Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 118
Capítulo 118. Hoje alguém vai morrer


Notas iniciais do capítulo

NOTA IMPORTANTE NO FINAL!!!!

Agora que eu gritei e vocês vão ler as notas finais com atenção, me desculpem pela demora de 20 dias para postar, hoje-feira entreguei o primeiro artigo da minha dissertação de mestrado para a orientadora, então os dias estavam corridos.



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Capítulo 118. Hoje alguém vai morrer

— Cesc, você não pode continuar assim... - A voz de Louise soou alta, mas eu continuei deitado, fingindo que estava ouvindo música - meu celular descarregou há uns dez minutos, mas ela não precisa saber disso - com meus fones gigantes. – É como eu te disse, Enrique, ele diz que está bem, mas só faz comer e dormir, está comendo muito, inclusive.

— Já vejo... Ele não pode ficar gordo, Merlin nos livre! Nada contra, mas não faz muito o meu tipo, você sabe, sem falar que nós ainda temos um campeonato para perder... E o estágio? Ele não tem que ir cumprir a pena? - Enrique perguntou falsamente interessado, podia ver a cena claramente na minha cabeça, ele de pé encostado no marco da porta, de braços cruzados e Louise a viva imagem da irmã preocupada.

Revirei os olhos e continuei ignorando os dois, deitado de costas para eles.

— Ele recebeu folga do hospital, mas já está acabando e amanhã ele vai ter que parar com essa fres...

— As madames podem fazer o favor de parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui? - Virei irritado e como eu havia pensando, ambos me encaravam dissimulados da porta. – Já percebi que não vão me deixar em paz enquanto eu não sair desse quarto, quem vê de fora pensa que eu estou morto aqui há semanas, quando na verdade foi literalmente há dois dias que eu fui resgatado de uma floresta sombria e aterrorizante! Será que eu não posso ter um minuto de paz?

Falei tudo num fôlego só, então a ridícula da minha irmã só estalou a língua nos dentes e deu um tapinha no peito de Enrique, com um sorrisinho debochado.

— Eu disse que ele estava ouvindo, agora é com você. - Que garotinha nojenta, resto de parto, saiu como se tivesse descoberto a pólvora e deixou apenas o idiota do meu namorado me encarando com o cenho franzido.

O encarei de volta, irritado.

— Então... Acabou o drama? - Enrique abriu um sorriso quando eu encarei ele com ainda mais irritação. Às vezes a pessoa perde a chance de se manter viva... Vou mata-lo, é oficial. – Estava me perguntando se você finalmente poderia falar a versão da história que eu sei que você está inventando para os aurores... Quer testar comigo?

Ele sentou na minha cama e eu o olhei pouco impressionado pela sua perspicácia, afinal, ele me conhece muito bem e estava lá quando eu fui levado para a sede dos aurores em Barcelona e me fingi de muito traumatizado para não falar sobre o grupo de ciganos que havia me sequestrado.

Eles não merecem a lealdade, mas faria mais mal do que bem entregá-los aos “homens”.

— Não tem versão inventada, o garoto lobo tentou fugir do hospital e eu acabei segurando a chave de portal ativada e fui parar em uma floresta, onde fui encontrado no dia seguinte pelos aurores espanhóis. - Falei sonso e Enrique acenou com a cabeça.

— E essa cara quebrada? Os dedos machucados? Sua varinha sumida? O colar com seus pingentes também desaparecido? - Ele apontou para o meu pescoço, que eu sabia que tinha um leve arranhão por conta da corrente arrancada, revirei os olhos pra ele. – Você pode fazer melhor do que isso, garotinho.

— Sabe que eu não me lembro? Acho que eu estrunchei e minhas coisas simplesmente foram parar em outro lugar. - Dei de ombros e ele me olhou cético.

— Uma pena que eu avisei aos aurores da sua mensagem gritada na minha mente! - Continuei fingindo que não havia muito a ser dito e como Enrique é o rei da maturidade, ele me deu um peteleco na ponta do nariz. Doeu, caralho! Ativou o hematoma do olho!  –  Tenho certeza que há uma versão melhor do que você perdido igual uma barata tonta no meio de um bosque paté...

