Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 119
Capítulo 119. Construindo o poder


Notas iniciais do capítulo

Olha quem conseguiu postar apesar de todos os pesares!



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Capítulo 119. Construindo o poder

— Enrique, não precisa me dar sua pena do Ocaso, sério, embora eu realmente aprecie o gesto, você às vezes sabe como ser um bom namorado. - Falei e depois mastiguei mais uma daquelas fatias de bacon suculentas, que só os britânicos conseguem fazer. – Além disso, eu realmente tenho esperanças de que a minha volte, quero dizer, ela tem um feitiço convocatório, lembra? 

— Você nem sequer sabe em que país era aquela primeira floresta que vocês foram, sua pena provavelmente está perdida para sempre. - Enrique limpou a boca no guardanapo de tecido - gente rica já gosta disso - e depois acenou para que a elfa doméstica, que estava servindo nosso café da manhã, completasse seu copo de suco. - E obrigado pelo elogio, mas não é completamente desinteressado, eu acabei de comprar uma pena de Thunderbird pra mim e eu quero que você a enfeitice.

Ele falou isso como se fosse completamente ok sujar a boa imagem que eu fiz dele quando ele me entregou sua pena do Ocaso hoje mais cedo. Eu jurava que essa criatura tinha virado um ser humano decente e altruísta, mas ele apenas fez um upgrade de seus materiais de escritório, agora que era todo um adulto “responsável”. 

— Bem, de qualquer sorte você precisa comprar sua varinha nova para brincar de fazer feitiços, então eu já falei com sua mãe e ela me deu permissão para levá-lo para comprar uma nova, porque aparentemente é todo um ritual familiar “a escolha da varinha “ e eu não quero perder isso. - Erick falou animado, no lado oposto da mesa de refeições dos Dussel, como se ele tivesse sido convidado para a conversa.

— Eu não quero comprar uma varinha nova, especialmente se for na sua companhia! Para completar, temos treino de tarde, então não temos tempo para isso hoje. - Terminei meu café da manhã tardio - só tinha eu, Enrique e Erick na casa, porque o casal Dussel levanta praticamente de madrugada - e o encarei enfadado. 

Erick me cansa. 

— Eu já te disse que eu vou pagar por ela? - Ele falou despretensioso e eu olhei mais interessado. – Inclusive andei pesquisando algumas coisas a respeito e tomei a liberdade de encomendar alguns projetos, só vou precisar que faça alguns testes para ajustes e pronto. Será tudo bem rápido. 

— Do que diabos você está falando? O que você aprontou dessa vez? - Perguntei acusador, mas Erick só me olhou com aquela cara de falsa inocência dele. 

Ele sabe que eu sei que ele sabia que eu seria sequestrado e perderia a varinha, mas ambos estamos fingindo que essa frase faz sentido e que eu não o culpo por todas as minhas desgraças.

Ninguém acreditaria em mim mesmo...

— Não aprontei nada, pelo contrário, estou apenas tentando ser um tio bom, que faz de tudo para que o sobrinho favorito seja invencível. - Ele sorriu carinhoso e Enrique complementou a palhaçada.

— Você quis dizer feliz, não? - Revirei os olhos para os dois, mas Erick nunca me decepciona quando o quesito é escrotidão.

— Eu quis dizer poderoso. - Ele rebateu animado. – Então já que concordamos com tudo, precisamos nos apressar, porque o nosso horário com o mestre Konično se aproxima.

— Você acabou de inventar esse nome. - Apontei o óbvio, mas Erick só me olhou com desprezo.

— Eu não. Não tenho culpa se você não sabe falar esloveno. - Que capacidade que o ser humano tem de parecer ofendido com algo que deve ser verdade. Ele fez um aceno de cabeça e num piscar de olhos a elfa doméstica dos Dussel retirou a mesa do café, deixando Enrique com um garfo na mão e um olhar irritado no rosto. – Não estava brincando quanto a hora marcada, nós temos que ir.

Eu poderia fazer um escândalo e me recusar a ir a qualquer lugar que essa criatura das Trevas queira, mas qual o ponto? Eu tenho certeza que Erick vai dominar o mundo apenas com o seu poder de te deixar exausto, sem forças para contra-argumentar qualquer besteira que ele decida.

