Amandil - Sombras da Guerra escrita por Elvish Song


Capítulo 22
Traição


Notas iniciais do capítulo

Ok, meninas! Aqui a Amálië vai aprontar, já tenho dito, só para não dizerem que não avisei, depois. Nosso trio fazendo o possível para deter as forças de Gundabad, e emoções fortes pela frente. Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/635840/chapter/22

Após um longo percurso através das escarpas rochosas, o trio se viu à beira de um alto penhasco. O Passo do Corvo não estava longe, mas seria quase impossível chegarem até lá, sem ajuda, pois as primeiras linhas do exército inimigo já avançavam pelos caminhos das montanhas. Orcs mercenários ululavam ao longe, e revoadas de morcegos de guerra planavam acima, apenas aguardando o sinal para avançar.

– Maldição! – praguejou Amandil, curvando-se sobre a borda do despenhadeiro – Eles são muitos. Vou desmoronar o Gargalo – tratava-se do único caminho livre até a cidade, a partir daquele ponto - deve atrasá-los, mas não vai detê-los para sempre.

– Se usar um encantamento para isso, Amandil, vai drenar suas forças! – protestou Legolas – não pode se enfraquecer assim.

– Não posso é deixar essa armada chegar até Dale e Erebor! – respondeu ela, calando seu príncipe com um beijo, o que fez Tauriel virar o rosto para outro lado, revirando os olhos. – Confie em mim, meu amor.

Legolas anuiu, e beijou sua amada de volta; foi a voz de Tauriel que os interrompeu:

– Hey, favos de mel! Não quero atrapalhar nada, mas estamos numa batalha! – e apontou para o horizonte – Vi algumas bestas de guerra na trilha para o Passo. Podemos usá-las para atacar as tropas.

Legolas olhou para a irmã, arqueando sugestivamente as sobrancelhas, e fez a última coisa que Amandil esperava: atirou-se do penhasco, direto sobre o dorso de um dos morcegos gigantes, que se pôs em loucos rodopios para tentar derrubar seu inesperado cavaleiro. De algum modo, porém, o guerreiro conseguiu acalmar a besta, e submetê-la; controlando com dificuldade o perigoso animal, gritou para Tauriel:

– Vamos logo! – e virou sua cavalgadura em direção ao Passo. Amandil meneou a cabeça em reprovação:

– Ele é completamente louco!

– Vou atrás dele – declarou a ruiva, mas foi impedida pela outra elfa:

– Não. Legolas sabe se cuidar sozinho. Você precisa encontrar Kili, e avisá-lo do exército. Tire-o, e aos outros, de lá. Tenho de voltar e fechar o Gargalo, mas vou ao seu encontro assim que o fizer.

Concordando, a elfa ruiva imitou o que seu irmão fizera, deixando-se cair sobre as costas de um dos morcegos de guerra. Como Legolas domara aquele bicho?! Ela o sentia revirando-se, tentando arranhá-la, arrancá-la de suas costas, tão enlouquecido que mal se sustentava no ar! Irritada com a besta, a elfa lhe agarrou as orelhas sensíveis e as puxou:

– Pare com isso e voe direito! – com um uivo de dor, o animal se endireitou e seguiu na direção desejada pela elfa. Enquanto isso, a princesa de Lothlorien voltava atrás no caminho já percorrido, tentando alcançar logo a passagem que o exército inimigo utilizaria. Esperava chegar a tempo de impedir!

*

O desfiladeiro se abria diante da guerreira, com enormes pináculos a se projetar de suas profundezas como uma boca voraz e cheia de dentes. Por graça dos Valar, as tropas inimigas não haviam ainda chegado até o Gargalo, mas isso não tardaria a ocorrer.

Abaixando-se na rocha coberta por neve fresca, Amandil tocou o chão e fechou os olhos; ignorando tudo ao seu redor, concentrou-se em sentir a pedra sob si, encontrar seus pontos de fragilidade, suas falhas e trincas naturais. Precisava encontrar uma falha grande o bastante, e direcionar contra ela o fluxo de energia, a fim de fraturar a rocha e provocar o desmoronamento da parede. Uma vez que lançasse o encanto, porém, teria poucos segundos para escapar dali, antes que tudo viesse abaixo... Não era seu melhor plano, mas era o único que tinha.

