Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 94
Capítulo 94. Teorizando a vida


Notas iniciais do capítulo

Olha eu toda atrasada! Mas ao menos o 95 tá pronto tb, não q eu va postar... Enfim.



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Capítulo 94. Teorizando a vida

Paul Dolman morreu.

Sim, nós não colocamos “nota de falecimento” ou alguma entrada poética para um artigo cheio de sarcasmo, ainda mais que essa é uma notícia bem velha já... De ontem!

Nada de flâmulas negras, nem discurso no Salão, mas todos já sabem da morte de Dolman, as fofocas se arrastam como pólvora em uma escola cuja a perda da sobrancelha esquerda de um quintanista na aula de Poções é a coisa mais animada em dias.

Então por que estamos falando de um assunto morto, com o perdão do trocadilho?

Bem, Paul Dolman, 19 anos, sonserino, ex-capitão de um time de Quadribol, monitor chefe e um dos alunos que foram expulsos por jogar o nome de Hogwarts na lama, foi assunto da nossa primeira edição há mais de um ano e ainda lembramos muito bem o que dissemos naquela época em que divulgamos seu esquema de uso de poções no nosso campeonato: não julguem.

Nós supomos que aquilo - conselho, pedido, imploro, jamais ordem - nunca tenha feito tanto sentido quanto faz agora. 

Vocês acreditam que ele apareceu, um pouco antes de seu velório, na forma de fantasma? Um fantasma confuso e violento - geralmente leva um tempo para eles perceberem o que aconteceu - mas que sumiu em apenas algumas horas, assim soubemos.

Um fim bem triste, na nossa humilde opinião.

Mas sabe o que mais nos chamou atenção nisso tudo, sendo este o principal motivo para escrevermos essa edição? A família dele chamou um “spectrumologista” para cuidar dele, que nada mais é do que um bruxo que ajuda os fantasmas a fazerem a passagem - mediante a um pequeno pagamento, porque tirar a dor de uma alma atormentada não tem preço, mas o resto das coisas sim  - sendo que em vida, Paul Dolman não pisava os pés em casa há  três meses.

E não por vontade própria. 

Se estão se perguntando como sabemos tanto, vão ficar querendo saber! Porque a única pesquisa que vamos revelar que perdemos tempo fazendo foi para descobrir quantas profissões bruxas ajudam as pessoas a resolver suas pendências e amarrações emocionais ainda em vida: e o número é zero, surpresa, surpresa.

Ok, a gente admite, existe um projeto piloto sendo implantado no QG dos aurores, grupos focais para conversar e aprender a lidar com traumas e perdas em batalha, mas esse é um projeto embrionário, implantado na atual gestão de Harry Potter, mas daqui que chegue até nós...

Que os trouxas teriam muito a se beneficiar com a magia, isso não temos dúvidas, mas ao menos temos que dar o crédito que eles tem estudos, profissionais, remédios e até mesmo um nome para aquela força devastadora que vem em forma de letargia e/ou impotência e simplesmente te faz se perguntar se realmente vale a pena viver: depressão. 

“Ah, iconoclastas, nós sabemos o que é depressão, todo mundo sente uma grande tristeza na vida, vez ou outra. Deixem de drama!”

Bem, o julgamento feroz que pedimos para não ocorrer na primeira edição, o isolamento, a perda de coisas importantes, até mesmo desequilíbrios do próprio corpo - que fazem a pessoa cair em um ciclo perigoso de apatia - algumas vezes com crises de raiva, desesperança e/ou falta de energia NÃO é uma simples tristeza! 

Então agora vamos falar com cada um de vocês:

Ficar nervoso (a) com uma prova, triste com um rompimento de namoro ou até mesmo com algo mais sério, como uma morte, faz parte da vida, são sentimentos naturais, que devem ser sentidos.

Mas se a qualquer momento você sentir que não está conseguindo lidar com isso sozinho (a) ou se notar que um amigo (a) ou colega está passando por isso, não hesite em pedir ajuda! Não é algo que passa sozinho, que dá para melhorar sozinho e não precisa ser vivido sozinho! Nós não somos especialistas nisso, mas realmente acreditamos que o problema deve ser ao menos exposto.