Fizemos uma viagem via pó de flú na lareira dos Dussel e fomos parar em uma pequena rua da Londres trouxa, espremida entre um par de prédios cinzentos da zona 4 da cidade. A lareira pública da qual saímos nos deixou com um pouco de fuligem na capa, mas nada que um feitiço discreto de Enrique não pudesse resolver.

— Ouvi dizer que esse cara é o mais seleto de todos, o clã Olivaras vende o maior número de varinhas, mas ele vende as melhores. - Enrique me confidenciou enquanto subíamos umas escadas apertadas, cuja a única sinalização de que havia um comércio por ali era a plaquinha balançando em um pequeno mastro sobre a porta.

— Konično trabalha apenas sob indicação, quem me passou o contato foi Heitor. - Erick falou sem olhar para trás e sem hesitar nas escadas compridas, cercadas por uma parede escura encrustada com algo que eu nem queria saber o que era. O prédio todo cheirava a mofo e umidade.

— Heitor tem uma varinha especial feita de uma presa de basilísco, ou seja, toda a varinha é o cerne mágico, imagina só a força disso! - Enrique me confidenciou baixinho, então eu fiquei mais interessado.

— Não tem madeira na varinha de Heitor? - Perguntei curioso e, por conta da conversa, acabamos ficando um pouco para trás nessa subida que parecia infinita. 

— Esse cara não gosta de trabalhar com madeira. - Enrique falou misterioso, depois sussurrou ainda mais baixo o restante da informação. – Dizem que precisa ter respeito na hora de cortar as árvores, para ganhar sua permissão e a varinha ser forte e esse cara não pede permissão para ninguém, então ele não trabalha com nada que seja consentido. 

Ok, espera um minuto aí, que tipo de fazedor de varinha é esse que não se submete a uma regra básica da profissão? Tô achando que esses dois meliantes aqui me trouxeram para uma consulta com um bruxo das trevas de verdade! 

Enrique fez sinal para que eu ficasse calado assim que chegamos na porta sinistra já aberta. Quando encontramos com Erick dentro do escritório do tal artesão, foi num muquifo onde não havia estantes com caixas de varinhas empilhadas, nem balcão de atendimento, apenas uma série de ingredientes saídos de algum filme de terror em seus potes embaçados e instrumentos que pareciam ser mais de tortura do que para fazer varinha.

Um senhor meio desgrenhado se colocou no centro do único facho de luz do ambiente escuro e eu me controlei para não dar um passo para trás. Ele era careca e as vestes eram empoeiradas, mas o que mais chamava atenção eram uns dentes de ouro que se sobressaiam nos lábios cortados até a parte de baixo do nariz, numa cicatriz que marcava todo o lado esquerdo do seu rosto.

Erick tomou a dianteira da negociação como se estivesse lidando com uma florista ou com um padeiro bastante amigável em um bairro respeitável, ou seja, um poço de confiança. Eu engoli em seco e Enrique apenas me olhou com aquele olhar sacana dele, porque o traste deve estar se divertindo com meu medo, tenho certeza!

— Esse é meu sobrinho que te falei, e então, fez meus projetos? - O tom dele havia mudado, estava sério e sombrio, como o de um general no meio de uma guerra sangrenta. O homem não me olhou por mais de dois segundos, antes de trazer duas caixas iguaizinhas em cor e comprimento, porém uma era mais larga do que a outra.

— Sim, belos projetos àqueles... Aqui, fiz essa belezinha em marfim como pedido, porque se o menino vai pra França, precisa de algo que não faça os homens-rãs ficarem nervosinhos. - Ele riu da sua própria piada, exibindo um pouco mais de sua nada saudável gengiva através da cicatriz. Preferi manter minha atenção na bela varinha perolada a minha frente. – Vá em frente, garoto, tente fazer um feitiço. 

Peguei a varinha - mil vezes mais fria e delicada do que a minha de olmo - com um cuidado extra e a sacodi na direção de uns girinos nojentos nadando em uma solução que parecia bastante tóxica. O vaso congelou instantaneamente, junto com os pobres animaizinhos dentro. 

— Muito bom, um feitiço limpo e rápido, ela tem um bom toque, não tem? - O homem de aparência bizarra me perguntou com simpatia, porque todo mundo sabe ser legal quando er vender alguma coisa.