Após alguns minutos de busca, encontrou enfim o que procurava: uma falha onde a parede era frágil, truncada, e acabaria se quebrando naturalmente, com o tempo. Bastaria uma força mínima para provocar a ruptura daquele ponto! Assim sendo, já com o som dos tambores inimigos em seus ouvidos aguçados, Amandil iniciou seu feitiço. Concentrando toda a sua atenção e força na pedra, deixou que a energia se acumulasse dentro de si, perceptível na forma de uma intensa pressão em seu peito. Energia pura que, de uma só vez, foi liberada como movimento: sem calor, sem luz, nada que pusesse a perder uma gota sequer da preciosa energia. Um barulho surdo se fez ouvir quando o encantamento foi liberado, e a onda de impacto varreu a neve num raio de mais de cem metros!

Apenas o silêncio tenso da espera se seguiu por longos segundos, enquanto a moça – bastante cansada pelo que acabara de fazer – ouvia atentamente, para descobrir se funcionara. A resposta veio no estalar das pedras, que começaram a se partir e rachar uma após a outra, soltando-se de suas bases. Metade da parede viria abaixo nos próximos instantes, e agora, a moça precisava sair dali!

Ela disparou encosta acima, buscando os lugares onde a pedra era mais firmemente escorada, mais sólida, tentando encontrar um ponto seguro para ficar. Não era fácil, pois o chão estremecia sob seus pés, as rochas se soltando, tornando difícil a corrida, mas não podia parar! Com uma pontada de pânico, percebeu que o chão sob si começava a se partir, e redobrou a velocidade; no instante em que toda a plataforma onde a moça estivera finalmente ruiu, um salto desesperado a colocou em terreno firme, agarrada à beira de uma escarpa de pedras cortantes. Suas mãos sangraram ao escorregar nas bordas, os pés pendendo sobre o vazio enquanto toneladas de montanha desabavam centenas de metros abaixo, bloqueando totalmente a passagem do Gargalo.

Ignorando a dor nas mãos, Amandil escalou a parede à qual se segurava, até encontrar chão firme outra vez; passara muito perto de morrer, desta vez... Mas obtivera sucesso! Um sorriso vitorioso espalhou-se por seu rosto, antes que a jovem se pusesse a procurar a trilha até Passo do Corvo. Silenciosamente, rezou para que Legolas e Tauriel estivessem bem.

*

Após matar mais um tenente orc, a princesa de Lórien subiu a íngreme escadaria numa corrida frenética: onde estavam seu noivo e sua amiga?! Onde estavam Fili, Kili e os demais? Ela encontrara vários grupos de orcs, e deixara atrás de si um rastro de cadáveres, mas não via nem sinal de vida daqueles a quem procurava!

Um grito feminino, porém, chamou a atenção da elfa: era um grito de dor, de raiva, um grito de desafio, acima de tudo. De imediato reconhecendo a voz de sua irmã de armas, a moça chamou:

– Tauriel! – só o vento respondia a seu chamado – Tauriel!

Sem receber resposta, a princesa correu na direção de onde viera o grito; subindo a montanha, adentrou as ruínas do velho forte, subindo as escadarias a passos rápidos. Onde estava Tauriel?! Havia um rastro de orcs mortos, o que indicava a presença da capitã, mas isso era tudo.

Com todos os sentidos alertas, ela percebeu de antemão um movimento nas sombras; rápida como um raio, esquivou-se ao golpe que mirava sua cabeça, e decepou a mão do inimigo que a atacara. O orc caiu com um guincho, antes de ser decapitado por um golpe veloz. Como se obedecendo a um sinal, vários outros saíram das sombras, atacando a jovem; e um após o outro, todos eles caíram diante da espada veloz da filha de Galadriel.

– Estúpidos! – praguejou a elfa, seguindo adiante em sua procura.

A dama subiu outro lance de escadas, que a conduziu a um túnel particularmente escuro, que parecia levar ao exterior da montanha, novamente. Percebendo outra movimentação pouco à frente, já estava preparada para outro confronto quando, para sua surpresa, reconheceu a figura como sendo a de Amálië.

– Amálië! – exclamou – o que está fazendo aqui?!

– Provavelmente, o mesmo que você. – respondeu a Guardiã das Fronteiras – Thranduil me mandou buscar você, Legolas e Tauriel.

Embora não gostasse da capitã, Amandil sentiu-se agradecida por ter a companhia de outro elfo consigo; além disso, sua rivalidade era algo relativamente recente, uma vez que a ela loura, exímia esgrimista como era, fora a professora de armas da jovem. Em combate, ela não poderia pedir melhor aliada!

– Escutei o grito de Tauriel. Onde ela está? – perguntou a princesa, angustiada.

– Parecia vir lá de fora. Estava descendo para cá, quando encontrei você.

