Herdeiros escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 9
Capítulo 8




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“Minha nossa senhora da cafonice, como alguém podia usar isso? Em qualquer época que seja?” Fatinha estava estarrecida, segurando um vestido cor de carne.

“Isso é um figurino de alguma peça de época, talvez da época da monarquia. Naqueles tempos, isso era a última moda.” Bianca era a mais entendida em teatro e começou a remexer nas caixas. “Talvez seja de Noite na Taverna. Achei o livro em outra caixa.”

“To com calor só de olhar para isso.”

“É porque aí tem mais tecido do que juntando todas as suas peças de roupa, piri.” Vicki destilou seu veneno, ao que a jovem de Carambolas se preparou para revidar. No entanto, Bruno se colocou à sua frente e negou com a cabeça.

“Não vale a pena arranjar encrenca, Maria de Fátima, por favor... Vamos tentar manter a paz.”

“O que você me pede sorrindo que eu não faço me derretendo, moreno.” O rapaz perdeu a pose por um segundo, rindo baixinho. “Mas não vou ficar aguentando xingamento de graça, ouviu?”

“Ela tá certa, Vicki, controla a sua língua.” Pediu Karina, remexendo outras caixas.

“Se a gatinha quiser, eu ajudo nisso.” Cobra se ofereceu, sentando distante, observando o que os demais faziam.

Sorry, darling, mas aqui só gente de nível. Não um loser que nem você.”

Loser é coisa para o João e o Pedro, o Cobra tá mais para vagabundo.”

“E você gosta disso, não é dama?”

“Deus, que fogo no rabo.” Pedro assoviou, enquanto Jade e Cobra trocavam um olhar cheio de significados.

“Gente, tem alguns LPs aqui que valem uma nota.” João estava com o notebook no colo, estarrecido. “Tim Maia, Legião, Roberto Carlos, Queen, Beatles... Dá pra levantar fácil alguns milhares de reais com isso.”

“Mas é um pecado se desfazer disso, bro.” Pedro choramingou.

“Pecado é perder cinco pila por não ter equipamento, Pedro.” O guitarrista concordou com o primo. “Ok, alguém faz uma foto dos discos para nós subirmos aqui.”

“E esse mercado de pulgas e traças?” Questionou Vicki, apontando os figurinos.

“Vamos lavar tudo e ver o que dá para usar. Afinal, uma escola de artes deve produzir peças, e se conseguirmos algo aqui, já nos poupará trabalho (e custo) futuramente.” Avisou Bianca, fechando os sacos. “Duca, Cobra, por favor, coloquem esses na lavanderia. Mais tarde eu dou um jeito neles.”

“Gente, eu e a Mari testamos aqueles instrumentos que trouxeram. Quase tudo está em bom estado para uso.” Jeff apareceu arfante, todo sujo de pó.

“E limpos, né? Agora que você puxou toda a sujeira deles para você.” Jade passou o dedo no braço dele, deixando um rastro de limpeza.

“Pedro, você que entende disso... Tem umas guitarras lá que são demais. Eu e a Mari limpamos todas, porque estavam um pouco sujas, e agora elas estão lindas.”

“Jeff, é sério, acho que tem poeira do tempo de Cristo em você.” João encarava o rapaz com a boca escancarada, esquecendo por um momento do notebook em seu colo.

“Eu faria um exame de sangue para ver se não tem nenhuma doença.” Vicki concordou, pegando um pacotinho de lenços umedecidos da bolsa. “Vem aqui, Jeff.”

“Jeff tá que nem os dálmatas no fim do filme.” Observou Pedro, sendo encarado por todos. “Ah, vai dizer que ninguém aqui foi criança e assistiu 101 dálmatas?”

“Era o filme favorito da Karina.” Bianca delatou, enquanto ajudava Vicki a limpar João.

“Olha, eu e a esquentadinha temos algo em comum.”

“Esquentadinha vai ficar a sua cara se ficar me chamando assim.” Karina pegou alguns lencinhos, marchando para a outra sala, onde Mari estava.

“Aqui, João... As fotos dos LPs.” Duca passou o celular para o rapaz, que logo o plugou no computador. “Jeff, tem alguma coisa do equipamento que podemos vender?”

“Olha, eu contei umas oito guitarras. O Pedro pode dar uma selecionada no que é interessante mantermos, e o resto transformamos em grana. O mesmo os violões. Agora dos demais instrumentos, é um ou dois de cada, o suficiente para usarmos aqui.”

“E equipamentos de som? Algo que se salve?” Perguntou Bianca.

“Acho que não. Tem muitos fios rachados, muitos insetos... Todo o cuidado que tiveram ao embalar os instrumentos, não tiveram com os equipamentos. Talvez dê para vender como relíquia.”

“Eu tenho um amigo, dono de uma lanchonete na zona sul. Ele curte essas coisas retros para a decoração.” Bruno apanhou o celular, começando a digitar. “Pelo menos alguns trocados a gente consegue.”

“Ô cambada de sonhadores, vamos segurar a emoção um pouco.” Cobra levantou, batendo palmas. “Presta atenção aqui, em uma coisa: o que vocês estão pensando?”

