Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 23
Capítulo 23. O gosto amargo


Notas iniciais do capítulo

Espero q gostem, como é continuação direta de uma cena do capítulo anterior, coloquei um trecho do 22, para refrescar vossas memórias.



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Não recebi nenhuma resposta humana, mas o estalo sob meus pés falou alto o bastante. O gelo estava se partindo na borda leste, a borda que deveria ser segura segundo o idiota do Caio Ashton.

Olhei para Potter, ele trouxe Lily mais para perto e começou a olhar ao redor, procurando uma rota de fuga. Ele apenas parou e me encarou. Não havia nenhuma coragem Grifinória agora.

Estamos fodidos!

Capítulo 22

23. O gosto amargo

—Não seja estúpido, somos bruxos! Peguem as varinhas, seus imbecis! – Não queria que minha voz tivesse soado tão aguda, mas o medo é apenas uma vadia cruel. – Precisamos chegar até a borda rápido!

Apontei para a terra firme, que era óbvio onde estava, mas com tantas varinhas se apagando para dar lugar a outros feitiços improvisados, o ambiente se tornou ainda mais escuro e assustador.

—Potter, seu pai já enfrentou acromântulas antes, no segundo ano, O QUE ELE FEZ? — Aidan, mostrando-se um fã boy de carteirinha da família HP, já tinha passado a muito tempo do nível aceitável de histeria. – Vamos todos morrer... – Ele sussurrou, alto o suficiente para todos ouvirmos.

Lily choramingou, se abraçando ainda mais ao irmão mais velho.

—Potter, essa é sua chance de brilhar! Cuide das aranhas, que eu vou tentar fazer uma... — Antes que eu pudesse terminar meu super plano, bolado em meio milésimo de segundo, o gelo soltou outro estalo, mas dessa vez não ficou só na ameaça.

Eu mais senti do que vi a capa gelada se partindo sob os nossos pés. Aidan que estava no meu lado se desequilibrou nos patins e caiu na água. Num ato reflexo consegui segurar o cachecol amarelo e preto dele, plano esse elaborado... Err... Não foi bem pensado.

Eu escorreguei para a água fria, FRIA, FRIIIIIIIIIAAAAAAAAA do lago e é isso, apenas me matem.

Claro, que eu não morri, mas desejei, a única parte lógica do meu cérebro nesse momento era a que dizia para as minhas mãos não largarem a varinha ou o bendito cachecol de Aidan. Ok, isso foi só o reflexo do congelamento dos músculos, mas tá valendo.

Crianças, no momento que eu disse que veria corpos no Lago Negro, hoje mais cedo, eu queria dizer, verei da minha confortável poltrona aquecida na minha Sala Comunal. Na verdade, verdadeira, eu estava brincando sobre toda essa história, mas vou começar a investir na adivinhação, porque eu vou te dizer...

Com os movimentos da água, não sei se dá para chamar de correnteza estando num lago, fomos arrastados para longe do buraco em que caímos. Aidan se provando um grande peso morto... Ok, eu apenas espero que isso não seja uma previsão.

Estamos nos afogando! Isso não pode ser real...

Quando eu disse que sou bom em feitiços, não me referia aos não-verbais, porque apenas bruxos experientes realmente conseguem esses, mas o desespero é o melhor professor, tanto que um jato vermelho saiu da minha varinha e nos deu uma nova saída.

Puxei Aidan para a superfície, nossas roupas pesando uma tonelada. Eu nem vou mencionar o frio, a sensação de ser esfaqueado um milhão de vezes e de ter a sua vida e calor sugados para fora do seu corpo. Não mencionarei nada disso.

Tentei nos manter na borda de umas das plataformas que se dividiram, mas o fato de que só eu estava ajudando deixava o processo muito mais difícil.

—PORRA, AIDAN, ME AJUDA! – Sacodi ele pelos ombros, tentando mantê-lo na superfície. Merda ele tá mesmo desmaiado. Tô fodido e passado recebido. Segurar a varinha e ainda tentar se segurar numa borda feita de gelo e neve era impossível, ainda mais com o peso em dobro.

