Amandil - Sombras da Guerra escrita por Elvish Song


Capítulo 27
Sombras da Guerra


Notas iniciais do capítulo

Olá! Aqui estou eu, de novo! Nos vemos nas notas finais.



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A princesa de Lothlorien fez uma reverência aos recém-chegados, no que foi imitada por Legolas e Tauriel. Aprumando-se, a guerreira sorriu e saudou:

— É bom vê-los, meus senhores e minha rainha. Espero que tenham feito boa viagem.

— De fato, foi. – respondeu a rainha da luz, aceitando a ajuda de seu esposo, Celebörn, para descer do cavalo. Amandil nunca compreendera como sua mãe conseguia cavalgar enormes distâncias, e mesmo lutar, montada de lado! Saruman, o Branco, Lorde Elrond e Radagast também estavam ali e, de um em um, foram saudados pelo trio de jovens. – Não deixaríamos de atender ao chamado de Lorde Thranduil e Mithrandir.

Amandil se curvou diante de sua mãe e rainha, evitando o olhar da Senhora da Luz; certamente teria de responder por seus atos, mas não era hora, nem lugar, para que a Rainha do Lothlorien tomasse ciência de suas desobediências. Na verdade, ela temia esse momento.

— Por que evita meu olhar, minha filha? – perguntou a Senhora, já sabendo a resposta. Divertia-se com a irreverência da moça, que lembrava muito a dela própria, tantas eras atrás, quando nem a própria lua fora posta no céu. – Mias tarde trataremos de suas flagrantes desobediências, mas não a censurarei, por hora.

Anuindo, Amandil saudou Lorde Celebörn, que a abraçou ternamente, mas havia censura em sua voz quando falou:

— Tememos por sua vida, Amandil. Fico feliz em vê-la bem, filha, mas censuro muito suas decisões equivocadas.

— Devo desculpar-me por isso, meu pai, mas haverá momento mais propício. Agora, devo leva-los ao palácio de Dale, para que se recuperem da viagem, antes da reunião dos lordes.

Como fuga aos olhares de escrutínio de seus pais, de lorde Elrond e dos dois magos, a dama se voltou de costas e, nervosa, deu a mão a seu noivo. Ele apertou seus dedos suavemente, para lhe passar confiança, e juntos conduziram o grupo para os alojamentos a eles destinados.

— Perdoem-nos as acomodações precárias, mas a cidade ainda está sendo reconstruída.

— Não se preocupe com isso. Aqui não há nenhuma criança mimada que não possa lidar com um pouco de desconforto. – respondeu Saruman. Enquanto os senhores da Floresta Dourada e o senhor de Rivendell entravam em seus alojamentos, Radagast e Saruman se voltaram para os três jovens elfos, e o Mago Branco prosseguiu – Tiveram um grande papel nesta vitória. Ainda que tenham desobedecido a inúmeras leis, saibam que esta foi a diferença entre a vitória do Inimigo e sua queda. A Terra-Média tem uma dívida para com todos.

— Obrigado, meu senhor Saruman – disse o trio, em uníssono, antes que os dois magos também desaparecessem em seus aposentos. A tensão se desfez com se por mágica, e os jovens respiraram aliviados. Com um risinho tenso, Tauriel comentou:

— Ainda não morremos.

— Eles vão esperar acabar o concílio. – devolveu Legolas – vamos ter sorte se formos só açoitados em público, quando voltarmos.

— Bom, eu não vou voltar. – disse Tauriel – sei bem que minha punição será o exílio. E, depois de meu envolvimento com Kili, mesmo se eu retornasse, nosso pai trataria de me forçar ao casamento com algum nobre, o que me obrigaria a fugir, de qualquer modo.

Legolas olhou de modo triste e pensativo para a irmã; passando o braço por sua cintura, perguntou:

— Vai mesmo nos deixar?

— Sabe que não tenho escolha, Las. – disse a ruiva, acariciando o rosto do irmão – mas sempre vai ser meu irmãozinho, não importa onde eu esteja. – ela deu de ombros – e o que vocês dois vão fazer?

— Ainda não sei – disse Amandil – acho que vou para Imladris, antes de voltar a Lothlorien. Tenho crimes pelos quais responder em ambos os lugares. Na verdade, atualmente, metade da Terra-Média quer minha cabeça, então não faz diferença aonde vou. Veremos o que se passa na reunião. – e para Legolas – e você?

— Qualquer lugar longe de Mirkwood. Não vou me fechar na floresta, enquanto o mundo desmorona ao nosso redor.

