Amandil - Sombras da Guerra escrita por Elvish Song


Capítulo 9
A Floresta Sombria


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo! Sim, estou coma imaginação à toda, e com uma semana inteira de tempo livre! Então, aqui vai outra postagem. Nos vemos lá nas notas finais.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/635840/chapter/9

– Nana! – Amandil despertou subitamente, percebendo que estivera imersa em outra visão. Isso acontecia toda vez que meditava ao ar livre, exposta à luz das estrelas. Erguendo-se, ela foi até Gandalf, que estava sentado, fumando.

– Vai partir, Mithrandir?

– Sim, criança. Tenho de descobrir mais a respeito daquele a quem chamam de O Necromante. Sua mãe suspeita que seja um mal muito maior do que imaginamos, e concordo com ela.

– Ela suspeita que seja o Inimigo. – terminou a jovem – ela disse-me isso, através de seu Espelho das Visões. Falou em meu sonho. – o mago franziu o cenho, surpreso – Ela sabe de minha missão, e disse que estou certa em prosseguir. O mal está retornando, Mithrandir... Temos de nos prevenir, antes que se torne mais forte do que nós.

– É o que você está fazendo, não é? Matando Smaug, tirará ao mal um importante aliado.

– Receio que não seja o suficiente. Não sei, Gandalf, mas sinto em meu coração que... Que é preciso algo maior. – ela olhou para os anões, que dormiam. Semanas caminhando faziam com que o sono não tardasse a vir, quando paravam – se nossas raças pudessem se unir e lutar juntas...

– Não sonhe alto demais Amandil. Não há líder que possa unir essas raças sem longos anos de acordos. É uma rixa maior do que você pode resolver... É preciso mais do que um coração puro para terminar com essa hostilidade.

– Mas Thorin...

– A hostilidade vem de ambos os lados, criança. – interpelou Gandalf – contente-se em passar pela Floresta Verde em segurança, e derrotar o dragão. Depois, traçaremos o próximo passo. Primeiro eu preciso descobrir mais. Partirei pela manhã.

– E cabe a mim cuidar deste bando de teimosos?

– Não os deixe sair da trilha. Se Thranduil os encontrar, será um desastre.

– Farei tudo o que puder, Gandalf.

O mago anuiu, meditativo: talvez o melhor da moça não fosse o bastante para manter na trilha aquele bando de anões teimosos e orgulhosos. Contudo, um pedido da Senhora Galadriel não podia ser ignorado: ela era sábia e poderosa, e suas intuições nunca falhavam; se ela dizia haver algo de errado, então havia, e cabia a ele investigar. Ainda assim, ficava preocupado: iam cruzar a Floresta Sombria e, se os elfos os encontrasse, as palavras de Amandil não seriam o bastante para conseguirem passar em segurança. Por maior que fosse a autoridade da moça perante seu povo, as ordens de Thranduil estavam acima disso. Que Legolas conseguisse cumprir sua parte, e manter os guardas longe da trilha dos elfos...

O Sol começou a surgir, e o mago despertou a todos; era hora de fazer seu anúncio; falando em voz alta o bastante para todos ouvirem, declarou:

– Tenho assuntos urgentes a tratar no norte. Irei o mais depressa que puder, e os encontrarei aos pés da Montanha Solitária. – e para Thorin, especificamente – não entre naquela montanha sem mim, ouviu?

O anão assentiu, mas Bilbo não se conformou com a partida do mago:

– Vai nos deixar?

– Não o faria se não fosse necessário, meu caro hobbit. Mas deixo-os em boas mãos: Amandil conhece a trilha, e vai mantê-los a salvo, longe dos elfos de Greenwood.

– Por minha honra, Mithrandir, farei tudo que estiver ao meu alcance para passarmos sem ser vistos.

– Assim espero. – Dirigindo-se para um dos cavalos emprestados por Beorn, o mago saltou sobre suas costas sem arreios ou apetrechos; tinha apenas seu cajado e espada quando bateu os calcanhares na barriga do animal, que iniciou um galope em direção à fronteira norte do território do homem-urso. Ali o mago deixaria o corcel e seguiria a pé para seu destino: o antigo reino de Angmar.