Fui puxado pra baixo de novo.

Desistir não está no meu sangue, entretanto, então eu voltei a tentar subir para superfície. Não me crucifiquem, mas por dois segundos desesperados eu realmente cogitei soltar Aidan. E me sinto horrível só de ter pensado isso. Sério.

Para a sorte do meu amigo e da minha consciência que nunca me deixaria dormir caso eu o tivesse soltado, senti nossos corpo serem içados de uma maneira louca e que eu tenho certeza que foi totalmente mágica.

A sensação não foi mágica, posso garantir, bati minha perna e cabeça no gelo enquanto saia da água e fui arremessado para a neve fofa a alguns metros do lago. Não que eu soubesse precisar tudo isso logo quando aterrissei, estava mais preocupado em respirar, o movimento brusco tendo me garantido alguns litros de água no pulmão ou estômago...

Sei lá, a sensação da água que era morada e banheiro de milhares de criaturas mágicas dentro do corpo não pode ser descrita em palavras. Ouvi algumas vozes na confusão de gritos e vi apenas algumas luzes pela visão periférica. Eu não vou desmaiar. Não vou desmaiar.

—Pode soltá-lo, já o pegamos! – Eu demorei um tempo para entender o que a voz desencarnada estava me dizendo. — Solte, está tudo bem, vocês vão ficar bem.

Olhei para minhas mãos e vi que ainda segurava o pulso de Aidan, soltei depois de mais alguns segundos de contemplação. Gente, o gelo danificou meu cérebro. Adeus, reflexos de batedor!

Finalmente as coisas começaram a fazer um pouco mais de sentido, principalmente depois de uma alma abençoada lançar um feitiço secante nas minhas roupas. O feitiço aquecedor também foi um presente dos Céus.

—Consegue andar? – A voz desencarnada já tinha um rosto, era uma setimanista da Grifinória.

—Acho que sim... – Minha voz saiu baixa, mas não tremeu, o que foi um alívio. Consegui ficar de pé com algum esforço, mas a cena ao meu redor ainda não fazia sentido. – As aran-aranhas, onde estão?

Dessa vez as palavras arranharam na garganta, a garota não chegou a me responder, porque falei muito mais baixo do que a cacofonia ao meu redor. Estava escuro, não tinha sinal de aranhas, apenas professores e alunos mais velhos andando de um lado para o outro, transportando alunos machucados para a enfermaria.

Comecei a me mover em direção ao castelo, só agora percebendo que minha perna não parecia bem. Doía, mas não tanto quanto a minha cabeça. Estava enjoado, provavelmente aquela água suja iria me matar no dia seguinte, porém me contentei em fechar mais a minha capa e ficar fora da rota dos bruxos que estavam fazendo algo de útil.

Dramático? Eu? Sabem que não sou nada disso!

***

Estava enganado quanto a enfermaria.

As crianças, em sua maioria, não estavam sendo levadas para as enfermarias e sim para o Grande Salão onde um ambulatório foi improvisado. Aparentemente todos os alunos tiveram treinamento em desastres, resquícios da guerra, eu imagino, menos eu. Uma garota da Lufa-lufa, surgida não sei de onde pulou na minha frente.

—Estava no lago? — Eu não sou tão lerdo geralmente, mas não estava entendendo muito bem o que estava acontecendo. – Bebeu água do lago?

Fiz que sim com a cabeça, ela gritou no meu ouvido sem piedade. –MAIS UM, CURANDEIRA BODERNAVE!

Bodernave?

Tentei dar meia volta, mas a garota pequena tinha um aperto de ferro. Me encaminhou para a curandeira dos meus pesadelos, ela parecia muito eficiente com seu avental branco, mas aquelas poções em suas mãos me davam arrepios.

—Não serei medicado por você! – Falei com a voz rouca, mas clara. Ela apenas me olhou tristemente.

—Deite-se, chamarei madame Pomfrey quando ela estiver menos ocupada, ok? — Essa proposta parecia boa. Trauma é trauma, não me olhem assim!