— Talvez acabemos os três em Rivendell. – riu-se Tauriel – seria maravilhoso, como em nossos tempos de criança!

Os três se abraçaram, cúmplices. O futuro era algo absolutamente incerto, então, podiam apenas sonhar e imaginar como seria, desejando de todo o coração que fosse o melhor possível.

*

Não podia haver encontro mais singular de pessoas: Gandalf, Radagast e Saruman, com seus cajados acesos projetando luz sobre o ambiente, as barbas brancas – a de Radagast nem tanto, graças ao musgo que nela crescia – os mantos arrastando pelo chão, os semblantes sérios. Dain, Balin, Fili e Kili, todos vestidos com trajes formais e armaduras douradas, os cabelos presos em várias tranças, assim como as barbas dos três mais velhos, todos de semblante fechado e tenso. Elrond, Thranduil, Legolas e Celebörn, vestidos com calça e gibão cinzentos, capas de mesma cor com debrum em prata, pareciam meditativos e perdidos em pensamentos. Tauriel e Amandil, usando seus trajes de caça, entreolhando-se de modo tenso, ambas antevendo o momento em que tal reunião terminaria com grande conflito. Bard, vestido com as roupas surradas que havia conseguido encontrar, mas não menos régio que os demais por conta disso, tão sereno e centrado... E, finalmente, a Rainha de Lórien, Galadriel, com seu onipresente sorriso suave e vestes brancas, acariciando o pequeno pássaro pousado em seu ombro. Uma cena como nunca vista.

Amandil não conseguia acreditar que algo assim realmente acontecia: elfos, humanos, magos, hobbits e anões reunidos num só lugar, com um só propósito? O mundo estava mais louco do que jamais fora! Aquilo não tinha como dar certo: alguém diria algo que ofenderia os demais, e tudo terminaria em um conflito pior do que o que já havia! Como impedir tal desfecho? Ela não sabia se suas habilidades diplomáticas eram vastas o suficiente.

— Imagino que saibam por que reuni todos aqui, hoje. – começou Mithrandir – vencemos uma batalha, sim, mas isso não significa muito. O Inimigo retornou à Terra-Média. Seus Nazgûl foram outra vez convocados, e seus orcs se multiplicaram em segredo. Este ataque frustrado à Montanha nos mostra que ele ainda não está completamente recuperado, mas já retomou parte de sua antiga força.

— Isso significa, portanto, que toda a Terra-Média está em perigo. – finalizou Elrond – Sauron fugiu para o Leste, para Mordor, e tratará de se recobrar desta derrota, ainda mais perigoso pelo desejo redobrado de vingança.

— Acha mesmo que foi uma derrota? – perguntou Galadriel. Sua voz suave destoava da seriedade de seu semblante – o Inimigo é astuto. Ele não sofreu derrota alguma. É certo que não contava com a morte de Smaug, mas este ataque foi apenas um teste. Um engodo, para saber nossa força. E ele conseguiu o que queria.

— Conseguiu? – perguntou Dain – seus orcs foram escorraçados daqui. Os que não morreram sob nossas armas congelaram no Gargalo. Ele viu o poder dos anões, e não pôde nos enfrentar.

— É mesmo, primo? – perguntou Fili – porque, até onde me lembro, nós quase fomos massacrados. Perdemos Thorin. Kili ficou aleijado e, caso não se lembre, o Gargalo foi fechado por Amandil, não por nós; também os elfos e humanos lutaram ao nosso lado. Outro ataque desses, e o que restou de nosso clã desapareceria! Ou acha que os elfos e humanos estarão sempre à disposição para nos socorrer?

Dain ficou vermelho, mais de raiva do que de vergonha – Amandil podia apostar nisso – mas silenciou. Foi Thranduil quem tomou a palavra:

— Quer dizer, minha senhora, que esta ofensiva sem precedentes nesta Era tratou-se apenas de um teste? Então, qual a real força dele?

— Ainda não está clara. Sauron, por algum motivo, ainda não está pronto para declarar guerra. Baseado no que experimentou aqui, construirá seu verdadeiro exército, mas com que recursos, eu não sei. Não me é dado saber o que acontece nas profundezas das Sombras, onde luz alguma pode chegar.

— Se Sauron recuperar seu antigo poder – começou Bard – a Terra-Média não terá condições de se defender. Gondor e Rohan são os únicos reinos humanos que restaram; os anões estão dispersos e sem líder, e os reinos élficos estão a incontáveis milhas uns dos outros.

— Lórien e Mirkwood são aliados – manifestou-se Legolas – isso deve contar como uma vantagem.

