Itachi and Kisame History (Em Revisão) escrita por AnneAngel


Capítulo 25
A vida é o prelúdio da Morte (Reescrito)


Notas iniciais do capítulo

Oieee, amores!
Eu sei que demorei um mês pra fazer essa atualização (As provas e lascaram e minha vida acadêmica ainda esta bem complicada).
Mas agora, pude arranjar um tempinho enfim tem capítulo fresquinho!
eu sei que ficou enorme de GIGANTE. Além disso, tem trechos de uma música dentro do capítulo, espero que gostem!



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Às vezes precisamos repensar nossos rumos e perspectivas perante esta jornada. Lembre-se de que a vida é o preludio da morte, então faça bom proveito dela.

Kisame P.O.V (Point Off View)

Cinco dias passaram voando. Estava tão entediado com sua bebida, enquanto pensava em como foi que se meteu em naquela amizade estranha justamente com Uchiha Itachi. O fato era que sabia que ficaria ao lado do garoto até sua morte e tinha que ser sincero consigo mesmo: Acostumou-se ao garoto, a viver em sua companhia. Preocupava-se com o moreno e por isso estava tentando fazer tudo conforme era pedido, sem titubear.

No fundo o azul sabia que a finalidade daquilo tudo e seu empenho em ajudar eram porque queria acolher o Uchiha da melhor maneira possível; Pensava que já que não havia possibilidades do rapaz melhorar, como amigo deveria no mínimo oferecer-lhe algum cuidado especial para prevenção e alivio do sofrimento que o menino tinha por conta da doença incurável. Queria fazer mais por seu camarada e naquela situação que se encontravam a única coisa que era possível dar era dignidade para que Itachi pudesse se preparar para a morte iminente. Então era isso que o azul doaria a ele, apoio e consideração.

Fez o possível para transformar o lugar em uma casa habitável e agradável. Para que se instalassem da melhor forma possível, saiu pra abastecer os armários com comida dentro do prazo de validade e também itens de insumo básico, de higiene e até roupas diferentes daquelas da Akatsuki arranjara, fazia anos que ele mesmo não colocava outra vestimenta além daquela. O fato era que aquele lugar agora tinha tudo que uma residência comum tinha, absolutamente tudo. Entretanto, o Uchiha ainda parecia um pouco amuado por algo que não queria lhe dizer...

Parou para refletir sobre isso. Percebeu que seu parceiro menor não tinha mudado muito desde que era um pirralho, lembrou-se dos primeiros anos que passara com a pequena praga e comparou-os com o presente momento: O garoto ainda era deveras metódico com tudo, bem atento a detalhes e a exatidão das coisas gostando de ter uma certa rotina, e ficava bravo quando saía dela, principalmente quando ele mesmo não conseguia seguir a própria rotina estipulada. Por alguns dias pensou que seu amigo agiria feito um maldito neurótico obsessivo que parecia não saber viver sem estabelecer regras e uma rotina estritamente estipulada e que só podia ser realizada de uma só maneira especifica. Estava quase arrastando-o para aquela praia novamente, para ensina-lo a viver direito, quando aconteceu uma mudança...

...O moreno começara a sair dos padrões, ultimamente. O mais novo parecia mais agitado, como se algo aleatório cruzasse sua mente repentinamente e estivesse deveras encucado com algo, ou alguma verdade, que o pegou desprevenido naquele fim de vida.

O azul bufou. Só estava entediado, e talvez aquela mudança de comportamento em seu camarada fosse porque ele também estivesse se cansando daquela rotina pacata igualmente ele. Eram seis da tarde e estava escurecendo. E lá estavam eles fazendo a mesma coisa que nos últimos cinco dias passados.

Olhou para seu camarada, que parecia aéreo novamente... Perguntava-se oque se passava na cabeça do outro.

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Itachi P.O.V (Point Off View)

Estava estranho a cada dia que transcorria, e apesar de já estar bem conformado com sua iminente morte, por algum motivo esquisito sentia um aperto no peito e um frio na barriga ao pensar que em breve não estaria mais respirando. Não era que estivesse aterrorizado com a morte porque naquela vida de Shinobi era comum ter a morte tão a espreita considerando que um ninja sempre tem de enfrentar a possibilidade de que pode morrer na próxima missão, porém agora que não havia mais nenhuma chance de melhora em sua condição de saúde; percebia o peso que era saber com antecedência que seus dias estavam realmente contados. Pensar naquilo lhe deixava um pouco agitado e sem concentração.

O outro já lhe observava fazia minutos a fio e obviamente não resistiu a duvida: ‘’Oque há de errado com você, Itachi-san?’’ Kisame certamente notou sua angustia e tentou sonda-lo com cautela ‘’Não gostou do livro que peguei lá em cima no escritório do Kakuzu? Se for esse o caso, há vários outros, eu posso procurar algum que lhe agrade mais!’’ Ofereceu-lhe.

Saiu de seus pensamentos mórbidos para dar atenção ao que seu camarada disse. Foi por isso que olhou de relance para a relíquia em suas mãos, aquele não era apenas um livro comum porque a capa e contracapa banhada em ouro lhe denunciava, a escrita elegante feita à mão e os alto-relevos e gravuras coloridas e elaboradas também eram ornamentados de forma majestosa, só observar aquilo já era surpreendente quem dirá então ler. O livro era algo raro e destinado apenas a Lordes Feudais e Imperadores, uma incrível sorte que justamente ele estivesse com aquilo em mãos. Suspirou relutante, não querendo entristecer seu camarada com seus problemas mais doque já fazia: ‘’Não é isso. O livro é ótimo, agradeço por pega-lo para mim’’ Rebateu, tentando voltar à leitura. Porém sua mente ainda estava voando para outras coisas distraidamente.

De relance ouviu o azul dizer: ‘’É, oque eu peguei também não é tão ruim... E olha que eu nem gosto tanto assim de ler... Aquele maldito do Kakuzu nos surpreende até debaixo da terra!’’ Murmurou sorrindo, e o Uchiha teve de fazer uma careta que quase se assemelhava a um sorriso ao perceber que o azul fez um trocadilho despropositado, mas que caia muito bem à situação.  

Foi uma coisa boa terem aquele momento juntos, e os livros eram realmente muito bons. Kakuzu podia ser um grande avarento, um ridículo que só pensava no lucro próprio. Mas ao que parecia ele realmente amava ler, havia muitas antiguidades em seu escritório e muitas daquelas coisas eram raras e caríssimas. Certamente que o homem roubou de pessoas importantes – Ainda se lembrava com surpresa quando chegaram aquela taberna novamente, como já sabia havia uma instalação subterrânea que o velhaco usava como casa/esconderijo. Agora que o Nukenin estava morto, Kashiu, aquele servente que antes trabalhara para ele se apossou de tudo, até que Kisame e Itachi fossem para lá tomar a antiga casa dele.

Lembrava-se que chegou no lugar desconfiado, analisando as coisas minuciosamente como se fossem alguma armadilha ou emboscada, olhou tudo metodicamente, cada cômodo e cada objeto. Aquele lugar desasseado e encardido estava muito mais para um Bunker velho e acabado doque para uma casa, porém o ambiente tinha cinco cômodos no total e por mais que fosse subterrâneo de alguma forma entrava ar de maneira que se deixassem um papel em cima da mesa, voaria. No final se instalaram com facilidade porque não eram muito exigentes com relação aquilo tudo, ao menos tinham uma moradia, tinham comida, roupa limpa, camas, agua e tudo oque uma residência comum tinha a oferecer e isso era o suficiente para se tranquilizarem, até tinham limpado um bocado até que fosse menos emporcalhado.

Sabia que Kisame providenciou tudo aquilo para ele. E queria ser grato. Apesar de que ainda estava paranoico com a segurança do lugar, Kashiu não gostou nada quando apareceram e expulsaram-no da casa (Cabendo ao homem ficar na taberna suja lá em cima), e podia se revoltar a qualquer momento –Apesar do espadachim lhe assegurar que aquele rapaz franzino não teria coragem para tal coisa.