Porque já houve invisibilidade por tempo demais.

Alguns alunos de Hogwarts não conheceram Paul Dolman pessoalmente, mas aqueles que conheceram, dizem que ele era arrogante, agressivo e ambicioso além do limite, mas ele também era um de nós: caminhou por esses corredores com seus amigos, com seus sonhos, sentimentos e provavelmente viveu os melhores anos de sua vida aqui.

E morreu sozinho.

Tirou a própria vida sozinho.

E nós do Ocaso acreditamos que ninguém deve viver ou morrer assim. E você, o que acha?

Ass.: Iconoclastas.

***

John olhava para minha cara e eu para a dele, porque não fazíamos ideia de como responder aquela capivara cleptomaníaca do Samuel Aizemberg - um dos cinco alunos que decifraram o enigma do Ocaso. Larguei a pena e dei meu veredito.

— Ok, ele não parece um furão, está mais para uma capivara. - John me olhou incrédulo, então eu argumentei com mais ênfase. – Pensei que era um furão, por causa daquele jeitinho de quem furta coisa e não se arrepende, mas os dentes são de capivara.

— Não é isso que estamos discutindo! - Ele falou com raiva e eu fiz minha melhor cara de “não é?”. – Era pra você estar pensando em um jeito de convencer ele a não dar o nosso símbolo para o diretor!

— Mas eu pensei que vocês corvinais gostassem de chantagens... - Ele me olhou com cara de poucos amigos. – Ok, confesso, não sei o que dizer a ele! Acho que já passou da hora de devolvermos esse problema de escrever para as meninas, apesar de termos arrasado no nosso artigo sobre depressão!

— Pois é! Quem diria que somos almas tão sensíveis?   - John falou concordando comigo surpreso e eu sorri simpático. – Nem parece que foi escrito pela mesma pessoa que chamou o colega de casa de capivara...

— Argh, como você é chato! Me diz de novo porque não podemos publicar o texto de Aizemberg sobre o Circo de Pulgas que está em Hogsmeade? - John me olhou indignado e eu implorei com minha melhor carinha.  – Eu tenho até curiosidade de saber mais sobre isso...

— Cesc, qual seria a relevância disso para Hogwarts, pelo amor de Circe?- John falou bravo e eu continuei com minha cara de paisagem. – Já não bastasse estarmos sendo chantageados, ainda é para falar de um circo!

— Um circo orquestrado por Carl Dolus, o insectologista! Eu ouvi coisas muito boas sobre ele... - John cruzou os braços e eu sorri. – Vamos dizer sim para o meu ex e futuro vizinho de corredor! Fazer as coisas erradas às vezes nos poupa tempo e neurônios! 

— Uma das coisas você tem demais e a outra de menos. - Ele disse entediado e eu sorri. O corvinal descruzou os braços e me olhou como se tivesse acabado de pensar em algo engraçado. Só que John não tem senso de humor, já sabem. – Acho que posso abrir uma exceção: pode cobrir o circo de pulgas, se e somente se, você convidar seu namorado para ir com você! 

Fiz uma careta pra isso e John apenas me olhou divertido por sobre os oclinhos azuis de criatura esquisita dele. 

— E isso por quê? Quer ver ele dizendo para eu ir caçar pulgas em macaco ou algo assim? - Nós todos sabemos muito bem como Enrique é doce e gentil, não é? John deu de ombros.

— É mais porque eu acho realmente que está na hora de Dussel fazer algo no G.E.M.E. além de enfeitar... - Levantei uma sobrancelha pra isso, porque se tem alguém aqui com uma namorada enfeite - que quebraria meus dentes se me ouvisse dizendo isso em voz alta - é ele!

— Não seja escroto, Enrique tá sempre trazendo informações relevantes!  - Defendi meu namorado, porque só quem pode falar mal dele sou eu!