— Os elfos podem, sim, conter o poder de Mordor, Legolas Greenleaf, mas não eternamente. – declarou Celebörn – superestimar a força de seu povo não é uma boa estratégia, para um príncipe. Para vencer este mal, nosso povo teria de derramar até a última gota de sangue do último guerreiro.

— Penso que está bem claro o que devemos fazer – a Senhora da Luz tomou a palavra – não podemos deixar a Sombra se reerguer.

— E como faríamos isso, senhora? – perguntou Balin, gentil – como se pode deter um mal que não tem corpo? Dentre nós, é a única que possui o poder de bani-lo, e mesmo assim, não pôde destruí-lo. Sauron devia estar morto há milhares de anos, e ainda assim, como a senhora mesma nos disse, retornou, e esconde-se no leste. Como matar o que não tem vida?

A resposta, contudo, não veio de Galadriel. Pela primeira vez, Amandil – pálida, os olhos fixos no nada, a voz pesada - parecia em transe quando se fez ouvir:

— Três anéis para os reis elfos sob os céus;

Sete para os anões em seus salões de pedra;

Nove anéis para os homens mortais, fadados à morte;

Um Anel para o Senhor de Escuro,

Na Terra de Mordor, onde moram as Sombras.

Um anel para a todos governar,

Um Anel para encontra-los.

Um Anel para a todos trazer,

E nas trevas os reter.

Nas terras de Mordor, onde moram as Sombras. – A moça se curvou para a frente, ofegante ao deixar sua visão, sendo amparada por sua mãe e seu noivo, o qual lhe perguntou:

— Uma Visão?

— Sim – anuiu a jovem, ainda tonta e ofegante pelo transe súbito – Sauron não poderá ser destruído, antes que a arma maldita por ele forjada seja destruída. Ele quer esta peça, pois só com ela alcançará seu auge novamente. É uma corrida para obtê-la.

— Isso é impossível. – disse Thranduil – o Um Anel está desaparecido há três mil anos.

— Tem certeza disso, meu amigo? – perguntou Elrond, taciturno – devia deixar mais vezes sua floresta. Houve boatos, sussurros. Soubemos que Gollum portou o Anel por algum tempo, mas só nas profundezas das Montanhas da Névoa foi que o Um, enfim, se perdeu.

— Como se perde uma relíquia tão poderosa? – perguntou Bilbo, que até então não falara nada – ele deve causar um mal enorme aonde for!

— E causa. – concordou Celebörn – mas nas profundezas das Motanhas, quem pode dizer o que acontece ou não.

— Bem, eu passei por lá e, podem acreditar: os túneis são infinitos. – uma ideia louca surgiu na mente do halfling: seria possível que o tal Um Anel do qual falavam fosse aquele que tinha em sua posse? Não! É claro que não! Seu anel era inofensivo, apenas um anel de invisibilidade. Não havia causado mal algum. Seu precioso nunca seria o terrível Anel de Sauron – e infestados de orcs. Seria mais fácil achar uma agulha num palheiro.

— Uma montanha infestada por orcs. – disse Kili – já pensou que qualquer um deles poderia devolver esta coisa a Sauron?

— Não os orcs das montanhas. Eles não respondem a Sauron, nem a ninguém. Na verdade, sequer reconheceriam a peça. – corrigiu Elrond – mas Sauron não poder recuperar o Anel deixa de ser uma vantagem, quando também nós não o podemos tomar, para ocultá-lo ou destruí-lo. O acaso torna-se a força motriz dos eventos, e o acaso nunca é um bom aliado para se contar.

— Não adianta insistirmos sobre um assunto que não se altera. – interrompeu Dain – se esse Anel está perdido, então é carta fora do baralho. O que pode ser feito com aquilo que temos?

— Nunca pensei que diria isso, mas concordo com o anão – afirmou Thranduil – O que podemos fazer, efetivamente?

— Cumprir seu papel e manter vigilância sobre as florestas do leste, em vez de se trancar em sua floresta e ignorar o restante do mundo. – censurou Saruman – Nas proximidades de seu reino foi que o Inimigo se instalou e, ainda assim, você não foi capaz de o perceber.

Tauriel e Legolas olharam com reprovação para o pai: Saruman tinha toda a razão, e eles próprios haviam insistido naquilo muitas vezes antes. Não obstante a postura do monarca sequer tivesse se alterado, eles sabiam que sua mente fervilhava. Tauriel, como capitã e princesa, tomou a palavra:

— Sabemos que, agora, Dol Guldur está vazia. Gondor torna-se o novo posto de vigia, uma vez que a Sombra fugiu para Mordor. Precisam ser avisados. Alguém tem de falar ao jovem rei Ecthelion, e avisá-lo do mal que ronda. Se me for concedida tal honra, eu mesma o farei.