Sem nada dizer, Amandil seguiu adiante no túnel, buscando o exterior; o que teria acontecido a sua irmã de armas? Estaria ferida?! A preocupação apertava-lhe o peito como uma garra de aço, forte demais para que a dama pudesse perceber o brilho maldoso nos olhos da outra elfa.

Ao contornar a última curva da escura passagem, ela divisou o exterior coberto de neve que era a escarpa da montanha; uma plataforma relativamente plana se abria no fim do túnel, cercada pelos paredões de pedra e, no meio dela, estava Tauriel: caída no chão, tinha sangue a escorrer de um ferimento na cabeça, e outro no lado do corpo. Estava tão pálida! Não! O que acontecera?! Ignorando qualquer prudência ou preocupação com a própria segurança, a princesa de Lothlorien correu até a ruiva, deixando cair sua espada ao se ajoelhar ao lado dela:

– Tauriel! Tauriel, fale comigo! – seu coração se aliviou quando os olhos verdes da outra se abriram, mas a capitã entrou em pânico ao ver a amiga:

– Amandil, saia daqui! É uma armadilha! – o tempo que ela levou para dizer estas palavras foi o suficiente para que um golpe de maça descesse contra Amandil, que mal teve tempo de rolar para o lado, evitando por pouco ser esmagada. Pega de surpresa, percebeu que cometera a tolice de rolar para longe da própria espada, e agora Bolg, filho de Azog, postava-se entre ela e Maranwër. E como enfrentar um orc tão colossal, armada apenas de facas?! Para seu alívio, ela viu Amálië surgir na boca do túnel, e gritou para a outra:

– Amálië! Jogue-me minha espada! – outro golpe de maça tentou acertá-la, errando por poucos centímetros, enquanto a elfa loura caminhava até Maranwër e a pegava do chão. Contudo, em vez de lançar a arma para a ex-aluna, a capitã apenas sorriu friamente e, dirigindo-se à moça, falou:

– vou chorar sobre seu cadáver, princesa. – e assim dizendo, virou as costas e retornou pelo mesmo caminho de onde viera. A estratégia da Guardiã era simples: deixar que Bolg matasse Amandil e Tauriel, para então ela mesma matar a besta. Depois iria ao encontro de Legolas, e o levaria ao seu rei, dizendo que as moças já se encontravam lá... Só teria de realizar uma encenação convincente o bastante, para fazer crer que havia encontrado as jovens e as enviado de volta a Dale, antes que o comandante orc as matasse na encosta da montanha. Com um sorriso satisfeito, deixou Maranwër cair ao chão, esquecida na escuridão, um brilho pálido a se soltar da lâmina de Gondolin. De uma só vez, a Guardiã se livrava da rival em seu amor pelo rei, e da incômoda princesa/capitã, que jamais fora capaz de cumprir uma única regra que fosse. O Reino da Floresta estaria melhor, sem ambas.

Enquanto isso, na plataforma rochosa, a guerreira de cabelos castanhos enfrentava, armada apenas com facas, um oponente com duas vezes o seu tamanho, e sabia-se lá quantas vezes a sua força! Ela mal conseguia escapar aos golpes de Bolg, e suas acutiladas pareciam sequer fazer mossa na pele grossa do orc! Acertar-lhe o olho era virtualmente impossível, e ela reconheceu que estava em muitos maus lençóis! Maldita Amálië! Caçaria aquela cretina pessoalmente, e a esfolaria viva, se sobrevivesse àquilo!

Cansando-se do jogo com sua presa, Bolg largou a maça: ia matar a elfa com suas próprias mãos! Enfurecido com a irritante guerreira, que já devia ter tombado, avançou contra ela, que saltou para longe como um coelho esquivo.

– Pare de fugir, e enfrente-me, elfa! – desafiou o orc, desferindo um soco de cima para baixo que errou a dama por poucos milímetros. Ela cravou a faca no punho do inimigo, fazendo-o urrar de dor, e saltou para longe dele outra vez. Agora, contudo, estava armada com apenas uma faca... Péssima ideia!

A luta se tornou realmente desigual: a mulher lutava com apenas uma faca contra o inimigo de pele blindada e força igual à de um touro furioso. Ele investiu uma segunda vez, e desta vez suas mãos se fecharam no braço esquerdo da elfa; com apenas um movimento, ele a arremessou contra a parede, e investiu ainda outra vez, golpeando a guerreira nas costas; ela sentiu três costelas se partirem, e caiu pesadamente no chão, com o soco. Era como ser atropelada por uma besta de guerra!