— Era uma floresta horrível!

— Um bosque que tem menos árvores do que o da minha casa e ficava há 200 metros de uma rodovia trouxa! - Ele falou debochado e eu senti uma leve vontade de dar um soco na cara dele. Melhor do que a vontade de assassiná-lo de antes, né?

— Você quer a verdade? Então tá: Maikai me deu um soco quando eu cai com ele e a namorada em outra floresta, o bando dele destruiu qualquer coisa que eu pudesse usar para fugir, me deixou preso em uma carroça por horas e depois me libertou, porque nem era para eu estar lá para início de conversa! - Falei exasperado e ele me olhou desconfiado. – É a mais pura verdade!

— É uma história meio merreca. - Ele fez uma careta e eu só me joguei de volta na cama, porque eu não mereço essa praga como namorado! Senti ele se deitando ao meu lado, mas não fiz menção de me ajustar a ele. – Pode ganhar uns contornos mais interessantes...

— Eu cuspi no pé do líder deles. - Agora Enrique riu e eu me animei um pouquinho com o som da risada dele tão perto de mim. Acrescentei mais algumas coisas. – E tinha uma canequinha no fundo da cela carroça, então eu fiquei batendo na grade como um daqueles desenhos antigos que eu te mostrei.

— Tenho certeza que você sentiu uma estranha satisfação mórbida e sem sentido com isso... - Ele falou divertido e eu me virei para encará-lo. Só dava para ver o narigão dele, porque estávamos muito perto.

— Senti mesmo, acrescentou profundidade a cena. - Falei orgulhoso e ele apenas me deu um selinho como resposta. Sorri para o carinho inesperado.

Ficamos nesse silêncio confortável por alguns minutos, o suficiente para eu fechar os olhos e só abrir quando Enrique passou os dedos pelo lado do meu rosto que ainda estava machucado, sussurrou para mim logo depois.

— Fico feliz que tenham poupado o nariz dessa vez. - Eu ri de leve, então ele continuou com o carinho e com a palhaçada. – E fico feliz que tenha voltado pra casa.

Bem, tem Louise presa a mim e mais dois dias de estágio para cumprir, mas tenho que admitir, é realmente bom estar aonde eu pertenço.

***

Estava terminando de organizar uma das prateleiras do boticário sob a supervisão de um James Potter muito irritante, hora e outra voltando para ver se eu não estava sabotando sua arrumação ridícula em ordem alfabética.

— Eu não sou uma criança pequena, pode ir cuidar da sua vida, idiota. - Falei de boa, na paz do Senhor, mas James continuou checando o que eu estava fazendo com aquele olhar julgador dos grifinórios. Sem dizer nada. – O que foi? Seu pai finalmente deixou o demônio que habita nele vencer e comeu a sua língua?

Virei sem paciência, porque eu já estava aqui há duas horas e James Potter estava dando uma de Scorpius Malfoy e sua montanha de gelo glacial. Claro que eu não sou obrigado a ficar aqui nesse boticário esquecido por Merlin olhando para a cara dele, só que...

Na verdade eu sou obrigado sim.

Infelizmente, sem a minha varinha, meu arsenal de feitiços ficou limitado a cinco, o que nem de longe atende as necessidades da minha função de gênio da lâmpada. Obviamente eu poderia aliar minha incrível inclinação para a feitiçaria com a experiência de Erick e tomar umas aulas práticas para virar o fodão do hospital, mas só faltam dois dias para eu ir embora, então, qual o ponto?

Vamos lá fazer o trabalho burocrático, só falta eu tirar umas cópias na máquina de xerox e levar o café descafeinado para o chefe...

James suspirou pesado, trocou um vidrinho de lugar e depois voltou para sua maquininha de sacudir meleca, eu não sei o que é e nem me importo, mas isso me irritou bastante.

— Deixa eu adivinhar: você está muito chateadinho porque eu não te chamei para salvar o dia com Maikai, pelo contrário, te deixei aqui abandonado que nem uma esposa vendo o marido ir para a guerra, acertei? - Ele continuou me ignorando, até foi lá no laboratório checar alguma besteira, o que me fez ficar parado olhando para a porta que ele acabou de entrar, não é como se eu tivesse muito o que fazer. Assim que ele voltou, eu continuei.

