Amanhecia em Westchester, o que, na opinião de Julliet não fazia diferença nenhuma, só que o sol estava atrapalhando seu tão feliz e confortável sono, mas ele não era o único.  Não demorou muito para sua colega de quarto se levantar, ir ao banheiro umas três ou quatro vezes,  reclamar das roupas, jogando-as para o outro lado quarto, mexer na escrivaninha, e claro todas as coisas que poderiam irritar uma pessoa que está querendo ter mais uns quinze minutos de sono.

Julliet, após cinco minutos com o edredom sobre a cabeça e toda paciência que consiguiu reunir, se levantou desistindo da sua conduta calma e entrou no banheiro batendo a porta com toda a força que tinha. Por um instante antes de escovar os dentes a garota se olhou no espelho, como era de se esperar, seu cabelo estava extremamente bagunçado.  Depois de lavar o rosto, escovar os dentes, pentear os cabelos e prendê-los, saiu do banheiro.

Felizmente sua colega já havia saído, sendo assim ela poderia se trocar calmamente, sem acidentes ou berros e insultos. Julliet não precisava acordar cedo para se arrumar, teoricamente, a primeira roupa que ela via no guarda-roupa estava ótima e seria aquela mesma. Por outro lado, achar seus livros era uma tarefa um tanto árdua. Depois de bem uns quinze minutos revirando o quarto, a menina se jogou na cama que, para a surpresa e fúria da mesma, estava encharcada.

-Mas que mer... – exclamou a menina, pisando duro para fora do quarto, ao mesmo tempo em que algo estourava lá dentro, a lâmpada provavelmente.

Antes mesmo que ela pudesse achar sua “querida” colega de quarto e fazer a cabeça da mesma explodir (ou pelo menos era uma das hipóteses mais sãs que se passavam por sua cabeça), ela se viu sendo arrastada para a sala de aula.

-Quem é o palh... David! Por que está literalmente me arrastando? – perguntou Julliet, indignada. O amigo tinha a mania irritante de impedir Julliet de acabar com Ashley, sua amada colega.

-Porque eu conheço essa cara, é a cara de “A Ashley começou o dia me irritando e vou explodir a cabeça dela!” – respondeu David soltando a amiga.

-Eu?! Explodir a cabeça da Ashleyzinha?! Nunca – respondeu Julliet, fingindo-se de ofendida, enquanto David ria – só arrancar pedaços do coro cabeludo dela, junto com aqueles cabelinhos loiros... É mais criativo.

-Hã... Ahã... Sei... Escuta se você não gosta da sua colega de quarto por que não troca?

-Ah! Claro... e deixar ela ganhar?! Nem pensar!

-Ai! Meu Deus... E o que você vai fazer então?

-Pó de mico no xampu, que tal?

-Acho que você seria suspensa...

-Hum tem razão... Bom, tenho que ir. Ética, e você?

-Artes. Vou indo, ou o profº Logan faz picadinho de mim...

- Faz mesmo. Almoço na mesa de sempre?  - perguntou ela, um pouco mais alto para que o amigo pudesse ouvir.

-Ok – respondeu ele no mesmo tom, e sumiu entre os alunos.

Assim, a garota entrou na sala e sentou em uma das carteiras de trás. Ela detestava a aula. Na sua opinião, era uma perda de tempo total. Ainda mais com a versão adulta da Ashley lecionando. Emma Frost era uma mulher linda e com curvas definidas, era também educada e metódica. Não havia uma exata razão para ela não gostar da professora só sabia que não gostava dela.

Depois de Ética, veio física. A matéria estava ficando mais difícil do que ela esperava, mas isso não era um problema.  Após as aulas da manhã, que passaram sem grandes acontecimentos, Julliet foi esperar os amigos no saguão. Não demorou muito, David e mais dois meninos se juntaram a ela. Enquanto esperavam a última amiga para se juntar, um grupo de três pessoas passou por eles, dois meninos e uma garota.

-Nossa! Vocês viram aquela garota? –disse um dos meninos.

-Eu vi! E que garota...- respondeu o outro.

-Vocês, hein! A menina mal entrou e já querem pegar ela, e ai David que acha? Novatos? – perguntou Julliet.

-Acho... Pela cara de impressionados, mas é meio tarde pra entrarem né? Novembro... – Respondeu o garoto.

-É, acho... Vamos? – perguntou ela para os demais. Os dois continuavam comentando sobre a misteriosa novata.

Quando os cinco chegaram à cafeteria, estavam entretidos numa discussão sobre as características dos professores. Claro que a conversa virou uma brincadeira.

-Então July? Que você vai fazer? – perguntou David.

-Ah... Vou falar com Xavier.

-Huum... você explodiu a cabeça da Ashley? – perguntou Eric, um dos gêmeos, que andavam com Julliet.

-Ou deu ela de alimento pra alguém pavoroso? – perguntou James, o outro gêmeo.

-Não! Que mania de vocês acharem que eu sempre penso em explodir a menina! Isso foi só nos três primeiros meses que estava aqui, certo?! E quanto a usar ela de alimento para o Dente-de-Sabre, não tinha pensado nisso, então obvio que não fiz...

-Que droga – disseram os dois juntos, e Eric acrescentou – seria bom ver isso, né James?

-Siim – disse outro num tom maligno.

-Vocês me dão medo... – falou Julliet.

-Mas e aquela garota de mais cedo, hein? – se expressou Patrick, outro amigo de Julliet.

