Mudando de vida escrita por Pollux


Capítulo 4
Perdas


Notas iniciais do capítulo

Olá. Cá estou eu novamente. Estou vendo que tem pessoas que estão lendo a história e até favoritaram. Venham falar comigo, eu não mordo. Pronto. Taí mais um capítulo.



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"Melhor deixar rolar, nada como um dia após o outro. Continuar viver, tenho que me levantar de novo e acreditar, dias melhores virão"

Beleza. Onde eu estava mesmo? Certo.

As visitas à minha mãe eram sempre as mesmas. Eu cumprimentava a velhinha da recepção que eu nunca lembrava o nome, entrava no elevador e ia para o 3º andar. Quarto 302-B. Sentava na cadeira do lado dela e fazia um monólogo já que ela não acordava pra responder.

Antes do acidente minha mãe era uma mulher linda. Não digo isso só porque ela é minha mãe, não. Ela tinha cabelos pretos ondulados e sedosos que eu tinha mania de ficar segurando quando era bebê, e que tenho orgulho de ter herdado. O rosto dela era delicado, e ao contrário dos olhos azuis que eu e meu pai tínhamos os olhos dela eram castanhos.

Agora ela não passava de uma bagunça. O rosto dela estava inchado, todo com cortes e arranhões. Ela tinha gesso na perna e no braço direito e estava tão enfaixada que parecia uma múmia, e aqueles lindos cabelos dela estavam totalmente sem brilho.

Quando eu digo que eu e meu pai amávamos aquela mulher eu não digo brincando. Dona Claudia veio de uma família pobre, estudou pra caramba e passou na faculdade de arquitetura que ela tanto quis. Conseguiu um emprego meia boca e passou parte da vida dela ajudando a família. Quando conseguiu um emprego digno ela conheceu meu pai, e eles tem estado juntos desde então. Ou estavam até meu pai morrer. Eles já tinham perdido a esperança de ter um filho quando eu apareci. Minha mãe nunca deixou de ajudar a família. Comprou uma casa decente pra eles e ajudou a irmã a fazer uma faculdade. Minha mãe era uma batalhadora que não deixava nada entrar no caminho dela.

E puta merda, ela amava meu pai. Não tinha certeza como ela ficaria quando recebesse a noticia. Mas quando o médico dissesse que iria tirá-la da medicação eu queria estar ali por ela. Assim como ela sempre esteve lá por mim.

– (...) Daí eu vou lá amanhã, mãe. Eu não sei quem é essa menina, mas eu prefiro fazer um trabalho em dupla a tentar fazer sozinho. E como parece que todas as turmas estão fazendo, eu não terei nenhuma assistência.

Como sempre, não recebi nenhuma resposta. Suspirando, levantei e me inclinei para dar um beijo no rosto dela.

– Vou voltar amanhã depois de encontrar a menina mãe. Daí eu te conto tudo, prometo.

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Quando eu entrei na biblioteca no dia seguinte ela estava bem vazia. Como eu nunca tinha ido lá, eu não saberia dizer se ela sempre estava daquele jeito.

A bibliotecária me olhou com tédio quando eu perguntei se tinha alguma Alice por ali. Ela simplesmente deu de ombros e voltou ao livro que ela estava lendo.

Olhei em volta tentando lembrar da menina que tinha me entregado o bilhete ontem e encontrei ela sentada em uma mesa pequena de frente a janela, bem no canto da biblioteca.

À medida que fui chegando perto, pude reparar melhor nela. Os cabelos castanhos cacheados dela passavam dos ombros, e ela estava usando óculos que não estavam com ela no dia anterior. Uma armação preta bem simples. Ela estava com fones de ouvido, e completamente mergulhada nos papéis à sua frente. Quando encostei-me à mesa ela levantou o rosto, tirou os fones e deu um sorriso.

Caralho.

Ela era muito bonita. Uma beleza exótica sabe? Ela tinha a pele meio amendoada e olhos verdes. Os dentes dela eram retinhos e brilhantes. E o sorriso dela fazia o canto do olho dela enrugar um pouquinho. Adorável.

– Ei, eu sou, hã.. Dominic, mas acredito que você já saiba. Alice, certo?

Estendi a mão e ela assentiu colocando a mão pequena dela na minha e dando um aperto firme. Ela estendeu a mão e fez um gesto pra cadeira à frente dela, e eu sentei.

– Então do que se trata esse trabalho?