— Não me diga que você está chateado porque eu coloquei minha vida em risco e não me importo com os outros que sofrem e blablabá... Porque minha mãe já deu esse discurso e isso te colocaria numa posição bastante patética.  - Parei para avaliar tudo o que eu disse, então achei por bem completar. – Mais patética do que o normal, no caso.

Ele não respondeu, na verdade fingiu que não me ouviu, então eu mandei ele ir se foder com vidro quebrado e voltei para o meu trabalho ridículo, talvez, não vou dizer nem que sim, nem que não, resmungando o quanto as pessoas que ficam dando gelo nas outras são infantis e tudo mais...

Falando em infantilidade, olha lá quem vem virando a esquina, todo felizinho.

— E aí, Cesc e James, o que fizeram de útil pela humanidade hoje? - Hugh falou daquele jeito meio entojado dos corvinais e eu só levantei uma sobrancelha para ele.

— Nada demais, só teve James sendo um palhaço, me ignorando, fazendo minha já sofrida estadia nesse buraco fétido ainda mais sofrida, fora isso, nada. - Falei dando de ombros, recebendo uma careta de Hugh como resposta. – O quê?

— Fala sério, Cesc, nem para isso você presta! Achei que sua chatice sonserina iria conseguir me garantir uma graninha, mas não, você decepcionou todo mundo de novo! - Olhei ofendido para aquele projeto de demônio da Tasmânia, mas quem tomou a palavra dessa vez foi a múmia paralítica Potter.

— Você não me decepcionou, Cesc, pelo contrário, fez exatamente o que eu esperava. - O idiota grifinório me deu uns tapinhas sem vergonha no ombro e aceitou o pagamento de um Hugh indignado. – Eu sabia que você fingiria que nada aconteceu por um tempão, já que odeia admitir que fez besteira e, quando finalmente deixasse de lado essa história de “ignorar o elefante branco na sala”, já seria a hora do fim da aposta, então... Obrigado.

— Espera, você apostou que eu iria fingir que nada aconteceu comigo por duas horas? - Perguntei confuso e meio indignado para um James todo pimpão e um Hugh enfezado. – Que tipo de aposta sem sentido é essa?

— Apostei que eu conseguiria ficar duas horas sem te dizer nada sobre a sua estúpida tentativa de salvar o dia, mas agora que já passou o prazo... - James deu uma pausa em seu discurso da vitória, respirou fundo com os lábios comprimidos e segurou meus ombros com firmeza. – QUE MERDA VOCÊ ESTAVA PENSANDO?

Ahhh, agora sim o mundo voltou a fazer sentido!

— Ora, Potter, me poupe, eu não devo satisfações a você, já prestei meu depoimento para a polícia ontem e eles me declararam inocente. Inocente de todas as acusações, foi o que eles disseram. - Tirei as patas dele de cima de mim e sai de perto daquelas duas lesmas muquentas, vai que imbecilidade pega? Hoje eles estão com um nível bem alto.

— Que tipo de pessoa normal vai atrás de dois lobisomens em uma chave de portal que nem sabe para onde vai? - Ele perguntou naquele tom exasperado que já lhe é típico, Segundo sempre fala algo como “James, você tá surtando”, mas na falta dele, meu dar de ombros vai ter que bastar. – Você obviamente é um perigo para si mesmo, talvez a perda da sua varinha seja o melhor que te aconteceu em anos!

Olhei para ele furioso, mas antes que eu pudesse assassiná-lo com minhas mãos nuas, a curandeira Fuentes resolveu sair do elevador parecendo a rainha da Espanha seguida por seu séquito infeliz. Fingi uma cara de ser humano normal, só para não ser levado para Olhoaren sem nem ter direito de defesa!

— Fábregas, como está indo o trabalho com o inventário? - A olhei com a minha melhor cara de “ Ah tá, até parece que você se importa”. Os dois idiotas que estavam comigo fingiram que estavam fazendo algo de útil, para não receber bronca por serem dois encostados. Típico. – Melhor ainda, quando vai chegar sua varinha nova?

