vagueando pelo quarto em total desespero, esperando encontrar o vigilante. Todd consegue ouvir sua própria respiração entrecortada, a pulsação martelando em suas têmporas de maneira descontrolada. Jason estremece até os ossos, e então se senta, desconforto se manifestando até sobre sua alma.

O ruivo não sabe o motivo de ter sonhado com isso. Faz tanto tempo... E a memória continua a assombrá-lo, continua a caçoar de sua esperança tola a respeito de como tudo pode mudar. E ele se odeia por isso. É a coisa mais estúpida que lhe pode acontecer, e, ainda assim, Todd não consegue evitar se sentir dessa forma.

“Idiota” resmunga consigo mesmo. “Idiota, idiota!”

A verdade é que Jason sabe que mesmo considerando esse o seu maior erro , no fundo, não consegue realmente desejar que essa esperança morra. Porque talvez ele possa agradecer por tê-la mantido, mesmo que agora a considere um sentimento tão bobo. Suspira, esfregando os olhos com o nó dos dedos, tentando afastar o sono. Está cansado ― exausto, na verdade ―, mas sabe que não tem a menor chance de voltar a dormir, não depois desse sonho. Seus ombros doem como o inferno, e Jason os massageia com cuidado antes de escorregar os pés para fora da cama, saltando para o tapete e relanceando os olhos pelo relógio no criado-mudo.

Quatro da manhã. Ele está ferrado.

Um sorriso fraco toma conta de seus lábios. Todd se espreguiça, os ossos estalam, e se arrasta para fora do quarto a passos lentos. Tudo dói ― sua cabeça, seus braços, os músculos. Parece que alguém o nocauteou com um martelo.

É. Será uma longa noite.

III

Tim não consegue dormir, e não sabe ao certo o motivo. Revira-se de maneira desconfortável, ainda que o colchão seja fofinho, e seus olhos pesam como o inferno. Sabe que, mais tarde, durante as aulas, isso será um grande problema, mas não consegue se importar com isso tanto quanto se importa com o incômodo em seu corpo.

Até há pouco, estava mexendo nos explosivos de Jason, se perguntando o que pode fazer para evitar que aconteça outro acidente como o dessa manhã. O problema? Drake sabe consertar coisas, sabe modificá-las; ele não cria nada. Se quer ter uma ideia, precisará falar com Todd ― e a possibilidade o aterroriza.

Não que Tim acredite que Jason o odeia ou que seria capaz de machucá-lo, longe disso, mas porque é obrigado a admitir que o outro o assusta um pouco. Há algo inquietante na maneira como Jason o encara quando estão num mesmo cômodo. É quase como se o mais novo o tivesse ofendido profundamente, ainda que Drake tenha quase certeza de que não fez nada para que o ruivo o odeie. Bem, não que ele se lembre, pelo menos. A não ser que Todd considere conversar com Dick um motivo plausível para não gostar dele.

E Tim está tentando ser legal com o cara. Na verdade, está tentando ser legal com todos eles ― e, salvo Dick, os mesmos não se incomodam em rechaçar suas esperanças. Isso o inquieta. O garoto não gosta do fato. Ele se esforça para fazer com que as coisas deem certo entre eles, e ninguém dá a mínima para isso, ninguém se importa se tudo irá de mal a pior entre os quatro. Talvez Dick se importe ― ele parece também desejar que todos convivam pacificamente ―, mas não fez nada até agora, então Tim sente que está sozinho; o que não é nada, nada bom. É como atirar no escuro, e ele jamais saberá o que acertou até que as consequências venham.

Tim suspira. A situação o faz se sentir péssimo. Sua cabeça dói, e ele só quer dormir, só quer descansar e esquecer toda essa loucura por algumas horas. Drake esfrega os olhos, boceja e se arrasta para fora da cama, pé ante pé. Sabe que é uma ideia horrorosa, mas acredita que, se comer algo ou tomar uma vitamina, talvez consiga dormir ou, pelo menos, afastar o sono de uma vez por todas. Ele cambaleia pela Mansão Wayne, seus olhos vagueando pelos cômodos conforme passa por eles. O lugar parece ainda maior, as sombras se intercalando por entre os móveis, criando projeções, acompanhando-o em seus passos como os olhos atentos de um felino. O detalhe incomoda o garoto, ele apressa o passo, e quase dá um sorriso quando avista a entrada da cozinha.