Fiz a pergunta e a vi voltar a escrever nos papéis me ignorando totalmente. Puta merda. Era essa a ideia de trabalho que ela tinha? Se fosse desse jeito, pra eu me virar sozinho eu teria simplesmente feito no conforto da minha casa sozinho e não indo àquela biblioteca que mais parecia...

Meus pensamentos foram parados quando ela empurrou um pedaço de papel na minha direção. Olhei pra ela confuso, mas ela só mantinha aquele sorriso no rosto batendo no pedaço de papel com as pontas dos dedos.

“Ela disse que tínhamos que escolher um escritor qualquer, e fazer um relatório geral das obras dele e escolher algumas pra fazer um resumo e nosso ponto de vista crítico da obra dele de forma a mostrar os pontos positivos e as influências. E contar a história de vida do autor, claro.”

Primeiro, por que ela estava escrevendo tudo aquilo ao invés de simplesmente dizer. E segundo, como ela escreveu aquilo tão rápido?

– Certo. Cansativo. Nós temos duas semanas pra fazer isso. Por que você tá escrevendo num papel, é pra biblioteca ter silêncio? Tem algum tipo de código de não falar, é isso?

As ruguinhas apareceram nos cantos dos olhos dela e ela deu de ombros.

Dando de ombros também e pensando no quanto aquilo ela idiota pra caralho, tirei meu caderno da mochila e escrevi numa caligrafia muito mais feia que a dela:

“E você já escolheu algum escritor? Deixe-me adivinhar, Shakespeare ou Nicholas Sparks?”

“Na verdade eu estava pensando em J. K. Rowling. O que você acha?”

“Quem é essa?”

“Sério que você NUNCA leu Harry Potter?”

“Já assisti os filmes, tem alguma diferença?”

“Agora mesmo que nós vamos fazer dela. Então você tá dentro?”

“Preciso da nota. Foi mal aê Alice, mas eu não estaria sentado aqui com você se não fosse por ser a única que sobrou.”

Ela deu outro sorriso, só que dessa vez ele não provocou nenhuma rugazinha no olho.

“Eu entendo, Dominic. Então eu vou passar pra professora o nome do nosso escritor. E como você nunca leu nenhum livro dela, eu trouxe o meu exemplar de A pedra filosofal pra você ler, já que esse vai ser um dos livros que a gente vai resumir.”

Com isso ela tirou um livro praticamente novo da bolsa e colocou na minha frente.

“Hã.... Eu tenho realmente que ler? Tipo, eu não posso pesquisar na internet não? Eu não sou uma pessoa que lê. Eu gosto de filmes e quadrinhos, mas livros não.”

“Se você quiser 40% por cento da nota, sim. Sinto muito Dominic. Como eu disse não vou fazer sozinha e colocar seu nome e não faço trabalhos de merda também não. E, por favor, cuida bem do meu livro tá?

Ela me encarou seria e esperou uma resposta. E porra, por mais estranho que possa parecer, naquele momento tudo que eu menos queria era desapontar aquela menina diferente que eu mal conhecia. Que porra estava acontecendo comigo?

Eu assenti.

“Pode deixar.”

“Certo. Olha eu tenho que ir agora. Mas a gente pode se encontrar aqui mesmo, amanhã?”

“Claro.”

“Pesquisa sobre ela e amanhã a gente compara as pesquisas, que tal?”

“Tá.”

“Então ok. Até amanhã.”

E ela foi levantando. Espera, pelo menos a voz dela eu gostaria de ouvir. Levantei com ela e fomos seguindo até a saída.

Paramos na bibliotecária que levantou os olhos me olhando com desprezo. Quando ela olhou pra Alice, no entanto, a face dela se modificou totalmente. Ela sorriu, e fez uns gestos com a mão. Alice deu um sorriso de rugas e fez aqueles gestos que surdos entendem, sabe?

Ah!

Saí rindo e Alice estava bem atrás de mim, me olhando com rosto confuso.

– Ah! É que quando eu cheguei, ela não me respondeu, e eu nunca imaginaria que ela fosse surda-muda. É isso que eles chamam né?

Continuei rindo e não notei que ela estava escrevendo algo em um post-it até que ela colou ele na minha mão. Deu um sorriso e foi embora. Não foi até que ela virou o corredor que eu olhei pra mão pra ver o que ela tinha escrito.

“Na verdade Dominic, Luiza não é isso que você falou. Eu que a sou a muda por aqui. Ela fala em libras comigo desde que cheguei aqui. O que é muito gentil da parte dela. Até amanhã.”


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Notas finais do capítulo

E então?



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