Enquanto via o mago desaparecer no horizonte, a jovem elfa organizou o grupo e os pôs em marcha: estavam chegando ao fim do território de Beorn... Logo teriam de deixar os cavalos para trás, e embrenhar-se nas tramas da Floresta Verde. Para ela, era como estar indo para casa, pois aquele fora seu lar em muitas ocasiões, por longos anos. Não seria, contudo, uma visita agradável: teria de atravessar o reino, guiando por dentro das terras de Thranduil os piores inimigos deste. Isso fazia dela uma traidora? Provavelmente.

Por mais dois dias seguiram a marcha, mantidos à salvo pela presença constante do enorme urso, sempre observando à distância, até encontrarem o riacho que assinalava o fim das terras de seu guardião. Ali montaram acampamento, e a elfa orientou:

– Sugiro que se lavem o melhor que puderem, senhores, e passem estas ervas no corpo – ela entregou algumas folha de cheiro forte e agradável a cada um dos viajantes – vão disfarçar o cheiro de seus corpos, e fazer com que passem despercebidos às criaturas da floresta. – e subiu outra vez no cavalo – vou devolver os animais a Beorn, enquanto se lavam.

Afastando-se mais de um quilômetro em meio às colinas, para dar privacidade aos homens, a moça se encontrou com o gigante, que a esta altura já reassumira forma humanoide. Agradecendo-lhe pela hospitalidade e gentileza, perdeu-se em conversas com o amigo por mais de uma hora, antes de retornar. Quando o fez, era sua vez de se lavar e esfregar as ervas na pele, e ela desceu o regato para encontrar um lugar que lhe desse privacidade.

Já tendo montado acampamento – ninguém queria entrar na floresta no meio da noite, nem mesmo a elfa – os anões e o halfling aguardaram pacientemente, preparando a refeição da noite. Mas duas horas se passaram, e a moça não retornava! Preocupado, Bilbo comentou:

– Acho que vou atrás de Amandil. Ela ainda não voltou... Pode ter acontecido alguma coisa.

– Deve estar perdida em suas visões. – comentou Glóin, o qual ainda não conseguia compreender as visões que acometiam a elfa, quando esta se expunha às estrelas. Fili, Bilbo e Kili se ofereceram para procura-la, mas foi Thorin quem, afinal, desceu o regato atrás da mulher.

Sua caminhada o levou para não muito longe: sentada na relva, à beira de um laguinho formado pelo riacho, a moça parecia orar. Tinha os cabelos soltos e molhados, assim como as vestes, como se houvesse acabado de trajá-las; estava outra vez envolta naquela luminosidade fraca que tanto intrigava e fascinava o elfo, e seu rosto era a imagem da paz, com os olhos fechados e os lábios murmurando palavras em élfico. Sentindo seu coração apertar ante a beleza e pureza da moça, Escudo-de-Carvalho deu mais um passo; isso bastou para que, da mais profunda paz, a jovem passasse à ferocidade de uma assassina, agarrando seu arco e tendo sua flecha apontada para Thorin em menos de um segundo. Erguendo as mãos em gesto de paz, ele explicou:

– Faz mais de duas horas que veio para cá... Estavam todos preocupados.

Baixando o arco, ela se desculpou:

– Comecei a orar aos Valar e perdi a noção do tempo. Vou reunir minhas coisas e volto em um segundo. – aquilo deveria ter feito o anão retornar ao acampamento, mas, em vez disso, ele desceu a colina até junto da mulher. Esta se ocupava reunindo os trajes que acabara de lavar e secar, quando ouviu a respiração do amigo bem ao seu lado; enfiando as roupas na mochila, levantou-se depressa, deparando-se com um Thorin a poucos centímetros de si. – Thorin! Você está bem? O que está havendo?

O guerreiro abriu a boca para falar, e em seguida a fechou, sentindo-se um tolo. Custava-lhe admitir o fato para si mesmo, quanto mais para a moça! Foi então que ele fez o que não devia fazer: fitou aqueles olhos de céu estrelado. Perdido neles, viu desvanecer-se todo o senso de dever, toda a raiva sentida pelos elfos, toda a noção do que era ou não adequado, e deixou escapar num sussurro rouco:

– Você é tão linda, Amandil.