— Gostei do peso e ela é muito bonita, mas eu sinto como se fosse quebrá-la no primeiro dia. - Falei, colocando ela de volta em sua caixa, torcendo para o homem não ficar chateado. Ele olhou para Erick, que pelo visto tem o veredito final aqui nessa situação.

— Essa não é para ele, vai ser da gêmea, cuja magia é mais azul do que a dele. - Erick falou sem demonstrar nenhuma emoção, mesmo eu estando encarando ele com o cenho franzido. Ele está comprando uma varinha para Louise também?  – Deixe-me ver a outra.

O homem abriu a segunda caixa mais do que satisfeito por saber que faria duas vendas hoje e eu quero só saber com que dinheiro Erick vai pagar por tudo isso. Olhei para a caixa aberta e ela era tão comprida quanto a outra, mas era mais larga, o que me fez ficar um pouco menos confortável de tocar. 

A varinha escura que pairava no tecido negro do forro, parecia feita de algum metal muito antigo e ao seu lado havia uma espécie  de mão esquelética feita do mesmo material. Olhei para Erick, pedindo por orientação antes de, sei lá, tocar no negócio e ter minha mão decepada, vai saber!

— Vá em frente, Cesc, é só uma varinha. Sua magia é infinitamente mais poderosa do que a dela. - Erick me falou daquele jeito de criatura antiga dele e dessa vez - só dessa vez - resolvi acreditar nele. Toquei na varinha e como eu temia, o esqueleto agarrou minha mão e se ajustou ao redor dela, como um segundo conjunto de ossos.

Tentei sacudir para fazê-lo desgrudar de mim, mas seus pequenos feches nos dedos se prenderam aos meus como anéis e o punho se fechou no meu como uma pulseira, o que me fez ficar com a luva mais maligna de todos os tempos.

— Caralho, isso é muito foda! - Enrique falou segurando meu braço na altura dos olhos, tentando ver melhor os detalhes, soltei um riso nervoso para a empolgação dele.

—Se não decepar a minha mão em nenhum futuro próximo, só aí eu vou começar a me preocupar com o quão foda esse negócio é. - Falei sincero, oferecendo minha mão para Erick tirar aquele negócio dela, mas ele apenas observou o troço de longe, com os braços atrás das costas. – Da pra tirar isso da minha mão, por favor?

— Por que? Está te incomodando? - Ele perguntou avaliador, então eu dei mais duas sacudidas na mão, antes de constatar que não, não estava incomodando, pelo contrário, parecia que eu não estava usando nada.

— Não, estranhamente eu não sinto como se estivesse usando algo, mas... E a varinha? - Apontei para a varinha na caixa e Erick apenas deu de ombros.

— Vamos levá-la também, use-a se sentir vontade, mas eu recomendo que teste a luva primeiro. - Franzi o cenho para ele, mas fiz o que ele disse. 

Bem, nessa coisa de testar varinha, geralmente Olivaras nos aconselha a relaxar e deixar o artefato  escolher o feitiço que vai fazer, se o bruxo se sentir bem com o escolhido, a varinha é a certa para ele. 

Inclinei a minha mão para um relógio de bolso com uma corrente quebrada largado na mesa a minha frente e assim que eu passei a mão por ele, os aros de metal ganharam vida e se transformaram em uma pequena e brilhante serpente.

A criatura saiu rastejando pelo chão meio sujo, coberto com pilhas de objetos esquisitos, até se perder sob um monte de tranqueira num dos cantos da sala. Olhei para Erick confuso e ele apenas me deu um sorriso enigmático. 

 

— Vamos ficar com ela. - O tom dele foi conclusivo e o estalar de dedos macabro, como sempre. O fazedor de varinhas piscou confuso e depois abriu um enorme sorriso saído do nada. – Seu pagamento já foi feito, obrigado pelo vosso tempo, Mestre Konično.

— O prazer foi todo meu, senhor. - O homem falou como alguém que tinha acabado de ganhar uma bolada na loteria mais trevosa de todas, então assim que Erick encolheu as caixas com as varinhas novas e as colocou no bolso interno do sobretudo, fomos embora sem nem olhar para trás. 

Assim que voltamos a respirar o ar menos viciado da rua, olhei para o meu mais novo acessório, já meio incomodado com os olhares que eu sabia que iria receber na rua.