E ainda se lembrava maravilhado quando foram ao antigo escritório de Kakuzu, fizeram uma bela revirada no local, olhando gavetas, estantes, pastas e muitas outras coisas(...), acharam um bocado de Ryous, mas não estavam interessados no dinheiro propriamente dito. Escolheram livros cujo tivessem algum interesse e levaram para o Bunker sem fazer bagunça, tudo no escritório permaneceu da mesma forma ordenada, até a fina camada de poeira continuou no mesmo lugar porque afinal eles eram ninjas e sabiam ser discretos. Agora estavam ali: Da mesma maneira que Itachi disse-lhe lá na praia, lá estavam eles; sentados em poltronas aconchegantes, com livros em suas mãos, um bom chá, dangos (para Itachi) e aperitivos a base de frutos do mar (Para Kisame).

Porém algo não estava totalmente certo, não conseguia se concentrar totalmente no livro a sua frente, por mais que o espadachim tivesse feito de tudo para deixa-lo o mais confortável possível para aproveitar a situação.

Mexeu-se um bocado frustrado da poltrona macia e seu amigo notou sua inquietação: ‘’Eu lhe trouxe aqui para você me apresentar sua forma de entretenimento, como me disse que faria lá na praia. Mas você não parece estar se entretendo, Itachi-San!’’ Jogou preocupado, seus lábios fechados numa linha fina e tensa ‘’Oque está acontecendo? Esta se sentindo mal?’’

‘’Não!’’

‘’Então são os óculos?’’

O Uchiha automaticamente mexeu no aro do óculos que usava naquele presente instante. ‘’Você prometeu não contar a ninguém sobre isso!’’ Grunhiu ‘’E eu preferiria também que fingisse que nem esta vendo-o em minha face!’’ Murmurou um bocado irritado, de repente.

O outro levantou as mãos na defensiva: ‘’Calma, Itachi-san!’’ Disse exasperado ‘’Eu só quero saber oque esta lhe incomodando! E por que você fica tão na defensiva por causa desse óculos que lhe arranjei? Você obviamente não conseguia ler uma vírgula sem ele!’’.

‘’Pare de me lembrar que estou com ele! Eu não queria ter que usar essa porcaria!’’ Disse rangendo os dentes.

‘’Por que, não? Não é como se a coisa toda fosse estragar sua aparência. Se fosse eu, ficaria horrível.  Mas em você até da um ar de sofisticação!’’

‘’Você tá tirando sarro de mim?’’ Grunhiu ameaçadoramente.

‘’Claro que não, Itachi-san!’’ O azul engoliu em seco ‘’Mas você não pode ficar com o Sharingan ligado todas as horas, vai prejudicar ainda mais a situação e cansa-lo excessivamente sem motivos. Você sabe disso!’’.

‘’Hn’’ Disse, tornando a ignora-lo.

‘’Ah, vamos lá! Porque você é sempre tão teimoso?’’ Murmurou ‘’Sabe que este óculos esta sendo muito útil, deixa sua vista menos cansada e economizar chakra’’.

O garoto suspirou, concordando que já chegara certo ponto de sua vida que não fazia mais sentido ficar discutindo por coisas tolas, respondeu retraído: ‘’Eu sei disto’’ Murmurou baixo ‘’Mas você não vai contar sobre isso a ninguém! E pare de falar sobre ele!’’ Ameaçou-o rudemente.

‘’Claro, Itachi-san!’’ Repetiu exasperado ‘’Mas me diga uma ultima coisa sobre isso, porque você é tão avesso a usar esse óculos?’’.

Relutou um pouco, depois formulou uma resposta que elucidaria toda a questão: ‘’Uchihas são reconhecidos por suas altas proezas visuais. É quase humilhante que eu tenha que me rebaixar a tal coisa!’’ Disse e o tubarão pareceu compreender.

‘’Mas não é isso que esta te aborrecendo realmente, não é? Sei que tem algo sério passando por sua cabeça, não é possível que seja um assunto tão mesquinho quanto um óculos!’’ O azul continuou a sonda-lo.

Suspirou sabendo que Kisame não recuaria, e sabia também que qualquer coisa era melhor doque mentir para ele. Então respondeu o mais sincero que pode: ‘’Tem razão. Estou um pouco disperso... Olha, agradeço oque está fazendo por mim. Está tudo perfeito, eu só preciso de algum tempo para me acalmar. Estou meio agitado!’’ Murmurou ‘’Acho que vou tomar um banho quente para ver se relaxo! Você me espera aqui?’’.

‘’Certo’’ O espadachim murmurou parecendo um pouco incerto, sem querer pressiona-lo muito a dar mais respostas. ‘’Não tenho nenhum outro lugar para ir mesmo!’’ Rebateu ‘’Mas não demore muito ou seu chá irá esfriar!’’ Avisou-o.

‘’Okay!’’ Murmurou deixando seu óculos, seu lugar macio, o livro luxuoso, seus doces e um espadachim encucado para trás.

▀▄▀▄▀▄ ...Um tempo depois...▀▄▀▄▀▄

Imerso na água escaldante do ofurô de madeira rustica, refletiu profundamente. Passara todos aqueles anos afundado em melancolia, autodestruindo-se e culpando-se pelas mortes que cometera contra seus familiares; anos e anos tomado por sentimentos suicidas e pessimismo mórbido que provavelmente vinham de uma depressão em estado avançado. Pensava então que estaria pronto para encarar a morte de frente quando ela enfim viesse lhe pegar: Entretanto não era bem como ele imaginou. A verdade era que agora que tinha realmente que enfrentar aquela situação inevitável sentia-se um pouco amedrontado em saber que aquela vida que tinha, por mais que fosse ruim e arrasadora, acabaria por fim.

Notou que só se percebia que a vida era um grande presente por si só, quando algo lhe mostrara quanto o simples ato de abrir os olhos todos os dias e respirar podia nunca mais acontecer, isso o pegou desprevenido. Com esse conhecimento em mente, passou a se sentir estranhamente angustiado; como se algo naquilo tudo estivesse errado, como se não quisesse realmente perder sua vida assim e ainda houvesse coisas que queria fazer antes de morrer –Oque era muito surpreendente para o jovem Uchiha, pois estava antes tão depressivo que acreditava que a morte era a solução para todos os seus problemas, agora percebia que não.

Durante muito tempo em sua vida, em momentos onde estava realmente bastante angustiado, tinha almejado a própria morte acreditando que assim traria fim a seu sofrimento. Mas agora podia ver que nunca quis realmente morrer, ninguém realmente deseja a morte, nem mesmo os suicidas: Descobriu que com seus atos suicidas e autodestrutivos queria acabar com a dor que sentia, e era apenas isso. Entendia agora que a suicidar-se não resolvia nada. Era apenas uma solução permanente para um problema temporário.

Mas não havia mais volta para si, não é mesmo? Aquela doença terminal estava esgotando-o mais a cada dia que passava. Não tinha mais volta e entendia que seu fim estava chegando quer quisesse ou não. Por isso tentava ver aquela situação por outros ângulos: Talvez não precisasse encarar aquela situação de forma tão ruim. Podia sentir a doença dentro de si, se espalhando e deteriorando-o de dentro para fora. Seu corpo parecia cada vez mais magérrimo toda vez que se olhava em um espelho, também sentia que por dentro seus ossos se enfraqueciam, sentia a morte esgueirando por perto...

...Mas não era aquilo que tomava e tumultuava seus pensamentos, diferente doque poderiam pensar ele não estava sentindo-se tão intimidado com a situação, estar com uma doença terminal poderia ser amedrontador para alguns, porém sentia-se estranho por dentro como se aquela situação estivesse lhe dando uma nova perspectiva sobre a vida.

Era algo totalmente estranho aquilo que estava sentindo que mal conseguia definir exatamente oque era. Fechou os olhos devagar e respirou profundamente, apreciando o ato e experimentando com calma a sensação do ar que percorria todo o seu sistema. Não sabia definir oque era aquilo que sentia em sua alma quebrada, mas sabia de uma palavra que poderia descrever o sentimento: Confrontado. Uchiha Itachi estava se sentindo confrontado pela realidade inegável de sua iminente morte. Existia tantas coisas que queria ainda fazer, e só percebera isso naquele instante, na reta final de sua vida.

