Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 22
Capítulo 22. Inverno


Notas iniciais do capítulo

Coisas importantes se passando agora.



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Capítulo 22. Inverno

—Tem certeza que deu certo? — Eu olhei em dúvida para John. Ele me olhou cansado. – Vai ter que me mostrar isso na reunião de mais tarde.

Peguei mais um muffin da cestinha, estranhamente a comida na mesa da Corvinal é mais gostosa do que na Sonserina. Isso explica porque somos tão mal-humorados!

—Por que eu diria que consegui uma coisa que eu não consegui?

—Se surpreenderia com as coisas que as pessoas dizem que fizeram, mas não fizeram... Não me olhe com essa cara! Eu disse as pessoas, não eu!

Westhampton é apenas desagradável. Estou aqui na companhia dele hoje porque ele aparentemente não podia esperar para falar comigo à respeito de sua descoberta: ele jura de pé junto que conseguiu fazer o feitiço do segredo em uma pena dele.

Por sorte as penas que eu comprei já vem com alguns feitiços, então, apenas precisamos colocar esses 3:

Feitiço do destinatário – o que garantirá que as mensagens do Ocaso só chegarão às pessoas que devem receber.

Feitiço de segredo – Que faz as letras desaparecerem no momento em que forem escritas e lidas. Por isso que temos cuidado na hora de escrever os textos, já pensou se apenas cometemos um erro de ortografia? Na verdade, acho que devíamos escrever uma borboleta com “ch” de propósito, só para parecer que foi um dos nossos colegas burros.

Feitiço para a destruição das mensagens – O feitiço inspirado no de Bradbury, com certeza o mais difícil, pelo menos pra mim, que ainda tenho certa dificuldade com feitiços de transfiguração.

Esses feitiços não tem um nome ainda, depois olharei a tradução das palavras em latim, para deixar tudo mais chique. Vocês sabem que no mundo bruxo, latim é o “must”. A dificuldade maior é que todos são feitiços que causam efeitos em outros objetos, aí merda tudo.

Rebeca chegou esbaforida e sentou, quase no meu colo.

—Tenho um babado fortíssimo pra contar pra vocês! — Ela falou parecendo um gato que tinha acabado de conseguir comer o passarinho. Fofoqueira.

—Não tem comida na mesa da Sonserina não? — Uma garota que deve estar lá no sexto ou sétimo ano falou, provavelmente porque Rebeca já deve ter dito algum desaforo pra ela, ou é uma rival de Jéssica Wainz, quem sabe?

—Não se preocupe, ainda tem o suficiente para encher essa sua... — Eu apenas tapei a boca de Rebeca, porque não há motivo para se comportar mal na mesa dos outros coleguinhas, nós somos melhores do que isso. Ela ficou se contorcendo, tentando morder minha mão no processo.

—Você vai se comportar? — Ela me olhou raivosamente. Não iria soltá-la para ela bater em mim e na pobre garota da Corvinal.

—Isso não se configura como violência contra a mulher? — John perguntou, sem nenhum propósito aparente.

—Não a estou machucando, estou contendo, nenhum juiz no mundo me condenaria por isso! — Ele me olhou ceticamente, mas sua atenção foi captada para longe. – Você vai se comportar, mocinha?

Soltei Rebeca que imediatamente começou a ajeitar o batom borrado. Que olhar perigoso, mas já recebi piores. Ela não parecia mais tão disposta a contar a sua fofoca do dia. Do começo do dia, digo.

—Fábregas, por que Potter está nos encarando?

—Pare de dar atenção que ele vai parar. — Claro que John não me ouviu e continuou encarando Potter. E o pior de tudo, fazendo caras e bocas pra ele. – John, pare.

Ele me olhou através de seu estranhos óculos azuis. Curioso que nem sequer consigo imaginar ele sem eles. Mas no mundo trouxa, dos filmes e séries americanos, John com certeza seria jogado em uma lixeira. Seria tragicômico. Odeio filmes tragicômicos.

—Estou no meu direito de olhar, encarar e... Merda! Ele tá vindo pra cá! — Ele tentou se esconder, escorregando um pouco no banco. Agora aguente as consequências como um homem! – O que aconteceu com Potter? Ele costumava ser um cara legal!

John sussurrou tapando parte do rosto com a mão, Deus como ele é ridículo. Vou na Sonserina e encontro Tony, Rebeca, Scorp, vou na Grifinória e acho Albus, na Lufa-lufa, Aidan e na Corvinal... Isso. Sou um imã de maluco.