— Para de fazer drama! Quer escrever sobre o circo? Escreva! Mas você sabe que pelo menos duas pessoas tem que escrever os artigos e atualmente só tem nós dois de redatores e eu me recuso a prestar a esse papel. - Ele levantou da mesa de estudos, porque finalmente tinha dado nosso horário de aula. Iríamos ver Harry Potter, o grande “sobrevivido”, vivaaaaa! Aff. – Fora que seu namorado vai gostar de ver as pulgas... Ele gosta de você! 

— O que você quer dizer com isso? - Perguntei ofendido e John só deu aquele sorrisinho irritante de sabe-tudo dele.

— Quero dizer exatamente o que eu disse. - Ele falou, já saindo da Sala de estudos 2. Tenho que dizer que ele saiu sem fazer o que era suposto que fizéssemos ao nos reunir aqui? Pra que serve um Westhampton mesmo? Pra nada!

— Me chamou de pulga? - Levantei indignado atrás dele, chega minha mochila machucou minhas costas quando a coloquei de qualquer jeito.

— Agora você sabe como Aizemberg se sente quando você chama ele de capivara... - John falou ao meu lado e eu mandei pra ele meu pior olhar.

— Mas eu não falei isso na cara dele! - Me defendi, ainda que não devesse muito, porque eu já chamei aquele garoto estranho de coisa pior. Tipo compará-lo a seu homônimo mais bonito, no caso o inferius de Harry Potter.

— Não dessa vez. 

— Você é muito irritante. - John sorriu satisfeito e eu voltei a olhar para frente. – E essa conversa não tem nem pé nem cabeça! Vamos mudar de assunto? Vamos! O que achou do que eu falei da teoria de Lily das oscilações? Isso traz uma nova luz aos fatos, não? 

— Traz sim, mas eu tenho algo muito mais sério para falar, uma teoria que eu e Sharam descobrimos enquanto explorávamos Hogwarts, ouve só:

"Uma história velha como as fundações e fundadores dessa escola, a história do quinto criador de Hogwarts! Sim, meu caro, houve um quinto bruxo construindo esse castelo que hoje vemos ruir sobre nossas cabeças.

E agora você vai ficar definitivamente impactado, Cesc, porque o quinto fundador era também um segundo Sonserina e por favor, não interrompa o meu conto. O que eu estava dizendo? Não, não me interrompa:

Baltazar Sonserina, o camaleão, irmão caçula de Salazar, aquele que ajudou a construir o que hoje você chama de Casa. E sim, coitados, vocês precisaram de dois para fazer aquilo que todos fizeram com apenas uma pessoa."

— E por isso nossa casa é duas vezes melhor do que qualquer outra. - Falei arrogante e John franziu o nariz com minha interrupção.

— Ok, essa eu mereci. Mas continuando...

"Eu e Sharam nos debruçamos em uma caçada por evidências de que este homem realmente existiu e deixou marcas em Hogwarts e sabe o que descobrimos? Distinct, a quinta Casa.

Cesc, jovem trasgo espanhol, Sharam achou com aquelas habilidades dela de ver auras, um rastro de energia que literalmente pulsava verde e ouro por toda a escola, mas que era mais forte na Sonserina e você não vai acreditar no que achamos em um velho diário, sob uma pedra solta fragilizada pela força do lago na sala de vocês!

Não, não me interrompa, o mapa foi presente seu, você até colocou as senhas das Casas!

Encontramos uma profecia assinada por alguém que se identificou apenas como OLBY* -  um ser que não ficou claro se era garoto ou garota ou até mesmo humano - no diário e dizia mais ou menos assim:

No dia em que a Casa feita pelos dois irmãos acolher as crianças escolhidas pelos dois irmãos, a velha Hogwarts tal qual a conhecemos ruirá e Distinct se erguerá de suas cinzas, adaptável como a água da serpente, multável como o camaleão e completa como Hogwarts.

Eu sei, bem impressionante, não? E quando pesquisamos um pouco mais sobre a família Sonserina, descobrimos que Baltazar abandonou Hogwarts antes mesmo que Salazar - Merlin, essa família tem problemas com abandono - porque ele não concordava com o purismo do irmão, que não concordava com a falta de purismo dos outros fundadores.

Obviamente dois do contra, outra característica de família, suponho.