Também haviam pensamentos nostálgicos. Sentimentos que lhe faziam pensar sobre sua própria trajetória de vida, fazendo-o questionar-se constantemente se tudo oque viveu até aquele momento tinha realmente valido a pena. Abriu os olhos e encarou-se no espelho que havia frente ao ofurô, ficou ali observando aquilo que ele próprio havia se tornado. E encarando a si mesmo questionava se tudo o que viveu, desejou e sentiu valeu a pena.

O azul deveria estar questionando as mesmas coisas em sua cabeça: Às vezes pegava seu camarada olhando-o de relance com um semblante triste, realmente chateado por ter que vê-lo partir assim tão jovem. Era nesses momentos queria poder mostrar-lhe que não precisava de pena ou complacência. Queria que seu amigo olhasse para ele não como o Uchiha doente terminal que logo morreria tragicamente, mas sim que o enxergasse como uma pessoa com sua história de vida única, com sua singularidade e sentimentos, com todas as angústias, encantos e desencantos que qualquer ser humano tinha na vida. Ele era apenas uma pessoa, um ser humano antes de tudo.

Talvez se outra pessoa estivesse no seu lugar ficaria deveras raivosa com aquela enfermidade, mas não ele; não estava triste, estava conformado. No mundo ninja haviam muitas crianças e jovens que entravam praquela vida crendo que se tornariam heróis imparáveis sendo muito poderosos e podendo representar e defender sua Vila de Origem, em grande maioria dos casos isso logo desmoronava. Justamente por suas tenras idades nenhuma daquelas crianças paravam para pensar que era apenas a minoria delas que realmente alcançaria aquele patamar almejado. A maioria sucumbia e morria sem nem sequer questionar-se sobre o sentido de viver. Em contrapartida, foi lhe permitido tempo para pensar a respeito e talvez ainda desse tempo para tentar arrumar algumas incongruências mesmo que fossem coisas pequenas, a sua vida seria curta, mas mesmo assim talvez tivesse tempo para mudar o rumo de algumas coisas.

E apesar de tudo de ruim que passou, não estava realmente melancólico com o pouco tempo que teria de vida só porque a expectativa de vida no mundo em que vivia era assustadoramente baixa, os constantes conflitos e demandas do mundo Shinobi tornava a vida difícil: Dependendo do lugar a estimativa de vida geral da população não passava de 46 anos. Claro que para toda a regra havia exceções e tinha pessoas que chegavam aos seus 80 anos, porém a esmagadora maioria morria muitos anos antes disso.

Sabia então que havia motivos para não se abater com sua futura e inevitável morte, na era dos Estados Combatentes a expectativa de vida não passava dos 30 anos, mesmo depois da criação das Vilas Ninjas no inicio era bem tenso também; muitas crianças se formavam cedo demais na academia, muitos com cinco, seis e sete anos. O resumo disso: A maioria massacrante delas morria cedo demais, morriam como moscas. Aquelas pessoas eram como figurantes, ninguém jamais iria se preocupar com elas, e muito menos com suas mortes. Sob essas circunstancias o moreno pensava então que deveria ser grato por ter suportado tanto tempo e ter tido tempo para repensar sua vida.

Afinal de contas, por incrível que parecesse; Estava com vinte anos apesar de todas as adversidades que enfrentou. Podia parecer pouquíssimo, entretanto não era tão ingênuo e ao seu ver já havia experimentado bastante. Muitos outros não tiveram a mesma sorte, muitos sucumbiram quando ainda crianças, morrendo por doenças ou em sua maioria morrendo como Shinobis, a maioria nem sequer passavam de meros gennins bobos. Por isso chegara a um ponto em sua vida em que o Uchiha não se sentia atemorizado com seu iminente fim, em conclusão havia passado por muitas coisas dentro dos 20 anos que viveu e sentia que seu fim trágico era apenas a completude de tudo oque suportou aqueles anos todos.

Morrer era inevitável. E mesmo assim ninguém gostava de pensar sobre a morte. Uchiha Itachi era a exceção nesse sentido, pois para uma pessoa jovem o moreno já andava matutando demais sobre essas questões: E formulou em sua cabeça que a morte não deveria ser como um desfecho a ser evitado, até porque todos algum dia irão morrer mais cedo ou mais tarde. Não havia sentido em fingir que não morreremos algum dia. Querendo ou não, no fim a morte chegará para todos e por isso acalmava seu coração compreendendo que não deveria temer a morte e nem mesmo nega-la porque isso não iria evitar que ela acontecesse. Iria apenas torná-la mais difícil.

E falar sobre a morte era quase como um tabu, pois quase ninguém questionava-se sobre isso antes de chegar ao seu leito de morte. Em geral as pessoas gostavam de creditar que eram inabaláveis e indestrutíveis: Mas ninguém é assim. Até onde sabia, qualquer um podia morrer a qualquer momento por qualquer infortúnio que fosse.

Com ele era assim, e percebeu que não teve tempo para fazer oque gostaria. Na realidade ninguém tinha tempo suficiente para viver tudo oque gostaria e por isso era preciso escolher bem os caminhos aceitando que não se é indestrutível: Isso era importante para trilhar uma jornada satisfatória, e só percebeu isso naquele instante. E talvez se tivesse chegado a essa conclusão antes sua vida não seria a sucessão de erros que foi. Talvez se tivesse percebido oque era realmente importante naquela vida poderia ter feito tudo aquilo que queria ter feito, aquilo que queria e deveria ter feito, mas não fez. E por esse lado ele se ressentia muito daquelas coisas que não foi capaz de realizar.

Deu-se conta de que não precisava ter um futuro perfeito e brilhante para viver momentos extraordinários. Queria ter compreendido muito antes oque era realmente importante naquela vida porque passava rápido, num piscar de olhos tudo aquilo se esvaia. E quando chegasse o momento final e alguém lhe perguntasse oque foi que ele fez da vida que tinha, queria poder dizer tudo sem nenhum arrependimento. Mas hoje parecia-lhe que tinha perdido muitas oportunidades de viver bem e agora já não podia mais voltar a trás e refazer sua jornada desde o começo de uma forma que o agradasse totalmente.

Viveu sua vida naquela automação, naquela rotina diária que tomava todas as horas de seus dias e parecia ser a única coisa a fazer sempre e sem parar. O moreno preocupou-se em demasia com sua vida acadêmica, depois preocupou-se em demasia com sua vida profissional, depois preocupou-se em demasia com as intrigas que tinha com sua família, depois preocupou-se em demasia com tudo aquilo que a Vila da Folha e seu Clã esperavam dele, depois sofreu em demasia em seu percurso como Nukenin. Viveu sua vida cheia de obrigações e pesos, mais nada além disso. E ele tomou decisões e fez tantas coisas quando na realidade desejava ter feito justamente o contrario.

Se pudesse voltar ao passado e deixar uma mensagem para si mesmo quando mais jovem, ah, ele teria tanto para dizer: Teria dito para cuidar-se, diria para viver a vida que queria viver e não a vida que os outros esperavam dele. Isso porque agora via que fez muitas escolhas a partir daquilo que esperavam dele, tinha se esforçado tanto e se dedicado tanto, trabalhou a vida toda e foi postergando tudo aquilo que desejava realmente fazer.

Diria para si mesmo para não sacrificar aquilo que não voltava mais: O tempo. Isso porque agora sentia que não tinha mais tempo hábil para aproveitar tudo aquilo que tinha deixado para fazer depois. Gostaria de não ter trabalhado tanto, falaria para seu ‘eu’ do passado não desprezar oque era realmente importante, diria-lhe para brincar mais com Sasuke, diria para passar mais momentos em família, falaria para fazer mais amizades, ir mais vezes a loja de doces e torrar sua grana lá, diria para aproveitar mais a vida, diria para sair mais com Shisui e cair na farra com ele, diria para si mesmo para se apaixonar e viver todos os dias como se fossem os últimos.