—De onde você conhece James, Westhampton? — Rebeca perguntou subitamente interessada, sua outra fofoca esquecida.

Potter desviou o caminho e apenas saiu do Grande Salão, deixando um corvinal patético bastante aliviado. O que eu ainda estou fazendo aqui mesmo?

—Sério. Ele era uma criança legal, meu pai costumava levar eu, Hugh, James e Albus para as aulas de Quadribol para crianças. Era ridículo, as vassouras voavam apenas um metro e nem sequer faziam movimentos bruscos... Mas eu adorava!

—Tá, tá, tá... Você já usava esses óculos ridículos? — Eu perguntei fazendo graça, porque é apenas como eu sou.

—Claro, eu tive Seminvíase quando tinha três anos. — Eu e Rebeca olhamos surpresos, admito que da minha parte havia um pouco de culpa também. – É uma magibactéria que basicamente deixa a melanina do bruxo incolor. Tive sorte que fui diagnosticado rápido e apenas os olhos foram prejudicados...

—Tá falando sério? — Ele fez que sim com a cabeça e Rebeca apenas me deu uma cotovelada. – Não vou retirar o que eu disse, seus óculos ainda são ridículos.

Ele riu, porque é verdade.

—A outra opção era vermelho! Meus pais acharam que um mundo azulado me fariam uma criança mais tranquila.

—Faz sentido e azul combina mais com seu tom de pele. Você tem definitivamente uma pele de tom frio. — Rebeca disse como se estivesse falando algo que fazia sentido. – Pele pálida e cabelo loiro acinzentado. Invista nos roxos, azuis e verdes sempre, querido!

—Invista em um manicômio, Rebeca! — Eu disse a ela, recebendo um olhar de desdém. – Qual era a fofoca que você queria contar e que não podia esperar... Só que, aparentemente, pode?

—Ah, sim! A coisa mais bizarra aconteceu na festa, sexta! — Ela ganhou a minha atenção e a de John, que já estava terminando de colocar o telhado em sua casa de waflles. – Haardy e Streck tiveram um “estranhamento” interessante.

Rebeca deu ênfase nas aspas, qual o problema de deixar essas malditas aspas nas entrelinhas?

—Eles realmente brigaram? — Eu perguntei, não porque sou fofoqueiro, não sou mais, juro, mas porque: 1. Envolve um jogador meu, não quero ele metido em problemas; 2. Envolve Haardy e eu quero ele afogado em problemas.

—Streck até parecia querer, estava caindo de bêbado! – Rebeca riu da desgraça alheia. — Ele fez uma cena e tanto!

—E Haardy? Por que ele apenas não falou com Hugh? Ele teria cuidado desse idiota! — John falou pressupondo que a culpa era de Streck. Não no meu turno, cowboy!

—Já sabemos o quão angelical Martin Haardy é, a sua pergunta já te diz de quem foi a culpa, não? — John revirou os olhos para a minha lógica. – Ele poderia ter chamado seu irmão pra resolver, mas não chamaria se fosse o culpado.

—A culpa não foi do cara bêbado que fez uma cena? Claro que não, porque ele é sonserino e jogador de Quadribol e essa é toda a defesa que ele precisa...

—Dispenso o seu sarcasmo, eu só es...

—Dá para vocês dois deixarem eu terminar a história? Obrigada! Bem... Streck estava bastante alterado, ficava dizendo que não queria mais, que estava cansado disso, que ia tentar fazer as coisas por conta própria...

—Que coisas? — Eu perguntei agora muito curioso.

—Eu não sei dizer ao certo, ele estava embolando a língua, bêbado de verdade... — Ela falou torcendo o nariz em desagrado. — Mas o mais estranho de tudo e acreditem a situação toda era muito estranha, foi que Haardy parecia muito tranquilo, a única coisa que ele parecia querer era levar Streck pra longe, mas Thiollent e Habermas impediram.

—Lia? Que horas foi isso?

—E Habermas! — Rebeca me olhou com suspeita, dando uma ênfase estranha na informação. — Foi lá para às 2 da manhã... Eles disseram que levariam Streck para as Masmorras, Haardy não pareceu gostar muito disso.

—Que história bem detalhada! — John falou com dose extra de ironia. – Acha que Haardy da noite para o dia virou o Mago com o coração peludo?

—Quem?