Enfim, vindo para o presente, quando o primeiro nascido-trouxa entrou na Sonserina, você, no caso, a profecia de Baltazar finalmente se cumpriu e agora só precisamos aguardar o surgimento de Distinct, cujos alunos são a união de tudo de melhor que há em Hogwarts!"

— Meu Merlin, John, isso é sério? Porque se for, você não devia ter demorado tanto tempo para me contar! - Falei eufórico, porque, puta merda, eu desencadeei uma profecia!

Nesse exato momento eu estava pulando com John e sorrindo feito um idiota na frente da sala de DCAT, com Harry não-mais-o-único-com-uma-profecia-foda Potter nos encarando assustado.

— Não contei porque é mentira e Sharam agora me deve 10 galeões. - John maneou a cabeça, me olhando com desprezo e eu o olhei como se, bem, como se ele tivesse destruído meu sonho de ser especial. Coisa que ele fez! – Maldição, não era para eu ganhar! Tirar dinheiro da namorada é tão errado... Droga, Cesc, por que você tinha que ser tão idiota?

— Meninos, por favor, entrem, estão atrapalhando a fila e me... Me assustando, vocês são muito esquisitos. - Harry Potter relinchou, enquanto ajeitava seus óculos redondos na cara.

— Por favor, treinador, que essa aula me dê uma oportunidade de me vingar de John aqui, porque senão eu vou tentar sem supervisão e vamos acabar, você sabe, com uma pessoa morta e Azkaban envolvida... - Eu disse muito, muito decepcionado. Potter olhou de mim para Westhampton com sua cara de lesado de sempre.

— Eu vou ver o que dar para fazer, agora entrem.

***

— Nós podemos repassar o plano outra vez? Porque eu estou meio nervoso... Não acredito que vocês me convenceram a fazer isso! - Scorp resmungou pela décima vez.

Isso porque já havíamos repassado o plano de vingança mais madura e cheio de nuances adultas e sem amadorismo que já tivemos o prazer de inventar na vida, dez vezes! Tracy que nos aguarde, vamos atingi-la no ponto fraco de qualquer corvinal!

Pensou que era contra John, né? Infelizmente não posso me vingar dele como ele merece, porque Louise disse que ele é "ohana", que quer dizer família, e Lilo e Stitch é simplesmente um dos meus desenhos favoritos, perdendo apenas para A Nova Onda do Imperador, porque aquele filme é todo meu.

Em resumo, Louise usou a palavra de segurança para eu não matar Westhampton. Golpe. Baixo. 

— Eu vou roubar as respostas, Cesc vai dar um jeito de fazer ela usar e você vai administrar a chantagem, pronto, satisfeito? - Tony latiu nosso plano de 3 partes sem um pingo de paciência e Scorp piscou confuso pela rapidez que ele usou. Eu só levantei uma sobrancelha pra isso, porque ainda estava pensando em como driblar o jogo sujo de Louise pra matar John. – Agora vamos focar no agora, porque a gente só vai fazer isso na outra semana!

—Em que “agora” você quer focar exatamente? Na aula de Savage e Lupin, a dupla dinâmica? - Perguntei, pouco interessado.

Nos encaminhávamos para as Masmorras, Scorp finalmente livre das garras da monstra, que foi resolver uma emergência com Anastácia Fritz, provavelmente algo relacionado com o zumbi Samuel - o morto, porque Aizemberg também parece com um zumbi - que passou por maus bocados na aula de ontem do superestimado herói do mundo bruxo.

— Não, dane-se as poções! Quero focar nos meus problemas com Rose e não, não ousem me olhar com essa cara, está tudo bem entre a gente, mas nós estamos com problemas, na verdade eu estou, porque ela parece não achar que temos um problema, mas eu acho... - Parei a verborragia de Tony com um gesto seco de mão e ele tomou fôlego, porque, coitado, estava visivelmente abalado.

Rose Weasley está destruindo meu amigo, fato.

— De que problemas estamos falando? - Perguntei simpático a causa, porque meu relacionamento pacífico de hoje tem ainda mais potencial destrutivo do que o de Tony, então ele pode ser eu amanhã! 

