Carrossel e a Desordem de Alabasta escrita por Jel Cavalcante


Capítulo 2
O começo do fim de todas as coisas - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Jaime e Maria Joaquina vão parar em uma terra medieval onde todos parecem ter medo deles. De repente, um rosto conhecido surge confundindo ainda mais a cabeça dos dois.



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O sol estava se pondo quando Jaime e Maria Joaquina chegaram na Biblioteca. Os livros volumosos se espremiam nas prateleiras como se quisessem devorá-los e isso fez com que se sentissem acuados. A bibliotecária tinha um rosto suspeito. Par de óculos caindo sobre o nariz, rosto comprido, olhar rabujento. Lembrava vagamente o tom ameaçador da diretora Olívia.

– E..e...eu acho me...melhor a gente sair da...daqui. - Jamie puxou Maria Joaquina para trás.

– Deixa de ser medroso, Jaime. A gente só vai perguntar se ela conhece o avô do Adriano.

– Ta bom então, mas você pergunta. - O menino se escondeu atrás de uma pilha de livros.

– Ok. Só me diz o nome dele então.

– O nome? Eu só sei que ele é avô do Adriano.

– Como assim? Você não sabe o nome da pessoa que a gente ta procurando? - Exclamou Maria Joaquina chamando a atenção de todos no local.

Nessa hora, um velho barrigudo e de barba clara vinha descendo as escadas que davam para o andar de cima. De longe pôde avistar o livro nas mãos de Maria Joaquina e isso fez com que seus olhos se arregalassem.

O homem veio chegando mais perto, sem tirar os olhos do livro, assustando os garotos ainda mais.

– O que esse livro ta fazendo com vocês? - O espanto era tanto que as mãos do velho tremiam.

Após uma série de apresentações formais, os três subiram para um local mais reservado. Lá em cima o ar era mais agradável e as estantes menos hostis.

– Então quer dizer que o espertinho do Adriano pegou o livro sem que eu soubesse né. Tsc tsc. Ai ai, esses jovens… - Balançou a cabeça em sinal de desaprovação.

– Você sabe onde os nossos amigos estão, afinal? - Perguntou Maria Joaquina assustada.

– Sei sim. - O velho parecia ainda mais espantado.

– Então desembucha, ué.

– Jaime! Não é assim que se fala com pessoas mais… experientes. - Cutucou a menina, encabulada.

– Não tem problema. Eu nem sou tão velho assim. Acontece que o que eu tenho pra falar não vai ser algo muito fácil de explicar. - Gotas de suor escorriam por sua testa.

Os três ficaram calados um tempo. Jaime olhou ao seu redor. Uma série de quadros estranhos decoravam as paredes do local, um mais assustador que o outro. Voltou os olhos para o velho à sua frente e não tinha dúvidas de que aquele era realmente o avô de Adriano.

– O que achariam se eu dissesse que os amigos de vocês estão dentro do livro? - Perguntou o velho despretensiosamente. No fundo, esperava que rissem da sua cara.

– Dentro do livro? Você quer dizer… - A menina percebeu que aquilo não fazia o menor sentido.

– Isso mesmo. Acreditem ou não, esse é um livro mágico onde o tudo e o nada existem em união. Algo muito perigoso se for parar nas mãos de alguém com a mente fértil como…

– Como a mente do seu neto, você quer dizer? - Jaime tinha uma facilidade bem maior para aceitar os fatos.

– Isso mesmo. Acredito que algumas páginas já estejam sendo escritas, não é mesmo? - O velho pegou o livro das mãos de Maria Joaquina.

– Tem uns códigos estranhos escritos nas primeiras páginas… só isso. - A menina permanecia sem entender o que o velho estava insinuando.

– Primeiras páginas? Tem certeza? - Virou o livro na direção dos dois e apontou para o número no canto inferior do papel.

– Página 22? Mas… quando eu folheei, mais cedo, não tinha nada da 8 em diante... - Maria Joaquina entrou em pânico. Estava começando a acreditar em toda aquela história maluca.

Jaime segurou sua mão para que se acalmasse.

