Criminal escrita por Ana


Capítulo 2
Mackerel


Notas iniciais do capítulo

Olá! Mais um capítulo para vocês! Espero que gostem, boa leitura.



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Acordei com minha mãe arrancando os fones de minhas orelhas e reclamando sobre eu sempre estar com essas "porcarias" e não escutá-los. Saímos todos do avião e ficamos esperando nossas malas chegarem. Não consegui soltar minha nova pelúcia em momento algum da viagem, parece que ela representa aquele pedaço da minha vida que acabei de deixar para trás. Nem sei quanto tempo ficamos no ar, pois dormi a viagem inteira, estava exausta, efeito naturalmente causado pelo fato de eu não ter dormido muito nos últimos dias. Estive tão ocupada com assuntos da mudança, arrumando minhas malas, separando o que ia para o lixo, o que eu ia doar e o que ia trazer comigo, me despedindo das pessoas, que nem tive muito tempo para dormir.

Assim que nossas malas chegaram, nós as carregamos até um táxi com a ajuda de um funcionário do aeroporto. Meu pai deu as direções do nosso novo apartamento para o taxista, um velhinho simpático. Fiquei apreciando a vista pela janela no carro e escutando meus pais discutindo a nova rotina deles. Meu pai é médico, foi transferido para cá porque é um médico muito bom e acha que pode ir além, então resolveu vir trabalhar num hospital melhor. Minha mãe é uma mulher importante no ramo de comunicação, eu nunca soube direito o que ela faz, mas sei que ela controla muita coisa numa empresa muito grande. Ela ficou muito feliz quando meu pai conseguiu a transferência para um hospital na mesma cidade de uma das empresas filiadas a que ela costumava trabalhar, então não foi muito difícil acertar detalhes da mudança. Como podem perceber, não sou pobre, nunca fui, mas não gosto muito de depender dos meus pais em relação a dinheiro. Quero poder construir minha própria fortuna futuramente, andar com meus próprios pés, ir além do que meu nome me proporciona.

Quando chegamos ao prédio, saí do táxi e me deparei com um prédio que devia ter uns 20 andares. Largo, comprido e azulado, essas são as palavras que usaria para descrever esse prédio. Ele tinha as laterais brancas, mas no meio dele, havia uma larga faixa azul. Não era chapado, haviam sacadas modernas no prédio. Na verdade, tudo nesse prédio era moderno.

Entramos na portaria e meu pai foi conversar com o porteiro, informá-lo que somos os novos residentes do prédio. Minha mãe não parava de reclamar da demora do porteiro para achar os documentos para meu pai assinar, pois ela tinha trabalho a fazer, e-mails para responder, coisas para organizar. Nem presto muita atenção nas reclamações de minha mãe. Teve uma época que eu comecei a ficar igual a ela, reclamando de tudo, mas eu não queria permanecer assim, então comecei a não dar atenção as suas reclamações. 

Tomei um pequeno susto quando as portas do elevador abriram e uma menina ruiva, que parece ser simpática, saiu de lá com toda a pressa do mundo falando no telefone com um tal de Chris. Pelo jeito ela estava atrasada para encontra-lo, o que é bem a minha cara também, nunca chego na hora em lugar nenhum.

— Tudo pronto, vamos subir - meu pai balançou a chave do apartamento na minha frente

Mesmo não desejando muito essa mudança, estava ansiosa para ver minha nova casa, e quando descobri que ficava na cobertura, fiquei estupefata. Adoro as coberturas, da pra ver quase tudo lá de cima. Meu pai saiu do elevador primeiro para abrir a porta. Ele viu que eu estava ansiosa, então ficou fazendo um pequeno suspense na hora de abrir.

— Abra logo essa porcaria, pai - ri

— Bem-vinda a sua nova casa, meu amor - meu pai disse enquanto abria a porta

Entrei e me deparei com uma grande sala de estar, que já estava decorada e mobiliada, o que com certeza foi trabalho da minha mãe. Ela não suportaria vir para uma nova casa que ela mesma teria que arrumar. O apartamento era bem moderno, com decorações não muito exageradas, mas bonitas. A sala era composta de dois sofás verde-limão, paredes cinzas, um tapete cinza-claro entre os dois sofás, uma mesa de centro em cima do tapete, e uma televisão grande na frente de um dos sofás. Haviam quadros nas paredes e flores decorando o ambiente. 

