Alice - Uma história sobre o amor e o preconceito. escrita por Mila Karenina


Capítulo 3
Olhos claros e cabelos cacheados.


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores ♥
Eu sei que demorei muito com o capítulo, mas quero que entendam que passei por um momento bem difícil. Tive um bloqueio terrível que só passou faz alguns dias, prometo que vou tentar não demorar mais com os outros capítulos ^.^
Aproveitem o capítulo que foi escrito com muito carinho!



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"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar." - Nelson Mandela.

Alice já começava a pensar que Alison fosse estapear o homem. Aquilo era uma falta de respeito, expunha facilmente o racismo do garçom. No entanto, o que aconteceu foi no mínimo cômico. Alison abriu a bolsa; tirou uma nota de cem doláres. A irmã mais velha pôs a nota em cima da mesa e puxou a mais nova.

— Sabe que eu percebi que não tenho? — Alison afirmou e saiu do estabelecimento com a irmã do lado.

Alice olhou para a irmã com ternura. Ela sabia o quanto essas situações a deixavam chateada, sabia ainda mais o quanto Alison sonhava com um mundo sem aquele tipo de aborrecimento. O sol ainda queimava; as irmãs acabaram por se sentarem debaixo de uma árvore. Alison já havia melhorado. Ela estava alegríssima com o seu futuro emprego, já Alice apenas escutava a irmã falar sem parar enquanto observava as próprias unhas e pensava que deveria limpá-las quando chegasse em casa. Alice ainda não havia recebido nenhuma proposta de emprego que a interessasse; já estava conformada em aceitar o primeiro emprego que a oferececem a partir daquele momento. Eis que uma luz iluminou o seu destino, ou melhor, um homem que brilhou como o próprio sol na mente de Alice.

Edward vestia seu usual terno escuro, entretanto naquele dia ele usava uma gravata verde-claro que ressaltava os seus lindos olhos verdes. Quando Alison pôs os olhos no homem, teve que disfarçar o olhar, mas Alice não teve a mesma atitude. Ela encarou o homem e ele logo encarou-a também. Ele ainda não conseguia ver muito bem a garota, porém ela conseguia vê-lo e que bela visão. Alice nunca havia tido muito contato com homens. A sua mãe a educara para manter-se longe de homens e se eles fossem brancos, manter a maior distância possível. Ela quis destruir aquelas malditas regras naquele momento, pois sentia-se tentada a perguntar mil e uma coisas ao homem. Alice queria saber se ele era realmente um anjo que a ofereceria um emprego fácil e a pagaria bem. Também gostaria de saber se ele a achava bonita. Improvável. Pensou a garota. E ela estava redondamente enganada.

Ele a achara linda. A criatura mais linda que já caminhou sobre a terra. Uma deusa africana que fora enviada por Deus para iluminar a sua vida. Uma tentação do diabo. Ela parecia ser tudo para ele, no entanto ele não conseguia dizer nada. Amor à primeira vista? Ele não acreditava nessas coisas, nem ela. Edward havia desacreditado do amor quando perdeu a única mulher que amara. E Alice? Bem, ela nem sabia exatamente o significado e tudo o que envolvia a palavra amor. Eram duas almas abandonadas, que precisavam mais que tudo de alguém que os entendesse.

— Boa tarde — Ele saudou as duas irmãs que se levantaram no mesmo instante.

Alison também lembrou do conselho de sua mãe sobre ficar longe de homens brancos. No entanto ela não viu nenhuma maldade no loiro. Alison também o achou bonito, mas ele simplesmente não era nada mais que isso para ela. Alice ficou séria e logo calou-se. Ela estava nervosa e tinha medo de gaguejar.

— Boa tarde — Alison respondeu; lançou um olhar de repreensão para Alice. — Perdoe a minha irmã, ela está um pouco nervosa.

Alice suspirou. Ela odiava que tomassem o seu lugar e era exatamente o que Alison estava fazendo no momento. Se ela estava calada era sinal que não queria falar e ninguém deveria tirar o seu direito falando em seu nome e a obrigando a participar da conversa. Uma sensação estranha de intimidade com homem de repente se instalou em Alice. O estranho foi que o mesmo aconteceu com Edward. Ele sentia que conhecia a jovem de alguma forma.

— Não fale por mim — Alice finalmente abriu a boca. — Quem é você?

— Sou Edward Wickham, prazer — O homem apertou as mãos de Alison e olhando para Alice, sorriu. — É um prazer conhecer duas moças como vocês.