– Vamos começar pelo início. Esse é um livro mágico onde somente quem tem um grande poder imaginativo consegue usar. Como vocês podem ver, não é feito para leitura e sim para escrita. A história acontece segundo a imaginação daquele que o conduz. Provavelmente o meu neto descobriu os poderes da sua mente e isso acabou transportando os amigos de vocês para dentro das páginas. A essa hora já devem ter se passado dias, meses ou até mesmo anos na história. O tempo dentro da nossa cabeça é bem mais rápido do que o do mundo real. Por isso que as páginas estão sendo preenchidas tão rápido.

– Então ta todo mundo correndo perigo dentro desse negócio? - Gritou Jaime, com medo do que poderia estar acontecendo com seus amigos.

– Eu sinceramente não sei. Nunca tive coragem de usar esse livro. Inclusive, eu falei pro Adriano ficar longe dele. Mas vocês sabem como é o meu neto né… - O homem sorriu pela primeira vez.

– Não é hora de ficar fazendo gracinhas! Alguma coisa muito séria pode estar acontecendo nesse exato momento. - Maria Joaquina tentava manter o foco da conversa.

– Mas… Existe alguma coisa que a gente possa fazer pra tentar trazer eles de volta? - Perguntou Jaime sem perceber que ainda estava segurando a mão de Maria Joaquina.

Os dois estavam completamente nervosos com a situação. Ambos tinham medo de que o outro percebesse o quanto estavam suando frio, portanto permaneceram de mãos dadas durante todo o tempo.

– Tem uma coisa que a gente pode tentar… mas é bem arriscado. - Falou o velho olhando fixo nos olhos dos jovens à sua frente.

– Pode mandar, chefe. Comigo não tem essa de medinho não. - Afirmou Jaime com ar de valentia.

"Até parece… Dá pra ver que a mão dele ta suando frio. Ou será que sou eu? O que importa é que ta bom… Hã? Como assim? Essa história toda deve ta me enlouquecendo."– Maria Joaquina viajava em seus próprios pensamentos.

– E então, o que me dizem? - Perguntou o velho.

Jaime olhou para a garota ao seu lado e enfim soltou sua mão. Quis fazer tudo sozinho mas ao mesmo tempo tinha uma vontade enorme de permanecer ao lado dela.

– O que você acha? - Jaime a olhava no fundo dos olhos.

A menina nem sequer sabia do que se tratava, mas seu instinto fez com que dissesse sim. De alguma forma Jaime possuía um olhar charmoso e encantador.

– Eu só espero que dê tudo certo… - Falou o avô de Adriano, apreensivo.

– Mas... espera aí? Por que o senhor não resolve tudo sozinho? Afinal, foi o seu neto que começou tudo isso, não foi? - Jaime parecia um pouco desconfiado.

– O que um pobre velho como eu pode fazer dentro da imaginação de uma criança? Essa é uma aventura de vocês. Não há nada que eu possa fazer, a não ser abrir o portal para dentro do livro.

– Portal? Jaime, eu preciso falar com você um instante. - Os dois seguiram para um lugar mais afastado.

– Que história é essa de mundo da imaginação, portal, livro mágico? Esse homem só pode ta maluco! - A menina pronunciava as palavras com incerteza. Por mais que aquilo tudo parecesse completamente absurdo, era a única explicação para o sumiço dos amigos.

– Vamo ver o que é esse tal portal, pelo menos. Vai que ele faz uma mágica e o pessoal aparece de repente. Não custa nada tentar.

Voltaram para perto do velho, que fazia os preparativos para algum tipo de ritual maluco. Juntou as mãos sobre a cabeça, olhou fixo para os garotos e indicou que sentassem novamente.

– A minha mente ta muito velha, mas acho que consigo ao menos abrir o portal. Lembrem-se: ao chegarem lá, tomem bastante cuidado. Vai saber o que se passa na cabeça do meu neto…

Jaime e Maria Joaquina assistiam curiosos o esforço do homem estranho em fazê-los acreditar em toda aquela história sem sentido.

– Eu preciso que esvaziem completamente a imaginação de vocês. Pensem numa parede branca ou algo do tipo… Ah! E não esqueçam de fechar os olhos! - O velho pressionava fortemente as têmporas, concentrando-se totalmente no interior de sua mente.