Corada, a moça se afastou um pouco e respondeu:

– Obrigada – ia pegando sua mochila no chão, para sair dali antes que as coisas se complicassem, quando o rei anão segurou sua mão, fazendo-a olhar para si outra vez:

– Estou tentando dizer que estou atraído por você. Admiro sua coragem, e gosto do modo como me enfrenta e irrita – ele parecia perturbado, quase hipnotizado – fito seus olhos, e o mundo desaparece... Gosto de sua voz, de seu cheiro – o aperto na mão da moça se tornou mais forte quando ela tentou puxar o braço, e ele acariciou uma mecha de cabelos dela – fique comigo, Amandil! Estou apaixonado por você! Por favor, fique comigo! – ele lhe beijou a palma da mão, segurando-a pelo pulso, mas a jovem se soltou agilmente e afastou um passo, fitando-o com misto de compaixão e receio:

– Isso não pode acontecer, Thorin. Não é paixão o que está sentindo: está atraído por mim, atraído pela minha luz, mas isso não é amor!

– Como pode ser cruel assim? – a voz dele soava mais desesperada do que raivosa, ante a recusa – enfeitiça-me, aprisiona meu coração, e agora diz que não me quer? – ele avançou e segurou-lhe as mãos outra vez – por favor, Amandil, não me rejeite!

– Não, Thorin! – ela o empurrou para trás, e explicou – Eu não o enfeiticei, está bem? Você se sente atraído, mas não é um sentimento real! E mesmo se fosse, eu jamais poderia corresponder...

– Porque sou um maldito anão?! – a raiva começava a despontar, fazendo chamas dançarem nos olhos dele. Pelos Valar, por que ela causava aquele efeito em Thorin?! – não sou digno de seu amor, é isso?!

– Porque eu já sou noiva de outra pessoa, Thorin! – ela usou a voz mais calma que pôde, chamando-o de volta à razão. Aquilo pareceu um balde de água fria sobre o guerreiro, que recuperou a lucidez – Sou uma princesa, e logo deverei me casar com o homem que há séculos me foi designado como noivo. E farei isso não apenas por dever, mas por amor. Amo meu noivo, e tenho um dever para com meu povo: nada pode mudar isso, mesmo se eu quisesse.

O guerreiro estava levemente pálido pelo que acabara de fazer, mas parecia ter recuperado o bom-senso:

– Devia ter imaginado que diria isso. – e meneando a cabeça, sisudo – Que feitiço é esse em seus olhos, que faz com que eu me perca de mim mesmo, bruxa?

A jovem não disse nada, apenas pegou suas coisas e tratou de seguir para o acampamento o mais depressa possível, assustada: por que sua presença afetava Thorin daquele modo? Ela sempre atraíra os homens, de fato, mas nunca algum chegara a ficar obcecado por ela, como o anão se mostrara naqueles breves segundos onde se descontrolara. Agora, estava com medo das reações que causava, e jurava a si mesma que não ficaria sozinha com o rei anão outra vez.

*

Estavam percorrendo a trilha dos elfos havia mais de uma semana; um caminho tortuoso e verdadeiramente enfeitiçado, feito para confundir os sentidos daqueles que não conhecessem o percurso a seguir. Apenas um elfo criado na floresta poderia se orientar naquelas tramas, e foi uma sorte para o grupo contar com a presença de Amandil.

Para a jovem, porém, aquela viagem estava sendo uma verdadeira tortura! O mal que já havia visto naquelas matas se fortalecera, e a floresta parecia doente... A floresta de sua infância, o lugar onde passara tantas horas maravilhosas, seu segundo lar! O mal se espalhava e penetrava árvores, solo e água, contaminando a natureza e adoecendo os seres que viviam; essa visão feria a princesa muito mais do que o chicote do orc conseguira fazer. Agora compreendia porque aquela matas começavam a ser chamadas de Floresta Escura, e não conseguia acreditar que, nos dez anos que passara longe dali, a sombra houvesse se fortalecido tanto. O pensamento fazia seu peito ferver de ódio, mas tinha uma missão a cumprir: uma missão que, talvez, ajudasse a salvar sua amada Greenwood.

