Flores pra você escrita por Matthews


Capítulo 5
5


Notas iniciais do capítulo

Bom gente, mais um capitulo sendo postado. Uhul.
Peço desculpas pela demora. Não vou enrolar muito, vamos ao cap.



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Foi fácil se misturar no meio da confusão que era aquele mar de corpos. Henrique deu um jeito de se perder e ficou para trás falando que eu não precisava me preocupar com ele. Que ele iria sozinho para a casa.

Assim que Florença e eu chegamos à cozinha ela me perguntou o que eu gostaria de beber.

— Um refrigerante, por favor — respondi com total convicção de que foi a resposta errada.

— Não sei se vou encontrar refrigerante aqui, mas não custa tentar.

— Se vai ser tão difícil de encontrar assim pode me dar uma cerveja mesmo — falei.

— Não sei se devo te dar uma cerveja, você me parece ser o tipo de cara que nunca bebeu antes.

— Já bebi sim. — Não bebi, não.

— Toma, vai com calma na primeira vez vai ser ruim, mas depois você acostuma.

Destampei a garrafa e comecei a beber, e Deus, aquilo realmente tinha um gosto ruim. Quando olhei parar Florença ela estava rindo.

— Do que você está rindo?

— Dessa sua cara. Se você pudesse se ver também estaria rindo.

Fiquei sem graça e pousei a garrafa sobre o balcão.

— Já que você irá ficar rindo da minha cara, acho que vou parar de tomar.

— Não vou rir mais. Prometo.

Peguei a garrafa de volta olhando desconfiado para ela. Enquanto dava o segundo gole observava ela me encarar com os olhos cheios de expectativa.

— E aí como foi o segundo gole?

— Foi melhor que da primeira vez, mas não é meu tipo favorito de bebida – respondi de forma sincera.

— Nem o meu. Geralmente bebo só em festas. — Ela segurou minha mão e me puxou para a sala onde o pessoal estava dançando. — Vem, vamos balançar o esqueleto. — Se não estivesse em pânico teria rido dessa frase dela. Dançar não era o meu forte.

— Não, vamos para outro lugar. Quem sabe o jardim? — Sugeri, mas tinha certeza que aquela guerra eu havia perdido.

— Não, não, não. Vamos dançar — disse Florença me puxando mais forte.

— Tudo bem, vamos então. — Já estava me deixando levar pela batida.

Chegamos à pista e já estava balançando o esqueleto com Florença na minha frente. A cada música que tocava eu ficava mais solto. Quando abri os olhos não via mais a Florença e sim Lena na minha frente. Seus cabelos loiros presos da mesma forma que estava na formatura, seu vestido azul, o arranjo de flores que eu lhe dei. Tentei espantar aquela visão, mas por mais que eu tentasse não conseguia.

Saí da sala e fui para a cozinha tentar esquecer isso. Enquanto saía repetia mentalmente “Não pode ser Lena. Lena não está aqui”. Não deu certo, Lena vinha caminhando em minha direção lentamente. Fechei os olhos, contei até 10, respirei fundo. E assim que ela chegou perto coloquei minhas mãos em seu rosto e a puxei para um beijo. O beijo se intensificou, desci minha mão para sua cintura e colei ainda mais nossos corpos.

Assim que o ar se fez necessário me afastei abrindo os olhos e minha surpresa foi tanta que me afastei rapidamente dela. Não era Lena que estava ali, era Florença. Eu não havia beijado Lena, havia beijado Florença.

A minha surpresa estava refletida no rosto dela. Saí rapidamente da cozinha e fui para os fundos da casa. Encontrei um balanço e me sentei nele, encostando minha cabeça na corrente fria. Enquanto tentava me recuperar do ocorrido imagens da formatura passavam em minha mente.

Lena caminhava em minha direção do mesmo jeito que havia feito agora pouco. Ela estava voltando do banheiro, foi arrumar a maquiagem, eu acho. Naquele momento eu estava totalmente sob seus encantos, estava quase no final da festa e eu ainda não tinha conseguido o que eu queria.

Levantei e fui me encontrar com ela.

— Você quer dançar? — perguntei.

— Claro. — Ela me respondeu dando um daqueles sorrisos que me faziam apaixonar um pouco mais.