—É de um dos personagens dos Contos de Beedle, o bardo, ignore. Mas você tem razão, Cesc, tem algo errado com aquele garoto!

—Eu sei disso, mas ninguém parece ver! Eu vou me informar melhor sobre essa história. Vou perguntar a Lia o que ela viu.

—Por que não a Habermas? — Rebeca apenas está esquisita, mas não serei eu que incentivarei esse comportamento. Espero sinceramente que ela não tenha me visto com Lia. Isso seria... Estranho.

—Perguntarei aos dois! Quanto mais informações melhor.

—Pergunte a Streck também, já que está indo nesse caminho, mas honestamente, acho que o lance de Haardy é algo estúpido. — Olhei cético pra ele. – Qual é! O cara tem ajudado meu irmão a estudar para a prova do estágio como Pocionista Júnior no St. Mungus!

—O que isso tem a ver com qualquer coisa? — Rebeca perguntou insensível.

—Sei lá... Ele apenas conseguiu ingressos para a final do Puddlemere United e o Holyheads Harpies... Ele é legal!

—Como você está bem relacionado, Westhampton! Primeiro fica brincando com o Potter criança, depois indo à jogos com Haardy. – Olhei para ele decepcionado. — Deveria pedir sua saída em assembleia.

—Hey! Eu não tenho culpa de nada disso! — Ele me falou chateado, realmente levando a sério minha falsa ameaça. – Tanto o pai de Haardy, quanto Harry Potter são colegas do meu pai lá no Ministério, na sessão de aurores.

—Ok, já dei minha mensagem, vou cair fora agora! — Rebeca disse, apenas saindo com uma graça própria, daquele banco/armadilha do refeitório.

—Não vai comer? — Eu perguntei, apenas impressionado como uma pessoa consegue sobreviver com tão pouco. Ela pegou um dos muffins da cestinha em minha frente e pois na boca.

—Hum... É melhor do que os da gente! — Ela falou, ainda terminando de mastigar. Eu apenas fiz aquela expressão de “Não é?”. — Isso é apenas muito errado, que absurdo.

Ela saiu andando comendo o muffin com apetite.

—Sério que vai me tirar do clube, por causa das minhas “conexões”? —Dessa vez ele não fez as aspas com as mãos, mas eu senti na minha alma.

—Estava brincando.

—Bom... Porque é difícil não estar relacionado com alguém que você deteste. — Ele me falou como se isso fosse uma constatação óbvia. – Você tem um poder de transformar as pessoas em suas piores versões.

Eu franzi os olhos, aceitando o elogio em parte. Só porque eu realmente gosto de irritar certas pessoas.

—Não importa o que você pensa, John, apenas mantenha os olhos abertos. — Ele olhou subitamente alerta. Sim, estou falando sério dessa vez. – Há pessoas que são apenas implicantes e há outras que realmente tem o caráter duvidoso. Fique atento.

Ele acenou com a cabeça, parecendo ter entendido a mensagem. Não me resta nenhuma dúvida que criaturas insuportáveis como Longbotton, Potter e Weasley têm bom caráter. Esse não é o caso de Haardy, no entanto.

Vamos manter os dois olhos abertos, pessoal.

***

—Cesc, dá pra prestar atenção aqui? — Rebeca falou, no seu modo “Rainha das Poções” e eu apenas a olhei no meu modo “cansado de ser escravo”.

—Ajudar no quê? É só colocar Sangue de Salamandra até a poção mudar de cor... Aí você coloca: SANGUE DE SALAMANDRA DE NOVO! Essa poção é ridícula...

—Então talvez devesse fazer sozinho. — Professor Bradbury saiu de seu trono apenas para me fazer sentir um lixo.

—Muito bom que as atividades são em dupla. Rebeca, querida, não está na hora de adicionar as espinhas de peixe-leão? — Eu perguntei, tentado ignorar a cara feia dele. – Queremos a nossa poção revigorante BEM revigorante!

Ele me olhou com uma expressão indecifrável, mas só para me salvar de sua ira subcutânea e reptiliana, algum idiota da Grifinória gritou lá do fundo.

—SEU TIME VAI TE AGRADECER! — A turma toda riu da insinuação de que fazemos uso de poções no time da Sonserina. Digo, a parte da Grifinória, claro.

—Quem disse isso? — Todos ficaram em silêncio, porque é muita ousadia insinuar algo assim na frente do diretor da nossa Casa. Ele encarou o lado vermelho e dourado. – Gostaria que tivessem coragem de assumir o que dizem, afinal, essa é uma das características do fundador da Casa de vocês, não?