Mas a viagem por terras contaminadas cobrava seu preço: a comida e a água estavam acabando, e não havia como repô-las; só as frutas venenosas nasciam, e a água tinha um sabor amargo insuportável. Quando os recursos estavam quase no fim, não havia outra escolha: teriam de deixar a trilha para buscar suprimentos. Amandil, porém, não deixaria que os anões e o hobbit se arriscassem fora da estrada, não apenas por poderem ser encontrados pelos elfos, mas porque não conheciam as feras daquela parte do mundo.

– Aguardem por mim aqui – disse ela ao grupo, no oitavo dia, deixando-os no ponto onde uma velha árvore se curvava sobre a trilha e esparramava suas raízes altas na forma de uma gruta – vou caçar e coletar água. Amanhã, sairei de novo e terminarei de reabastecer nossos suprimentos. – então voltou-se para Thorin, do qual mantivera distância desde o ocorrido à beira do riacho – Não tente guiar a companhia, ou acabarão perdidos. Você me acusa de feitiçaria sempre que pode, então acredite quando digo que, aqui, o feitiço é real. Não saiam deste lugar até que eu retorne.

Ela deixou a companhia e adentrou o emaranhado de árvores; aqui e ali avistava teias enormes – seria possível que as crias de Ungoliant houvessem avançado até ali?! – e por nem uma vez viu sinal de vida, por um longo tempo. Afinal o ar pareceu ficar menos pesado, a luz penetrava melhor através das árvores, e plantas e animais começaram a se fazer notar; foi ali que ela conseguiu caçar um javali jovem e abastecer os vários cantis que trouxera consigo, colocando a caça nas costas e tomando o caminho de volta para o grupo. Porém, ao chegar lá, já não havia ninguém no lugar. O maldito cabeça-dura que era Escudo-de-Carvalho havia teimado em prosseguir! Maldição!

Largando a caça e a água no meio da trilha, pôs-se a procurar o rastro dos amigos: como suspeitara, não tardou para que estes abandonassem o caminho certo. As pegadas seguiam em trilhas sinuosas e zigue-zagues, em vez de em linha reta, e em vários momentos os anões haviam passado três, quatro vezes no mesmo lugar. Haviam se separado e se reunido, completamente perdidos e desorientados pelo encantamento dos elfos e pela névoa escura que avançava sobre a outrora Floresta Verde.

Avançando depressa pelos caminhos que tão bem conhecia, ela viu o número de teias aumentar, e compreendeu estar se aproximando do ninho de uma colônia de aranhas... O pensamento a arrepiou, pois como poderia, sozinha, dar cabo de um ninho inteiro? Somente com fogo seria possível, mas acender fogo, na floresta?! Ainda não chegara a tal ponto de loucura. Pensava nisso, quando ouviu gritos de homem, e toda a preocupação a abandonou, deixando apenas o instinto da guerreira agir em seu lugar.

Ela correu na direção dos gritos, as armas em punho, preparada para lutar; irrompeu como um tufão na clareira onde, parcialmente enrolados em teias de aranha, os anões resistiam a vários daqueles monstros do tamanho de um pônei. Sem hesitar, a moça se lançou contra os aracnídeos, cortando patas e acutilando cabeças com sua espada, disparando suas setas nos olhos negros sem pupilas ou pálpebras, traçando ao seu redor um perímetro de morte. Mas que maldição! Com tanto barulho, certamente já haviam sido ouvidos pelos guardiões da floresta, que vigiavam o reino de Thranduil.

– Por que não me esperaram?! – perguntou ela, furiosa, enquanto se reunia aos demais após rasgar o abdômen de mais uma besta.

– Amandil, acha que agora é o momento de... – começou Fili, sendo interrompido pela elfa:

– Não estaríamos neste lugar, agora, se houvessem me esperado. Temos que sair daqui antes que... – suas palavras morreram quando uma flecha de penas brancas e amarelas perfurou a aranha à sua frente, cravando-a no chão. Tarde demais! Já haviam sido encontrados.