— Agora é sério, Erick, como eu faço para tirar isso, todo mundo vai ficar olhando para minha mão! - Falei mostrando a ele o objeto chamativo, que me deixava parecendo com um punk usando um soco inglês estilizado.

— Você pode usar a luva ou a varinha, tanto faz, porque elas são iguais, mas eu pensei que você gostaria da ideia de ter as mãos livres ao fazer seus feitiços grandiosos. - Ele disse enquanto levantava a gola do sobretudo, porque acabara de começar a chover em Londres. 

— Sim, mas eu não quero que todo mundo fique olhan... - Antes que eu terminasse a conversa, Enrique tocou na minha mão, fazendo seus dedos se tornarem escuros como o metal da luva que eu estava usando e depois voltando a ficar com cor humana, assim como a minha mão e a luva. – Okay, isso sim foi incrível! Onde foi que você aprendeu a fazer isso?

Enrique sorriu convencido e devia mesmo, porque agora nem dava para ver mais a minha luva macabra, era como se ela estivesse camuflada com a exata cor da minha pele! Coloquei na altura dos olhos e constatei que o material era tão fino, que nem dava para ver o relevo que ela deveria fazer na minha mão. 

— Heitor tem me ajudado a entender melhor minha habilidade, ao que pare e eu também posso captar a essência da matéria e transferir para outros objetos. - Ele falou dando de ombros, como se não fosse nada demais, mas eu sabia que ele devia estar muito feliz com essa descoberta, já que sua inabilidade para usar seu mimetismo sempre foi algo que o frustrou. – Infelizmente é temporário, mas você pode aplicar um simples feitiço charme e tudo certo. Agora eu só estou curioso mesmo para saber do que a sua varinha é feita, me pareceu uma liga metálica, mas eu não consegui identificar o cerne mágico... Do que é feita, Erick?

— Ela é de prata com uma simples aplicação de ródio negro por cima. - Erick disse sem grandes emoções e eu e Enrique nos olhamos, porque isso não nos dizia nada. – Sua varinha nova é um simples catalizador, Cesc, não tem cerne mágico, mas não acho que isso vai ser um problema para você. 

— Como assim não vai ser um problema? Eu estou indo para o quinto ano em uma escola que eu não conheço, eu vou precisar de toda a ajuda possível! - Falei exasperado, mas Erick parecia muito preocupado com seu cabelo curto na chuva e Enrique havia se distraído com um food truck no final da esquina. – Eu gosto da ideia de melhorar minha feitiçaria com pouca interferência, mas vai ter feitiços que eu simplesmente não vou conseguir fazer!

— Eu não sabia que você podia prever o futuro, começou com essa habilidade quando? - Erick falou isso com seu bom humor sarcástico e depois assobiou cheio de estilo para um daqueles táxis negros londrinos. – Vamos andando, vocês tem um treino importante hoje e eu não quero perder suas caras quando se derem conta do que vai acontecer.

O meu “tio” irritante se sentou no banco do fundo do táxi, Enrique na frente - como a boa criança em busca de aventuras no mundo trouxa que ele é - e eu acabei me colocando ao lado de Erick, o olhando desconfiado. 

— Sinceramente, não sei se isso vai ser algo bom ou ruim, quero dizer, você já me deu um presente legal hoje, com quanto mais de sorte eu posso contar? - Perguntei a Erick e ele fez questão de me responder daquele jeito engraçadinho dele.

— Te dei um presente que você nem agradeceu! Se eu fosse você, não iria esperando pelo melhor... - Ele se aconchegou melhor no carro, procurando alguma coisa naquele compartimento que fica na porta. – Ora, onde estão as malditas balas?

— O agradecimento sou eu sentado ao seu lado, sem abrir a porta para te jogar para fora. - Sorri simpático para o motorista, que já nos olhava estranho pelo retrovisor, porque Erick ainda estava caçando suas balinhas e Enrique estava trocando as estações de rádio sem pedir permissão. – Nós vamos pagar a bandeira 2, não se preocupe, senhor, desde já peço mil desculpas pelo inconveniente que será essa corrida.

No fim das contas não pagamos bandeira alguma, mas tudo bem, porque Erick estalou os dedos e de repente o motorista de táxi, antes bem calvo debaixo de sua boina, passou a ostentar uma cabeleira de dar inveja em... Err... Outros taxistas calvos, imagino.