Bradbury falou olhando no rosto de cada um dos grifinório, fiquei com pena de Albus e Rose, porque eles pareciam assustados. Albus com medo do bicho-papão, sei lá e Weasley, provavelmente com medo de perder pontos para a Casa.

Eu agradeci mentalmente ao engraçadinho que falou essa idiotice, não é como se eu não estivesse acostumado a defender meu time a essa altura, mas me defender de Bradbury por outro lado... Ele apenas te faz sentir horrível e um desperdício de fraldas.

Então estou realmente agradecido.

Ninguém se pronunciou e a Grifinória perdeu 10 pontos. Só alegria na minha vida! Continuamos a poção de Wiggenweld e Rebeca fez tudo perfeitamente bem, como sempre. Eu fiz o relatório perfeitamente bem, mesmo ninguém tendo perguntado.

Depois da aula, eu encontrei de novo com os L.Ps, Scorp não parecia muito feliz com Tony, aparentemente ele continua com a piadinha do “não importa o sentido que eu mexo a poção, ela não tem relógio mesmo!”.

Eu ia ajudar Tony a se livrar das garras de Scorp, não é como ele tivesse começado com essa idiotice hoje, tenho certeza que o pai dele que disse que seria engraçado uma maluquice dessas...

Mas então eu vi Lia voltando para as Masmorras correndo e resolvi realizar a primeira parte das minhas entrevistas.

—Lia, preciso falar com você!

Ela parou bruscamente, quando viu quem era deu um sorrisinho conhecedor. Thiollent parecia muito feliz de ter um segredo comigo ou que quer que ela pense que o nosso lance é. Eu apenas apertei os olhos para ela.

—Queria saber à respeito de Streck. — Resolvi ser direto. Ela fez uma careta.

—Não me diga que eu te fiz perceber que não gosta de garotas... Streck? Vamos, eu te consigo coisa melhor! – Ela falou brincando e eu apenas sorri pra ela, porque concordo que posso ter coisa bem melhor.

—Quero saber o que foi que aconteceu na festa, Lia... Me conta essa história direito, Streck e Haardy brigaram? — Contei uma versão incompleta para ela se sentir livre para preencher as lacunas.

—Não foi bem assim! — Ela me deu os livros que estava carregando para segurar enquanto prendia o cabelo num rabo de cavalo alto. – Ele estava bêbado. Falando um monte de coisa para Haardy, disse para não procura-lo mais, que ele não estava interessado... Acho que esses dois tem um caso!

—Streck e Haardy? — Perguntei não tendo parado para pensar em um possível romance entre os dois. Será? – O que foi que ele falou quando o trouxe de volta para as Masmorras?

—Eu não o trouxe. Romeo disse que cuidava do assunto e eu confiei. Depois daí eu fui pegar umas bebidas e encontrei um certo Capitão... — Ela falou insinuante. – Você já sabe o resto da história, não?

—Sim, já sei. — Ela sorriu se divertindo com a minha cara.

—Tenho um horário vago agora e você? — Ela falou, não mais brincando. Que maravilha, virei brinquedinho sexual dela. Mas para a minha tristeza...

—Tenho HM, entrega de trabalho. —Ela fez biquinho. O pior é que é verdade, fiquei um tempo na enfermaria e isso me custou um teste surpresa. – Mas obrigado pelas informações, Thiollent.

—De nada, capitão. — Devolvi os livros à ela, na porta das Masmorras. – Não seja um estranho.

Pisquei pra ela. Não serei.

***

Porque os Deuses estão ao meu favor hoje, Streck apareceu em meu caminho logo em seguida.

—Ei, ei, ei, preciso falar com você! — Apressei o passo para alcança-lo, ele parecia desorientado. – Cara, qual o seu problema?

—Eu... Eu tenho que... Tenho que pegar algo no meu quarto, nas Masmorras. — Ele me olhou como se estivesse tentando lembrar o que era esse “algo”. O estranho é que ele parecia estar vindo exatamente de lá também!

—De onde está vindo?

—Da... Do... Eu... Eu não sei! — Ele balançou a cabeça confuso. – Não sei.

—Tem certeza de que está bem? – Perguntei, porque eu não sou um maldito sem coração. Ele passou a mão exasperadamente pelo cabelo, mas fez que sim com a cabeça.