Me joguei no leito improvisado, onde seria a mesa da Grifinória e apenas fechei os olhos tentando ignorar as vozes assustadas de meus colegas, a maioria procurando por algum irmão ou irmã.

O que foi isso?

Aranhas, gelo? Era tudo sobre chocolate quente e planos para o Natal, de repente isso! Tentei não pensar em Aidan, que eu havia perdido de vista na confusão pós-resgate. Aparentemente os casos mais graves estavam sendo levados para a Enfermaria. Talvez até para o St. Mungus.

Não faço ideia do que aconteceu com Lily e o irmão. Não faço ideia do que aconteceu com todos os outros alunos que apenas patinavam ridiculamente pelo Lago Negro. O que se passou com as aranhas? De onde diabos elas vieram?

Ok, essa pergunta foi estúpida.

Obviamente vieram da Floresta Proibida, mas elas não deveriam se manter longe de Hogwarts, não assinaram algum tipo de acordo do tipo, “não invadiremos o castelo e nem comeremos os suculentos aluninhos, a menos que entrem na nossa Floresta”? Pareciam bastante inteligentes para assinar acordos, sim, senhor!

Traçaram rotas para nos emboscar, acham que não poderiam assinar um pequeno documento? Talvez eu esteja apenas exagerando, mas eu sei exatamente o que vai aparecer na aula de Bicho-papão da próxima semana... Rose Weasley. Esperavam que eu dissesse aranha, não foi? Hahahahaha

—Cesc, por favor! Por favor, acorda. – Abri os olhos com uma dificuldade estranha. A cabeça não estava mais doendo, estava leve. – Ele acordou! Oi! Oi... Você pode me ouvir?

Era a voz de Louise sem dúvida, mas estava chorosa e com o sotaque espanhol bem acentuado.

—Não encontro Madame Pomfrey em lugar nenhum, deve estar na enfermaria mesmo, com os casos mais graves... – A voz de Scorp soou preocupada, distante.

—MAS É UM CASO GRAVE!

—Louise, não grita... – Falei, minha voz soando mais baixa do que o programado.

—Está me ouvindo? – Comecei a me ajeitar melhor naquela cama improvisada.

—É claro que estou te ouvindo! – Falei com a voz falhando, mas o meu tom caraterístico estava lá. – Precisaria estar morto para não te ouvir!

—Como eu senti falta desse seu veneno! – Ela falou me abraçando. Droga, prefiro o lago, PREFIRO O LAGO!

Não estava com forças para sair do agarre de jiboia dela. — Por favor, me solte.

Eu implorei. Sim, implorei.

—Até dessa sua alergia a mim eu senti falta! – Ela falou feliz. –Está se sentindo melhor? Ficou apagado por quase meia hora, não conseguia te acordar de jeito nenhum!

Ela me olhou ainda com aquela cara de quem esteve chorando, claro que eu não queria acordar, até meu inconsciente estava relutante em vir para essa realidade horrível.

—Onde está Aidan? Lily? — Perguntei tentando achar o familiar cabelo vermelho da família Potter/Weasley.

—Lily está bem, estava um pouco assustada, Rebeca está com ela nas Masmorras...

—E Aidan?

—Não sei onde está Aidan... – Louise infornou. Olhei para Scorp procurando por resposta. Ele deu de ombros, também não sabia onde ele estava.

—E Tony? – Eu perguntei sentindo falta do meu principal companheiro de crime.

—Foi atrás de Madame Pomfrey, você parecia bem mal. – Scorp disse como se estivesse justificando o dito cujo.

Sentei mais ereto, encostando-me a parede atrás de mim. A garganta ainda ardia, ainda estava enjoado, mas ao menos não me sentia mais tão cansado. No fim das contas acho que apenas estava em choque. Deus, que ridículo, fiquei em choque!

Demorou mais uns quinze minutos para Madame Pomfrey ser rebocada por Tony e para minha surpresa, por Potter também!

—Bem, ele não parece estar morrendo, Sr. Zabini! – Madame Pomfrey constatou o óbvio daquele jeito eficiente + mal humorado dela. Tony parecia mais animado com a minha visível boa aparência, Potter... Eu não sei o que James Potter parecia, sinceramente, acho que meu leitor de cara também foi danificado no lago.