Sentia agora certo pesar, como se tivesse se privado de muitas coisas por se importar demais com futilidades. Como se tivesse abdicado coisas demais em sua vida, coisas que eram importantes, como se tivesse passado pela vida sem aproveitar os mais simples momentos que teriam-no feito realmente feliz nas horas e circunstâncias certas. Por isso diria ao seu ‘eu’ do passado para ser mais verdadeiro, para não ligar muito para todo aquele treinamento ninja que o ensinou a ser tão frio e calculista. Por isso diria a si mesmo para deixar as mascaras caírem porque expressar seus sentimentos e viver a vida da melhor maneira que podia era algo necessário.

Devia ter amado mais

Ter chorado mais

Ter visto o sol nascer

Devia ter arriscado mais

E até errado mais

Ter feito o que eu queria fazer

Diria a si mesmo para ser feliz nas pequenas coisas que a vida dava. Porque agora podia ver que seu final não seria feliz, e quantos outros além dele viviam a vida como se fosse uma história e pensavam que no fim dessa história haveria um final feliz? Mas não apenas o final que tinha que ser feliz, notava agora que era para existir felicidade em todos os momentos em que fosse possível enxerga-la. Por isso diria para seu ‘eu’ do passado para fazer o melhor caminho que pudesse, oque lhe deixasse mais completo, oque lhe desse mais paz, diria para acordar todos os dias e fazer tudo da melhor maneira que podia fazer. Para que no fim da vida pudesse dizer que faria tudo de novo exatamente do mesmo jeito.

Devia ter complicado menos

Trabalhado menos

Ter visto o sol se pôr

Devia ter me importado menos

Com problemas pequenos

Ter morrido de amor

Diria para si mesmo para não se preocupar demais com aqueles problemas todos que o consumiam diariamente, pediria que não complicasse as coisas simples tornando tudo um grande problema. Diria que não devia brigar e se desentender tanto com as outras pessoas, fossem de sua família ou não. Pediria a si mesmo para não economizar nas palavras e deixar de ser contido: Falaria para não se fechar em sua própria concha e esquecer-se dos camaradas e familiares ao seu redor. Diria para si mesmo ser sempre espontâneo e emotivo, deixando para ser indiferente e frio apenas para quando fosse um cadáver.

Queria ter aceitado

As pessoas como elas são

Cada um sabe a alegria

E a dor que traz no coração

Queria sentar e explicaria para si mesmo no passado que nem tudo oque queria naquela vida iria realmente acontecer, e que estava tudo bem em ser assim. Diria ao seu ‘eu’ do passado que nem tudo oque almejava daria certo, mas mesmo que as coisas não fossem exatamente como queria pediria que tirasse sempre o lado positivo de tudo ao invés de perder seu tempo criticando e reclamando da vida como se nada desse certo, diria para parar de agir como se ninguém lhe entendesse e como se seus problemas fossem os maiores do mundo.

Queria ter aceitado

A vida como ela é

A cada um cabe alegrias

E as tristezas que vier

Mas apesar de existir muitas coisas que não fez no passado e que se ressentia por não ter feito, não era um tolo e sabia que mesmo que tivesse feito tudo aquilo que hoje se ressentia por não ter realizado, outras potenciais coisas surgiriam para agonia-lo: Por que o ser humano era um tipo de bicho ingrato, um bicho que sempre teria a sensação de que lhe faltava algo porque ninguém nunca ficava satisfeito com oque tinha.

E por isso, resolveu parar de matutar sobre oque não fez. Viver não era sobre oque ele fez ou deixou de fazer, era sobre oque ele iria fazer no presente momento: Hoje via que devia mudar um pouco suas atitudes perante aquela trajetória, mudar seu rumo, mudar sua forma de encarar a própria existência que tinha. Havia perdido a amizade e a companhia de muitas pessoas naquela vida, uns porque morreram outros porque ele se afastou. Ele queria muitas coisas, e ele devia ter feito muitas coisas que não fez. Mas nem tudo estava perdido ainda, e era justamente por isso que se sentia confrontado. Confrontado pelo pouco de vida que ainda tinha a mudar suas próprias perspectivas.

...Lembrando-se rapidamente de coisas boas que lhe aconteceram notou que restava-lhe Kisame; e isso era bom porque queria se agarrar as boas ocasiões que ainda tinha para realizar antes que sua vida acabasse. Sabia que não lhe restava muito tempo e sua saúde era como uma bomba relógio. Porém não ficaria ali remoendo oque lhe aconteceu ou deixou de lhe acontecer. A vida não dava segundas chances, ele entendia que só tinha o agora para realizar oque ainda dava para correr atrás e não perderia seu tempo ruminando sobre seu mal-aventurado passado.

Aquele foi um banho incrivelmente longo, ficou horas dentro do pequeno cômodo e certamente que o espadachim devia estar lá fora convicto que ele tinha desmaiado e se afogado no ofurô. Para aliviar o azul, girou o trinco finalmente e saiu ainda um bocado molhado, com os cabelos soltos pingando, um cheiro bom vindo dele e uma neblina quente saindo do banheiro: ‘’Kisame!’’ Chamou-o tentando ver se o homem realmente ficara ali aquele tempo todo esperando-o como prometera.

O outro atendeu num segundo: ‘’Oque foi, Itachi-San? Você está bem? Precisa de ajuda?’’ Murmurou e aproximou-se dele rapidamente, quase que desesperado achando que havia algo de errado consigo. Às vezes Kisame preocupava-se de mais. Mas não conseguia ficar bravo, era tão bom ouvir a voz dele assim pronto para lhe estender a mão. Depois de destruir sua própria vida e afundar-se na merda, a ultima coisa que pensou que aconteceria pra sí era encontrar um amigo como o azul.

Via a verdade agora. Se o Hoshigaki estava ali com ele é porque tinha que ser assim. No final, seu corpo doente precisava de uma cura impossível. Mas sua alma quebrada só precisava de um amigo: E ele felizmente tinha um.

Olhou para o relógio de pêndulo que marcava oito e meia, passara quase três horas no banheiro: ‘’Não é nada. Só conferindo se ainda estava aqui!’’ Murmurou simplesmente, mas viu a sombra de duvida no rosto do outro.

‘’Tem certeza?’’

‘’Claro. Se não, eu te diria!’’ Argumentou, tentando convence-lo. Porém, sabia porque seu camarada estava assim tão cismado com sua saúde: Naqueles cinco dias que passaram naquele lugar, passou mal algumas vezes. Aquela doença se tornava muito pior a cada dia e estava atingindo a vida do Uchiha de uma maneira brutal; estava sempre com febre, fraqueza e dificuldade respiratória, às vezes ficava tossindo sangue. Nunca esteve realmente bem, mas estava indo de mal à pior nos últimos tempos.

‘’Seu chá esfriou! Mas está quase na hora da janta... Quer alguma coisa?’’ Murmurou incerto.

Parou por um instante, matutando. ‘’Você sabe onde tem papel? Quero escrever algumas coisas...’’Murmurou e imediatamente o seu camarada saiu para lhe arranjar folhas imaculadas.

▀▄▀▄▀▄ ...Um tempo depois...▀▄▀▄▀▄

‘’Você já está há uma hora aí, Itachi. Oque esta fazendo com esse papel?’’

‘’Uma lista...’’ Respondeu-o sentado na mesa, com aqueles seus óculos horrendos e já rascunhando vários tópicos.

O espadachim se aproximou e olhou-o com curiosidade, surpreso: ‘’Veja só, tô abismado, oito anos de parceria e eu não sabia que você era canhoto!’’ Jogou boquiaberto sem conseguir conter-se por mais tempo ‘’Você é mesmo cheio de mistérios!’’

Não desgrudou os olhos do papel, mas revelou com sinceridade: ‘’Imaginei que não soubesse, até porque passei por um processo de reeducação para usar a mão direita, sendo forçado a virar destro’’.

‘’Imposição de alguém, creio eu!’’

‘’Sim. Para meu pai era inadmissível que eu fosse canhoto porque tem toda uma cultura popular que despreza quem usa a mão esquerda, vendo como algo negativo ou incorreto. E ele não queria que eu fosse assim e não tivesse a capacidade de escrever com a direita como todo mundo... Este é um preconceito bobo, eu sei. Mas aconteceu o mesmo com meu Otouto. Ao menos somos ambidestros agora!’’ Disse torcendo uma carranca estranha.