“Do que você está falando, Cobra?” Perguntou João, sem tirar os olhos do computador.

“Eu to falando, nerdão, que ninguém aqui sabe dirigir uma escola de nada, e vocês estão delirando até o céu com uma escola de um trilhão de coisas. Alguém aqui é formado em música para dar aula? Ou tem grau para ensinar Muay Thai? Teatro? Qualquer coisa?”

Conforme ele ia falando, a ficha ia caindo em todos os presentes. Eram amantes de suas artes, mas não mestres nelas. Não poderiam dar a cara a tapa, porque afinal existiam leis que poderiam complicá-los depois e colocar tudo a perder.

“Nós não temos verba para contratar professores, sem chances.” Bruno enterrou o rosto nas mãos, frustrados. “O salário de um professor aceitável vai nos quebrar rapidinho, ainda mais porque não sabemos quando começaremos a ter algum retorno financeiro.”

“O quê? Um professor de Muay Thai? É só chamar meu pai.” Karina e Mari voltaram da outra sala, alheias ao que estava sendo discutido.

“Ka, nós não podemos chamar o papai.”

“Não, na verdade a ideia é boa, muito boa.” Observou Duca, apontando para Karina. “Eu e o Cobra já temos grau o bastante para dar aula como ajudantes de um mestre. Se o pai de vocês aceitar dar aula aqui, nós podemos ajudar.”

“E três professores é mais que o bastante, até para uma academia maior.” Cobra teve que concordar, já de volta ao seu local de observação.

“Meus pais também são professores respeitadíssimos no meio artístico. Minha mãe foi bailarina por anos, e meu pai é professor de teatro em uma escola particular.” Jade se gabou, um sorrisinho no rosto. “Essa espelunca está abaixo do nível deles, mas por mim eles fariam tudo.”

“A tia Dandara, mãe do João, é cantora. Formada, estudada, tudo nos conformes.” Pedro comemorou, já que o primo ainda estava vidrado no notebook.

“E eu conheço um guitarrista muito bom, pode nos ajudar dando aula de música.” Bruno tinha a voz animada. “Eu acho que isso pode dar certo, sabem?”

“É, irmão, nesses surtos de luz, eu também acho.” Concordou Jeff, sorrindo.

“Isso, 800 reais do LP do Legião!” Gritou João, erguendo os dois punhos e acertando sem querer Cobra. “Opa.”

“Seu moleque... Se você não tivesse conseguido tanta grana de algo cheio de traças, juro que estava morto agora.” Rosnou o lutador, enquanto o nerd se encolhia.

~*~

“Ir para aquele mausoléu? Jura?” Lucrécia encarava a carta que a filha havia aberto alguns dias antes, avaliando a ideia.

“Mãe, você viu quanto dinheiro aquele mausoléu vai me trazer?”

“Jade, dinheiro não é tudo. E sua carreira, filha? Seus treinos? Eu não vou poder mais te treinar se você for morar e administrar essa Fábrica.” O nojo de Lucrécia ao dizer administrar foi evidente.

“Lucrécia, a Jade já tem 19 anos, e portanto é mais do que apta para tomar as próprias decisões.” Edgard sentenciou, os olhos fixos em uma revista. “Eu acho que a proposta de reviver a Fábrica de Artes, que como você sabe, foi um grande marco da época, vai deixar o currículo dela mais rico.”

“Ou mais pobre, se eles não conseguirem. Edgard, metade desses meninos não tem a menor formação artística. Duas delas são filhas do Gael Duarte, e você se lembra bem dele.”

“Mas também são filhas da Ana, que foi uma linda atriz. Eles têm o sangue de grandes artistas, minha querida, e podem fazer grandes coisas.” Ele fechou a revista no colo, encarando a namorada.

“Tudo bem então, sr. Dono da Razão. Se você quiser ir, Jade, pode ir.” A mulher decretou, se levantando e deixando a sala. A jovem bailarina mordeu o lábio inferior, levando as mãos até a nuca, pronta para arrancar alguns fios.

“Nem ouse.” O pai segurou sua mão, beijando com carinho. “Se machucar por ela não vale a pena, meu anjo. Sua mãe é uma pessoa difícil, e infelizmente, frustrada. Ela nunca vai entender que você tenha outro sonho.”

“Mas quem disse que eu tenho?”

“Jade, eu te conheço desde o momento que você saiu de dentro da Lucrécia. Te vi fazer seu primeiro plié, e ganhar a primeira sapatilha de ponta. Você amava o que fazia; mas há muito tempo já não ama mais.” Ele sorriu amoroso para a filha. “O problema é que ela nunca te deixou sonhar fora da caixinha de música dela. Quem sabe agora, nesses próximos meses de insanidade, você consiga encontrar um novo caminho.”


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Notas finais do capítulo

FELIZ 2016, MINHAS LINDAS! MUITA PAZ, MUITO AMOR, MUITA LUZ PARA TODAS NÓS NESSES NOVO ANO!!!!
E para comemorar a chegada dele, um capítulo novinho e cheio de apelidos. E contando um pouquinho mais sobre a Jade, claro.
E aí, estão gostando? Vamos partir logo para a ação? Passagem de tempo no capítulo que vem, ok?
See you ;*
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