Ele entrou devagar, com cuidado e sem fazer muito barulho. Ao passar por nós sem perceber nossa presença Violetta saiu abaixada pela porta que ele havia deixada aberta. Quando o Federico saiu ele bateu a porta sem querer, fazendo com que o zelador virasse para trás e saindo correndo atrás de nós. Nós obviamente saímos correndo também, fazendo o possível para que ele não nos visse.

Saímos da escola pela saída de emergência, pela qual entramos e corremos pelas ruas. Quando percebemos que o zelador não estava mais atrás de nós paramos na viela na qual eu e Federico nos encontrávamos e começamos a rir sem parar!

– Ele é muito trouxa! – Disse a Naty rindo e encostando na parede.

– Até que para um velho de sessenta anos ele corre rápido! – Federico disse colocando o cabelo para trás.

Comecei a rir mais ainda e me encostei na parede ao lado dele. Depois de quase cinco minutos rindo conseguimos parar.

– Bom gente, foi tudo muito legal, mas já tá tarde e precisamos ir pra casa. – Disse Violetta.

Concordamos e Federico me acompanhou até a minha casa. A Naty foi com a Violetta já que a casa da Vilu é pertinho do prédio da Naty.

Enquanto caminhávamos pelas ruas escuras e quase desertas, perguntei:

– Você tinha dito que pararia com as drogas. Você vai realmente fazer isso?

– Espero que sim. Só preciso achar algum lugar pra começar a frequentar. – Disse ele olhando pra baixo.

Depois de algum tempo de silencio, ele perguntou:

– Será que seus pais me aceitariam mesmo se eu parasse?

– Tomara que sim.

Ele não pareceu muito convencido com a minha resposta, mas nem eu mesma estava.

– Não se preocupa com isso, pelo menos não agora.

Ele assentiu com a cabeça e continuamos andando em silencio. Antes de entrar ele me abraçou forte e me desejou boa noite. Entrei e vi Angie que estava no sofá lendo um livro, ao me ver sorriu.

– É melhor você ir direto pro quarto. Tá bem tarde. – Disse ela.

– E você não vai também?

– Insônia. – Disse ela revirando os olhos.

Sorri pra ela e fui pro meu quarto como ela havia aconselhado. Depois de escovar os dentes e por meu pijama de zebra, me deitei na cama e comecei a pensar.

Mesmo essa noite ter sido louca e super legal, ele estava cabisbaixo, parecia até mesmo triste. Por que ele estava assim?

Decidi dormir, já estava tarde e amanhã eu teria que acordar cedo e aquele assunto me deixava meio agitada.

Chegando ao colégio no dia seguinte, eu e a Naty fomos andando até a classe e cruzamos com o zelador, que nos olhou como sempre. Nos entreolhamos assim que ele passou e seguramos o riso.

O sinal logo tocou e advinha: Primeira aula de física. Quando o professor entrou olhei para Violetta que também me olhava e piscou. Eu tinha certeza de que aquilo deu certo.

Ele colocou alguns cadernos e livros em cima da mesa e tirou do meio dele duas folhas. Olhou para mim e para a Naty por cima das lentes do óculos. E então eu soube perfeitamente o que eram as duas folhas.

– Ludmila e Natália eu estou com as provas de vocês aqui. Não lembro por que não as entreguei pra vocês.

– O senhor deve ter se esquecido. – A Naty disse sorrindo.

Ele olhou meio torto pra ela, eles não se davam muito. A Naty não era a melhor aluna do mundo, se é que você me entende.

– O mais estranho é que não me lembro de vocês virem ontem na aula. – Ele disse coçando a cabeça.

– Ela estavam sim professor! Eu me lembro! – Violetta intercedeu. Logicamente ele acreditou, por que a Violetta é uma das melhores alunas da sala.

– Bom, se é assim... – Disse ele me entregando a minha prova. Dez!!!

Ele foi até a Naty, olhou a nota da prova dela e arregalou os olhos. A revisou mais uma vez e a entregou para Naty.

– Parece que conseguiu um boa nota Natália.

– Pois é professor! Que louco né! Você não vai me parabenizar? – Disse ela com um sorrisinho meio sínico. Todos da classe seguravam o riso.

– É... Parabéns Natália.

– Nem estudei pra essa prova professor! – Disse ela fazendo com que todos rissem da cara do professor que ficou muito sério depois dela dizer aquilo.

– Então acho que foi sorte mesmo. – O professor disse de cara fechada.

Ela apenas sorria contente por conseguir irritar o professor, uma coisa que ela conseguia fazer sem esforço.

– Falo com a senhorita depois a aula. – Disse ele.

Depois do colégio fui conversar com o Federico. Dessa vez ele não estava fumando, o que me deixou feliz.

– E aí? – Eu disse me aproximando dele.

Ele sorriu e me abraçou.

– E então, o plano executado ontem a noite deu certo? – Perguntei.

– Deu sim, ainda bem. Provavelmente eu vou ficar de recuperação na matéria de física então preciso de nota. E com você deu certo?

– Comigo saiu perfeito, com a Naty ele ficou meio desconfiado, você tinha que estar lá pra ver! A Naty deixou o professor muito irritado, só de olhar já dava medo da cara dele, mas você sabe como a Naty é, né. Agora ela foi pra detenção. – Eu disse rindo.

Ele sorria, mas parecia triste. Me olhava como se nunca mais fosse me ver, era estranho.

– O que foi? – Perguntei.

– O que?

– Por que está triste?

– Eu não tô triste. – Disse ele sorrindo, mas não parecia um sorriso de verdade, não parecia o sorriso dele!

– Mas tem alguma coisa.

– Não tem nada Ludmila. – Disse ele rindo.

Eu continuei o olhando como se não estivesse acreditando. Ele respirou fundo e disse me abraçando:

– Ludmila eu não tenho nada, sério! Tá tudo bem!

– Tá certo.

– Quer conhecer minha casa? – Ele perguntou enquanto nos separávamos do abraço. Eu não estava esperando por aquilo, toda vez que eu falava aquilo ele ficava meio relutante e logo mudava de assunto, o que me deixava curiosa pra saber o que tinha lá de tão diferente.

– Tá fazendo isso pra se redimir? – Perguntei.

– Pode-se dizer que sim. – Ele disse sorrindo.

Ele segurou minha mão e foi me levando pelas ruas. Eu estava ansiosa, aquela era a única casa que eu iria conhecer sem ser a da Naty e ainda por cima era a casa do Federico!