—Pela sua demora, podia tanto ter melhorado quanto morrido... — Scorp soltou, venenoso como sempre. Mas diferente de Bodernave, Madame Pomfrey era acostumada a ignorar resmungos e acusações de adolescentes sem noção, já estava fazendo seu trabalho.

A curandeira velha estava usando a varinha para fazer testes em mim, então me permiti dar uma olhada no Grande Salão. Estava tudo diferente, sem mesas, sem comida, que horror! Até mesmo o tom das conversas estava baixo e preocupado. No fim das contas eu apenas recebi alguns feitiços para cicatrização dos ferimentos da cabeça e perna e uma poção que “me ajudará a expulsar a água do lago do organismo”, ou seja, poção pra vomitar. Scorp ouviu todas as recomendações de Madame Pomfrey atentamente, enquanto apenas sorria falsamente e acenava, fingindo que não estava mais irritado com ela.

Com o meu papelzinho de dispensa em mãos, fui escoltado até as masmorras por meus amigos... E Potter.

—O que ainda está fazendo aqui? – Perguntei entre o confuso e irritado com sua intromissão. Ele deu de ombros, o que só fez meu reflexo natural para ignorar ele apitar mais forte. – Tony, você conseguiu ver Aidan na Enfermaria?

—Tive um vislumbre, os pais dele foram chamados, mas ele parecia estar bem, não foi transferido nem nada... – Ele tomou fôlego e sorriu pra mim estranhamente antes de falar novamente. – Soube que você salvou a vida dele lá no lago!

Fiz uma careta automática. Aquilo ali na cara dele é orgulho? Claro que tentei salvar o moleque, qualquer ser humano decente tentaria isso! Fora que quase o deixei afundar para a outra vida. Como qualquer pessoa indecente faria.

—E eu salvei vocês dois! — Potter disse, com seu tom normal de arrogância + falta de noção + sorriso de superioridade.

—Bem que eu reparei que aquele feitiço de levitação só poderia ter sido feito por um bebê de dois anos... — Eu disse, mas sem tanto veneno. O que estava nas entrelinhas foi “Obrigado por salvar a minha vida”. Acho que ele entendeu a mensagem, porque o sorriso mudou de superioridade para algo mais normal e gentil.

—Devia ter te deixado afundar no lago, seu ingrato. – Esse era com certeza seu “De nada”, Tony e Scorp apenas encararam a nossa interação com uma estranheza justificada. Sim, amigos, em caso de crise escolar, o manual Nêmeses, de como lidar com seu arqui-inimigo diz que uma trégua é algo elegante e de bom tom.

—Vocês não crescem mesmo! – Minha irmã apenas constatou o óbvio, enquanto entrelaçava o braço de Potter com o seu. Tony não curtiu isso. – Vamos, James! Você já pode me escoltar pra minha Sala Comunal agora. O palhaço do meu irmão já está bem.

Gostei de ver o velho tom de voz com extra dose de desdém na voz de minha irmã, mas ela estragou tudo olhando pra trás e sussurrando em espanhol “Se você se sentir mal, me manda uma mensagem”. Apenas revirei meus olhos como resposta.

—Potter é um desgraçado mesmo, não respeita nem o fato de que Lou tá saindo com o melhor amigo dele! – Tony falou com mais irritação do que toda a cena pedia. Provavelmente ainda tinha um restinho de adrenalina correndo nas veias dele.

—Ele só tá sendo cavalheiro! – Scorp falou antes de dizer a nossa senha óbvia na entrada do Salão Comunal. – Mas vou lhe conceder esse ataque de pelanca, porque até que você tem se comportado bem em relação a toda história de Louise e Longbotton...

Tony apenas nos brindou com um sorriso sinistro.

—Tony, não! Tony mau! – Falei apontando pra ele. Gente, eu quase morri, o moleque não pode para de pensar em seus planos malignos por uma noite?