‘’E porque esta escrevendo com a esquerda hoje?’’ Questionou-o ‘’Está com dor na direita? Ou algo assim? Sempre que isso acontece você descansa a mão na borda do manto da Akatsuki, é uma boa estratégia! Mas você nessa casa confortável e se está com dor agora é melhor descansar lá na cama que é mais confortável, ao invés de ficar ai atoa com a mão em cima da mesa’’ Grunhiu aflito.

‘’Não é nada disso! Quer saber por que estou escrevendo com a esquerda? Porque eu vivi a minha vida toda fazendo tudo oque as pessoas esperavam de mim, vivi fazendo tudo metodicamente exatamente como me ensinaram como era pra fazer, vivi para satisfazer as vontades dos outros e negligenciei as minhas próprias vontades. Eu quero ser capaz de fazer algo para mim mesmo pelo menos algumas vezes no meu curto tempo de vida! Começando por usar a mão que mais me deixa confortável!’’.

‘’Parece um plano interessante... Então era por isso que estava tão avoado e disperso hoje!’’ Murmurou surpreso.

‘’Hn-hum’’ Murmurou, ainda focado no papel a sua frente ‘’Estou fazendo uma lista doque quero fazer antes de morrer, coisas que ainda não fiz! Não sei se vou conseguir fazer tudo... Mas vou tentar!’’.

 ‘’E... Eu posso ajudar em algo?’’.

Itachi sorriu abertamente: ‘’Claro! Oque eu faria sem você?!’’

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Kisame P.O.V (Point Off View).

Subiram as escadas rumo à taberna e, antes de chegarem a um alçapão próximo a um barril falso num cantinho que dava acesso a parte de cima, ambos já conseguiam ouvir a faladeira e animação do lugar: Ouvia-se uma musica soar de forma estridente também. E o azul estava ficando energético só de perceber isso tudo, afinal ficara cinco dias lá embaixo enclausurado com o moreno sem nem ao menos sair nenhuma vez, seria bom ter essa mudança na rotina.

Quando já na parte superior, notou que a taberna ainda era escura e suja, porém agora parecia mais cheia e movimentada também, todos rindo, comendo, cantando, dançando e bebendo de forma animada. Fazia algum tempo desde que não bebia nada alcoólico e a simples ideia lhe entusiasmou, no entanto seu camarada menor estava fazendo uma careta engraçada.

 ‘’Agente vai ficar só um pouco’’ Disse o Uchiha a contragosto, e foi o espadachim que praticamente arrastou Itachi por dentre a multidão procurando alguma mesa vazia (o que seria difícil, dado a quantidade de pessoas amontoadas no mesmo lugar).

O som da musica era ensurdecedor e as pessoas falavam alto, todos parecendo sociáveis e extrovertidos. Por fim, só sentaram-se porque Kashiu colocou uma mesa para eles, e era em um lugar nada estratégico para o moreno porque estavam praticamente no meio de todo mundo rodeados por todas aquelas pessoas extravagantes e comunicativas. Mas Kisame logo percebeu que o mais jovem destoava de todos porque parecia mal humorado e estava fazendo uma carranca: Claramente seu amigo não se sentia nada confortável naquele lugar, mesmo que estivessem sem suas bandanas riscadas e sem seus mantos da Akatsuki, vestindo roupas comuns e se passando por civis para não chamarem atenção indesejada (Agora que a organização criminosa estava famosa no mundo ninja, o manto preto com nuvem vermelha era facilmente reconhecido).

‘’Ei, Itachi-San, porque está com essa cara de enterro? A ideia de vir aqui em cima foi toda sua, com esse devaneio repentino seu de fazer coisas diferentes’’ Retrucou e o menino olhou emburrado ‘’Então dá para você parar de fazer cara feia? Vai espantar as pessoas...’’.

‘’É exatamente o que eu quero. Tinha me esquecido como essas pessoas estranhas são fedidas a cigarro e bebida... Quero é distancia!’’.

‘’Mas você vai espantar as garotas também’’ Explicou e o mais novo bufou ‘’E as garotas daqui não são fedidas!’’.

‘’Da ultima vez que estive aqui e sentei para beber, acordei com o cabelo todo destruído(...). Pensando bem, agora eu já não sei da onde tirei a ideia de vir aqui! Talvez eu estivesse com febre quando estava fazendo aquela lista e estava delirando’’.

O tubarão revirou os olhos: ‘’Ah, não seja melodramático’’ grunhiu, e antes que o outro rebatesse uma garçonete chegou e lentamente baixou uma garrafa de Sakê diante deles. Ambos certamente podiam sentir o cheiro do perfume dela, pois estava forte demais e incomodava excessivamente o nariz, quase dava vontade de espirrar varias vezes.

''Olá, eu sou Kiyoko’’ disse ‘’O chefe Kashiu disse que vocês podem beber por conta da casa, então? Eu devo trazer algo mais?’’

Kisame tentou fingir que o cheiro forte do perfume barato não estava ali e assim abriu um sorriso cheio de dentes pontiagudos e ameaçadores: ‘’Ótimo, pode trazer mais cinco garrafas de Nama Sakê para mim, e para o meu amigo(...)’’ Olhou para o menino esperando que ele lhe complementasse.

‘’Para mim só água, por enquanto!’’ Disse com sua voz profunda e inexpressiva.

A mulher passeou seu olhar pelo corpo do moreno como se o submetesse a julgamento por beleza: A loira piscou por alguns segundos incrédula e ficou estupefata, mas então claramente ela deixou a incredulidade passar, afastou os cabelos da face e depois inclinou para fora seu quadril como se tivesse se desencaixado e colocou a mão nele mostrando suas curvas.

‘’Volto logo com o pedido’’ Disse para os dois, mas encarando o moreno quase como se estivesse despindo-o com o olhar ‘’Mas se quiser mais alguma coisa é só pedir’’ O duplo sentido na frase era obvio e o espadachim sabia pra quem era.

Quando a mulher se afastou Kisame fez uma careta: ‘’Aquela mulher estava se insinuando pra você!’’ Grunhiu ‘’Por que essas coisas só acontecem com você? Eu bem que podia ter umas fãs também... Mas só porque eu tenho essa cor esquisita e essa cara de peixe ninguém me dá valo-’’ Foi cortado no meio de suas inseguranças.

‘’Ela não vale essa sua consternação. Na verdade, ela não vale nada. Esqueça-a, Kisame!’’ O outro cuspiu.

‘’É, você tem razão!’’ Suspirou, depois olhou ao redor... Em uma mesa mais a frente havia uma ruiva sozinha. Seu suave suéter cinza era muito justo e mostrava seus deslumbrantes atributos. A mulher irradiava antecipação, mas estava olhando para Itachi e não para ele, então revirou os olhos e focou em outro lugar: Próximo do balcão tinha uma morena que estava de pé lá. A mulher sorriu amplamente quando viu seu olhar, mas fez depois uma inclinação suave com a cabeça como se estivesse pedindo para que o azul chamasse a atenção de seu camarada na mesa e indicasse ao mais novo o interesse dela, o que também lhe fez revirar os olhos(...).

De algum lugar uma nuvem de perfume invadiu o nariz dele novamente e dessa vez ele espirrou: Era a garçonete novamente, ela colocou as cervejas que Kisame pediu e a água frente ao menino. ‘’Está tudo bem?’’ A garota disse enquanto olhava para Itachi falsamente preocupada.

‘’Sim, obrigado’’ Respondeu o jovem só para ser educado, mas sua entonação ainda era fechada e desinteressada.

‘’Bem, eu serei a garçonete de vocês por essa noite. Qualquer coisa é só me chamar novamente(...)’’ Disse quase que normalmente, mas depois escorregou algo sobre a mesa. Um guardanapo. Com um número de telefone, endereço e um nome, se afastou rebolando os quadris logo depois.

‘’Isto foi… Inconveniente’’ O moreno suspirou ‘’Você pode beber essas garrafas de Saquê logo?! O tempo que passei aqui já foi mais doque desagradável’’.

‘’É sério?!’’ O tubarão resmungou ‘’Você tem todas essas garotas aos seus pés e desdenha disso! É esnobe, Itachi-San!’’.

‘’Eu só não estou interessado em nenhuma delas! Qual o problema nisso?!’’