Os dois fecharam os olhos, como foi indicado, e passaram a pensar em coisas vazias. A parede branca parecia cada vez mais real. Vinha se aproximando como se buscasse expremê-los contra alguma outra coisa. O medo bateu mais forte em seus corações e quiseram saber o que estava acontecendo ao redor, mas precisavam permanecer concentrados no nada.

Um zumbido enorme tomou conta de suas mentes e um tremor estranho perpassou seus corpos. Aos poucos, um som ambiente foi se formando ao fundo. Barulho de pássaros, pessoas caminhando, vento, riso, vozes, tudo isso veio se aproximando aos poucos.

Seus olhos foram abrindo aos poucos até se darem conta de que não estavam mais na Biblioteca. Ao redor, crianças se divertiam, trabalhavam, corriam e gritavam. Aquele era um mundo completamente novo.

_

– Por que ta todo mundo olhando estranho pra gente? - Perguntou Maria Joaquina assustada.

– Pra gente não. Pra você.

Nessa hora, uma garotinha um pouco mais nova parou perto dos dois.

– Por favor, não me leva pro castigo. Eu juro que vou me comportar! - A criança se agarrou na perna de Maria Joaquina, apertando com força.

Jaime olhou para ela sem saber o que fazer. Em um segundo estavam conversando com o avô de Adriano na Biblioteca e logo em seguida, pareciam estar em um mundo completamente diferente.

– Eu não tô entendo. Por que você ta chorando? - Maria Joaquina passou a mão na cabeça da criança tentando confortá-la.

– Larga a minha irmã! - Gritou um garoto desconhecido do outro lado da rua. Seus movimentos faziam parecer que estava com medo de se aproximar.

– Olhem! É a deusa cruel! Ela veio levar a gente embora. Corram! - Um grito ecoou no ar.

Todos que estavam ao redor começaram a correr apavorados. Em pouco tempo, Jaime e Maria Joaquina estavam sozinhos no meio de uma feira abandonada.

As barracas ficavam muito próximas umas das outras. No chão haviam várias frutas esmagadas e flores pisoteadas. A correria foi tanta que abandonaram até seus pertences.

– Alguém deixou cair isso daqui. - Comentou Maria Joaquina apanhando um bastão esquisito do chão.

– Por falar nisso, tem um desses enganchado no meu bolso. Dá uma olhada. - Jaime manuseava um pedaço de madeira enquanto se perguntava como aquilo havia ido parar ali.

– Que estranho. Pior é que eu tenho a sensação de que esse negócio caiu da minha mão quando aquela garotinha me apertou. - Seus olhos observavam com estranhamento o material do qual o objeto era feito.

– O meu parece uma varinha do Harry Potter. Já o seu, nunca vi nada parecido. - Jaime apontava a varinha para os cantos tentando fazer alguma coisa diferente acontecer.

– É... isso ta parecendo um báculo. Daqueles que as sacerdotisas usam nos filmes de fantasia. - Passou a mão em cada detalhe imaginando que tivesse um botão em algum lugar.

– Quem diria que a Maria Chatonilda gosta de filmes de aventura. - Debochou Jaime batendo palmas.

– Por que? Você tem algum problema com garotas que gostam de ficção? - Perguntou com um sorriso intimidador.

– Não. Claro que não… quer dizer, sim… Mulher só sabe é… - Pausou a frase na metade por não saber exatamente o que queria dizer.

– Cala a boca ,Jaime. Ao invés de ficarmos aqui parados discutindo besteira, a gente precisa descobrir que lugar é esse e porque essas pessoas saíram correndo com medo de mim.

– Vai ver elas se espantaram com essa sua cara feita hahaha! - Jaime se divertia enquanto deixava a garota ainda mais desconfortável.

– É sério, seu idiota! Já imaginou se aquele velho tava falando a verdade e a gente veio parar dentro de um livro estúpido? - Perguntou preocupada.

– Mas é óbvio que a gente veio parar dentro daquele livro estúpido. Onde mais a gente estaria?