Pelo menos duas dúzias de elfos saltaram de cima das árvores, executando sem piedade as feras de oito patas. Não levaram mais do que três minutos no processo, ao fim dos quais voltaram-se contra o novo inimigo: aqueles viajantes atrevidos que ousavam entrar em sua floresta. Arcos foram apontados para a Companhia, e de repente alguém agarrou Amandil pelas costas, pondo uma espada em seu pescoço. A voz que falou ao ouvido dela, inesperadamente, era feminina:

– Andando com anões, Amandil? O que está aprontando agora, para se rebaixar a tal ponto?

Como um raio, a princesa de Lothlorien agarrou o pulso da recém0chegada com a mão esquerda, enquanto girava sobre si mesma e se abaixava numa rasteira, o que fez a desconhecida cair no chão, já rolando para se colocar em pé. Foi só neste momento que a comitiva a viu: uma moça alta e esguia, de cabelos vermelhos como fogo e olhos verdes, trajando roupas cor de musgo e armadura de couro, com várias armas presas ao corpo; era linda, mas também ameaçadora. Ela encarava a elfa morena e sorria. O mais surpreendente, porém, era Amandil retribuir o sorriso!

– Olá, Tauriel. – saudou a dama de olhos azuis, segurando o ombro da outra – Continua lenta demais para mim, não é?

– Acho que as aranhas não são tão rápidas quanto minha irmã caçula. – devolveu Tauriel, rindo, antes de abraçar a recém-chegada, soltando-a em seguida e recuperando o ar frio de soldado – E o que estas criaturas fazem em sua companhia?

– Eles são meus amigos.

– Amigos?! – Tauriel estava incrédula, e havia ironia em sua voz – Anões não são amigos de ninguém além de seu ouro! O que faz com essa corja, irmã?

Enfurecido, Kili se manifestou:

– Amandil, o que significa isso? Quem é esta meretriz que a chama de irmã?

Os olhos de Tauriel faiscaram ameaçadores ante as palavras do anão, mas antes que ela cortasse a língua – ou a garganta – de Kili, Amandil respondeu, ainda ciente das flechas apontadas para os anões:

– Esta, meus amigos, é minha irmã de criação: Tauriel, princesa de Mirkwood e capitã da guarda do Reino da Floresta.

– Não necessariamente nesta ordem. – havia um tom perigoso no rosto e na voz da guerreira ruiva, que arqueou as sobrancelhas – Estão com você, então? Por quê?

– Seguíamos a velha estrada. – respondeu a filha de Galadriel; não havia porque mentir a sua melhor amiga – Prometi guia-los através de Mirkwood em segurança, mas não contava que as aranhas houvessem avançado tanto.

– Estão um pouco longe da estrada, Amandil. Perdeu-se, por acaso?

– Saí para reabastecer nossos suprimentos, e tentaram seguir a trilha sozinhos. Vim em seu encalço, e cheguei pouco antes de vocês. – a garota com cabelos cor de avelã baixou o tom de voz e se aproximou da ruiva, mais velha – por favor, Tauriel, deixe-nos seguir. Esqueça que nos viu, e deixe-nos prosseguir em paz. Por nossa amizade.

Havia nojo nos olhos da elfa ao fitar os anões; ela pareceu considerar por um longo tempo antes de responder:

– Por nossa amizade. – e sinalizou aos demais para que baixassem os arcos. Os soldados cumpriram a ordem, mas logo uma segunda voz feminina se manifestou:

– Vai se atrever a ir contra as regras de seu rei, capitã? – a recém-chegada era uma elfa de cabelos quase brancos, de tão louros, e olhos turquesa; seu rosto tinha feições angulosas e severas, e a voz parecia desprender pedras de gelo – são intrusos. Vão ser levados ao rei.

– Não serão levados a lugar algum! – interveio Amandil – estão sob a minha proteção.

– Amandil, pelo respeito que tenho a você, como minha melhor discípula, digo-lhe para não se meter nisso. Guiar anões por dentro de nossas terras é o mesmo que traição. – alertou a elfa loura. – revistem-nos e prendam-nos.

– Não é você quem lidera esta expedição, Amálië – a voz que falou, agora, era masculina. Um jovem elfo de cabelos louros como trigo e rosto tão belo quanto o amanhecer saiu das sombras – Deixe-os ir.