Passei pela cozinha, que também era grande, pela suíte dos meus pais, pelo quarto de hóspedes, pelo escritório, que vai ser utilizado praticamente apenas pelos meus pais, pelo banheiro social, pela sacada da sala de estar, e finalmente, pela minha suíte, que era composta de paredes azul-claro, uma cama de casal branca que já estava devidamente arrumada, um guarda-roupas grande branco, uma escrivaninha que também é branca acompanhada de uma cadeira que parece ser muito confortável, meu notebook, que estava em cima da escrivaninha, e mais uns enfeites pelas paredes. Joguei a mochila na cama e percebi que ao lado do guarda-roupas havia uma porta. Adentrei a mesma e descobri que ali havia um banheiro com azulejos azuis e brancos na parede, uma maravilhosa banheira embutida com um chuveiro, uma pia de granito bege, um espelho enorme logo a cima da pia e um vaso sanitário branco. Voltei para o quarto e mandei mensagem para Ethan.

"Cheguei, meu bem. Adorei minha nova casa, é muito bonita. O lugar também parece ser, talvez amanhã depois da escola eu dê uma explorada. Te conto tudo depois, porque agora vou arrumar algumas coisas e dormir, pois já é tarde aqui. Te amo, Eth ♥"

Peguei minhas malas e as coloquei em cima da cama, e comecei a abrir as caixas com minhas coisas. Não trouxe todas as minhas roupas, senão elas iam ocupar o avião todo. Tive que abrir mão de muita coisa, o que tomou muito do meu tempo, pois eu amava todas elas, parecia que estavam arrancando uma parte de mim quando eu as doei. Fui organizando as roupas dentro do guarda-roupas e enfeitando o quarto com algumas coisas que trouxe para cá, como porta retratos, pelúcias, fui colocando meus inúmeros livros na estante.

Fiquei um bom tempo arrumando só essas coisas mais básicas, porque a maioria das coisas foram mandadas por correio, então não sei aonde as coisas estão, são muitas caixas. Tinha muita coisa para arrumar, mas resolvi dar um tempo. Guiada pela minha fome, fui até a cozinha e descobri um paraíso de coisas deliciosas dentro da geladeira. Se bem que a esse ponto, tudo parece delicioso aos meus olhos. Resolvi preparar algo rápido, então peguei quatro fatias de pão de forma, separei duas fatias e passei, de um lado, manteiga de amendoim, e do outro, geleia de morango. Fiz o mesmo com as outras duas fatias, peguei um copo de leite e me sentei na mesinha da sacada. A vista da sacada da sala era bem bonita, pois dava de cara com um parque bem iluminado e com bastante árvores. Parece um bom lugar para leitura, para conversas, encontros, basicamente qualquer coisa, até uma corrida, o que não é nada meu estilo. 

Depois de comer, lavei minha bagunça e fui ver o que meus pais estavam fazendo. Fui até o quarto e vi meu pai dormindo, ele deve estar exausto, foi um dos que mais trabalhou para essa mudança dar certo, só não supera minha mãe, que é super detalhista e não deixa nada passar. Não surpreendida, encontrei minha mãe no escritório respondendo seus tão esperados e-mails.

— Oi, mãe - falei com a cabeça na porta

— O que foi, Alysson? - disse sem nem retirar os olhos da tela do notebook 

— Nada não, só vim dar boa noite

— Boa noite - falou rápido

— Mãe? - entrei no quarto

— Fale de uma vez, Alysson! Estou trabalhando, não está vendo?

— Não é nada, Aida - ela olhou para mim com um pequeno ódio nos olhos. Ela odeia que eu a chame pelo nome

—Já disse para parar de me chamar pelo nome. Sou sua mãe, e não qualquer coleguinha sua da escola!

— Sério? É minha mãe? Pensei que minha mãe fosse Lúcia, sabe? - Lúcia era minha babá. Ela morava na minha casa, sempre me deu todo o amor que minha mãe não deu - Aquela que me criou, que realmente me amou e tinha tempo para mim! - elevei a voz

— Claro que ela tinha tempo para você, era paga para isso! Se ela não dedicasse todo seu tempo a você, estaria fazendo seu trabalho muito mal

— Então está dizendo que você tem que ser paga para ter tempo para mim? Acho que até funcionaria, já que tudo que você pensa é dinheiro

— Você sabe que isso não é verdade, Alysson. Só quis dizer que Lúcia era paga para dedicar todo o seu tempo a você. Eu não tenho todo tempo, apenas meu tempo livre. Não está bom para você?