Mas a sugestão desse sorriso morre no exato instante em que Tim percebe que há alguém no local. O moreno espia para dentro, entre curioso e preocupado, e surpresa é tudo o que sente quando vê Jason escorado contra a pia, braços cruzados, os olhos baixos, fixos no chão. Parece tão concentrado em seus próprios pensamentos que nem mesmo percebe os movimentos do lado de fora. Drake se aproveita da distração do ruivo para recuar, os olhos grandes como duas bolas de cristal. Quer dar meia volta e correr antes que Todd perceba que está por perto e considere iniciar uma discussão. Talvez seja um péssimo julgamento o que faz de Jason, mas realmente não quer arriscar.

Está a meio passo de deixar toda a calma para trás e correr de volta para o quarto, quando esbarra em algo e congela, terror se manifestando em cada uma de suas células nervosas. A voz entala na garganta, e ele demora alguns instantes para juntar coragem o suficiente e se virar. Quando o faz, suas pernas parecem feitas de gelatina, e o alívio é tão imenso que um suspiro lhe escapa pela boca, praticamente de maneira involuntária.

Alfred o encara parecendo um tantinho surpreso, mas Tim está verdadeiramente grato que não seja Damian, Dick ou um invasor ― porque ele, sinceramente, não sabe qual deles seria pior. Ainda um tanto sobressaltado pela aparição repentina do mordomo, porém, o garoto não consegue deixar de se perguntar como diabos Pennyworth sempre sabe quando algum deles precisa de algo ― o que o leva de volta a Todd, e ao medo de o ruivo saber que ele está ali.

“Por favor, não diga nada ao Jason.” É num fio de voz que escapa a frase de Tim. “Eu não achei que ele estaria...”

O meneio positivo que recebe como resposta é mais que o suficiente para que o mais novo interrompa a si mesmo e relaxe. Ele sussurra um “obrigado” e “boa noite, Alfred”, e zarpa de volta para o próprio quarto sem pensar duas vezes, sem olhar para trás ou até mesmo esperar por uma resposta. E Tim sabe que não deveria agir assim ― especialmente se quer ter alguma chance de formar uma amizade com qualquer um dos outros rapazes.

Ele só não consegue evitar.

IV

Jason sabe que não deveria ter ido ao Beco. Sabe que não deveria ter passado o dia no que costumava ser seu antigo apartamento, esparramado entre a sujeira e os vestígios da construção que já está começando a ruir. No fundo, ele tem consciência de que foi por isso que as lembranças ressurgiram. Todd odeia o fato. Precisa de um lugar dele. Só dele ― sem gatos, sem cães, sem os outros passarinhos de Bruce. Poderia ser o prédio abandonado de Arkham ― afinal, só Roy se aventura por lá, e Roy não o perturba desde que os dois eram pirralhos com pouco mais de meio metro ―, mas o ruivo ainda não tem em mente ser preso por invasão de propriedade privada, então o lugar não é exatamente uma opção; e, como não queria ficar na mansão, o mais fácil era escapulir para algum apartamento do Beco do Crime.

Jason só pensou nos pontos positivos: ficar sozinho, poder acabar com o resto do maço de cigarros que Roy lhe deu. O ruivo ainda pode sentir o gosto da nicotina em sua boca, odeia-se por isso. Embora ele e Harper tenham compartilhado cigarros durante a semana, ele ainda não se sente completamente à vontade com o sabor que permanece em seus lábios mesmo tempos depois de ter parado. Sem falar que, é claro, isso torna fácil até demais reconhecer que ele esteve fumando ― o que não é lá muito legal, Todd se sente forçado a admitir.

Suspira, os ombros tensos. Apoia-se contra a pia e cruza os braços. Por que ficou no Beco durante tanto tempo, afinal? Não precisava. E ele sabe que as memórias não são boas o suficiente para querer ficar por lá durante praticamente um dia inteiro ― nenhuma delas. Respira fundo, fechando os olhos por um momento. Jason sabe, claro que sabe, mas confessar a si mesmo é quase tão constrangedor quanto dizer em voz alta, para que qualquer um possa ouvir.