Alice olhou para o homem desconfiada. Muito se falava de homens brancos que tratavam mulheres negras bem, na maioria das vezes diziam que eles só queriam sexo barato ou coisa do tipo. Aquele era um tipo de preconceito. No entanto, Edward estava muito longe de ser desse tipo. O loiro havia visto toda a cena do restaurante e achara um verdadeiro absurdo. Edward não concordava com pessoas que tinham aquele tipo de atitude, porém manteve a compostura, pois não queria se meter em uma briga. Se achava bom demais para aquilo. E era, de fato.

Os olhos escuros de Alison também olharam atentamente o homem. Ele não pareceu uma pessoa ruim ao seu ver. Por isso, Alison achou que ele merecia a sua cordialidade e tentou persuadir sua irmã a ser cordial também. Não deu muito certo. Alice simplesmente não conseguia encarar o homem. Achava impossível que ele estivesse ali a troco de nada. E achava que alguém com olhos tão bonitos, não podia ser boa gente.

— O prazer é todo nosso — Alison respondeu e Alice forçou um sorriso.

— Eu vi o que aconteceu naquele restaurante. Foi ridículo — Edward afirmou e Alison sorriu.

A irmã mais velha estava feliz. Alguém tinha visto aquela cena e estava concordando que o garçom estava errado. Talvez o mundo não fosse tão ruim quanto ela pensava. Alice continuou em silêncio. Não conseguia tirar os olhos do homem; disfarçadamente olhava os olhos claros do homem. Infelizmente, ou felizmente, Edward a olhou no momento exato em que ela o fitava e deu um meio sorriso. Ele não era um homem de sorrisos, mas sentiu vontade de sorrir naquele momento. Alice o deixara contente de alguma forma.

— Realmente ridículo. Sonho com um mundo sem o preconceito — Alison confessou tímida.

— Todos nós sonhamos, acredite em mim — O loiro garantiu. — Mas se eu não for parecer intrometido, o que as duas mocinhas fazem por aqui?

Alice continuou em silêncio. De alguma forma, havia uma espécie de tensão no ar. Aquilo era estranho para a senhorita, ela nunca havia sentido nada assim antes. Ou melhor, já havia acontecido uma vez, depois de ver um ator em um aparelho televisor.

— Viemos procurar emprego — Alison fez uma pausa, olhou para a irmã. — Eu já encontrei o meu, mas a Alice está sem sorte.

— Entendo. Eu estou oferecendo um emprego, mas não sei se a senhorita se interessaria, é algo muito simples — Edward se dirigiu à Alice.

— Do que se trata? — A irmã mais nova perguntou.

— Eu procuro uma governanta para minha sobrinha, mas adianto que é uma criança incrivelmente rebelde.

— Quantos anos ela tem? — Alice indagou.

— Sete.

— Parece um caso interessante.

— Ela é muito inteligente, muito argumentativa também... eu precisava de alguém que fosse mais que uma simples governanta, entende? Ela precisa de atenção, de alguém que esqueça um pouco dos livros e lhe ensine mais lições de vida, brincadeiras e coisas assim.

Alice parou por alguns segundos. Começou a pensar se deveria ou não aceitar a proposta. Talvez ela se desse bem com a criança, mas tinha a possibilidade de não. No entanto, ela amava desafios e era ótima com pessoas. Não gostava exatamente de crianças, mas suportava-as mais que alguns adultos. Aceitando o emprego, ela poderia ajudar a menina, além de poder ganhar algum dinheiro. Arriscar seria bom.

— Penso que sou capaz de fazer isso — Alice concluiu.

— Isso é ótimo! — Edward não soube esconder sua empolgação. — Vá até esse endereço amanhã.

Edward deu-lhe um pequeno pedaço de papel, se despediu e saiu em seguida. Alice continuou parada observando-o ir embora.

— Você deu sorte, ele pareceu gostar de você — Alison afirmou.

— Espero não desapontá-lo.

Edward não soube o motivo de sua felicidade. Ele definitivamente não era um homem de sorrisos, mas naquele momento sorria sem parar. Iludindo-se, achava que estava feliz por ter encontrado uma babá para sua sobrinha. Ele sabia que sua mãe não reagiria bem àquilo; não se importava. A verdade é que estava encantado pela beleza da jovem, só não conseguia admitir para si mesmo. Achava impossível que conseguisse se sentir assim por alguém novamente, não depois de Lorena.

Chegando em casa, logo deparou-se com sua amada sobrinha. A garota agora tinha uma expressão mais calma, menos brava. Ela olhou para o tio com o seu olhar adorável; Edward sorriu para a menina, que estranhou o humor do tio. Estava acostumada a vê-lo sempre mal-humorado, com papéis em mãos e com seu habitual rosto fechado.