—Não sou Perseu, Cesc! – Ele falou ofendido e depois voltou para sua cara de inocência fingida padrão, me atordoando com a velocidade da mudança de personalidade. Reflexos ainda comprometidos, pelo visto. – Não estou planejando nada para essa noite, nem para as próximas... Apenas estou pensando estrategicamente meus passos seguintes. Uma batalha certamente não representa toda a guerra.

Vou apenas ignorar que Tony está levando as atenções de minha irmã como uma disputa de Quadribol, porque eu estou muito cansado. Subi para as Masmorras, louco para tomar um banho, para tirar o fedor de lago de cima de mim e depois dormir, não no banheiro, lógico, quando vejo que meu quarto não estava vazio.

Pottinha e Rebeca pularam como se fossem feitas de ar, mas não são, e quase me derrubaram no chão. Sorte minha que Tony me deu um apoio.

—Ficamos tão preocupadas! Lily disse que você caiu no lago? Bem, pelo fedor, caiu mesmo, mas você está bem? Está bem! Tá até com as bochechas coradas e... — “Verborragia: Uso excessivo de palavras para expressar algo sem importância ou sem conteúdo; utilização de frases desprovidas de sentido e/ou sem importância para expressar poucas ideias;” Preciso dizer mais? Não, né? Rebeca estava me apalpando, tentando ver se eu não tinha deixado nenhum pedaço meu pra trás, no estômago da Lula-Gigante, talvez e Lily agora apenas observava minha expressão atentamente, como se estivesse esperando sua vez pra falar.

—Que baixaria é essa, Rebeca? Pode ir parando de querer achar motivo pra passar a mão no coitado, hoje ele não pode se defender de seus abusos! – Tony adora brincar dizendo que Rebeca está abusando de minha inocência, desde que eu contei minha versão dos fatos do nosso primeiro beijo. Rebeca apenas se desviou irritada das mãos de Tony, ele sim, provavelmente, tentando tirar uma casquinha da morena.

—Deixa de ser palhaço, Zabini! O assunto é sério! Estávamos morrendo de preocupação... – Ela começou a fazer biquinho, assumindo o mesmo tom irritante que Louise usou alguns minutos atrás. Nesse meio tempo, Pottinha conseguiu se esgueirar pro meu lado e me abraçar desajeitadamente.

Apenas porque Lily é a irmãzinha caçula que nunca tive, a abracei de volta e me abaixei um pouco pra falar com ela de igual pra igual.

—Soube que seu irmão otário me salvou... Tenho certeza que você que o ajudou nessa missão, Potter não deve nem saber como amarrar os cadarços sem ajuda! – Ela corou e sorriu com o elogio torto, tão fofinha.

—Na verdade... Eu meio que... Fiquei apenas gritando “Salva eles, James! Eles tão morrendo! Salva eles!!!” — Pottinha demonstrou como ela sacodiu o irmão pelo braço e eu tive que me controlar pra não rir, porque Rebeca ainda estava com a sua pose de “isso é grave, você podia ter morrido” e eu não queria irritá-la mais.

—Ok, Lily, hora de ir pra cama! O dia foi muito agitado, mas tá na hora de dar adeus à ele! – Scorp soou exatamente como meu pai. Lily fez uma careta, por ter sido tratada como uma menininha de 6 anos. Não posso culpa-lo, às vezes eu mesmo esqueço que ela é uma pré-adolescente de 11 anos!

Ela ia retrucar, mas Tony foi mais rápido.

—Cesc precisa descansar, Lily! E você também. – Essa última parte ele acrescentou tardiamente, como se apenas quisesse dispensá-la. Estranho esses dois...

—Vamos, Rebeca! Boa noite, seus chatos! – Lily falou emburrada, porém educada, a monstra já ia se encaminhando para a porta junto da pequena, quando Tony a segurou no braço. Ele apenas a olhou seriamente e Rebeca assentiu, também seriamente, isso quer dizer apenas uma coisa: ela volta ainda essa noite.