— Você é o cara perfeito para me responder isso, Cesc: o que fazer quando você namora com uma garota metida a certinha, que obviamente quer fazer o mesmo que você, mas fica dando para trás toda vez que você tenta ir para frente, se é que você me entende. - Tony falou daquele jeito esquisito dele e eu só fiz olhar para Scorp, porque, né, em que universo eu sou o melhor para responder isso?

— Eu e Claire não tínhamos esse tipo de relacionamento e... Como ousa nos dizer uma coisa dessas? Você é nosso ídolo! Se as coisas não estão dando certo pra você, a gente oficialmente pode desistir de tudo! - Falei exasperado, porque essa era a mais pura verdade

— Tony, você é o mais velho e mais experiente... Eu... Você já usou todos os seus truques e planos com ela? - Scorp perguntou meio em dúvida e então eu e ele aguardamos a resposta do nosso chefe do crime ansiosamente. O mundo precisa voltar para o eixo!

— Ontem eu sussurrei no ouvido dela: “você gosta de parecer com um solo de violino de veela da orquestra de Paris, mas na verdade é um solo de guitarra visceral dos Abutres do Tranco, daqueles que causam ataque cardíaco nos mais fracos!” - Nossa, estou apaixonado! Ele continuou. – Ela se derreteu toda e depois “ Ah, me lembrei que tenho que terminar de pontuar o artigo de Juliet no Hogs e...” ponham um monte de blablabla corrido e vocês vão ter exatamente o que eu tive!

— Essa mulher é feita do aço mais gélido do Styx! Como ela resistiu a um elogio desses? - Scorp perguntou chocado e não é para menos, Rose Weasley está resistindo a Tony Zabini! Mas importante do que o porquê é o COMO!

— O problema é todo esse, ela meio que não resiste, me deixa ir até bem longe, eu praticamente toquei tudo que ela não deixa meus olhos alcançarem, mas ela nunca me deixa sair disso e eu tô ficando muito estressado, tipo, não sei o que serão das minhas notas e tudo mais...

— Suas notas vão melhorar então, porque piorar não dá.  - Tony me olhou ofendido e eu revirei os olhos. Tá bom, tá bom, eu posso e vou fazer melhor do que isso. – Ok, Tony, quer a verdade? Rose provavelmente está insegura e você deveria tentar entender com o quê, pra ver se seu problema tem solução. 

— Como assim? - Tony perguntou, mas Scorp também fez cara de desentendido. Olhei pra ele questionador e ele jogou as mãos para cima, exasperado.

— O que isso quer dizer, Cesc? Porque eu namoro com Rebeca e ela não tem insegurança nenhuma, mas eu estou com o mesmo problema e diferente de você e Tony, eu não tenho experiência alguma pra me guiar! - Oh, tadinho. Mas ele tem que se lembrar que a experiência de Tony não tá ajudando em nada agora.

— O caso de Rebeca é bem diferente, ela pode até não se sentir pronta, mas ela gosta principalmente do poder sobre a gente. - Scorp me olhou confuso, depois bravo, provavelmente lembrando que eu já passei pelos “nãos” de Rebeca também. – Não se preocupe, vou mostrar umas coisas pra você no meu computador, o jogo é fazer ela querer mais você do que ela quer dominar você. 

— Você fala com tanta confiança... - Tony disse desdenhoso e eu fiz minha melhor cara de indignação, porque foi ele que pediu ajuda para começo de conversa! 

— Me desculpe, mas dos três namorados aqui, eu sou o único que não tem problemas com sexo! - Os dois olharam assustados para os lados, como se alguém estivesse mesmo interessado nas nossas vidas!

O povo tem mais o que fazer! Provavelmente não, mas ninguém nem parou para ouvir nossa conversa mais de perto, o que mostra que o mundo está mesmo se tornando um lugar melhor e mais decente!

— Mas isso porque você namora com um cara, o que é um zilhão de vezes mais fácil!  - Não acredito que já tive um bebê chorão desses como ídolo! 