Forçando-se a se erguer, ela sentiu as mãos do inimigo se fecharem em seus ombros; ignorando a dor lancinante na lateral do corpo, golpeou os antebraços de Bolg com a faca, abrindo rasgos fundos no couro da fera que, contudo, sequer fez menção de soltá-la. Os pés da princesa saíram do chão enquanto ele a erguia, esmagando-a lentamente contra a parede de pedras. Os chutes de Amandil eram completamente inócuos, ante a força de seu inimigo.

De repente, contudo, uma lâmina brilhou ao acertar o flanco do orc que, surpreso e ferido, deixou cair sua presa e se voltou contra o novo inimigo: tratava-se de Tauriel que, mesmo ferida e sangrando, erguera-se e tinha a espada em riste para enfrentar o orc que quase a matara. Agora, ele tinha duas adversárias para enfrentar. Ótimo! Já estava entediado de assassinar elfos, sem nenhum desafio!

Bolg atacou Tauriel com socos que, se acertassem o alvo, seriam mortais. Suas mãos enormes tentavam agarrar a veloz capitã, que fugia ao inimigo com giros rápidos e contragolpes curtos. Certamente não seria o bastante para mata-lo, mas deu a Amandil tempo suficiente para tomar uma lança a um dos orcs mortos à entrada do túnel, e voltar depressa em socorro da princesa de Mirkwood. Mas não foi rápida o bastante: o punho do enorme adversário acertou a guerreira ruiva na clavícula, derrubando-a outra vez. Com um grito de desespero, Amandil arremessou a lança contra a fera, satisfeita ao ver a ponta de metal se enterrar nas costas de seu inimigo.

Enquanto Bolg se retorcia de ódio e dor, tentando arrancar a lança do próprio corpo, a dama de Lórien correu até a irmã de armas, ajudando-a a se erguer: Tauriel sangrava profusamente de mais um ferimento, o ombro claramente quebrado pelo golpe sofrido, mas não estava totalmente inconsciente.

– Amandil – gemeu ela – saia daqui. Deixe-me, e fuja.

– O golpe na cabeça tirou seu bom-senso? Não vou abandonar você! – exclamou a morena, amparando a amiga. Bolg finalmente arrancara a lança da própria carne, e agora avançava lentamente em direção às duas mulheres:

– E agora, elfas? Vão fazer o que? – ele riu ao ver as moças encurraladas entre a própria figura e o abismo à sua frente – parece que acabaram os planos.

Sabendo que usar magia era uma questão de sobrevivência – embora, provavelmente, fosse enfraquecê-la ainda mais, e deixá-la sem condições de lutar – a moça mais nova sentou a irmã no chão e, orgulhosa, encarou seu oponente: sua pele emanava luz branca, e os olhos azuis ardiam com chamas avermelhadas. A imagem surpreendente e assustadora parou o orc por alguns segundos, antes que ele aceitasse aquele novo e interessante desafio. Com um grito que antecipava sua vitória, ele golpeou com a lança, sem esperar o que se passou: a elfa agarrou o cabo da arma com ambas as mãos e, por mais força que Bolg fizesse, sequer conseguia mover o objeto, que se retorceu e desintegrou nas mãos da mulher.

Cansada daquele jogo, Amandil se adiantou, pronta para matar o inimigo, quando seus olhos pousaram na figura recém-chegada: armado com Orcrist e Maranwër, Legolas se aproximou pelas costas do orc, lançando à jovem um olhar que lhe dizia para não gastar sua preciosa energia com o monstro. Ela poderia ser necessária em outra ocasião.

O que se seguiu foi quase rápido demais para que o orc sequer compreendesse o que se passava: Legolas arremessou Maranwër para Amandil, que golpeou o filho de Azog com sua lâmina, na altura do ventre. Entretido na luta contra a moça de pele luminosa, o comandante não viu o elfo que se aproximava por trás de si; antes que percebesse de onde vinha o real perigo, Orcrist atravessou-lhe o corpo, projetando-se do peito do orc. Por breves segundos ele fitou a lâmina brilhante que se projetava de seu corpo, antes de amolecer e cair para frente, morto.

– Fende-Orc – brincou Amandil, aliviada como não se sentia há algum tempo ao sentir os braços de Legolas a envolverem, e os lábios dele pousarem brevemente sobre os seus. Imediatamente, porém, tratou de se recompor, e voltou-se para a amiga ferida – Tauriel!