– Eu odeio ter que concordar com você mas tô começando a ficar com medo. Só tem criança aqui. Lembra quando o velho falou que…

– Que estava velho demais pra entrar na cabeça de uma criança? Lembro. Você acha então que não tem nenhum adulto nesse lugar? - Jaime possuía um misto de alegria e aflição no rosto.

– É o que parece…

Os dois seguiram andando no rumo da estrada. Era um caminho feito de pedra e aparentando pertencer a uma cidade medieval. A poeira subia na medida em que seus passos iam acelerando. Maria Joaquina subia a ladeira com dificuldade quando algo estranho chamou sua atenção.

– Que coisa mais feia… - Comentou ao reparar que havia uma coruja em cima de uma muro velho.

– Ela parece que ta olhando pra gente. - Observou Jaime tentando espantar o bicho.

A coruja levantou vôo de repente e sumiu no céu. Antes de sair, fez um barulho estrondoso, como se estivesse agourando o caminho deles. Ao olhar para o alto, notaram que o pôr do sol parecia o mesmo que haviam deixado para trás.

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– Eu só espero que ninguém venha me agarrar de novo, senão eu vou bater com isso na cabeça deles. - Falou Maria Joaquina exibindo o báculo em sua mão.

– É melhor você não mexer com isso não. Vai que ta amaldiçoado ou coisa do tipo. Cruz credo.

– Tem razão. Vai que foi isso que assustou todo mundo na feira. Melhor guardar. - Encaixou o báculo na cintura e escondeu com a camisa para que ninguém o visse.

– Ta me batendo uma baita duma fome. Você não querer parar aqui pra comer alguma coisa não? - O garoto parou diante da fachada de um armazém e fez uma cara de esgotado.

– Esse lugar ta cheirando mal. Tem certeza que você quer comer aí?

– Deixa de frescura e vem comigo. - Fez um sinal para que ela o seguisse e empurrou a porta do estabelecimento cuidadosamente.

Era uma espécie de taverna onde várias crianças se divertiam dando gargalhadas que mais pareciam berros. Nas mesas, alguns copos repousavam vazios enquanto outros iam chegando aos poucos com o auxílio de um atendente gorducho.

– Boa tarde, senhores. O que desejam? - Perguntou o atendente.

– Eh… me vê um refri com batata frita no capricho, por favor. - Pediu Jaime ocupando um dos lugares no balcão.

– Desculpe senhor, mas não servimos esse tipo de coisa aqui. Que tal experimentarem o nosso néctar de besouro juntamente com a salada de flores secas?

– Eca! Que nojo! Quem comeria esse tipo de coisa? - Exclamou Maria Joaquina.

Sua voz chamou a atenção de todos no local e um murmúrio intenso começou a surgir entre os clientes ruidosos. O próprio atendente se espantou com o grito da menina e o fez encará-la de uma forma diferente.

– Desculpe. Eu não sabia que era a senhora. Vou tratar de servir a sopa de asas de fada que tanto gosta. Em um minuto estarei de volta. - O gorducho saiu apressado, como se temesse pela forma como havia tratado os dois.

– Que cara estranho… Gostei dele. Tomara que esse negócio aí de besouro seja bom mesmo. - Comentou Jaime totalmente à vontade em seu lugar.

Maria Joaquina sentou ao seu lado ainda surpresa com a reação do atendente.

– Até que esse lugar não é tão ruim assim…

– Você viu? Ele te tratou como se já te conhecesse. E ainda agiu como se você fosse uma princesa ou coisa do tipo.

– Eu não sei quem esse povo pensa que eu sou, mas se começarem a me tratar desse jeito, vou acabar me acostumando. - Um sorriso empolgado brotava no canto dos lábios.

Um dos garotos que estavam sentados na mesa mais barulhenta da taverna sentou ao seu lado e começou a observá-la atentamente.

– O que foi? Perdeu alguma coisa aqui? - Perguntou incomodada.

– Então você é mesmo a Deusa Cruel! Muito prazer. - O jovem estendeu a mão para cumprimentá-la. Aparentava ter um pouco mais que a sua idade, mas a tratava como se estivesse com receio de alguma coisa.