— Para de idiotice, o problema de Rose é que ela é insegura, sempre foi e, desculpa te informar, mas provavelmente sempre será!  - Tony piscou surpreso, então eu continuei. – Se você continuar agindo como o fodão que você é e que a gente venera com ela, é bem possível que uma hora ela desista, não de você, mas dela e de todos os defeitos que ela acha que tem e que você vai odiar!

— Rose não é assim... Ela é a garota mais confiante que eu já conheci! - Tony defendeu a namorada, porque ele é um tapado.

— Ela confia na inteligência dela... Para de usar truque, porque ela deve perceber e ficar ainda mais intimidada, pensando com quantas garotas você fez isso. - Ele olhou para baixo, meio incomodado. Resmungou algo que eu quase não ouvi.

— Nem foram tantas assim, nem passei de dez...

— Vai se ferrar, Tony! Eu nem passei de zero! Vamos, Cesc e o meu problema? Qual é a resposta genérica, mas muito útil que você tem para mim? - Olhei o loiro mais platinado de Hogwarts e adjacências, com toda a superioridade que me é devida.

— Seu problema se chama Rebeca, minha criança. Você tem que aprender algumas coisas e Tony tem que desaprender outras e tenho dito. - Os dois me olharam bravinhos. – E agora vamos pocionizar um pouco, que infelizmente não é nem mais fácil, muito menos mais divertido do que resolver os problemas de vocês, mas é o que meus pais esperam que eu faça toda vez que me despacham no Expresso de Hogwarts. 

Obviamente não fiquei para ver as respostas agressivas e possivelmente injustas - tô só tentando ajudar! - dos meus melhores amigos, porque quanto mais cedo eu começasse a trabalhar na poção de hoje, mais cedo eu poderia fingir uma intoxicação para fugir daqui.

A velha sala de Poções continuava parecendo a mistura de uma piada ruim de bar e um laboratório de refinamento de drogas, só faltando mesmo a gente usar uma fardinha azul e máscara nas nossas ilhas de trabalho.

A chefe do esquema estava hoje com uma capa violeta e o cabelo em um penteado afro novo e até que bem maneiro para uma professora e seu fiel capanga continuava com suas vestes negras e discretas, bem diferente dos uniformes roxos dos aurores que deveria usar fora daqui.

Lupin estava meio debruçado na mesa da professora Savage, que explicava a ele o que quer que estivesse escrito no monte de pergaminhos em suas mãos. Nosso querido aprendiz de auror pocionista estava hoje com um cabelo castanho claro e olhos que não davam pra ver direito, mas que possivelmente eram do seu visual original, já que o faziam parecer bem normal.

Ele chegou a levantar o olhar rapidamente para ver os alunos que estavam entrando, mas parou para observar Albus e Rose, com o cenho franzido. Voltou a atenção quando Savage o encarou e perguntou alguma coisa.

— Olha, eu gosto muito da professora Savage, mas toda vez que eu entro nessa sala, eu sinto que morro um pouco por dentro. - Tony passou os dedos por cima da gravata, como se estivesse sofrendo de azia. O olhei sem pena, porque a maior parte dessa tragédia duas vezes na semana é culpa dele.

— Que tal hoje tentarmos fazer tudo certinho? - Disse sem forças, porque realmente estava cansado de me arrastar entre esses cadeirões. A gente sempre tenta um atalho e sempre acaba se dando além do mal: no péssimo! 

— Você acha que poderia fazer alguma diferença? - Ele me perguntou esperançoso, dei de ombros.

— Vamos tentar, porque não dá para ficar pior!

— Olha que dá... - Ele sussurrou pessimista, mas eu não dei atenção, porque Rebeca chegou esbaforida e sentou na carteira a nossa frente, do lado do namorado.

— Resolvido o problema de Samuel! Vou te dizer, Anastácia está apaixonada por esse inferius, só pode! - Ela enrolou o cabelo em seu tradicional coque de trabalho e depois se virou completamente na cadeira, para falar de frente para mim e Tony. – Pra ser sincera, isso faz dele o melhor pretendente dela desde sempre!

— E você diz isso porque ela é sua melhor amiga, imagina se não fosse... - Tony respondeu maldoso e Rebeca apenas lhe deu um sorriso sem dentes.