— Eu não sei, eu amava minha varinha, não sei se vou conseguir substituí-la tão facilmente... Mas pra quê o interesse? Eu tenho certeza que a senhora pode inventar coisa pra eu fazer até acabar minha pena. - Disse esperançoso, mas a general maligna só franziu o cenho.

— Não vou ficar passando a mão na sua cabeça por cinco dias, Fábregas, providencie uma varinha.-  Ela falou sem sentimento me dando as costas, entrando no elevador, mas eu tô pouco me fodendo para isso, porque há pontos mais importantes para serem discutidos aqui.

— Cinco dias? Que história é essa? Faltam dois dias de pena, contando com hoje! - Falei rápido, segurando a porta do elevador antes que ela fechasse. Uma das garotas que acompanhavam a minha chefe pavorosa fez uma careta para mim, mas a curandeira Fuentes deu apenas um sorriso maligno.

— Faltam cinco. Você não achou mesmo que os dias que você ficou em casa porque deixou um paciente fugir não iriam ser descontados, não é mesmo? - Meu queixo caiu, porque tem tanta coisa errada nessa fala, que eu nem sei por onde começar.

Ok, na verdade eu sei.

— Um sistema de segurança bosta e um atestado médico de três dias, a senhora é uma iludida mesmo se acha que eu vou aparecer aqui tendo esses argumentos maravilhosos a meu favor. - Falei sincero, ignorando o sussurro de alerta de James, que devia ter entendido só a palavra bosta, já que estávamos falando em espanhol.

Ah vá, essa mulher já sabe que eu sou desrespeitoso, qual a novidade?

— Você até pode ter razão sobre a segurança, mas atestados médicos só valem em caso de estágio. - A curandeira falou parecendo tranquila e eu a encarei sem entender. – O que não é o seu caso. Se você vai cumprir a pena este mês ou daqui há cem anos, pouco me importa, mas você tem uma dívida com a sociedade e irá pagá-la.

— Você não terá que ver a minha cara nunca mais, pelo amor de...

— Não terei que ver a sua cara nunca mais depois de cinco dias, até lá... Compre uma varinha nova, menino. - Dessa vez eu deixei ela entrar no elevador, porque eu sei perder com elegância. Assim que as portas fecharam, fechei os olhos e fiz uma prece.

— Tomara que esse elevador caia, tomara que caia, por favor, Senhor! - Encostei a testa na porta fria de metal, mentalizando com toda a minha mente pura e inocente de criança.

— Cesc, você não devia...

— Vai se foder, James, meu papo aqui é com o Todo Poderoso!

Olhei para o marcador do elevador e vi que ele chegou ao primeiro andar em segurança. Droga, depois minha mãe se pergunta porque eu rezo tão pouco...

***

Então foi assim que aconteceu o fim do meu martírio:

Eu não comprei a minha varinha nova e tá, eu sei que a minha amada companheira está além da salvação e mesmo que seja encontrada - coisa que eu não tenho muita esperança, já que nenhum auror vai ficar por aí caçando objetos perdidos de um moleque - ela foi partida em dois, não tem muito o que fazer, mas ainda assim eu sinto como se estivesse traindo ela, pensando em comprar outra.

Bizarro, eu sei.

Sem varinha e sem previsão de receber uma varinha nova, a Curandeira Fuentes foi obrigada a ceder aos meus desejos, no caso, não o de ficar livre mais cedo e sim o de me deixar vagando pelos trabalhos burocráticos mesmo. Não era bem um desejo, mas dada as circunstâncias, estou aceitando qualquer coisa.

Mesmo ela tendo resmungado no segundo dia que não tinha mais o que me dar para fazer, logo foi achando um tal de questionário trienal que deveria ser respondido pelos pacientes acerca da qualidade do atendimento e serviço do hospital para ser entregue aos financiadores e blablabá...