‘’Qual o problema?! O problema é justamente esse, você NUNCA tá interessado por alguém! E você tem vinte anos agora, não é mais aquele fedelho de antes!’’ Reclamou ‘’É improvável que você seja assexuado. Não é possível que você não tenha atração por ninguém! Porque sabe, sexo faz parte do ser humano independentemente da orientação sexual. Há não ser que você seja um maldito monge e eu não saiba disto!’’

O garoto pareceu um bocado cabisbaixo de repente, como se lembrasse de coisas ruins repentinamente. Mas se deu ao trabalho de explicar: ‘’Eu fiz tantas coisas ruins, Kisame, estou longe de ser um monge. Eu matei minha família. Eu abandonei meu irmão, depois quando voltei a vê-lo eu espanquei-o. Eu também trai a confiança de meus antigos amigos lá de Konoha! Por isso eu não aceitei mais a felicidade e o prazer em minha vida, sendo essa a minha forma de penitência por minhas atrocidades. Além disso, a depressão matou minha libido. E pensando bem, mesmo depois de tanta ruindade que cometi, eu posso morrer e realmente dizer que há ao menos uma parte de mim que permaneceu pura e inocente!’’

‘’Você não pode estar falando sério, Itachi!’’ Kisame grunhiu ‘’É a coisa mais estupida que eu já ouvi! Você não pode morrer sem nem ao menos saber como é!’’ Sussurrou a ultima parte.

Itachi olhou todas aquelas pessoas ao seu redor e deu de ombros ‘’Eu não me importo! E não é como se eu fosse achar atraente qualquer uma destas oferecidas!’’

‘’Não era você que estava querendo fazer coisas novas? E querendo fazer as coisas que nunca fez antes?! Vamos, eu posso te ajudar com isso!’’ instigou-o o espadachim, e a única coisa que o moreno conseguiu fazer foi dar de ombros, ainda um bocado indeciso. O homem certamente notou isso e torceu o cenho: ‘’Bem. Você quem sabe! Minha proposta ainda estará de pé até o fim da noite. Se mudar de ideia me avise!’’

‘’Vamos embora... Já me cansei daqui!’’

‘’Não que eu esteja reclamando. Mas porque viemos à taberna, Itachi-san?’’

‘’Eu coloquei isso na minha lista! Mas eu acho que me precipitei. Ou então essa maldita doença está me deixando louco...’’.

‘’Mas... Quando escreveu isso na sua lista... Oque tinha em mente?’’

‘’Bem, eu estava pensando em como eu sempre fiz tudo EXATAMENTE como me instruíram. E eu me privei de muitas coisas... Veio a mim que entrar nesse negocio de bebidas alcoólicas é bem coisa de jovens inconsequentes, e eu tenho vinte anos e estava lá embaixo lendo. Lendo a cinco dias seguidos, mesmo morando embaixo de uma taberna’’ Suspirou ‘’Eu pensei que era deprimente demais, como se estivesse perdendo alguma coisa!’’.

‘’Entendi...’’ Murmurou ‘’Mas você não precisa beber se não quiser... Tem outras coisas para fazer aqui!’’

O rosto do garoto se iluminou: ‘’Tem razão. Dá ultima vez que estivemos aqui desta forma, você me convidou para jogar dardos!’’

▀▄▀▄▀▄ ...Um tempo depois...▀▄▀▄▀▄

Estavam naquilo fazia alguns minutos, se alguém reclamasse da trajetória perigosa do dardo voando sob as cabeças dos clientes alegavam que eram ruins de mira e que o alvo vermelho com pontuações diversas colado na parede era difícil demais de acertar. Mas a brincadeira era outra bem mais interessante: ‘’Eu aposto... Que você não consegue acertar o chapéu daquele homem ali de vermelho do outro lado do salão! E não vale usar o Sharingan dessa vez! Vai que alguém nota!’’

‘’Isso é jogo sujo, ele está tão cambaleante de bêbado que se eu jogar ele pode mudar abruptamente de posição e eu posso acabar acertando a cabeça dele ao invés do chapéu. Além disso, você sabe perfeitamente que eu não estou enxergando bem!’’

‘’Quem mandou deixar o óculos lá embaixo?!’’ Caçoou, já estava bebendo fazia algum tempo e claramente aquele álcool em seu sistema estava elevando sua segurança e estava mais risonho que o habitual também, mas não era como se estivesse realmente bêbado nem de longe.

‘’Isso não vale!’’ Titubeou indignado.

‘’Isso vale sim. E eu estou apostando cem ryōus que você não consegue!’’

O Uchiha até que estampou uma face determinada depois que escutou aquilo, mirou e atirou com precisão. Mas ele realmente não conseguiu acertar o maldito chapéu porque preferiu mirar um pouco mais acima do alvo, temendo matar o homem sem querer caso mirasse errado ou o homem se mexesse repentinamente.

‘’Sabia que você não ia conseguir!’’ Sorriu presunçoso.

O garoto pareceu não gostar de sua afirmação e ficou sisudo: ‘’Você sabe perfeitamente que eu não correria o risco de mata-lo desnecessariamente! Sem contar o problemão que íamos arranjar por aqui!’’

‘’Eu sei. É por isso que eu estou arrancando dinheiro fácil de você desde que começamos com isso!’’ Riu ‘’Agora é minha vez de novo, onde eu devo mirar, Itachi-San?! Diferente de você, eu não vou errar. Como sempre!’’

‘’Eu já cansei desse jogo chato. Você não joga limpo!’’ Reclamou emburrado (E Kisame riu mais, pois o moreno não notou que fazia um biquinho chateado quando disse aquilo).

‘’Vamos embora então?’’

‘’Não. Acho que... Acho que posso ceder a algumas bebidas agora’’.

‘’Eu já disse isso uma vez, você é a pior pessoa no mundo para beber junto. Fica todo sentimental e falando coisas sem sentido’’.

‘’Ah, vamos lá! Eu tinha 13 anos!’’ Grunhiu ‘’Agora é diferente! E eu não posso ficar aqui só bebendo agua e depois simplesmente ir embora! Aquela garçonete oferecida vai pensar que eu sou algum tipo de idiota! E além disso, hora ou outra quando vem aqui na mesa nos servir ela fica olhando pra mim de forma estranha!’’

‘’Ela só não entende porque você rejeitou-a. Ou então ela é uma Fujoshi e tá pensando que somos um casal!’’ Disse, caindo na gargalhada quando Itachi lhe olhou chocado.

Depois o menino relaxou: ‘’Tem razão, é bem possível que ela esteja pensando isso mesmo!’’ O moreno reconsiderou ‘’Mas que tipo de casal vem nesse moquifo horrível?’’

‘’É, pois é meu amigo. Só se fossem uma dupla de idiotas! E é realmente oque somos!’’ O azul riu ‘’Mas... Sabe... Pensei que você não se importasse com a opinião dela! Aliás, eu pensava que você não se importava com a opinião de ninguém! Desde quando se preocupa com oque os outros pensam de você?’’

‘’Desde que eu sou uma pessoa como qualquer outra. Agora peça logo mais bebida para nós, e falando nisso, qual bebida você sugere para mim?’’

‘’Sei lá... Olha, talvez você prefira o saquê Junmai que tem um gosto bom de arroz. Ou então o Ginjo, que é bem suave e doce’’.

‘’Então... Eu acho que vou com esse ultimo...’’

‘’Ah, claro! Uma bebida doce e suave... Agora que ela vai pensar que você é meu Uke mesmo!’’ Riu debochado.

‘’Cala a boca, Kisame! Eu acho que essa sua bebedeira toda está diminuindo o seu senso de autopreservação’’ Grunhiu ameaçadoramente. ‘’E pare de rir de mim! Se ela esta pensando que somos um casal, você tá tão enrolado quanto eu!’’.

‘’Tô nem aí. Oque que tem em eu ser hetero, gay ou Bi? Minhas preferencias não tem nada haver com ela. E não foi você que disse para mim não ligar pra essa garota porque ela não vale nada?! Por que você não segue seus próprios conselhos?!’’

▀▄▀▄▀▄ ...Um tempo depois...▀▄▀▄▀▄

‘’Certo, Itachi-San!’’ Chamou-lhe a atenção ‘’Eu acho que você já bebeu demais!’’