— Falo isso, bato a cabeça dela na parede, metaforicamente falando, claro, apenas porque a amo! - Oh, nossa! Que comovente... A monstra continuou, dessa vez sorrindo. – Nós garotas não temos culpa se essa safra de garotos de Hogwarts é uma porcaria... Olha para aquele Lupin ali, meu Merlin! E agora olha para vocês! 

— Suponho que eu seja a exceção a isso tudo.-  Scorp falou, enquanto folheava despreocupado o livro de poções, procurando onde havíamos parado na aula passada.

— Digamos que sim, mas somos muitas e você é só um! - Scorp levantou o olhar surpreso e Rebeca deu uma piscada marota para ele. Ainda bem que ela o está tratando melhor. – Mas olha só para Cesc, se vendendo barato para o primeiro herdeiro que aparece e Tony, que desceu até o subsolo pra pegar uma Weasley...

— Achei que fôssemos a regra e só Scorp a exceção.  - Tony disse divertido, nem se importando mais que Rebeca falasse assim de Rose. Chega uma hora que a gente desiste de salvar a alma da monstra. – Ou apenas o nosso suposto mal gosto nos tira de sua lista de exceções? 

— Pra você ver... Teria empurrado um de vocês para minha pobre amiga, mas vocês não colaboram! Só restou para Anastácia o pouco vivo Samuel. - Ela disse contemplativa, como se estivesse falando de algo muito importante.

Olhei para onde ela estava olhando e depois revirei os olhos, porque Rebeca só fala besteira, tô pra ver! A professora Savage chamou a atenção na frente da classe e a monstra piscou confusa, virando totalmente pra frente, para começar seu teatro de ser humano decente. 

E eu fiquei repetindo baixinho meu mantra da aula de hoje:

“ Vou fazer tudo direito, vou fazer tudo direito, vou fazer tudo direito.”

***

Para provar que estava mesmo comprometido com a aula, peguei até uma daquelas cestinhas de ingredientes ridículas, para poder fazer o supermercado no estoque com as coisas mais nojentas do mundo. 

Dessa vez fiz questão de pegar os primeiros e melhores “coisos”, ainda que alguns espertinhos tenham sido surpreendidos com minha pro atividade e agora tenham que lidar com porcarias velhas do fundo do armário. 

Azar o deles.

Lexa parecia ter tido a mesma ideia, já que se acotovelava com Sev para ver quem tinha direito a acessar primeiro a série de prateleiras do fundão do estoque, aquelas que tinham os melhores ingredientes.

Grifinórios...

— Vocês não tem dignidade não? Sai daí os dois, chega dessa agonia! - Tentei puxar Lexa com minha mão livre, enquanto Sev a empurrava pelas costas. Claro que deu merda e a ogra - que hoje estava de cabelo azul - empurrou o senhor Potter, o que presta menos, na estante, virando alguns frasquinhos no processo. 

Sev pegou um bem na hora que ele rolou para a pontinha da estante, o que quase fez meu coração parar dentro do peito!

— Olha o que vocês dois quase fizeram! Queria só ver quem ia repor essas tranqueiras depois... - Lexa disse, olhando entre mim e Sev, se eximindo da culpa.

— Você está vendo? Se tivesse caído fora quando eu disse, nada disso...

— Você não manda em mim, Potter! Eu estou procurando uma coisa séria e não correndo atrás de boatos, que nem você que é um... - Interrompi Lexa, que havia interrompido Sev.

— Parou com essa grifinorice aqui! Eu só preciso pegar uma crista de beluga e acabou, eu vou embora e vocês podem continuar vendo quem tem a juba mais impressionante da selva! - Bati palmas e afastei os dois da prateleira pelo ombro. Bando de idiotas!

— Mas capitão, Potter tá aqui a uma meia hora mexendo em todos os frascos a procura do Santo Graal! - Parei de procurar na letra B, só para levantar uma sobrancelha para Lexa.  – Ele e os idiotas dos amigos dele tem certeza que Bradbury deixou algo pra trás e agora está aqui me atrasando a vida!

