(Música)

Lentamente, Thalia abriu os olhos. Não conseguia enxergar muita coisa, apenas poucos metros além de si mesma. Ouviu, distante, alguém chamar seu nome. Ela reconhecia aquela voz. Nico. As lembranças voltaram à sua cabeça, Nico beijando a garota loira, ela correndo, uma pancada forte e depois o nada.

Sentiu Nico soltar sua mão e passar em sua testa carinhosamente. Tudo o que ela conseguia ver do bonito garoto era seu cabelo negro. Ela queria vê-lo melhor, seu belo rosto, seus olhos exóticos.

"Thalia" chamou mais uma vez. Ela sentiu-o acariciando seu cabelo. Era uma sensação maravilhosa. O garoto chegou mais perto e ela pôde vê-lo melhor. Seus olhos negros tinham grandes olheiras embaixo, sua pele estava mais pálida que o normal e seus lábios tremiam.

Ver Nico naquele estado trouxe lágrimas aos seus olhos. Ele olhava para ela com tanto carinho que Thalia achou-se uma tola por acreditar que os sentimentos dele não eram reais. Tudo aquilo era culpa somente dela. Fora ela quem partira o coração dele, em primeiro lugar, e o garoto tinha todo o direito de tentar recomeçar novamente, afinal, ela não fez nada para que ele ficasse em meses. Estava tão brava consigo mesma!

Se lembrou, então, do que queria dizer à ele quando o procurou. Ela queria dizer aquilo, e, mesmo que ele a rejeitasse, ela precisava que ele soubesse.

"Nico" Pronunciou, mal ouvindo suas próprias palavras. O garoto deu um beijo em sua testa e a pediu para que não falasse, mas Thalia não iria se calar. Passara tanto tempo sem dizer isso, agora precisava fazê-lo. "Eu amo você, Nico."

A expressão de surpresa do garoto fora tão engraçada que, se a situação fosse outra, ela teria rido. Quem sabe, algum dia olhasse para trás e realmente risse daquilo? Não, passara muito tempo alimentando sonhos bobos. Sabia que sua vida estava no fim, sentia isso.

O garoto sorriu triste e a olhou, os olhos mais lindos que Thalia já vira, carregados de dor. Ele deu um breve selinho nela.

"Deveria ter me dito antes." Disse, uma lágrima caindo de seu olho. "Nós teríamos evitado tanta coisa!"

Ela sorriu, ou tentou, mas doía se movimentar. Nico ainda acariciava seus cabelos. Mais lágrimas vieram aos olhos da garota e, para acalmá-la, o menino preocupado cantou uma canção em italiano. Leve com si mesma, e sentindo o efeito das ações de Nico, logo ela pegou em um sono gostoso.

E as semanas se passaram assim, a visão e audição de Thalia piorando cada vez mais. Nico ficava com ela noite e dia, se recusava a sair de seu lado, e a garota era grata a ele por isso. Apesar de tudo, estava assustada com tudo o que estava acontecendo.

Em um dia, quando ele cantava uma canção muito bonita para ela, a garota arriscou-se a falar, pela primeira vez desde o dia que acordara.

"Eu vou morrer?" Perguntou. O garoto, que se surpreendeu, parou seu canto e deu-lhe um beijo na testa.

"Algum dia, vai, todos morrem." Respondeu, calmo. À essa altura, ela já não enxergava mais nada se não a escuridão, por isso, não conseguia ver a expressão de seu amado. "Mas ainda vai demorar."

Thalia sorriu, embora soubesse que não era verdade. Seu corpo, cada vez mais fraco, lhe dizia exatamente o contrário. E, cada vez mais, ela sentia a morte próxima. Mesmo assim, lutava com todas as suas forças para sobreviver, para estar com Nico. Ela queria poder vê-lo uma vez mais, já que as lembranças de seu rosto estavam embaçadas. Cada vez mais, a memória da garota falhava, até o ponto de se esquecer quase tudo sobre sua vida, mas nunca esquecendo-se do amado italiano.

Até que, um dia, quando ela já pedia à Deus para que a tortura parasse, porque ela não aguentava mais lutar uma luta perdida, seu corpo fez-se leve. A escuridão se tornou uma linda luz, e, em meio à ela, o rosto de Nico apareceu, lívido. O coração da garota se alegrou, ela pôde vê-lo uma vez mais, afinal.

E, pedindo desculpas ao garoto mentalmente, deixou-se levar pela luz e pelo sorriso sorridente do garoto, que, na realidade, chorava compulsivamente.

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O coração de Nico parou quando os bipes da máquina ligada à Thalia pararam e deram lugar ao pior som que ele já ouvira. A garota já não respirava mais, seu coração não batia. Logo, entraram médicos apressados na sala e o tiraram dali. Pôde ouvi-los tentando trazê-la de volta a vida, mas, dentro de seu coração, ele já sabia que ela não iria voltar.

Sua Thalia, sua frágil Thalia. Estava morta apenas por causa dele. Se não fosse tão estúpido e não desistisse dela, nada disso estaria acontecendo. Chutou uma lata de lixo, canalizando toda sua raiva para o objeto inanimado. Entrara em um estado onde seu lado racional já não conseguia pensar. Não parou nem quando alguém o segurou, apenas quando alguém injetou uma injeção em suas costas. Lentamente, seu corpo foi amolecendo, até que quase caiu no chão, seu rosto molhado pelas lágrimas.