Eu tenho certeza que existe um feitiço que pode ser aplicado e sei lá, as respostas vem automaticamente já tabuladas e prontas para serem analisadas em um relatório, mas obviamente Fuentes me colocou para fazer tudo sozinho, o que serviu apenas para eu me despedir dos pacientes que ainda estavam aqui e deixar minha marca na história desse hospital, já que o relatório foi assinado por... Ela, mas meu nominho aparece na capa também, viva!

Fiquei com muita vontade de adulterar os dados para fazer parecer que ela é tão ruim quanto é, mas desisti quando soube que esse era o tipo de trabalho que todo mundo usava nos seus relatórios de estágio, quero dizer, “Fábregas, 2021” nas referências soa maravilhosamente bem, né?

Mas voltando aos meus pacientes, o canarinho belga já recebeu alta e foi libertado em algum lugar legal onde pode voar livremente, Druz voltou para o Egito com a sua papelada toda em dia, o que de certa forma deve ser um final feliz para ele também.

Já a fadinha que eu mandei para Mirela Dussel-Romansek, Sabby, Enrique me disse que está passando maravilhosamente bem, tem sua casinha montada no ramo de um olmo antigo, perto das roseiras da senhora Romansek viúva, então está tudo certo e Maikai...

Provavelmente estará morto em menos de uma semana, não que eu me importe, porque eu não ligo mesmo, então voltemos ao presente.

Nesse exato minuto estava na frente da porta de gente rica de Enrique, muito bonito, vestindo minha liberdade, encarando um elfo doméstico bastante empertigado. Ele me ofereceu uma bandejinha de prata com nada dentro, então eu coloquei elegantemente meu chiclete lá, depois de me certificar que estava sequinho, claro.

O homenzinho desaparatou na minha frente e eu fui deixado sozinho naquele saguão de fogo e água de antes.

— Cesc, por que grudou um chiclete na bandeja de cartões de visita de Trut? Você só precisava dizer quem era! - Enrique me olhou com estranheza menos de um minuto depois do sumiço do elfo e eu dei de ombros, fingindo que fiz tudo de propósito.

— Você soube quem era, não soube? E vem cá, você não tinha dito que não tinha mordomo? - Ele me conduziu para uma saleta no andar debaixo mesmo, o que me fez perguntar outra coisa antes que ele pudesse me responder isso. – Okay... Por acaso seu quarto mudou de andar?

— Bem... Infelizmente ocorreu uma leve mudança de pla... Calma, não é uma mudança realmente, é mais como um adiamento, relaxa, você ainda vai ter o que você veio buscar aqui. - Fiz uma careta de desprezo para aquele sorrisinho sedutor de Enrique e aceitei entrar na frente dele nessa nossa “mudança de planos”.

— Cesc, você chegou! Que bom que você chegou, porque tio Enrique estava começando uma história meio... Era um pouco confusa, mas não tinha a ver com Quadribola e disso eu não gosto não. - Mirela falou tudo em um fôlego só e depois fungou com força, provando que até mesmo crianças ricas podem ser meio melequentas.

— Essa menina vai ser a vergonha da família, ela não gosta de Quadribol, Cesc! Simplesmente a coisa que coloca leite quente no nosso chá e babados no vestido dela! - Enrique carregou a sobrinha com um só movimento e a menina riu, não ligando para a ofensa que o tio dela falou.

— Não seja ridículo, Enrique, a família vai ser a vergonha da família, Lela não gostar de Quadribol é o que de menos pior poderia acontecer. - Falei, enquanto me sentava em uma das poltronas, ignorando completamente o serviço de chá de boneca na mesa de centro.

Desculpe, Lela, eu não vou brincar disso.

— Bem... Enfim, Lela está aqui por algumas horas porque odeia andar de carruagem, então veio mais cedo com Trut, e vai ficar até a mãe dela voltar de viagem da casa da tia do marido, quero dizer, Helena sabia que não iria poder aparatar nem pegar chave de portal estando grávida, pra que ela foi lá para a Romênia? - Ele me perguntou, mesmo sabendo que eu não tinha uma resposta para isso. – Mas não se preocupe, daqui a pouco o pai dela vem buscá-la, ele vai aparatar aqui assim que chegarem em casa.