Olhei para Potter, que deu de ombros, cínico. 

— Não são meus amigos, eu estou apenas querendo vencer uma aposta. - Olhei para ele, irritado.

— Porque vencer na vida nenhum dos dois quer, né? Só eu que estou aqui preocupado com a atividade de Savage? - Puta que me pariu - desculpa, mamãe - mas essa escola só tem crianças meio trombadinhas, tô pra ver!

— Eu também tô, ainda me falta três ingredientes e essa criatura fica aí se fazendo de besta, enquanto a prima faz todo o trabalho pesado! - Lexa reclamou com as mãos na cintura e Sev cruzou os braços, com desdém. 

— A inveja chega tá escorrendo da sua boca, Prutt, enfim, eu meio que acabei aqui. - Severus Potter olhou para o estoque meio chateado e depois pra gente, com aquela cara de fresco dele. – Achei que Bradbury tinha deixado o estoque ilegal dele aqui, já que os aurores não acharam nada nos aposentos dele... Mas já vi que estava errado.

— Nossa, que novidade, Potter! Você errado? Que novidade! - Lexa falou com aquela voz de retardado e Sev fez um gesto obsceno para a colega de casa, porque Albus Severus é todo um lorde, claro. A artilheira deu um tapa na nuca dele, quando ele passou por ela. – Pensei que ele não fosse embora nunca!

— Lexa, não fale comigo, eu estou tentando mudar de vi... Ah Rá!  Achei a crista, pode ficar com o esto... O quê? O que foi agora, garota? - Lexa estava se abraçando, fazendo cara de triste para mim.

— Me espera, capitão, eu tenho medo desse armário... 

— Tem trezentas pessoas esperando para pegar ingredientes, criatura, você não vai ficar sozinha! - Eu disse sem paciência, mas a punk mais fajuta da vida fez biquinho.

— Eu sinto Bradbury e sua alma perturbada pairando por aqui ainda, espera só um tiquinho... - Ela juntou as mãos em imploro e eu revirei os olhos. –Nunca se sentiu sozinho no meio de uma multidão? Esses nossos colegas não servem para nada, em termos de cobrir a retaguarda.

— Tá, você tem dois minutos, depois está por conta própria! - Ela comemorou, mas se virou para a estante assim que viu meu olhar de quem não estava brincando. – Nunca vi fantasma de gente viva, você é uma palhaça mesmo.

Me abracei segurando a cesta, porque realmente aquela cruza de armário com depósito parecia frio e assombrado por um fantasma de um ex-professor terrível e muambeiro, talvez Segundo tenha que vir aqui exorcizar o local, sei lá, eles tem a mesma profissão.

 O que na verdade me fez perceber que, somando Segundo, muambeiro, e James, pocionista, dá um Bradbury e os três são grifinórios e isso sim é uma conclusão assustadora! Me admira que eles não tenham trabalhado juntos...

— Prontinho, acabei, podemos ir! - Lexa disse toda feliz e eu dei de ombros.

— Aposto que pegou tudo errado e vai ter que voltar. - Falei maldoso, mas sincero, porque Lexa e Poções é que nem água e óleo.

— Aí você volta comigo. - Ela respondeu divertida.

— De jeito nenhum, Lexa, não quero ter nada a ver com essa merda aqui. Eu cansei, sou uma pessoa melhor agora. - Ela me olhou sem acreditar muito, mas dane-se, minha mudança é real.

Mas confesso que saí do meio das bases e ingredientes com uma sensação estranha. Eu hein... Esse lugar é mesmo um desperdício de espaço e Poções um desperdício do meu tempo, mas quando a gente não tem escolha... A gente pocioniza direito, fazer o quê?

 

 

 


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Notas finais do capítulo

* OLBY é uma pessoa linda que me permitiu usar sua teoria louca aqui, no caso, o nick dela é O lado bom do yaoi.

E aparentemente hoje é o dia dos presentinhos porque...

Olha só um bônus bonitinho em homenagem ao aniversário de Jweek: https://fanfiction.com.br/historia/737919/She_doesnt_wear_dress/