‘’Mas quando bebemos aqui anos atrás, você e Hidan estavam apostando sobre quem bebe mais em menos tempo! E agora você quer ir embora só porque eu descobri um jogo que sou melhor que você!’’ Acusou-o, falando de forma meio embolada.

‘’Você não é melhor coisa nenhuma. Eu estou lúcido e você está MUITO bêbado... Vamos embora já!’’ Rosnou como uma ordem.

E de repente o pirralho ficou cabisbaixo: ‘’Eu quero me divertir antes que tudo isso acabe. Você já teve a sensação de que não continuará respirando por muito tempo? Que num belo dia, sua consciência, suas memorias, tudo aquilo que você viveu, tudo oque aprendeu, todos os hábitos que manteve, e tudo aquilo que faz você ser você mesmo se resumirá a nada? Já teve essa sensação? Eu sim! E estou tendo ela o tempo todo! E pode parecer meio mórbido e trágico, mas foi justo essa sensação bizarra que me fez abrir os olhos e notar o quanto a vida é realmente fugaz. Eu quero aproveitar tudo oque nunca pude no passado por causa das restrições que me impuseram! Eu quero fazer isso antes que minha vida se vá!’’.

‘’Ahhh, QUE MERDA! Eu sabia que não devia ter bebido com você, Praga!’’ Resmungou ‘’Eu sabia que você ia ficar assim todo sentimental e meio depressivo, você fica assim quando bebe! Vamos embora antes que isso piore!’’ Disse levantando do banco.

‘’Mas Kisame, eu posso não estar no meu melhor juízo. Mas eu estou morrendo, aos poucos. E eu quero muito viver e fazer tudo aquilo que eu nunca fiz. Certamente não terei chances de realizar tudo aquilo que gostaria antes de partir; então me ajude a fazer tanto quanto possível!’’

‘’Tudo bem. Mas vou lhe ajudar com esse lance louco da ‘lista dos desejos’ amanha, quando você sair dessa ressaca de hoje e tiver pensando coerentemente de novo!’’.

‘’Mas Kisame, eu quis sair de casa para conversar, sair de minha concha e de minha zona de conforto. A vida não é tão longa assim quanto eu pensava, então decidi sair mais e aproveitar meu dia com pessoas reais’’.

O azulão olhou para ele abismado: ‘’Caramba! Você tá mesmo MUITO bêbado! E é minha função como seu camarada impedir que você faça alguma merda que vá se arrepender amanha! Então vamos logo, levanta desse banco e vamos pro Bunker!’’

‘’Eu não estou tão bêbado assim! A bebida só me deixou um pouco mais corajoso que o de costume para realizar aquelas coisas que nunca tive coragem antes!’’ Falou ‘’Vamos lá, eu sei que você é meu grande amigo e que sempre faz tudo oque está em seu alcance para me ajudar. E isso fez toda a diferença na minha vida... Eu sei que eu nunca cheguei a ‘ser aquele que faz a diferença’ na sua vida tanto quanto eu gostaria... Eu gostaria de ter sido... Eu queria ser o seu melhor amigo igual você é pra mim...’’

‘’Cara, você tá falando coisas bem bonitinhas. E é por isso que eu sei que essa noite de bebedeira já passou dos limites! Tá nada conexo isso aí que você tá falando!’’ Murmurou ‘’E é até legal saber que você me veja como seu melhor amigo agora, e escute nenhuma relação deveria ser pautada na troca, pois somos pessoas e não coisas então tudo bem se você não fez muitas coisas por mim assim como eu faço por você! Mas com certeza você não vai se lembrar disso amanha, então vamos logo! Vamos, anda!’’

‘’Não! Eu vou ficar aqui!’’ Informou ‘’Você pode ir se quiser!’’

‘’Eu não vou deixar você aqui assim, Itachi! Anda logo, levante-se! Eu não vou repetir outra vez!’’ Rosnou irritado.

‘’Você tá brigando comigo? Porque eu não quero brigar com você, e não quero levar rancor em meu coração. A minha vida tá muito curta demais para perder meu tempo emburrado por causa de um desentendimento’’.

‘’Eu não estou brigando com você! Eu só quero que você colabore comigo, ou eu vou arrastar você pelos cabelos até lá embaixo! Vamos, eu já disse para largar essa garrafa e vir comigo!’’

‘’Não! Eu não quero ir! Eu quero me reinventar, eu tenho muito pouco tempo de vida para ficar preso nas mesmas coisas de sempre, naquela chatice da minha vida cotidiana.  Quero fazer alguma coisa, qualquer coisa, totalmente diferente doque costumo fazer! Entende? Então já está mais doque na hora de começar a fazer algo de diferente com a minha vida! Só dessa vezPor favor, Kisame! Depois eu volto a ser o mesmo de antes, com todas aquelas obrigações, pesos e fardos!’’.

‘’Pare! Pare de me chantagear assim, isso é que é jogo sujo, seu pequeno demônio! Mesmo bêbedo não desaprendeu esse lance de chantagem psicológica e emocional que lhe ensinaram na ANBU, desgraça!’’

O jovem nem se importou: ‘’Me ajude, Kisame! Ajude-me a realize estes desejos, tudo bem? Pense nisso como um de meus últimos pedidos’’.

O espadachim levou as mãos a face, um pouco desesperado e pensando no que fazer. Mas enfim chegou a uma conclusão: ‘’Eu sei que você vai se arrepender disso amanha quando estiver lúcido, e então você vai querer me matar! Entretanto... Se é isso que quer, eu posso relevar as futuras consequências e lhe permitir esse momento de distração. Mas só porque eu sei que isso jamais irá se repetir!’’

‘’Isso quer dizer que vamos ficar?’’

O azul revirou os olhos, e depois sorriu: ‘’Sim, nós vamos ficar garoto!’’

▀▄▀▄▀▄ ...Um tempo depois...▀▄▀▄▀▄

Surpreendentemente, Itachi não lhe matou no dia seguinte assim que ambos ficaram realmente lúcidos. O Uchiha não ficou bravo e nem irritado com ele, nem mesmo quando lembrou-se que ficou inda mais bêbado do que já estava e dançou a noite inteira, cantou num karaokê e depois quebrou o braço quando caiu do pequeno palanque (O gesso e a tipoia que o jovem usava agora seria um lembrete bem vivido daquela noite única de farra –E Kisame lembrava dessa loucura que permitiram-se cometer toda vez que via aquele braço enfaixado).

‘’Não me lembro de muita coisa com nitidez... Mas me recordo de muita animação e satisfação em fazer tudo aquilo!’’ Informou o moreno tão admirado quanto podia ao vislumbrar os eventos da noite anterior ‘’Engraçado como justo no pior momento de minha vida, foi quando eu realmente me diverti pra valer!’’.

O tubarão ficou por um tempo refletindo sobre a vida de seu camarada. Era verdade total: Engraçado como foi justamente quando Uchiha Itachi estava no fundo do poço que redescobriu o sentido de sua vida, encontrando um novo motivo existencial. Ele mesmo temia o fracasso e a morte, mas foi com aquela coragem de seu amigo que percebeu que às vezes é preciso enfrentar coisas assim e voltar à estaca zero, voltar ao ponto inicial.

Sempre pensou que o fundo do poço fosse um lugar mofado, escuro, cheio de entulhos e fantasmas. Cheio de projetos inacabados e tristeza, onde as pessoas acabavam por fim quando estavam muito mal, derrotadas, melancólicas e sem forças para viver. Mas com seu camarada não foi assim, ele chegou na pior parte de sua vida e parecia estar lidando de forma bem resolvida com a situação: ‘’Como, Itachi-san? Como você consegue?’’

‘’Como oque?’’

‘’Como você consegue suportar isso tudo que recai sob seus ombros, todas essas coisas ruins de sua vida, e mesmo perto do fim estar tão determinado e corajoso?’’

‘’Lembra-se quando eu fiz quinze anos, quando eu descobri essa doença?’’

‘’Sim, lembro!’’ Murmurou ‘’Por quê?’’

‘’Você me contou uma historia aquele dia, tentando amenizar a situação’’.