É o que eu sempre digo: uma vez djinn, sempre djinn!

***

O mais legal de estarmos finalmente chegando na final com Uagadou, é que os treinos ficarão mais e mais frequentes, maio inteiro tivemos apenas dois por causa da confusão da escola e agora teremos dois por semana e a partir da primeira semana de julho, até o dia do jogo, 11, teremos treinos intensivos.

Obviamente a gente sabe que Uagadou, por ainda estar em aula e inteira, está treinando de forma intensiva há meses, mas por algum motivo Connor acha que a gente precisa ouvir ele dizendo isso de novo e de novo e de novo...

— Eu só estou dizendo que se queremos ter uma chance real de vitória, a gente precisa convencer Potter de nos deixar treinar todos os dias e não só em julho, quando o erumpente já tiver ido para o brejo! - O corvinal falou pela décima segunda vez, então eu rezei mais uma vez para Romeo ou Lia finalmente matá-lo, mas foi Scorp e seu pessimismo que deu fim ao meu sofrimento. 

— Só tem um jeito de ganhar de Uagadou e esse jeito é sorte, então eu concordo com o treinador de nos poupar de um esforço físico completamente desnecessário. - Tony comprimiu os lábios para não rir do pessimismo alegre do nosso amigo, então eu revirei os olhos e Scorp continuou. – Acho muito sábio da parte dele.

— Ainda bem que vocês sabem da realidade, porque me poupa a necessidade de um discurso motivacional. - Falei bastante cínico, porque não abandonei completamente minhas esperanças de ganhar como Enrique e Scorp. Connor fez menção de dizer mais alguma coisa, mas eu o impedi. – Não quero ouvir mais uma palavra sobre Uagadou, vocês vão treinar como se o nosso destino dependesse somente de nós, me entenderam?

— E não depende? - Aquela voz grave e autoritária soou alta no vácuo da minha pergunta, mas foram os olhares espantados para algo atrás de mim que me alarmaram. – E então, alguém vai me responder?

Me virei lentamente para encontrar, não só Jweek, a dona da voz, como também Gina Potter, Oliver Wood e Baharov, a última revelação de Hogwarts para o Quadribol profissional, acompanhados pelo treinador Harry Potter. Todos nós ficamos estáticos, menos Enrique, que foi criado para ser pedante em qualquer situação. 

— Depende de nós saber se vamos nos envergonhar muito ou pouco na frente do mundo.  - Ele disse dando de ombros e Jweek apenas sopesou a resposta, olhou para seus outros companheiros famosos e profissionais e por fim deu um sorriso predatório. 

— Resposta errada, senhor Dussel, pague 100 polichinelos agora. - Ela falou animada, depois se virou para o treinador Potter como uma criança feliz. – Eu sempre quis dizer isso.

— Ok, cunhada, quanto custa cada polichinelo? - Mas Enrique é muito sem noção mesmo, Jweek se aproximou dele com as mãos na cintura e quando ambos ficaram bem próximos, ela estalou a língua nos dentes.

— Muito engraçado, senhor Dussel, 100 polichinelos para você e para todos os seus amiguinhos. - Todos nós resmungamos, porque esse pessoal todo não veio aqui para ver Romeo ter um ataque cardíaco, vieram para nos ajudar e Enrique está atrapalhando tudo. – É para começar agora e se reclamarem eu troco por flexões com peso e aí sim vocês vão chorar com motivo!

Potter fingiu que tinha autoridade sobre nós, então soprou seu apito de treinador sem nos dar satisfações, boas-vindas de volta ou qualquer outra coisa, aparentemente ele só estava aqui para realizar os sonhos da nossa musa meio sádica Jweek.

Começamos a fazer os polichinelos, cada um no seu tempo, alguns de má vontade, mas todos emanando um monte de energia negativa para Enrique, esse traste que não pode respeitar nem uma deusa maravilhosa, tô pra ver.

A única parte boa disso tudo foi que o exercício serviu para nos deixar mais aquecidos, então quando montamos nas vassouras, não estávamos tão despreparados assim para o que vinha a seguir.