Sua mãe apareceu em seguida. A senhora Lisa vestia uma calça de cos altíssimo, junto com uma blusa de seda branca e seu amado colar de pérolas. Os cabelos lisos estavam bem penteados e as suas sobrancelhas bem feitas, arqueadas. Lisa era uma mulher direta, se ela queria saber de algo perguntava logo, se queria alguma coisa, simplesmente a tomava. Seu filho não apreciava sua personalidade, fazia o que podia para tentar melhorá-la.

— Então, encontrou a governanta? — Lisa questionou.

Edward respirou fundo. Precisava de muita força de vontade para entrar em mais uma discussão com sua mãe. Sabia perfeitamente as perguntas que ela faria e pensava detalhadamente nas possíveis respostas.

— Sim, encontrei.

— Quantas línguas ela fala? — A mulher olhou profundamente para o filho.

— Acho que a vi falando Inglês muito bem.

— Não me trate como um de seus brinquedinhos, Edward — Ela se exaltou.

— Não tenho brinquedinhos, mamãe. Já sou grande e maduro demais para isso, não acha?

— Se você se diz tão maduro, aja como tal. Quando estiver pronto para falar da pessoa que escolheu para cuidar do futuro de sua única sobrinha, me procure.

Lisa subiu as escadas. Charlotte olhou para o tio confusa. Diferente de sua avó, ela podia ouvir às vezes. A loirinha não disse absolutamente nada, apenas abraçou o tio, que a olhou com ternura. Ninguém era capaz de amolecer o coração do homem de gelo, mas algumas pessoas poderiam tentar. Edward não se sentia mal por ter brigado com a mãe, só pensava em quando veria a moça bonita dos cabelos cacheados.

—---

O clima na casa de Alice não estava o melhor. Alison não parava de falar sobre Edward, o que irritava Alice profundamente. Alison falava o quanto ele era bonito, charmoso e muito generoso por ter oferecido um emprego à Alice. A senhora Jackson estava feliz por suas filhas, afinal elas tinham conseguida bons empregos.

— Você sabe pelo menos o sobrenome dele? — A mãe perguntou.

— Sim, se chama Edward Wickham — Alice respondeu.

— Esse sobrenome não me é estranho... — A senhor Jackson pôs a mão no queixo. — Acho que é ele, mas não tenho certeza.

— Ele quem? — Alison quis saber.

— O tal homem do ramo alimentício que chegou ao país ontem, estava em Londres.

— Como sabe disso? — A irmã mais nova inquiriu.

— Soube no meu trabalho.

Alice ficou em silêncio. Os olhos claros do homem ainda brilhavam em sua mente, com certeza era o homem mais bonito que já tinha visto. Com os seus dezoito anos, ela tinha tido pouco contato com o mundo masculino. Era de certa forma, ingênua. Nunca tinha se apaixonado por ninguém, tampouco beijado. Tudo o que sabia era o básico sobre relacionamentos. Alison já tinha mais experiência nesses assuntos, já tinha namorado algumas vezes.

Depois de jantarem, as irmãs foram para o seu quarto. Alice já estava pronta para pegar o seu livro de Geografia, quando Alison puxou suas mãos e olhou para a caçula.

— Tente não babar no seu patrão! — Alison brincou.

— Não diga imbecilidades.

— Oh! Não se faça de puritana, eu vi como você o encarou. — A vergonha tomou Alice. — Já estava na hora de você se interessar por alguém, maninha. Não estou te julgando, ele é um homem muito atraente, mas claro que não é para você.

— Fique quieta, Ali.

— Por quê? Toquei na sua ferida? — Alison caiu na gargalhada.

Havia uma grande diferença entre aquelas irmãs. Alice era calada, só falava em casos extremamente necessários, odiava conversa fiada e principalmente conversas daquele tipo. Alison levava a vida com alegria, tentava tirar coisas boas das dificuldades, sorria quase sempre e tentava melhorar o humor de sua irmã. Eram de fato, muito diferentes.

— Por favor, vamos dormir. Amanhã tenho que acordar cedo — Alice implorou.

— Não antes de você admitir que está caidinha pelo loiro.

Alice não respondeu. Levantou-se rapidamente e se trancou no banheiro; Alison gritou:

— Saia daí, sua boba!

Recebeu o silêncio como resposta. Alice encostou-se na parede, não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que não tirava o loiro da mente. Chegava a ser doloroso pensar demais em uma pessoa e era o que estava acontecendo. Ela mal podia esperar para encontrá-lo novamente.

— Promete que nunca mais vai falar sobre isso! — A mais nova gritou de volta.

— Prometo tentar — A mais velha respondeu.


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Notas finais do capítulo

Não deixem de dizer o que estão achando, se encontraram algum erro ou algo assim!
Beijinhos >