– Eu não sei do que você ta falando. Mesmo assim, muito prazer. - Apertou a mão do menino um pouco tímida.

Jaime olhava de cara feia para o garoto desconhecido. Notou que ele estava vestido com uma roupa de guerra e tinha uma espada presa à cintura.

– Nossa. Mas vocês duas se parecem muito. Quando você entrou aqui, eu jurava que iria levar alguém pro castigo. - Falou o desconhecido sorrindo para ela.

– Escuta, que negócio é esse de castigo que ta todo mundo falando, ein? - A menina já estava ficando nervosa por não saber nada sobre o local onde estava.

– De onde vocês são afinal? Nunca ouviram falar das Ilhas do Castigo?

– A gente veio de muuuuuuito longe. Acabamos de chegar na cidade. Sabe como é né… - Disfarçou Jaime esboçando um sorriso constrangido.

– Ual! Vocês devem ser de muuuuuito longe mesmo pra nunca terem ouvido falar do castigo. - O garoto não deixava de observar Maria Joaquina de cima à baixo - As Ilhas do Castigo ficam do outro lado do oceano. É pra lá que vão as pessoas que se comportam mal. A Deusa Cruel sempre aparece por aqui pra levar os desobedientes, os ladrões, os arruaceiros, enfim, toda essa gente que merece ser castigada. É uma espécie de condenação divina, entende?

– Que horror! E por que vocês não prendem essa mulher? - Perguntou Maria Joaquina completamente enojada com a história sobre a tal Deusa Cruel.

Nesse momento, o atendente trouxe os pratos para o balcão. Jaime foi logo atacando a comida enquanto Maria Joaquina mexia na sopa com cara de quem não iria provar aquilo nem morta.

– Essa é a comida mais cara daqui. Por que não experimenta? - Perguntou o garoto ao seu lado.

– Vem cá, quem é você pra começo de conversa? - Perguntou Jaime com a boca cheia de pétalas.

– Eca, Jaime! Come primeiro, depois você fala! Não liga pra esse imundo. - A menina tentava disfarçar a grosseria do amigo com medo de se meter em alguma confusão.

– Eu sou um dos membros da guarda real e protetor de Alabasta. Como você pode ver, nós adoramos passar a tarde aqui tomando néctar de besouro. É bem melhor do que vigiar a entrada da cidade, que é o que eu preciso fazer daqui a pouco. - Falou o jovem tentando enxergar por debaixo da porta se já tinha anoitecido.

– Alabasta? Esse é o nome da cidade? - Peguntou Maria Joaquina, confusa.

– Sim. De que lugar de Reveria vocês são? - O guarda tinha agora um olhar desconfiado.

– É… Como eu disse, nós viemos de muuuito, mas muuuuito longe. Não conhecemos nada dessa tal "Alabastro" e "Revérsia" aí. - Respondeu Jaime preocupado.

– Bem, esse aqui é o reino de Reveria. Eu nunca conheci ninguém que não soubesse o nome do próprio reino. Ou vão me dizer que vocês são de outro mundo, hein? - O guarda exibia agora um sorriso descontraído.

– Como eu disse, não precisa ligar pras coisas que esse louco diz. É óbvio que a gente sabe que ta em Reveria. A gente só não ta muito acostumado a falar de Geografia, sabe? - Disfarçou Maria Joaquina.

– Geo o quê? Vocês dois são muito engraçados, sabiam? Até a roupa de vocês é estranha. Parecem que, sei lá, vieram de outro reino. Se bem que eu nunca ouvi falar que existem outros reinos. Enfim, foi bom conversar com vocês. Sejam bem-vindos à Alabasta, a Capital do Reino de Reveria. - Pegou a mão direita de Maria Joaquina e beijou delicadamente a ponta dos dedos - Qualquer coisa, é só me chamar. Me chamo Dorin.

– Muito obrigada, Dorin. É muita gentileza sua. - Respondeu com o rosto corado.

Já ta bom de melação né. Anda logo que a gente ainda tem muita coisa pra fazer hoje. - Falou Jaime aborrecido com a formalidade do guarda.

A porta se abriu e algumas pessoas entraram bruscamente.