— Como já devem ter imaginado pelas posições dos nossos convidados, que dispensam apresentações, vocês vão receber ajuda do melhor de Hogwarts no Quadribol dos últimos anos. - Potter falou animado e nós meio que ficamos animados também, porque aparentemente o Ocaso não estava errado: uma vez Hogwarts, sempre Hogwarts! 

— Goleiros com o senhor Wood, batedores com a senhorita Rosier, artilheiros com o senhor Baharov e com a senhora Potter e os apanhadores... Ficarão comigo mesmo. - Potter concluiu sarcástico para a careta de muxoxo que Enrique e James deram para ele. Se ferraram. – Podem começar os trabalhos.

Jweek nem esperou uma segunda ordem, voou como uma flecha de volta ao solo, então eu e Tony nos entreolhamos por uma fração de segundos para depois segui-la, junto com O'Brien e Connor.

Ela havia pousado a vassoura, pensei a princípio que era para soltar os balaços e pegar os bastões, mas ela apenas se sentou na caixa de madeira, nos olhando daquele jeito agressivo dela.

— E então, senhores, o que sabemos sobre os nossos inimigos de guerra? - Ela foi objetiva e enfática, indo de encontro com tudo que o treinador sempre nos disse sobre os outros jogadores serem apenas adversários e blablabá. 

— Sou amigo de uma das batedoras, Sharam Diniz, ela é muito boa e todos os jogadores de Uagadou voam sem medo. - Falei a título de introdução do problema, mas Jweek só franziu o cenho.

— Você foi e voltará a ser amigo dela um dia, mas agora ela é apenas “a inimiga”, estamos entendidos? - Ela falou sério e eu acenei com a cabeça meu entendimento. – Agora me fale mais sobre os jogadores de Uagadou, que “voam sem medo”. O que você quer dizer com isso?

 

Contei a ela tudo que eu sabia sobre os jogadores de Uagadou: o lance das capas deles que permitia uma visão limpa e longe das intempéries da natureza, o quanto eles tiveram que lutar para sair de uma peneira feita com todo o continente, como eles voavam através das montanhas e o quanto eles eram confiantes.

Jweek me ouviu com atenção, depois questionou Tony e por fim O'Brien e Connor também acrescentaram algumas coisas que tinham observado nos jogos que assistiram. 

Juntando com o primeiro que tínhamos jogado e àqueles que tínhamos assistido, vimos pelo menos quatro das combinações de batedores deles. Olhei para os outros voando acima de nós e me mexi desconfortável, porque, quando íamos começar a treinar mesmo?

— Mas não deveríamos focar nos artilheiros? Porque a nossa principal missão é cuidar para que nenhum deles consiga fazer um ponto sequer. - O'Brien perguntou incerto, com medo de ter ofendido a nossa treinadora estrela, mas ela apenas acenou com a cabeça para a pergunta dele.

— Você está certo, rapaz, esse é mesmo o nosso trabalho, mas deixe eu te contar uma coisa: batedores são os únicos jogadores que se importam com todo o jogo, sem exceção. - Ela sorriu para gente e finalmente se levantou do baú, sinalizando para pegarmos os nossos bastões.

Convoquei o meu com minha luva camuflada e Tony fez uma cara de surpresa engraçada. Pois é, queridinho, agora estou mais poderoso do que antes, embora seja meio que ilegal eu estar usando uma varinha dentro de campo, porque devemos trazê-las, mas não usá-las, ainda mais secretamente.

Juro que vou tirar a luva no jogo oficial.

— Quem pode me dizer com quem os goleiros se preocupam? - Jweek perguntou como se fosse uma sabatina, assim que todos estavam com seus bastões, inclusive ela. Apontou para mim depois de alguns segundos.

— Com os artilheiros e os batedores, em último caso com o outro goleiro, mas nem sempre. - Ela sorriu e apontou para Tony com o seu próprio bastão. 

— E o apanhador?

— Com o outro apanhador e com os batedores. - Tony respondeu de pronto, então a treinadora deu as costas a ele, como se estivesse pensando em mais alguma pergunta.

— Os artilheiros se preocupam com quem, senhor Ginns? - Ela fez essa pergunta para Connor, que se empertigou antes de responder, porque ele adora uma sabatina, já sabem.

— Com os outros artilheiros, com os batedores e com o goleiro, treinadora. - Ela fez que sim com a cabeça e por fim deu seu bote.