No fundo, ele só quer saber o que fez de errado. E tem plena consciência de que isso é algo estúpido ― porque não foi ele o errado da história, e tem total certeza do fato. Range os dentes, a dor de cabeça despontando no fundo de sua mente. Ele esfrega a nuca, tenso como o inferno, pronto para praguejar e retornar ao quarto, quando percebe que não está sozinho. Levanta os olhos, curioso, surpreso, incomodado por ser interrompido em meio ao dilúvio de emoções que se manifestam sob sua pele. Mas é Alfred, apenas Alfred, e Jason não pode jogar nele sua raiva; porque o mordomo é ― sempre foi e sempre será ― o mais próximo de uma figura a quem admirar, alguém a quem sempre manter por perto. Ele inspira profundamente, cumprimentando-o com um “boa noite” fraco, e o homem imita o gesto.

“Madrugando, Alfred?” Jason está caçoando da situação, porque ele sabe que é provavelmente agora que Bruce foi para a cama e deixou o outro livre de seus afazeres para dar uma última checada na mansão e ter ele próprio algumas merecidas horas de sono.

“Mestre Bruce tomará café com vocês amanhã.”

Silêncio. Todd sente como se centenas de cubos de gelo tivessem acabado de se alojar em seu estômago. Ele precisa de um minuto ou dois para digerir a informação, e então a raiva começa a crescer, agitando-se sob seu âmago, revirando-se entre suas entranhas como uma cobra peçonhenta. Algo como mágoa, também, mas o ruivo não tem tanta certeza. Ele balança a cabeça para os próprios pensamentos, tentando afastá-los, tentando evitar a linha que se forma em sua mente. Isso não importa mais. Não é como se, de qualquer forma, significasse alguma coisa.

“Ah, é?” Ele sequer tenta disfarçar a incredulidade em sua voz, porque qualquer um pode saber como se sente a respeito de Wayne. “Há um horário vago na agenda do herói?”

“Sei que vocês têm coisas a resolver, e mestre Bruce não tem tido tempo para conversar, mas deveria dar uma chance a ele.”

Jason baixa os olhos, o rosto quente, vermelhidão cobrindo-o até as orelhas. Alfred tem razão ― ele sempre tem razão ―, mas não é como se isso fosse algo sobre o que o ruivo tem algum controle. Suspira pesado, cansado da grande confusão que sua vida se tornou desde o dia em que teve a oh tão inteligente ideia de roubar as rodas do carro do vigilante; claro que, na hora, ele nem tinha se dado conta disso, porém, não é como se mudasse muita coisa. Tem vontade de dizer que voltará para o quarto, que tentará dormir, mas a possibilidade de permanecer por lá ― em silêncio, no escuro, tentando distinguir as formas dos adesivos nas paredes ― não é exatamente agradável.

“Café?”

O ruivo olha para a xícara esticada em sua direção, para o líquido escuro dentro da porcelana delicada, e então sorri em agradecimento, aceitando-a sem maiores resistências. Sabe que ficar se questionando ― ou, acima disso, ficar se martirizando ― não o ajudará em nada. Afunda suas preocupações na cafeína, distraindo-se e, por um momento permitindo-se imaginar que está em outro lugar, vivendo outra vida, bem longe de Gotham, bem longe da Mansão Wayne.

Por um momento, quase consegue fingir que é verdade.

V

Alfred tem estado na família Wayne há mais de duas gerações ― ele pode dizer, com algum orgulho, que conhece as nuances que se manifestam sob os olhos das pessoas que passam pela mansão ou permanecem nela durante algum tempo; seja por convivência, seja por observação, Pennyworth sempre sabe o que acontece sob as camadas de autocontrole das pessoas que o rodeiam.

Conhece Bruce ― vê em seus olhos a preocupação pelos garotos, pela situação a que os submeteu, sabe o que há por debaixo de toda a calmaria residente em suas íris.

É como Dick, de olhos seguros. Os de Tim são sonhadores. Os de Damian, frios.

E Jason tem olhos mortos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

❖ POSSIVELMENTE as postagens terão de 15 a 20 dias de distância uma da outra, sempre segunda-feira. Eu tava lá de boas na lagoa achando que a vida seria + flores e fanfics e - escola no meu pé, e me ferrei lol e aí além das provas extras, teve toda a correria do final do ano, viajei, e as aulas já voltaram. so, é. SORRY PEEPS, não foi dessa vez.

❖ Qualquer coisa, sinta-se à vontade pra me dar uns tapas na cara ou dar uns berros por MP! Até mais, pessoinha! o



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Burn Bright" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.