Gerard foi um cavalheiro. Ficou comigo o tempo inteiro e ainda teve que ouvir meus gritos por causa de uma agulha, que fiquei sabendo o que era logo depois de um homem enfiá-la com uma linha no meu braço.

Depois de todo o escândalo e de estar devidamente medicada, voltei com Gerard para dentro do carro. Ele me olhava sério e seus olhos emitiam um brilho triste, de dar dó.

- o que foi? Por que está triste?
- como sabe que estou triste? – ele perguntou olhando pra algo brilhante em seu dedo.
- digamos que, eu consiga sentir a aura das pessoas. – ele deu um sorriso tímido sem desviar o olhar. – me diga, o que sente?
- é difícil te explicar. São coisas do coração, sabe. Eu to confuso e não sei o que fazer.
- Gerard, não se preocupe com isso. Seu coração irá dizer a hora e o momento certo de agir, você deve segui-lo cegamente, pois ele nunca te levará para um caminho que o fará infeliz. Escute o que seu coração tem a dizer e você encontrará as respostas para o que procura. – coloquei a mão em seu coração e percebi que ele batia depressa.
- nossa, muito obrigado. Já me sinto até melhor. – ele soltou um suspiro – é engraçado, eu mal te conheço mas sinto como se já fôssemos amigos há tanto tempo. – ele sorriu e eu deixei escapar um sorriso tímido.
- eu também sinto isso. Eu preciso ir. – tentei abrir a porta do carro, mas ele me segurou.
- onde você mora? Eu te levo lá. – fiquei muda, o encarando sem saber o que dizer. – me diz onde é que eu te levo, sem problemas.
- é... não é muito perto daqui e... – me engasguei e ele percebeu que eu mentia. Abri a porta do carro e ele me soltou.
- você não quer me dizer. Tudo bem, eu entendo. Você mal me conhece. – ele abaixou a cabeça no volante e eu fechei a porta.
- não, não é isso. É que... – fiquei sem graça e me calei.
- você também está na rua, como eu? – ele disse me olhando. – concordei – então vamos achar um lugar pra gente ficar, tudo bem? – concordei de novo sem nem acreditar no que tinha feito.

Uns 15 minutos de carro e paramos numa pousada com vista para um monte de água sem fim. Olhei pela janela do quarto e me tremi por inteiro.

- o que foi? Está com frio? – ele perguntou atencioso.
- não, estou com medo. – ele me olhou surpreso.
- eu já disse que não vou...
- não de você, daquilo. – apontei pra água lá fora.
- você nunca viu o mar? – neguei – então amanhã quando você acordar, eu te levo até lá.
- não!! É muita água, eu vou morrer!
- calma, não precisa ficar com medo. Você não vai morrer se eu estiver com você.
- por que não?
- porque eu cuido de você. – olhei pra ele e ele sorriu ficando vermelho.
- meus olhos estão ardendo.
- é sono. Você deve estar cansada. Deita um pouco e descansa. – me joguei em uma coisa macia que o Gerard chamava de ‘cama’.
- você não vai descansar também?
- daqui a pouco. Ainda não estou com sono.
- tudo bem. – respondi fechando os olhos de tão cansada.
- você não me disse seu nome. – ouvi a voz dele e abri os olhos.
- é Maya. – falei baixinho e vi que ele sorria.
- boa noite, Maya. – adormeci com um sorriso bobo no rosto.

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