Fui com ela para o meio da pista de dança. Estava tocando uma música mais lenta, ela colocou os braços em volta do meu pescoço e eu envolvi sua cintura. Enquanto balançávamos de um lado para o outro, fomos nos aproximando até que nossos lábios se encontraram. Foi um beijo tranquilo, calmo, lucido. No final ela me olhou sorrindo, seus olhos expressavam a mais pura alegria, e aposto que ela via a mesma coisa refletida nos meus. Eu estava tão feliz. Tinha vontade de gritar para os quatro contos do mundo.

Então resolvi girá-la, ela se desequilibrou, eu não consegui segurá-la. Ela caiu com tudo no chão. Um grito horrível escapou da minha boca. Eu me joguei ao seu lado, coloquei sua cabeça em meus braços, ela me olhou uma última vez e fechou seus olhos.

Depois que Lena morreu, entrei em depressão e tudo o que eu queria era que minha vida acabasse. Não via mais sentido em viver. Não sentia mais nada. A única coisa que eu sentia era uma ansiedade sem normal.

Ficava longos períodos trancado no quarto. Meus pais tentavam me animar, sem sucesso. A primeira vez que tentei me matar tomei um monte de remédios da minha mãe. Meus pais me encontraram horas depois. Não existe pior sensação do que tentar morrer e não conseguir.

A vigilância depois disso ficou redobrada, foi um período difícil lá em casa. Meus pais ficavam em cima. Minha mãe parou de trabalhar. Eu sabia que era responsável por tudo que estava dando errado na vida dos meus pais. O poço estava ficando cada vez mais fundo. Eu não conseguia me levantar.

A segunda tentativa foi ainda pior, fiz um corte no meu braço, não deu certo. Minha mãe me encontrou desacordado no quarto e me levou correndo para o hospital. Os médicos conseguiram estancar o sangramento.

Enquanto eu relembrava isso comecei a passar a mão por cima da cicatriz que eu tinha no braço esquerdo. Sempre que alguém perguntava alguma coisa falava que tinha acontecido algum acidente ou algo do tipo. Depois disso desisti de tentar me matar. Duas tentativas seria meu máximo.

Entrei em acordo com meus pais, no próximo ano tentaria entrar na faculdade, e não importava onde fosse eles me deixariam ir. Me dediquei aos estudos e consegui entrar. E aqui estou eu. Sentado em um balanço, chorando e me lembrando de tudo isso.

Estava chorando igual chorei no dia. Não me importava mais com quem iria me ver. Olhei em volta e não tinha quase ninguém no quintal. Eu não poderia ter outra recaída. Meus pais iriam ficar preocupados.

Quando estava mais calmo, pensei em entrar na festa para falar com Florença. Estava me levantando, mas parei na metade ela já estava se sentando no balanço ao lado do meu. Me sentei novamente, e ficamos escarando o nada por um bom tempo até que ela disse:

— Não sabia que beijava tão mal assim. — Ela claramente estava tentando me animar.

— Não beija — minha voz saiu um sussurro.

— Bom, isso me deixa muito feliz, mas ainda não explica por que você saiu correndo da cozinha daquele jeito.

Eu não poderia mentir para ela e falar que não era nada. Ela me olhava com aqueles grandes olhos e eu simplesmente contei tudo. Enquanto contava comecei a passar a mão por cima da cicatriz e percebi que Florença não tirava os olhos dela.

Eu acenei calmamente e ela tocou na cicatriz. Acho que para ter certeza que era de verdade. Enquanto ela me tocava, eu a encarava e podia ver a pena que ela sentia. Eu odiava quando as pessoas sentiam pena.

Retirei minha mão de forma brusca e enquanto ela me encarava sem saber o porquê voltei para dentro da festa. Odiei fazer aquilo com ela, mas odiei ainda mais a pena que ela sentiu.

Já dentro da casa subi as escadas que levavam ao próximo andar e entrei em quarto vazio. Me joguei na cama encarando o teto. Não sabia quanto tempo tinha passado. A porta foi aberta de uma vez. Era um casal procurando um quarto vazio. Tente o próximo. Voltei a encarar o teto. Da segunda vez que a porta foi aberta quem entrou foi Gabriel. Não poderia expulsá-lo, sabia que ele não sairia.

— O que deu em você pra se esconder assim? — perguntou Henrique. — Você abandonou a menina sozinha e agora esta aqui, olhando para o teto.