— Ok, então... Agora preciso saber de algo sobre Haardy. Lembra do que aconteceu na festa? — Ele me olhou ainda mais confuso.

—Haardy? Porque eu deveria saber algo dele? Tá louco, Fábregas?—Ele me olhou como se eu fosse o bêbado, que hoje estava drogado, devo acrescentar.

—Não lembra de ter conversado com ele? Nada? — Tentei mais uma vez, mas agora ele estava apenas impaciente, não mais tão confuso.

—Não sei porque teria algo para conversar com Haardy. — Ele cruzou os braços desafiadoramente. Aff, cansei. Desse mato não sai coelho.

—Certo, Streck. — Ele me olhou aliviado. Saí da frente dele. – Apenas mantenha-se distante de Haardy, está bem?

Ele me olhou estranhamente, mas assentiu com a cabeça. Menos um problema na minha vida.

Acho.

***

O recesso de Natal já estava se aproximando, o que era algo fantástico, já que iria voltar para casa, para ver meus pais e Tony e Scorp iriam me visitar no almoço do dia 25. Vou dar sobras de peru para os dois, porque não vou gastar comida nova com eles, óbvio.

Por outro lado, a neve tinha começado a cair com força agora e não tinha parado mais. O outono, que até foi mais quentinho esse ano, deu lugar a um inverno gelado e bem branco. Seria um Natal adorável.

Não.

Além do frio, que parecia ainda mais intenso nos corredores úmidos das Masmorras, tinha Pottinha que estava provando que chatice era genético insistindo para que eu a acompanhassem em umas das maluquices lufanas lá no meio da neve.

—Mas vai ser diveeeeertiiiiiiiidooooo!— Ela falou com aquela vozinha enjoada que apenas pré-adolescentes conseguem fazer.

—Lily, que coisa chata! — Ela me olhou fazendo um biquinho triste. – Eu não gosto de frio!

—Você pode ficar só olhando, Aidan vai tá lá, ele me ajuda, por favor, por favor, por favor!

Gente, que coisa insuportável essa recém amizade dos dois. Dois filhotes de unicórnios juntos deve ser o verdadeiro inferno na Terra.

—Tá Lily, vamos! Mas preciso te lembrar que isso é uma grande besteira? — Ela me olhou animada, obviamente ignorando a minha racionalidade. – Se tudo der certo, a Lufa-lufa inteira vai afundar no Lago Negro. — Apontei para a nossa janela escura e sem sentindo. – Vou ver os corpos ali.

Lily apenas bateu palmas, muito feliz de ter me convencido a ir para o lado de fora no inverno escocês para tentar patinar no Lago. Tem um sextanista da Lufa-lufa que diz que sabe ver onde o lago está congelado o suficiente para patinar. Vão todos morrer, essa é minha opinião final.

O que será ótimo para o Ocaso, só temos tido ideias bostas para publicar. E quando eu digo nós, quero dizer o resto. O “nós” é só figurativo, eu disse “ideia bosta” para cada sugestão que deram na reunião de hoje mais cedo. Claro, que todo mundo se voltou contra mim, só porque eu fui sincero.

— Vamos logo, Cesc, antes que acabe tudo! — Eu não tenho tanta sorte assim, cara Lily.

***

Tenho que admitir, até que era uma visão bonita. Todos os alunos que estavam no jardim estavam com as suas varinhas acesas, deixando o ambiente, normalmente escuro, pós pôr do Sol, romântico e mágico.

O frio por outro lado, era apenas frio. Sem nenhuma novidade aí.

—Não vai se arriscar nos patins, Fábregas? — Eu vou fingir que não ouvi, para ver se ele vai embora. – Estou falando com você!

—Potter, se não veio até aqui me entregar meu celular, pode cair fora. — Ele riu, deixando sair uma fumaça de frio da boca e nariz.

—Vou ser sincero agora: eu perdi o seu celular. — E depois de soltar essa bomba, ele apenas riu mais, riu histericamente. Se dobrou ao meio de tanto rir. Eu apenas o encarei como se ele tivesse perdido completamente o juízo, coisa que ele certamente fez.

—Que porra é essa! Perdeu meu celular? — Falei, nem tendo que fingir minha indignação. Babaca, filho da mãe!

—Ai, pera... Deixa eu respirar! — Ele continuou a rir, agora misturando com tosse, estou torcendo que ele morra sufocado na sua própria risada. — Eu não a-acho. Não acho seu celular de jeito nenhum! — Ele me encarou ainda tentando controlar a risada, dando de ombros.