– O meu chefe acabou de chegar. Até mais. - Falou Dorin se voltando apressado para a mesa onde estavam seus companheiros.

– Ainda tô todo confuso com esse negócio de Reveria e Alabasta. Depois você vai ter que me explicar tudo direitinho. Vamo logo pagar isso daqui, que já ta escurecendo.

Jaime procurou nos bolsos e encontrou duas moedas. Olhou para Maria Joaquina preocupado e, virando para o atendente gorducho, mostrou o dinheiro que tinha.

– Essas moedas não valem nada por aqui, garoto. Nós só aceitamos figurinhas, a moeda oficial do reino. Elas são um pouco parecidas com essas daí, porém muito mais divertidas.

Os dois se entreolharam sem saber o que fazer. Maria Joaquina percorreu o local com os olhos, à procura de Dorin, e acabou se deparando com um rosto bastante conhecido.

– Escuta, aquele não é o… - Jaime apontava para a mesa dos guardas.

– Daniel? - Gritou Maria Joaquina no meio da taverna.

Os guardas se viraram ao mesmo tempo. Daniel estava sentado no meio deles, com um uniforme repleto de insígnias e um chapéu escuro com uma pena na ponta.

A menina caminhou na direção dos guardas, abrindo um sorriso encantador. Nunca tinha visto Daniel tão elegante e charmoso.

Ao tentar se aproximar do amigo, dois guardas se puseram em sua frente.

– Para trás mocinha, você não pode gritar com o chefe da guarda real.

Daniel olhava confuso para o rosto de Maria Joaquina, como se tentasse lembrar de alguma coisa. Dorin, que estava sentado ao seu lado, cochichou algo em seu ouvido.

– Apesar de haver uma similaridade muito grande com a Deusa Cruel, o meu amigo aqui acabou de esclarecer que você não passa de uma forasteira. Como ousa agir desse jeito, gritando comigo na frente da minha tropa? - Daniel tinha um ar de seriedade estampado no rosto.

– Vê lá como você fala com ela ein seu nerd. Senão eu te arrebento! - Jaime se posicionou na frente dos guardas que o impedia de passar.

– Como é que é? - Daniel bateu na mesa e se levantou violentamente.

Maria Joaquina olhou preocupada para Jaime. O atendente gorducho veio logo em seguida.

– Esses dois acabaram de pedir os itens mais caros da casa e não quiseram pagar, Senhor Capitão.

– Capitão? - Jaime e Maria Joaquina se espantaram ao mesmo tempo.

– Eu vou ensinar pra vocês como respeitar o chefe dos guardas de Alabasta. - Daniel apontou uma espada brilhante para seus homens e quase cegou a todos - Não deixem que eles escapem!

Os guardas agarraram Maria Joaquina enquanto dois deles cercavam Jaime.

– Faz alguma coisa Jaime! Me tira daqui! - A menina esperneava tentando se soltar dos guardas à socos e pontapés.

Jaime ficou bastante nervoso ao ver os guardas vindo em sua direção. Puxou a varinha da cintura e torceu para que ela fizesse alguma coisa.

Um dos guardas que seguravam Maria Joaquina a apertou com força, para que parasse de espernear, e a menina gritou. Jaime concentrou toda a sua atenção na ponta da varinha, como nos filmes de bruxaria que via na TV, e desejou que uma bola de fogo saísse dali.

"Anda varinha, funciona! Eu não posso deixar que machuquem a Maria Joaquina!"

Um brilho estranho surgiu na ponta da varinha, e dali começou a sair dezenas de baratas, voando para cima dos guardas. Todos começaram a gritar apavorados, principalmente Maria Joaquina. Jaime a pegou pelo braço e os dois saíram correndo porta afora. Aos poucos, o enxame de baratas foi se dissipando, e isso permitiu que os guardas recobrassem a visão.

Daniel se encontrava em cima da mesa, com um escudo no rosto e a espada balançando de um lado para o outro, tentando acertar as baratas indefesas. Os homens ao seu redor começaram a rir, mas logo retornaram para as suas posições.

"Isso não vai ficar assim"


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Notas finais do capítulo

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