— Esse é o problema, Aida. - dei ênfase em seu nome - Você nunca tem tempo livre pra mim. E quando tem, fica procurando coisas para fazer e e-mails para responder

— Eu estou cansada de discutir com você, Alysson. - respondeu depois de um tempo - É melhor ir para seu quarto, tem um grande dia amanhã. O nome da sua nova escola é Mackerel, é só perguntar o porteiro pelas direções. Boa noite - ela voltou a responder seus e-mails

Saí do escritório com raiva de seu cinismo extremo. Desde que eu tenho memórias, ela nunca teve tempo para a nossa família, sempre viveu para o trabalho. Eu fui criada pelo meu pai e por Lúcia, que foi basicamente a minha mãe. Fui direto para o banheiro, despi-me e entrei em baixo do chuveiro de água morna. Lavei meu cabelo que estava imundo e embaraçado, e senti a água relaxando meus músculos bem de leve. Saí do banho enrolada na toalha, abri meu guarda-roupas e escolhi uma camisola de seda que minha falecida avó havia me dado. Penteei e sequei meus cabelos com o secador, vesti minha camisola e me joguei na cama.

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Acordei com o despertador gritando dos meus ouvidos. Eu nunca coloco uma música que eu realmente goste como despertador, sempre deixo o padrão que vem no celular, senão acabo odiando a música. Abri os olhos ainda grudados e fiquei encarando o teto por um tempinho. É hoje que eu definitivamente começo minha vida do zero, posso fingir ser uma pessoa completamente diferente da que realmente sou, que ninguém vai saber. Estou um pouco apreensiva, mas também ansiosa. Sou bem confusa, bem indecisa, quero e não quero as coisas. Nem eu me entendo as vezes, Ethan vivia rindo das minhas indecisões e pensamentos aleatórios. Já sinto sua falta, nós sempre íamos e voltávamos da escola juntos, e agora vou ter que fazer isso sozinha.

Levantei da cama e me enfiei logo no banheiro para fazer minha higiene matinal. Voltei até o quarto e coloquei a mesma calça que havia chegado aqui, a blusa de uniforme e meus All Star Azul. Tenho uma variedade de All Star, sempre fui apaixonada por eles, então tenho vários modelos e cores. Coloquei meu moletom cinza, enfiei uns livros e cadernos na mochila e fui em busca de comida na cozinha.

—Bom dia, princesa - meu pai me olhou por cima do jornal

—Bom dia, pai - dei um beijo em sua bochecha - de bom-humor logo cedo? Que horror, pai

—Filha, acordar cedo é muito bom, da para aproveitar e acompanhar o desenvolvimento do dia

—Você é mesmo uma raridade - ri e me servi um copo de suco de manga e um cupcake de chocolate

—Já sabe aonde é sua nova escola? 

—Não. Aida não se deu o trabalho de me informar, então, como sempre, passou essa tarefa para os outros, que, nesse caso, é o porteiro.

—Já conversamos sobre isso, Alysson. Não fale assim de sua mãe, ela trabalha assim para o bem da família

—E quem foi que te disse isso? Ela, né? Faria bem para a sua família se ela pudesse pelo menos tomar um café da manhã conosco, passear, não sei. Passar um tempo com a família que ela tanto gosta de expor nesses eventos que ela vai - meu pai é maravilhoso, melhor pai que eu podia ter desejado, mas seu único problema é que ele acredita em tudo que minha mãe fala e faz tudo que ela manda.

—Minha querida, não vou entrar nessa discussão com você novamente, ok? 

—Como quiser

Terminei meu café, dei um beijo na testa de meu pai e fui até o elevador. Apertei o botão da portaria, mas ele não foi direto, ainda parou no décimo quinto andar e aquela menina ruiva que vi na portaria no dia que eu cheguei aqui, entrou no elevador.

—Bom dia. Você é nova aqui, não é? - disse depois que o elevador desceu uns dois andares

—Sim, me mudei ontem

—Sou Daisy Lamartine, mas pode me chamar de Day - ela estendeu a mão para mim

— Sou Alysson Keller - apertei sua mão 

— Bom te conhecer. Está indo para escola?

— Vou tentar. Não sei aonde é

— Qual é a escola? Dependendo de qual seja, posso te ajudar

— Mackerel

— Para a sua sorte, eu estudo lá - o elevador chegou na portaria e as portas se abriram - podemos ir juntas!