— Quem causa preocupação em todos os jogadores? Quem precisa se preocupar com todos? Quem precisa se preocupar com tudo que está acontecendo? - Era obviamente uma pergunta retórica, então ela mesma respondeu. – Nós! Nós batedores somos aqueles que precisam estar em todos os lugares, atentos a todos os outros! E quais são os outros únicos jogadores que precisam fazer o que nós fazemos?

Ela parou na minha frente e me olhou com seus impressionantes olhos castanhos e cabelos curtos com as pontas roxas dessa vez. Respondi com firmeza, porque sei que uma serpente ataca se você demonstra medo.

— Os batedores adversários, treinadora. - Falei tranquilamente, mas ela se aproximou ainda mais de mim e eu nem sabia que isso era possível. 

— Os batedores inimigos, capitão. - Ela falou com intensidade e eu entendi a mensagem. Sharam que me perdoe, mas se ela subir em uma vassoura no dia 11 de julho, ela estará ferrada. – Em suas vassouras, porque hoje vamos ver qual de vocês sabe ler as intenções de um batedor inimigo.

Levantamos voo e Jweek se aproximou do ouvido de cada um e nos deu um alvo e um protegido secreto, que se tratava dos outros jogadores, presos em seus próprios treinamentos e alheios ao risco que estavam correndo agora.

Eu fiquei com James de protegido e Enrique de alvo, o que era uma merda de proporções bíblicas, não por ter que acertar as fuças de Enrique - para mim seria um prazer - e sim porque cada um estava treinando em um extremo do campo e eu teria que priorizar quem eu iria cuidar.

— Lembrem-se, crianças, não deixem seus inimigos saberem qual é o seu objetivo, porque se deixarem... Eles vão fazer questão de arruinar a sua vida. - Depois de dizer isso, Jweek suspirou pesado e sorriu para cada um de nós. – Batedores não prestam, essa é a única verdade imutável da vida, porque eu soube que até para a morte já acharam uma saída.

Ela olhou enigmática para mim, mas eu preferi não retribuir o sorriso e sim encarar meus outros colegas de posição, para ver quem seria o primeiro a delatar um de seus objetivos. 

Tony voou em direção ao trio de artilheiros que estavam treinando junto a Fred II, perto de onde Enrique estava e eu rezei muito para ele não ser o protetor do traste do meu namorado, porque senão eu teria poucas chances de acertar o alvo. 

O’Brien voou para perto de James perigosamente e Connor ficou sobrevoando ao redor de Jweek como um perdigueiro, só esperando ela soltar os balaços com um aceno de varinha. 

— Ai, ai, eu vou me divertir muito hoje... - A nossa amada musa inspiradora puxou um pergaminho e uma caneta trouxa do bolso e colocou seu onióculos Dussel com um sorriso no rosto. 

Acenou com a varinha e os dois balaços no centro do campo foram aos céus, depois mais dois no canto norte, dois no sul e mais dois nas arquibancadas às minhas costas, ou seja, o campo de treinamento do Ministério, a 20km de Londres, tinha hoje 8 balaços no céu e 4 batedores nas vassouras. Olhei chocado para Jweek e ela deu de ombros. 

— Hogwarts tem que ganhar essa Taça, nem que para isso eu tenha que matar um de vocês! - Ela falou essa merda como se estivesse contando quantas estrelas tem no céu.

Engoli em seco e pus minha vassoura em movimento, porque um balaço estava prestes a aleijar um James Potter distraído perto do pai. Meu Merlin, Jweek Rosier é tão sádica quanto dizem os tabloides!

E eu adoro ela ainda mais por isso.


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Notas finais do capítulo

Gente, só para ser bem honesta, talvez nos próximos dois ou três meses as postagens fiquem um pouco sem ritmo, variando muito, pq estou bem apertada aqui com meus prazos e às vezes não tenho como sentar, escrever e revisar tudo e pra completar, Além do castelo exige muita pesquisa, para as escolas ficarem bonitinhas, então tenham paciência, okay?

Bjuxxx e obrigada pelos personagens, um mais incrível q o outro, estou me divertindo aqui fazendo as fichas.

P.s.: uma foto para vocês entenderem mais ou menos como é a nova "varinha" de Cesc.

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