-Nem me fala! Mal posso espera pra saber em que sala ela ta! – falou James.

-Viu, você podia mudar de quarto por nós July! – Reclamou Eric.

-Como é? – disseram Julliet e David.

-Oras, se a July mudar de quarto tem probabilidade de cair com a novata, bem e ai... – disse James, que logo ao terminar a frase sorria maliciosamente, bem como o irmão.

-Vocês não prestam... – disse David tentando não rir.

-É sério! Todos os caras estão falando dela! Ah, qual é... Não custa nada. Por favor?

Julliet, no entanto, estava pensativa e só respondeu quando os gêmeos berraram ao seu ouvido.

-No que você tanto pensa? – perguntou Eric.

-Ou em quem... – corrigiu James.

-Em vocês – todos se espantaram, inclusive os gêmeos, porém James sorria para menina maliciosamente. – me pergunto quantos pecados a mãe de vocês cometeu para parir dois demônios do grau de vocês! – acrescentou fingindo-se de abismada.

Todos riram. Já estavam se levantando para levar as bandejas para lavar e ir para a aula, mas antes de que ela realmente saísse, David falou tanto para ela mudar de quarto que conseguiu convencer a menina, que após perder a paciência e estourar umas lâmpada e a mochila de Patrick, disse que falaria com Xavier ao fim das aulas.

Assim, os gêmeos seguiram Julliet para as aulas, os três eram da mesma turma, mas os irmãos jamais iam à primeira aula, exceto quando tinham artes ou matemática, então eles se asseguravam de acordar com uns cinco ou seis despertadores.

Assim que suas aulas terminaram, Julliet se dirigiu até a sala de Xavier e esperou alguns minutos do lado de fora. Assim que a sala se esvaziou, entrou e explicou a situação. Após uns minutos pensando, Xavier disse que verificaria se havia algum quarto livre. A menina sinceramente desejava ter outro quarto livre... Afinal, quem poderia ser pior que a Ashley? Como se respondesse à sua pergunta, a novata pela qual os meninos ficaram apaixonados passou por ela, aquela seria sim, um páreo duro para Ashley.

Ela entrou atrasada em sua aula, entregou o bilhete para a professora, se dirigiu ao fundo da sala e ficou lá. O resto do dia se passou sem que nada importante acontecesse, até que o último sinal tocou, anunciando o fim das aulas. Antes mesmo que os outros tivessem começado a guardar os cadernos na mochila, Julliet já estava fechando a sua e se levantando.

Ela estava quase na sala do diretor quando foi puxada pelo braço, forçando-a a ficar de frente para a pessoa. Ah, como ela odiava que as pessoas fizessem aquilo... Era como se seus amigos fizessem questão de ignorar sua completa falta de coordenação motora.

 -David, você pode só... James? – perguntou ela, encarando o ruivo a sua frente surpresa. – Erm... Peguei seu caderno ou coisa assim?

-Não, só que você voou pra fora da sala... Aconteceu alguma coisa, July? – perguntou ele, parecendo preocupado.

-Nada, vou ver se mudo de quarto... Lembra? Agitar a novata pra você e o Eric? – brincou ela... Era estranho demais o amigo sério.

-Ahhh... Bom nesse caso não se esqueça de marcar em dias diferentes pra mim e pro Eric oks? – continuou ele. – A gente se vê, July!

Assim que ele saiu, ela se virou rindo e entrou na sala. O professor não estava, então, por uns breves segundos ela considerou a hipótese de voltar no dia seguinte, mas a lembrança de Ashley a manteve na sala esperando. Demorou uns cinco minutos, antes que Xavier entrasse pela porta dos fundos.

-Está me esperando há muito tempo, Crossy? – perguntou o professor.

-Não, cheguei agora a pouco. Hum, sem querer parecer mal educada, mas o senhor conseguiu um quarto novo para mim?

-Sim consegui, mas como no seu quarto anterior, já há uma menina nesse quarto, ainda quer se mudar? – perguntou ele.

-Quero sim, muito obrigada professor, qual o número do quarto, e será que posso ir pra lá hoje já?

-Claro que sim, se precisar de ajuda é só chamar uma das professoras... você sabe, não? O quarto é o número 707, mais alguma coisa? – disse ele, sorrindo.

-Não, muito obrigada mesmo, professor – dizendo isso, a menina saiu do escritório do diretor e correu para seu quarto. Começou a reunir seus pertences e pô-los na mala. Depois de uma hora quase deste processo, Julliet saia do seu quarto com duas malas de viagem grandes e duas caixas de papelão cheias de bichos de pelúcia e coisas do gênero.

Após percorrer uns dois corredores, ela virou no terceiro e foi até o final. Na porta à direita, viu o número 707 gravado na plaquinha de alumínio, sendo assim ela virou a maçaneta e adentrou no quarto toda sorridente.

-BONJOUUR! – exclamou ela escancarando a porta – Como vai min...

Porém Julliet parou no meio da frase assim que abriu os olhos, lá estava sentada na cama a novata de antes. A garota encarava Julliet um pouco assustada, bom pode-se imaginar o porquê, não? Porém, a única coisa que Julliet pôde pensar foi “Aaaah! Não estou acreditando! É praga! Só pode! Me livrei de uma, vem a outra!”

Enquanto isso a garota olhava para Julliet extremamente surpresa, e um pouco incomodada. Em sua mente, os pensamentos estavam na seguinte linha de raciocínio – “ah... era só o que me faltava. Mais uma esquisita. Que alegria.”