Cumprimentamos o porteiro e saímos em direção a escola. Eu gostei do lugar, o clima é agradável, bem friozinho, do jeito que eu gosto. Day estava vestida quase igual a mim, mas sua calça era branca, seu moletom preto e seu tênis não era um All Star, era um da Adidas branco com preto. Seu cabelo era longo e ruivo, sua pele branca como uma lousa. Fomos conversando sobre vários assuntos, como minha mudança, livros, séries de TV, e outros, até chegar na escola, que, por sinal, era enorme. Quando falo enorme, não é exagero. Não é a toa que essa é a escola mais cara da região. Logo na entrada tem um grande portão com dois seguranças de plantão checando e identidade de todos que entram. Logo depois do portão, há um grande pátio com árvores nas laterais, bancos de praça, mesas e cadeiras, grama no chão. Vi vários alunos colocando cangas no chão e se sentando para conversar com os amigos. Os seguranças me pararam na entrada, pois não tinha a carteirinha da escola, mas minha mãe tinha deixado na minha mochila os papéis para eu provar que estudo lá. Depois de um tempinho, eles me deixaram entrar. Day foi me puxando para uma mesa que havia um menino com cabelos castanhos e uma menina dos cabelos curtos e azuis.

— Alysson, esses são Christian e Coraline, mas pode os chamar de Chris e Cora - ela apontou para os dois

— Nova na área? - Cora deu um olhar cúmplice para Chris

— Interessante. Pele nova sempre chama atenção nas festas. Temos que apresentá-la para todo mundo! Tanto trabalho - falou como se eu não estivesse ali

— Gente, não assustem a menina logo de cara - Day riu - deixe ela gostar de vocês primeiro, ai podem assustá-la 

— Prazer em te conhecer - os dois falaram ao mesmo tempo e esticaram as mãos

— Prazer - disse rindo e apertando as mãos deles

— Chris é meu irmão, mas parece que é irmão de Cora - Day riu

— Isso é pura verdade, eu e Cora fomos feitos um para o outro. Se eu não fosse gay, com certeza nos casaríamos. 

— Você tem um ponto ai, colega - Cora disse

Ficamos um bom tempo conversando ali. Gostei muito deles, principalmente de Day, não sei, mas parece que temos uma boa sintonia. Pelo que percebi, Chris e Cora são basicamente inseparáveis, vivem juntos e completam as frases um do outro, é bem engraçado. Quando o sinal bateu, fomos até o quadro de avisos ver em qual turma caímos. Parece que, eu, Day e Cora pegamos quase a mesma grade horária, só algumas aulas mudaram. Chris e Cora ficaram revoltados pelo separamento deles, que se alto-apelidam de irmãos siameses. Eles não pegaram nenhuma aula juntos. Day ficou falando que era bem previsível o separamento deles, pois ano passado eram impossíveis na sala, os professores não conseguiam dar aula direito.

Entramos em uma sala e a professora já estava lá. Ela era uma mulata muito bem aparentada, usava uma blusa e uma calça social acompanhada de um salto alto. 

— Então, alunos, meu nome é Sandra. Sou professora de gramática, e para começar esse ano bem, resolvi aprender o nome de todos vocês. Vou chamar o nome na chamada, assim, podemos ver se tem alguém faltando.

Ela começou a chamar os nomes e o meu era logo o primeiro. Vi que tinha um engraçadinho na sala, um tal de Craig. Todos os nomes que passavam, a não ser o meu e de Day, ele fazia umas piadinhas. Quando ela terminou de chamar os nomes, Craig e uns amigos começaram a gritar.

— Cade o Cohen nessa chamada? - na hora que Craig falou isso, Day olhou para seu rosto

— Não tem nenhum Cohen aqui, Craig - a professora checou a chamada novamente 

— Se Daisy fosse boa de cama, ele estaria - Craig olhou para Day, que se levantou e saiu andando rápido para fora da sala

— Craig, para a diretoria! - a professora ordenou 

— O que foi isso? - perguntei a Cora

— Nada, é bem pessoal. Fique aqui que eu vou atrás dela - Cora se levantou e seguiu o mesmo caminho que Day seguiu. A sala ficou cheia de cochichos e fazendo fofoca, mas resolvi não perguntar a ninguém. Não gostaria se fosse comigo, se um dia ela quiser me contar, ela conta.

 


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Notas finais do capítulo

Chegamos as final de mais um capítulo! Espero que tenham gostado! Me deem feedback, obrigada.



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