Enrique se jogou no sofá ainda com a sobrinha no colo, que parecia bem alheia a empatação de foda que sua presença inesperada era na minha vida. Não tenho dúvidas que ela é inocente mesmo, então resolvi apenas sorrir e aceitar o meu destino elegantemente.

Mais uma vez.

— E então, Enrique, qual a história que você estava contando para Lela? Alguma que eu conheça? - Perguntei divertido e ele gesticulou com a boca por sobre a cabeça da sobrinha, tentando me fazer ficar calado. Bem, que pena que agora a gente não pode mais se falar por telepatia...

— Eu acho que nós podemos arrumar uma outra coisa para...

— Era uma sobre quatro fadas malvadas que criaram um jornal fofoquístico no mundo das fadas e causaram um monte de confusão quando... - Enrique tapou a boca da sobrinha abruptamente e eu o olhei desconfiado.

— Que é isso, Lela? Eu nunca disse que as fadas eram malvadas, eu disse que elas eram levadas, fadas levadinhas, o que não deixa de ser verdade. - Ele falou me piscando o olho e eu continuei olhando para ele meio desconfiado.

Jornal fofoquistico? Fadas leva... Ah, não!

Quer dizer que essa criatura estava distorcendo a história do Ocaso para a sobrinha antes de eu entrar aqui na maior cara de pau? Mas a pergunta que não quer calar é: quem diabos deixa uma criança sob a supervisão de Enrique Dussel?

Mirela conseguiu se soltar do tio, então empregou sua fuga meio estabanada e risonha até o meu colo, onde se ajeitou com um sorriso sapeca. Era uma pentelhinha muito bonita com esses olhos rasgados dos Selwyn.

— Como eu disse, eram quatro fadas, uma bonitinha que era...

— Deixa que eu conto a história, Lela, apesar de que Cesc meio que a conhece numa outra versão.  - Eu fuzilei Enrique com o olhar e ele começou seu conto torto com um sorriso que não era sapeca e sim safado mesmo.

Mas que cretino do meu ódio!

“ Na Terra das fadas, haviam fadas, mais fadas do que qualquer um pudesse contar! Elas eram de todas as cores e cuidavam de todas as coisas que haviam para cuidar:

Tinha uma fada que pintava as asas das borboletas brancas e outra que cuidava das borboletas pretas.

Tinha uma que enchia as flores de pólen e outra que engraxava os sapatos de todas as fadinhas da Terra das fadas, onde nenhum trabalho era pequeno demais e todas as mãozinhas eram necessárias.

Porém, haviam aquelas fadinhas cujas ocupações ninguém sabia muito bem para que servia e que a mera presença causava rebuliço por onde passavam, eram elas:

A fadinha do agouro, uma fada quase transparente de tão clara, que tinha o mau hábito de trazer notícias ruins mesmo quando não solicitadas, enquanto dava nós nas suas perninhas cumpridas e magrelas ao voar de um lado para o outro.

A outra fadinha levada era a fada da vingança, que andava com seu inseparável porrete prateado, pronto para fazer chorar aqueles que magoavam as outras fadinhas sem motivo, pena que ele sempre estava envolvido em vinganças bobas, geralmente com planos de três partes sem pé nem cabeça.

Havia também a fadinha da treta, tão bonita e cheirosa com suas unhas compridas e brilhantes, que todas as fadinhas novatas ficavam animadas por ficarem perto dela, mas isso era só até ela abrir a boca, porque quando ela começava a falar duas palavras que fossem, a confusão estava montada, era uma fadinha que gostava de causar discórdia.”

— Discórdia é quando alguém fala uma coisa só pra causar confusão, Cesc, tio Enrique que me disse. - Lela interrompeu a história para fazer um adendo muito necessário, já que me deu a oportunidade perfeita para perguntar uma coisa importante a meu querido namorado.

— Já vejo... Só por curiosidade, de que livro você tirou esse conto? - Enrique fez menção de responder, mas eu ainda não havia acabado. – E como eu posso enfiá-lo de volta lá?