Eu já ia perguntar o que estava acontecendo aqui, mas Tony me mandou para o banheiro, coisa que eu não tinha como negar. Fui e tomei um banho correndo, porque está muito frio, a água é quente mas sair do banho é triste. Voltei para o quarto para encontrar Tony, Rebeca e Scorp discutindo algo em voz baixa. Pararam assim que entrei.

—O que vocês estão aprontando dessa vez?

—O Ocaso precisa sair hoje. – Rebeca me disse solene, sem acrescentar nenhuma outra explicação. Não precisava, de qualquer forma.

—A conversa de que iam me deixar descansar era só balela, né? – Rebeca deu uns tapinhas consoladores na cama para que eu me juntasse à ela. Odeio estar certo.

***

—Estamos quase terminando, juro! – Rebeca disse isso, enquanto me fazia um cafuné na cabeça, aquilo não estava me ajudando a ficar acordado. Seja pelo cansaço ou pela “poção vomitadora”, meus olhos estavam perdendo a batalha contra o sono. Soltei um resmungo qualquer e me aninhei melhor a ela, garotas são macias e cheirosas, ótimos travesseiros, de fato.

—Cesc! – Que inferno, Tony! — Louise perguntou sua opinião sobre citar nomes de alunos que participaram dos resgates...

Louise, Albus e John estavam participando da reunião via pergaminho, quase um chat, só que ao invés de usar um teclado você usa uma pena. Aidan ainda estava sob medicamento na enfermaria, então ele não poderia dar qualquer opinião sobre o assunto. Que inveja dele.

—Coloca... Coloca não, apenas fala o fato, não... – Bocejei, tentando fazer algum sentido na minha fala. – Não estamos aqui para criar heróis!

Sim, disse isso porque não quero ver o nome de James Potter sendo exaltado no Ocaso, tenho certeza que o Hogs News já vai tá lotado de elogios à ele! Sou recalcado mesmo, me processem! Ninguém me questionou nada mais sobre esse episódio, pelo que fico agradecido.

Na verdade eu apaguei mesmo.

***

Na manhã seguinte, com um estômago doendo, mas feliz por que as aulas foram canceladas, obrigado, Deus, pelas pequenas benções da vida, recebi o pergaminho das mãos de um Tony meio preocupado.

—Certeza que não quer ir na Enfermaria? – Eu olhei pra ele, me ajeitando melhor na cama para conseguir ler a última edição do Ocaso, que pela terceira vez na história, não esqueçamos dos episódio da rata da minha irmã, eu não fazia ideia do que encontraria escrito.

OCASO

Acromântulas no Lago – o filme

Para quem perdeu as referências trouxas do título, ignore-as, foi só uma vaidade da equipe, cujo o lado vencedor ganhou numa disputa acirrada.

O fato é, todos estão cientes do que aconteceu ontem no Lago, mas talvez as informações tenham chegado truncadas pra vocês.

Se você está aí pensando “Maldito Caio Ashton e sua ideia imbecil de fazer um rinque de patinação no Lago Negro”, você COM CERTEZA está com as informações equivocadas.

Nosso amigo lufano sugeriu sim, um rinque de patinação, mas gostamos de pensar que apenas as criaturas com cérebro foram convidadas a participar da diversão dele. Todos podiam ter dito NÃO, certo?

Ninguém foi obrigado a nada.

Então deixemos as acusações contra Ashton de lado e vamos ao que importa: fatos.

Ontem aconteceu algo que só foi visto em tempos de guerra: criaturas mágicas não domesticadas invadindo os terrenos de Hogwarts!

(E você aí se preocupando em saber quem levou quem para o Lago Negro! Fofoqueiros morrem primeiro nos filmes de terror)

É nosso direito estar nos terrenos da escola sem sermos atacados por bichos perigosos (e também há um direito salvaguardado de sermos idiotas, algumas pessoas usufruindo mais que outras) e nunca saberemos realmente se o gelo se quebraria ou não, caso as aranhas gigantes não tivessem causado todo o pânico.

Para quem não estava lá, as aranhas pareciam ter um objetivo.

Sabemos que nos colocamos como informadores, mas os acontecimentos ainda são muito recentes para apresentarmos fatos concretos. Se não se importarem, ficaremos apenas com as diferentes teorias e opiniões dos Iconoclastas, pode ser?