—É isso? Perdeu a PORRA do meu celular e acha isso engraçado? — Ok, ele passou dos limites agora. Comecei a procurar minha varinha na minha capa de inverno. Ele pareceu perceber que eu não estava achando graça alguma.

—Qual é! Vai dizer que não deu seu jeito de pegar seu celular de volta? — Ah, é mesmo! Acho que o idiota leu a surpresa por ele ter sacado tudo na minha cara, porque voltou a sorrir imediatamente. — Levei um tempo para perceber o que você tinha feito, mas aí eu entendi. Você tem mais tentáculos do que a Lula Gigante, não? Quem é seu cara na Grifinória?

Adoraria dizer que era o irmãozinho dele, na verdade, mas isso seria apenas trocar Jamón Ibérico por um apresuntado sem vergonha. Qual o ponto? Ganho mais com Potter II sob disfarce, obrigado.

—Espero que tenha aprendido sua lição! — Ele me olhou cínico. – A sua cara quando...

Gritos interromperam o meu raciocínio. Eles vinham do Lago. Quando eu falei que queria os Lufa-lufas mortos, eu estava brincando!

—Fique aqui, Fábregas! — Potter saiu seguindo seu instinto de herói reprimido e eu apreciei o seu cuidado.

—Vai se foder, você não manda em mim! — O segui em direção ao Lago pra tentar ajudar os primeiranistas que agora estavam desesperados, sem conseguir sair da superfície escorregadia.

Conseguimos passar da parte mais áspera, na borda, chegando finalmente ao gelo aplanado magicamente. Ficou bem mais difícil de caminhar, entretanto, ainda mais tendo que desviar de algumas crianças que não se arriscaram a ir muito longe.

A sorte é que muitos estudantes já estavam tentando passar a neve fofa indo em direção ao castelo. Infelizmente Lily e Aidan não estavam entre eles.

Avistei Lily sendo rebocada rapidamente pelo meu amigo texugo, que era quase um patinador profissional. Corri em direção a eles, escorregando de vez em quando, Potter me seguiu, parecendo nunca ter saído de perto. Estávamos indo contra todos os alunos que estavam no lado sudeste do Lago, a única parte que estava realmente congelada.

—O QUE TÁ ACONTECENDO? — Gritei para Aidan que nos viu e começou a vir na nossa direção. Merda, tinha muita gente junta e o gelo não parecia grosso o suficiente. Temos que cair fora AGORA.

—ARANHAS! ARANHAS GIGANTES!!! — Foi só Aidan gritar que as pessoas pareceram ficar ainda mais desesperadas. Ensaiei perguntar um “Onde?”, mas finalmente vi do que ele estava falando.

Sobre a água, centenas de aranhas parecendo ter quase dois metros de altura cada, estavam atravessando através do gelo fino como se fosse terra firme. Estavam vindo na nossa direção, diagonalmente, não em linha reta, o que era muito estranho.

—Acromântulas. — James sussurrou muito perto de meu ouvido para o meu gosto, mas esse não era o momento de pensar nesses detalhes. – Se elas chegarem na superfície por ali, vão cortar nosso caminho para o castelo. — Ele apontou a rota delas.

Eu continuava a tentar me manter de pé no gelo escorregadio, porque diabos eu vim pra cá se nem patins eu tenho? Vamos todos virar comida de aranha gigante, meu Deus! A multidão parou na minha frente, e eu impaciente fui abrindo caminho com os cotovelos.

—Que merda! Por que não andam? — Eu disse tentando entender o que estava acontecendo naquele mar de choramingo e gritos dos meus colegas histéricos. Quase metade da escola parecia concentrada naquele pequeno pedaço de lago maldito.

Não recebi nenhuma resposta humana, mas o estalo sob meus pés falou alto o bastante. O gelo estava se partindo na borda leste, a borda que deveria ser segura segundo o idiota do Caio Ashton.

Olhei para Potter, ele trouxe Lily mais para perto e começou a olhar ao redor, procurando uma rota de fuga. Ele apenas parou e me encarou. Não havia nenhuma coragem Grifinória agora.

—Estamos fodidos!


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Notas finais do capítulo

Odeio parar o capítulo aqui, mas ia ficar muito grande... Mentira, amo. Quero que comentem o que acham que vai acontecer agora.