– Sabe que não posso, Ernil nín (meu príncipe) – respondeu a elfa loura, curvando-se diante do elfo – são anões...

– Eu sou o príncipe de Mirkwood, e Tauriel é sua capitã. E nós dois dizemos que os deixe ir, guardiã das fronteiras.

– Podem ser os filhos de Thranduil, mas é a ele que devo minha lealdade. Que todos nós devemos. – retrucou a guardiã das fronteiras – devia se envergonhar, meu príncipe, por ousar ir contra as leis em prol de um capricho de sua noiva.

– Noiva?! – Thorin estava tão enraivecido que, não fosse a situação, poderia ter estrangulado Amandil ali mesmo. Então, era aquele o motivo pelo qual ela os trouxera tão longe?! Para entregá-los a Thranduil?! O ódio pelo rei élfico e seu povo o cegou para a discussão que se seguia em defesa da comitiva, deixando apenas a raiva em lugar da lucidez. Maldita traidora! Bastarda! Vadia sem palavra! Como alguém podia ser tão frio e calculista, a ponto de cruzar meia Terra-Média com pretensos “amigos”, apenas para entrega-los ao abate, no lugar certo?

Enquanto a mente do anão fervia de ódio e buscava maneiras de escapar àquele lugar amaldiçoado, Amálië fizera valer sua vontade: deixar os anões partirem faria com que todos ali fossem acusados de traição, e a pena seria severa, mesmo para os filhos do rei. Balin e os demais percebiam isso, e trataram de ficar em silêncio, para não piorar uma situação já bastante ruim. Amandil, finalmente, se manifestou com raiva:

– Se eles são prisioneiros, então também eu o sou. – e estendeu as mãos para que estas fossem atadas.

– Amandil, não seja ridícula! – protestou Legolas, abaixando-lhe as mãos – você não é uma prisioneira!

– Eles são criminosos por invadir a floresta. Eu sou criminosa por guia-los até aqui – respondeu a dama, estendendo os pulsos outra vez – Tem-me como sua cativa, Amálië. Deve estar satisfeita; não dizia sempre que alguém me devia pôr peias? – havia tanta hostilidade entre as duas elfas, que esta era quase palpável. Momentos de tensão se seguiram antes que Amálië simplesmente batesse no ombro da outra elfa com o seu, passando por ela e ordenando:

– Revistem-nos! Serão levados ao rei.

De cabeça erguida, furiosa com a elfa que um dia lhe ensinara o manuseio das armas, a filha de Galadriel tinha ganas de queimar Amálië viva, se lhe fosse dada a chance – bastariam umas poucas palavras para isso. Legolas, desgostoso por ter falhado, aproximou-se de sua noiva e de Tauriel, e falou para ambas:

– Acho que não temos autoridade alguma, neste caso. – ele abraçou a irmã e a noiva – talvez possamos convencer Ada (nosso pai) a lhes dar passe livre.

– Você realmente acredita nisso? – perguntou Amandil, de braços cruzados e erguendo uma sobrancelha – ele teria que estar de muito bom humor e, acredite, não vai estar. Não depois que Thorin despejar tudo o que está pretendendo dizer. – ela suspirou e esfregou o rosto com as mãos - Só por um milagre vou conseguir tirar esses anões das masmorras. – revirando os olhos, a guerreira se pôs em movimento junto ao grupo, ladeada por Legolas e Tauriel. Aquele era o pior dia de sua vida!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

As coisas esquentaram, aqui! Alguém arrisca dizer o que acontece com Thorin? Por que essa obsessão por Amandil?
E Legolas voltou, gente! E agora não some mais! Ahhhh, eu amo esse príncipe maravilhoso! Tá, eu sei, vocês também o amam, hahaha!
Já Tauriel, não se mostra muito inclinada ou gentil com anões, afinal... E alguém aí sequer imagina quem seja Amálië? Gostaram dela? (Imagino que não, rsrsrs)
Agora, o circo está armado de vez; as coisas ficando cada vez mais tensas nos próximos capítulos, mas também teremos momentos fofos para as fãs de Legolas x Amandil. Espero que gostem, e me despeço com muitos beijos!
Namárië!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Amandil - Sombras da Guerra" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.