Ao ver a irmã tão machucada, Legolas correu para ela, preocupado:

– Irmã... – a elfa se erguia com dificuldade, no que foi ajudada pelo príncipe. Sem ligar para os próprios ferimentos, ela gemeu:

– Kili – a careta do elfo ao ouvir o nome do anão foi ignorada pela elfa mais velha – Estava ferido... Preciso encontra-lo! – e assim dizendo, soltou-se dos braços do irmão e caminhou em passos vacilantes para as escadas externas do Passo do Corvo. Legolas e Amandil a seguiram, preocupados que, a qualquer segundo, a mulher não pudesse sustentar-se mais sobre as próprias pernas.

Tauriel, porém, era a orgulhosa filha de Thranduil, com uma vontade mais forte do que qualquer um podia imaginar; seus passos a levaram por conta própria montanha acima, até a torre do forte destruído. Assim que venceu o último lance, uma exclamação de desespero escapou de seus lábios, e ela se deixou cair de joelhos no chão, ao lado do corpo inerte de Kili, que tinha a perna direita praticamente separada do corpo, na altura do joelho. O flanco apresentava um corte grande, e a respiração dele estava tão curta e fraca que mal era perceptível.

– Kili! – a capitã rasgou depressa uma tira do próprio casaco, pressionando a hemorragia na perna do guerreiro, enquanto Legolas e Amandil a alcançavam – Kili, por favor, fique comigo! – ela segurou a mão do moço e beijou-lhe os lábios, em pranto – por favor, meu amor, fique comigo!

Reagindo às palavras da ruiva, o jovem se esforçou para falar:

– Tauriel... – ele apertou debilmente a mão que segurava a sua – estamos mortos?

– Não, meleth nín. E você não vai morrer! Não vai me deixar! – fraca como estava, a capitã tentou evocar um encantamento de cura, mas não obteve sucesso; não tinha forças para tanto. Nesse instante, porém, sentiu a mão de Amandil em seu ombro são, e ouviu a voz da amiga:

– Deixe-me fazer isso, Tauriel. Eu posso salvá-lo. – e ante a anuência da outra, abaixou-se ao lado do amigo agonizante. Este, ao perceber quem estava junto a si, falou:

– Não, Amandil! Thorin... – ele usava todas as forças para pronunciar aquelas poucas palavras – ele precisa de você...

– Então irei até ele, depois de salvá-lo, meu amigo. – com essas palavras, a princesa de Lórien pousou a mão esquerda sobre a perna esmagada do anão e, pronunciando palavras numa língua mais antiga que o Quenya, cujo significado era obscuro a Legolas e Tauriel, deixou que sua força vital fluísse para o guerreiro. Aquilo drenou muito de suas já escassas forças, enquanto obrigava o sangue a parar de verter e fornecia a Kili a energia de que precisaria para se manter vivo, até receber melhor tratamento. Era apenas uma medida de emergência, que devolveu um pouco de cor às faces pálidas dele, e tornou seu pulso e respiração fortes e regulares.

Vendo a melhora muito clara do amigo, Amandil se levantou, sentindo uma forte vertigem; percebendo a fraqueza dela, Legolas a amparou, mas logo a moça se desvencilhou aos braços fortes de seu amado, e se dirigiu à capitã:

– Cuide de Kili. Eu preciso encontrar Thorin. – e voltando-se para o príncipe – vem comigo?

– Até o Abismo, se me pedir. – declarou o moço, acompanhando sua noiva na subida em direção ao planalto gelado, à beira do rio. Não compreendia a lealdade dela para com aqueles anões, mas não a censuraria: admirava aquela qualidade em sua futura esposa, aquela força que a fazia ir até o fim, sem se importar com o que tivesse de sacrificar, apenas cumprindo o que sabia ser o certo. A ele, pouco importava a sorte de Escudo de Carvalho, mas se isso era importante para Amandil, então passava a ser, também, para o príncipe da floresta.

A própria Amandil não compreendia por que ainda ajudava Escudo de Carvalho; depois do que ele fizera, já não sentia nenhuma amizade pelo anão, mas sabia, de algum modo não racional, que era o certo a ser feito. Assim sendo, não lutou contra aquela certeza instintiva, e apenas seguiu adiante para cumprir seu papel.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? Quem está planejando um fim doloroso para Amálië?! o/ (ihhh, me entreguei!)
Amandil e seu modo de agir, nunca se preocupando com as próprias emoções, confiando apenas neste instinto que a guia... Mas que aí ainda se lembra da maldição que ela lançou sobre Escudo de Carvalho? Certamente, a maldição da Filha das Estrelas não será inócua. Espero que tenham gostado, e que continuem gostando dos próximos capítulos.
beijos grandes



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Amandil - Sombras da Guerra" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.