(Se não puder, apenas jogue o Ocaso fora, novamente, você não é obrigado a nada.)

Várias hipóteses surgiram, mas as mais fortes correlacionam esse episódio com o congelamento da Grande Escadaria.

(Não se entristecem toda vez que sobem ou descem aqueles degraus sem vida? Não se sentem... Menos mágicos?)

É um grande consenso aqui nos Iconoclastas, que tem algo muito errado com Hogwarts. Criaturas saindo da Floresta Proibida não podem ser um caso de simples “rebeldia aracnídea”.

Falamos isso, pelo comportamento apresentado na noite de ontem. Saíram da Floresta Proibida, atravessaram e CORTARAM a rota de fuga dos alunos para o Castelo e só foram impedidas com o uso de feitiços específicos contra aracnídeos, em resumo, elas tinha um foco, como já dissemos.

Segue um trecho do livro de Newt Scamander com nossos comentários:

“Acredita-se que esse animal foi desenvolvido por bruxos, possivelmente com a finalidade de guardar suas casas ou tesouros, como acontece com a maioria dos seres criados por magia.”

Animais guardiões são territorialistas e não saem de seus territórios a menos que tenham um bom motivo. Ainda de acordo com o livro, vemos que as Acromântulas são originárias dos trópicos, logo, sair de seu território no inverno escocês parece ainda menos provável.

Desses fatos concluímos duas teorias e estamos loucos para ouvir as vossas:

As aranhas sentem que há algo errado com seu território e por isso resolveram deixá-lo.

Ou

Elas não se sentem mais intimidadas pela Magia Protetora de Hogwarts.

As duas hipóteses não são nada promissoras, mas é exatamente o que elas são: HIPÓTESES.

Agora falaremos de coisas concretas:

A maioria dos alunos que estavam no episódio do Lago Negro passam bem, apenas sete estudantes foram encaminhados ao St. Mungos, mas já receberam alta e foram mandados de volta para suas casas.

O restante ou está esperando os ferimentos sararem sob efeitos da poção “Sono sem sonho” na Enfermaria ou estão em seus quartos, sob a luz dos holofotes, aproveitem enquanto podem e melhoras à todos...

De qualquer forma, o começo do recesso de fim de ano que estava previsto para daqui à dois dias, deve começar mais cedo, em respeito aos nossos colegas acamados.

Isso é um desejo, mas do que um fato, mas tá valendo.

Ass: Os Iconoclastas.

—Não gosto de estarmos trabalhando com hipóteses e teorias... Isso tira a nossa credibilidade. — Falei meio incerto, meio mal humorado.

—Credibilidade? Quem se importa? Sempre deixamos claro que mais do que informar, estamos aqui para causar. – Tony falou como se fosse “Elementar, meu caro Watson.”.

—Mas não se esqueça do plano original, temos que ter credibilidade para jogar a merda de Haardy no ventilador. – Eu completei meu raciocínio. A ideia de jogar o Haardy, que é um merda, no ventilador parece extremamente atrativa no momento, devo acrescentar.

Scorp se jogou na cama frustrado, como a grande diva que é. – Não acredito que o Natal está chegando e ainda não temos nada contra ele!

—Não é como se estivéssemos realmente investindo nosso tempo em descobrir o que Haardy está tramando... – Tony disse, girando a varinha do mesmo jeito que gira o bastão quando está pensando numa estratégia de Quadribol. – Sinto que estamos deixando passar alguma coisa óbvia.

—Tenho essa mesma sensação... – Falei levantando lentamente da cama. Ficar deitado se lamentando não vai resolver meus problemas. – Preciso terminar o que eu comecei. — Falei num tom definitivo.

Tony e Scorp me olharam como se eu fosse maluco. Fazer o que? Amo frases de efeito que não dizem quase nada.

Saída triunfal para o banheiro agora.


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Notas finais do capítulo

Cesc é uma diva, Scorp tb. Meio difícil escrever uma parte dramática sem pesar a mão... Um desafio, fui bem?