Magnificência escrita por a blow in the gale


Capítulo 3
Capítulo 3




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Jéssica borrifava perfume em si loucamente.

– Vai com calma, coisinha. – tomo o vidro das mãos dela – é D&G.

Estávamos no meu quarto nos arrumando para a festa que nos aguardava lá embaixo.

– Desculpa, é que eu quero que o Samuel me note.

– E você quer fazer isso intoxicando o garoto com fragrância floral? – pergunto sarcástica.

– Eu ainda não entendo porque você tá afim dele. – diz Laura. – Tem tantos outros caras, caras do time de lacrosse, que partiriam para cima de você assim. – ela estala os dedos.

– Se você desse a mínima para a personalidade de alguém, entenderia. – responde Jéss.

– Não fala assim comigo. – La fala baixo, com voz chorosa.

– Desculpa, mas para receber respeito, você tem que dar.

Jéssica sai do quarto e ficamos eu e Laura.

Abraço ela e a acomodo no meu ombro, já que sou maior que ela.

– Ás vezes você só tem que calar a boca, mana. – tento dizer carinhosamente.

– Certo. – ela diz se afastando. – Mas o que você vai vestir? – me pergunta vendo que eu ainda estava de lingerie.

– Não faço ideia. – coço a testa, pensativa.

– Por mim você já está perfeita. – diz a voz melodiosa.

Olho para a porta e vejo Glad encostado no batente.

– Garoto! - Laura exclama entrando na minha frente tentando esconder meu corpo.

Sabe, ás vezes acho que Laura e Jéssica competem secretamente para saber quem é a mais infantil. Que luta difícil entre a dedo pesado no perfume ou a senhora puritana.

– La, pode descer, vai atrás do teu bofe. – digo baixo para Laura sem desviar meu olhar dos de Glad.

Era como se tivéssemos uma ponte entre nossos olhos, nada podia rompê-la. Nem percebi La saindo do quarto.

– Quer me ajudar a escolher uma roupa? – pergunto.

– Por mais que isso me mate, - ele suspira - claro. – responde com um sorriso.

Ele caminha até meu closet. Até seus passos soavam melodiosos. Magnificência inquietante.

Seu caminhar me lembrava o de um predador rondando sua presa. Acima disso, me lembrava de algo muito mais familiar, do meu próprio caminhar. Éramos estranhamente parecidos, de maneira anormal.

– Achei que você teria mais roupas. Considerando sua casa. – comenta.

– Ah, eu doo muita coisa.

– Verdade?

– É, para as minhas pobres e necessitadas inimigas.

Ele ri. Parecia tê-lo feito somente para me lembrar de sua graciosidade.

– Como assim?

– Eu tenho um brechó e sei que só vão as que ou me adoram demais ou me odeiam demais. De qualquer modo doo o lucro para hospitais públicos.

– Aqui. – ele me entrega um cabide com um vestido preto.

– Hum, combinando com minha alma.

Glad gargalha e antes de sair do lugar me dá um beijo na testa.

Aquilo foi tão inesperado que não consegui nem gravar minhas impressões do acontecido. Lembro somente do calor que envolveu meu rosto e de seus lábios macios tocando minha pele.

Vesti a roupa o mais rápido que pude e voltei para o quarto. Ele estava me esperando sentado em minha cama.

– Espero que não se importe. – disse.

– De forma alguma. – sento ao seu lado.

– Você tem um quarto muito legal. Sinceramente não esperava que fosse assim. – comenta ele.

– Ah, é? Como achou que fosse?

– imaginei edredons brancos com bordados rosa, paredes beges e mobília branca. Ah, e pequenas estátuas de bailarina nas prateleiras. Realmente não achei que você tivesse paredes vinho, lençol preto e quadros de arte pós-moderna. Sem falar nessa preciosidade. – ele aponta para a máquina de escrever.

– Eu a uso quando me sinto meio poética.

Vejo o pequeno lençol de poeira que cobria o objeto.

– O que não acontece há um tempo.

– Talvez eu possa te ajudar. – ele se oferece.

Lentamente pega a minha mão e se levanta, caminhando, e me levando junto, para perto da máquina.

Quando chegamos perto o bastante, ele olha para mim e com o olhar pede permissão. Aceno com a cabeça e ele toma a liberdade de digitar algo.

Glad desliza seus dedos pelas teclas, percebo que ele é canhoto, e, com um pouco de vacilo e incerteza, toma posição e pressiona a tecla P.

Eu assistia seus dedos dançarem pelo teclado. Lentamente, letra por letra, vi a tinta ser impressa no papel e formar a frase “ponte do olhar”.

Meu cérebro pareceu querer trabalhar um pouco mais devagar.

Aquilo era justamente o que eu pensei que estávamos fazendo. Uma ponte entre nossos olhos. Ele me surpreendera com aquilo, como poderíamos estar pensando a mesma coisa?

Elevei meus olhos até os dele, ele era uns bons centímetros mais alto que eu, e novamente praticamos nossa “ponte do olhar”.

Se eu acreditasse em mágica, diria que era justamente aquilo. Se eu acreditasse em contos de fada, acreditaria ser a protagonista de um deles. E se eu acreditasse em sorte, acreditaria que havia ganhado na loteria amorosa.

No que eu acreditava naquele momento era em nós.


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