— Certamente é o primeiro dever que temos e, com o consentimento de seu rei, seria para nós uma honra que fizesse tal papel, princesa de Mirkwood – afirmou Gandalf. Antes que Thranduil pudesse dizer algo, porém, a elfa respondeu:

— Tomarei caminho tão logo o Sol nasça, amanhã. – ficou bem claro para todos que, com aquelas palavras, a capitã explicitava não servir mais às ordens de Thranduil. Um ato de rebeldia, talvez? Ou a decisão final de uma menina transformada em mulher? Ela lançou um breve olhar para Kili, que compreendeu: um pedido para que fosse com ela. Se aceitasse, ambos estariam livres, enfim. Bastava que ele aceitasse, e poderiam estar juntos.

— Esperem um instante... Se Gollum possuiu o Anel por algum tempo, então ele saberá onde o perdeu. Talvez tenha mesmo recuperado a joia! – sugeriu Bard – Precisamos encontra-lo, e descobrir se há a mais remota possibilidade de esta coisa ser encontrada.

— Ainda obcecado com o Um Anel? – perguntou Dain – já foi dito que aquela coisa está enterrada nas Montanhas da Névoa.

— E se não estiver? E se alguém o houver tomado a Gollum? Muitas coisas malignas têm acontecido, nestes últimos anos... Como saber quais delas não seriam causadas pelo Um Anel? Pelo que sabemos, ele pode muito bem estar passeando por aí, no dedo de um comerciante rico que sequer tenha ideia do que realmente carrega.

— O que o barqueiro diz é sensato – concordou Thranduil – enviarei meus caçadores ao encalço da criatura-Gollum; de qualquer modo, o Inimigo poderia ter a mesma ideia, então devemos nos antecipar. – ele encarou Legolas – aceitaria esta missão, meu filho?

— Guiarei os caçadores na busca por Gollum, meu senhor e pai. – anuiu o príncipe. Parece que acabara de descobrir para onde ir.

— Devemos ficar de olho nos movimentos do Inimigo. Qualquer sinal de despertar, qualquer ato beligerante deve imediatamente ser informado a toda a Terra-Média. – declarou Amandil, olhando fixamente para cada um dos presentes – independente de rivalidades ou lutas internas. A despeito de toda a desconfiança, todos se reuniram aqui, hoje, e este é o espírito que deve permanecer. Qualquer ameaça deve ser imediatamente relatada a todos os outros povos – e para Bilbo – incluindo para os hobbits.

— Melhor deixar meu povo de fora. – respondeu o halfling – não são guerreiros, e entrariam em pânico se soubessem que o mundo não é o lugar pacífico que pensam ser. Mas de minha parte, ficarei de ouvidos atentos: passam mercadores e viajantes pelo Condado e, se ouvir qualquer coisa de interessante, enviarei um pássaro a Amandil.

— Que prova teremos de que os elfos nos avisarão, quando o momento chegar? – perguntou Dain – com os humanos mantemos comércio, mas os elfos? Que provas temos de sua boa vontade? Só querem desgraça para minha gente!

— Não aprenderam nada com a batalha que se travou? – perguntou Gandalf – não importa se confiam ou não uns nos outros, precisam trabalhar juntos. O Inimigo é muito poderoso, e astuto. Pode se espreitar sob nossos olhos, e ainda assim não percebermos o que se passa. Ou se unem, ou cairão ante as hostes do inimigo.

Um silêncio pesado caiu sobre a sala. Dain e Thranduil trocaram olhares hostis, antes que Saruman quebrasse o silêncio:

— Cada povo deve manter-se atento ao que acontece em suas terras, e nas cercanias. Independente de ser esta ou não sua vontade, tratarão de avisar aos demais, em caso de qualquer evento inesperado. Eu mesmo manterei vigilância sobre as terras dos homens, Rohan e Gondor, e mesmo sobre a Terra Negra.

— E o que devemos fazer, enquanto nada ocorre? – indagou Bard, preocupado com sua gente.

— Preparem-se – respondeu Gandalf – preparem-se, pois uma grande guerra vem por aí, e só o que podemos fazer é adiá-la. Agora, sombras de guerra pairam sobre nós.


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Notas finais do capítulo

E então? Espero que o capítulo tenha ficado a contento, queridos!
Beijos enormes a todos, e até o próximo cap.
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