— Não quero falar sobre isso — respondi indiferente.

— Você nunca quer, mas agora acabou ou você fala ou você fala. Não vou te deixar sair desse quarto enquanto não me contar o que está acontecendo.

Suspirei alto e me preparei para contar pela segunda vez a minha história numa mesma noite.

Henrique puxou a cadeira da escrivaninha — que eu não tinha reparado estar ali — e sentou-se, ainda bloqueando a minha saída. Me sentei na cama, e contei.

Contei sobre Lena. Contei como fui apaixonado por ela durante três anos. Contei como sempre tive medo de perdê-la, mas como nunca fiz nada. Contei como seu comportamento mudou. Contei como ela passou a me olhar, a me escutar e sorrir de forma diferente. Contei como a convenci ir à festa de formatura. Contei como ela estava bonita na sala da casa dela. Contei como todos ficaram nos olhando, pareciam saber que aquilo iria acontecer. Contei que enquanto ela estava no banheiro decidi que iria ser minha última tentativa. Contei como nossos lábios se encontraram sem nenhum esforço. Contei como ela caiu de meus braços, batendo a cabeça. Contei sobre seu último olhar para mim. Contei sobre o funeral dela, sobre o enterro dela. Contei sobre como me senti depois. Contei como me sentia cada vez mais vazio. Contei como parei de sentir. Contei que não via mais sentido em viver. Contei sobre as minhas duas tentativas de suicídio. Contei sobre como não morri em nenhuma delas. Contei como desisti de tentar me matar. Contei como fiz o acordo com meus pais. Contei como me dediquei aos estudos e entrei na faculdade. Contei sobre como via a faculdade como um chance de escapar daquilo tudo. E contei sobre Florença sentindo pena e como eu odiava quando as pessoas sentiam pena de mim.

Assim que terminei deitei na cama e fechei os olhos.

— Vou te falar uma coisa que está bem clara, sentir pena nem sempre é ruim. — Henrique começou a falar tranquilo. — Ás vezes só significa que a pessoa gosta de você e que está realmente triste por tudo que aconteceu. Você pode não gostar que as pessoas sintam pena de você, porém não pode impedir elas.

“Eu estou com pena de você, e por mais que você odeie isso não pode fazer nada. Vai ter que conviver até o resto da sua vida com isso, essas foram suas escolhas. E como um grande amigo que eu sou vou te dar duas opções de escolha. Primeira: ou você fica no quarto e deixa Florença zangada com você. Ou segunda: Você desce, procura ela e arruma toda essa bagunça. Não quero desculpas pra não falar com ela. Se ela não estiver aqui procure o número com alguém e se ninguém tiver vá até o dormitório dela. Essas são suas duas opções.

Escuto a porta se fechar e sou deixado sozinho. Enquanto encaro o teto penso em Henrique e suas duas opções, sei que tenho tantas outras opções, mas não quero faze nenhuma delas. Quero ir atrás de Florença. Quero me reconciliar com ela o mais rápido possível.

Me levanto rapidamente da cama, procuro a porta e saio a procura de Florença. Procura por todo o segundo andar e não a encontro. Desço correndo as escadas e volto à sala onde todos estão dançando procuro por seu rosto, por seu cabelo, por seus olhos. Não encontro nada. Decido sair para o quintal, passo pela cozinha e também não a vejo.

Primeiro vejo seus cabelos, estão quase sem nenhum cacho descendo até abaixo dos ombros, caindo por cima do vestido branco. Paro por um momento e absorvo aquela visão.

Passo pela porta e Florença continua encarando a escuridão. Me aproximo sem fazer nenhum barulho e toco em seu ombro. Ela se vira me encara por um momento e então lança um sorriso. Tinha um pedido de desculpas pronto, mas depois desse sorriso me esqueci de tudo.


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Notas finais do capítulo

Oi pessoas.
Aqui estamos nós, mais uma vez, reunidos ao fim desse cap.
Quero agradecer a todos vocês que estão lendo e acompanhando, muito obrigado mesmo.
E não sei se todos vocês sabem a historia tem uma playlist ( Flores pra você - musicas para dias tristes e afins) e se quiserem podem mandar sugestões de musicas para colocar, o link da playlist está nas notas da historia.

Bom acho que é só isso mesmo,ah e não deixe de comentar. Até a próxima.



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