‘’Sim... Lembro... Foi aquela historia da Sadako Sasaki e dos Tsurus de origamis! Mas oque que tem nisso agora?’’

‘’Você se lembra doque me disse naquele dia?’’

‘’Eu te disse muitas coisas naquele dia, Itachi-San!’’

‘’Naquele dia você me disse que mesmo na jornada mais trágica, mesmo no auge da fantasmagoria e tristeza, era impossível não ver um sentido na morte. E que mesmo o final mais terrível era suportável’’ Explicitou ‘’Você tinha razão! E sabe, agora no fim, notei que eu me privei de muitas coisas boas nessa vida por achar que era idiotice. Mas eu estava tão errado. Então, quero fazer os planos que tenho em mente e que negligenciei todos esses anos só porque alguém me disse que eu não podia fazer!’’

‘’Mas... Eu não entendo, porque isso agora?’’.

‘’Porque notei que eu nunca arranjava tempo para mim mesmo e meus desejos, inventei desculpas para não fazer as coisas que sempre quis, e quando eu dizia que ia fazer oque queria finalmente; sempre surgia um empecilho, e eu tinha muitas coisas e tarefas em meu dia e acreditava não poder interrompe-las para realizar os meus quereres mais profundos. Antes isso tudo era e parecia uma grande besteira e eu sempre tendi a adiar minhas vontades verdadeiras, eu sempre ia deixando-as para mais tarde, para um outro dia, outra hora, outro ano(...)’’.

‘’E tem mais coisas naquela tal lista para você fazer, não é?’’

‘’Sim...’’ Rebateu ‘’Você, por acaso, sabe de algum evento beneficente que eu possa participar?’’

Kisame sorriu: ‘’Talvez!’’

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Itachi P.O.V (Point Off View)

Ambos tornaram a ir naquela praia onde seu amigo lhe ensinou a surfar, viam um entardecer deslumbrante e desta vez o clima estava realmente muito agradável: Havia gaivotas berrando suavemente no céu azul com tons de laranja vibrante, o sol já se punha lá no horizonte dentro das aguas calmas do mar. As poucas nuvens no céu eram esparsas e branquinhas, as ondas estavam calmas e traziam-lhe serenidade.

O vento era suave e vazia seu cabelo solto voar livremente por entre seus ombros: Sentia o cheiro de agua salgada e da maresia, observava de longe que havia pescadores na água em seus barquinhos simples, seus pés estavam descalços na areia molhada, as poucas pessoas na praia paradisíaca de águas azuis cristalinas estavam curtindo calmamente o fim daquele dia, e com tanta paz quase podia entender o fascínio de seu companheiro pele mar (Olhou de soslaio e viu seu amigo aproveitando).

Com aquele momento bom pôs-se a refletir. Passara-se um mês desde que começara com aquela ideia insana da lista e estava bastante satisfeito com oque conseguiu realizar. Juntamente com seu amigo e fiel companheiro, fizera muitas coisas aqueles dias que passaram (Em algumas situações teve que usar genjutsu para que pessoas não os reconhecessem, mas valeu a pena); olhou o papel em suas mãos e as coisas que já tinha feito estavam riscadas: Gostaria de ter tempo para refazer tudo aquilo outras vezes, mas foi ótimo ter feito ao menos uma vez:

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1- Sair para se distrair e estar com outras pessoas. Tirar esse estresse e preocupações de minha mente por pelo menos um dia!

2- Tomar banho de chuva sem se importar com nada (Porque afinal de contas, já esta muito doente e não fará diferença alguma. Eu sempre achei ser bobagem quando vi pessoas doidas ou aquelas crianças inocentes fazendo tal coisa. Mas agora percebo que quero ao menos experimentar).

3- Pintar um quadro. Porque eu quero descobrir se sou mesmo um mal artista, e além disso cada traço errado é um novo caminho, certo? Além disso, quero descobrir se pintar ou fazer qualquer coisa artística é mesmo uma forma de expressão como sempre li em alguns livros.

4- Ajudar numa causa nobre com uma quantia exageradamente alta e como não posso doar sangue porque estou doente, vou doar meu cabelo para pacientes com câncer porque afinal de contas o meu já esta quase na altura do quadril (Conhecer algumas crianças que estão em estado terminal também, e entender como elas sempre tão otimistas e felizes, pedir conselhos tentando descobrir de onde vem tanta bravura, talvez elas sejam mesmo anjos),

5- Comprar comida para todos os mendigos com quem eu esbarrar na rua (Como pode as pessoas se importarem mais com objetos e gastar sua grana com essas coisas materiais doque com pessoas?)

6- Colocar um piercing e também fazer uma tatuagem, porque são técnicas milenares e me cativam desde sempre, apesar de meus pais sempre terem alegado ser uma “loucura adolescente”. Mas eles estão mortos para me censurarem agora, e suas mortes jamais irão sair de minhas lembranças e pesadelos: nesse caso, colocar um piercing e fazer uma tatuagem vai ser moleza se comparado ao gigantesco pecado que cometi, faz tempo que deixei de ser aquele garoto certinho.  Talvez se eu fizer uma tatuagem na nuca ninguém jamais irá saber mesmo, porque meu cabelo irá esconder. Mas onde eu coloco o piercing?

7- Ir ao cinema, porque por incrível que pareça: Eu nunca fui a um. Eu sempre me esforcei demais em ser Ninja, agora eu quero comer pipoca e beber refrigerante durante uma boa sessão como todo mundo.

8-  Escrever toda a história da minha vida num caderno e esconder-dentro de um dos cofres fortes de Kakuzu (Aquele homem é muito paranoico com seu dinheiro MESMO, e achei um cofre em um túnel secreto no Bunker. Minha historia completa de vida desde minha infância até então estará armazenada sob segurança de ponta, incluindo detector de movimentos, câmeras de vigilância, uma grossa parede de concreto de 13 toneladas, e a 180 metros de profundidade) – É, ninguém jamais irá saber a verdade(...)

9- Escrever uma carta para jogá-la no mar dentro de uma garrafa, com um pedido dentro.

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Sabia porque fez aquilo tudo: Queria se despedir da vida, e tentando fazer isso descobriu que todos os dia deveriam ser vividos como um milagre que nunca mais vai se repetir.

Próximo a sí viu um garotinho fazendo um castelinho de areia, a pequena criança estava compenetrada no trabalho e seus olhos e mãozinhas não paravam nem por um segundo, estava nisso a vários minutos e o Uchiha parecia o único que notara que a maré subia e subia cada vez mais e estava prestes a destroçar tudo. Seus pais estavam arrumando as coisas que levaram para irem embora e já havia chamado-o algumas vezes: Foi quando de repente veio uma onda e destruiu todo o seu projeto e o menino olhou-o desolado por um momento, depois saiu correndo para chorar e se queixar perto de sua mãe.

A vida era assim mesmo: As pessoas passavam muito tempo compenetradas em seus afazeres quotidianos, e ficavam por muito tempo naquilo, ensimesmadas e inflexíveis em seu rumo, sem notar mais nada ao redor exatamente como aquele garotinho. E a morte era como aquela onda devastadora, que todos sabem lá no fundo que algum dia vai chegar, mas tentam fingir que não. E quando ela vem, indignam-se!

Queria ter dito aquele garotinho para ele não focar-se tanto naquela trabalho esperando o momento futuro onde iria desfrutar de seu projeto já construído; Diria-lhe para aproveitar cada momento de sua CONSTRUÇÃO e não na CONCLUSÃO do projeto, porque nunca se sabe quando a onda virá, só se sabe que ela virá!

E era justamente isso que escreveu naquela carta e colocou dentro da garrafa: atirou-lhe na água.

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Eu era alguém muitos planos e sonhos, mas deixe-os para serem realizados mais tarde. Mas veja como a vida é: Não houve ‘mais tarde’ para mim. Estou morrendo e quando isso chegar às mãos de alguém eu provavelmente já terei partido. Então eu peço-lhe para não fazer como eu, você nunca saberá quando é tarde demais, até que realmente seja!

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Notas finais do capítulo

Link da Música: Epitáfio
https://www.youtube.com/watch?v=YOJiYy1jgRE



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