— Eu disse que era melhor brincar de outra coisa... Que tal brincar de esconderijo secreto? - Enrique perguntou a sobrinha com uma falsa animação, mas a menina parecia que tinha outros planos.

— Não, tioooo! Faltou falar da fadinha da lábia, a sua favorita! - Fadinha da lábia? Enrique fez uma careta, mas Lela nem percebeu, fez questão de segurar o meu rosto para eu prestar atenção nela e parar de tentar sussurrar ameaças para o meu namorado palhaço. – Ele, porque era uma fada menino, conseguia trocar ceroulas furadas por galeões de ouro para a roda de sua carruagem só com sua conversa animada!

Ok, isso não é tão ruim.

— Essa fadinha parece bem divertida... Continue, Lela. - A menina se animou, então se ajeitou melhor no meu colo feliz da vida pela atenção recebida.

— Ele era tão sabido que o rei das fadas lançou um feitiço nele, que deixou a língua dele enrolada dentro da boca. - Ela falou empolgada e eu olhei para a cara de Enrique confuso, depois olhei feito um demônio, quando percebi o que isso queria dizer.

— Como é que é?

— Ele falava um montão de coisa e conseguia muita coisa, mas a maioria das coisas eram emboladas e daí as pessoas não entendiam nada... Cesc, você tá me ouvindo? Eu disse que... Papai! - Mirela saiu correndo no meu colo para se jogar nos braços daquele senhor sério da festa de aniversário de Enrique, que hoje estava usando uns óculos escuros bem legais.

— Olá, garotos. E então, princesa, se comportou direitinho? – O marido da Dussel fêmea perguntou simpático e a filha fez que sim com a cabeça, os dois ficaram trocando palavras em um idioma que eu não entendo, provavelmente romeno, o que foi a deixa perfeita para eu me aproximar de Enrique e dar um beliscão no braço dele.

— Língua enrolada, é? Você vai ver o que eu vou... Tchau, senhor Romansek, foi um prazer revê-lo! - Dei um aceno simpático para o homem, que já estava pronto para partir com a filha, o elfo e todas as coisas que foram magicamente arrumadas em uma malinha de mão com um balançar de varinha. – Até mais, Lela.

— Tchauzinho, Cesc e tchauzinho, tio, até na hora de... Ah! Espera, eu lembrei! - Lela desceu do colo do pai para vir falar comigo e eu me abaixei para ficar na altura dela. – Obrigada por mandar Sabby para ser minha amiga! Ela é a fada mais maravilhosa de todas!

— Melhor do que a fadinha da lábia? - Perguntei divertido e a garotinha loira fez uma expressão solene.

— Melhor sim. - Ela se inclinou para me dar um beijo, depois mais um tchau apressado, então os três saíram pela porta, para aparatar fora da zona de proteção da mansão. Eu me virei de braços cruzados para o dito cujo às minhas costas.

— E então... - Ele me olhou com a cara mais inocente do mundo e eu só levantei uma sobrancelha para a cara de pau dele. – Eu tenho a língua enrolada, é?

— Você sabe que eu adoro sua língua enrolada, não sabe? - Ele falou manhoso e eu revirei os olhos.

— Olha aqui, senhor Enrique Dussel, eu só não vou embora nesse exato minuto, porque...

— Porque você é uma fada levadinha, acertei?

Ok, é oficial: hoje esse garoto morre.


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Notas finais do capítulo

[Para quem não deu uma olhada no meu perfil e por isso não ficou sabendo da Promoção feat. Concurso cultural (What?), estou planejando uma spin-off de HOH (outra), contando seis histórias com os nossos amados aluninhos de Hogwarts vivendo suas próprias aventuras longe dos olhos de Cesc, mas para isso, preciso de personagens, então, se tiverem interesse, por favor, deem uma olhada no meu perfil, onde falo mais sobre as exigências e detalhes das fichas que vocês podem (DEVEM! HAHAHA) me mandar.]

Link da fic nova para mais detalhes: https://fanfiction.com.br/historia/752501/Alem_do_Castelo/

Bjuxxx

P.s.: quem for mandando as fichas dos personagens primeiro, terá mais protagonismo na história, pq a vida é assim, então corram!



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