Hogstory escrita por Fernando Cabral


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Meu amigo, Renato Oliveira, espero que você goste da fic, pois sempre quis escrever essa one-shot. Ela está um pouco menor do que eu esperava, mas fiquei satisfeito com o resultado!
Qualquer outra pessoa que tenha vindo ler a one-shot, espero que a leitura seja tão divertida quanto foi para mim escrevê-la!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/635586/chapter/1

Uma esfera de vidro pode conter informações suficientes para resolver ou iniciar uma grande guerra. Profecias que norteiam quem as ouve não são mais profecias, são conselhos. O que aconteceria se alguém ignorasse uma profecia e apenas seguisse sua vida? Se as palavras proferidas se cumprissem sem que os envolvidos soubessem de sua existência, isso sim faria com que elas se tornassem verdadeiras profecias.

Helga Hufflepuff devaneava sobre o assunto de profecias enquanto seus três amigos de longa data discutiam questões que, para ela, eram muito fáceis de se resolver.

Entediada, deixou sua mente vagar para o que considerava uma questão de maior importância: repassar os últimos acontecimentos em sua cabeça, e organizá-los de forma clara. Afinal, muita coisa acontecera até chegarem àquela discussão.

O reino de Northumbria fora invadido há pouco tempo.

Helga estava perto da costa, quando os navios vikings se aproximaram. Nenhum de seus amigos se encontrava quando ela se vira no meio da grande confusão.

Estava ao norte de Northumbria, na região de Lothian, onde havia um grande mercado, no qual eram vendidas iguarias vindas de várias partes do mundo, o que atraía o aguçado e exigente paladar de Helga. O local era frequentado por boa parte da comunidade bruxa, mas não podiam fazer nenhum feitiço em público, pois trouxas também eram atraídos pela grande feira.

Helga checava um interessante pó vermelho, que servia tanto para dar cor quanto gosto a vários tipos de carnes, quando pessoas começaram a passar nervosas por entre as barracas.

— Vikings! Vindos de Holy Island! — gritava um homem, montado em um cavalo que aparentava ser uma espécie de híbrido com kerry bog. Helga notara uma criança assustada sentada logo à frente do homem, na cela.

— Já estão atacando a praia! — gritou, já um pouco longe.

Os mercadores começaram a reunir seus produtos apressadamente. Na correria, deixavam muitas coisas caírem ao chão. Pessoas já vinham pela estrada de terra, deixando suas casas nas aldeias próximas, levando consigo apenas familiares e trouxas de roupa.

Helga tratou de sair da feira, se dirigindo para uma pequena floresta próxima, de onde poderia aparatar para um lugar seguro. Ninguém a seguiu, mas aparentemente não havia sido a única bruxa a pensar em ir para lá, pois, logo depois das primeiras árvores que beiravam a pequena floresta, se deparou com um casal, que já empunhava suas respectivas varinhas.

— Mercia? — perguntou, simpática, ao casal, revelando sua própria varinha. Os dois, que primeiramente ficaram aflitos, haviam mudado as feições, adquirindo semblantes mais calmos após avistarem o objeto.

— Não, somos de Wessex — a mulher respondeu.

— Se nos dá licença — falou o homem, passando o braço direito por sobre o ombro de sua companheira. — Desculpe-nos por não conversarmos mais, mas sinto que realmente precisamos ir logo.

— Claro, claro, queridos. Só espalhem a notícia para a comunidade. Provavelmente ainda não houve tempo para ninguém enviar corujas.

— Avise também a quem puder que os vikings vieram do castelo de Lindisfarne. Não sei se ajuda, mas é uma informação — disse a mulher, enquanto o homem fazia um movimento abrangente com a varinha, que estava em sua mão esquerda. Logo os dois sumiram, produzindo um grande estalo.

— Bem, realmente é uma informação... — Hufflepuff comentou sozinha, levantando as sobrancelhas, e também aparatando em seguida.

O local para onde escolhera ir era um descampado. Helga desaparatou bem no topo de uma pequena elevação, de onde tinha uma boa visão de todo terreno em volta, que era cercado de verdes montanhas. O sol da tarde de abril, do começo da primavera, estava no céu. Ali, onde Helga estava, corria uma brisa fresca, que, junto com um pequeno campo de narcisos amarelos que estava próximo, ajudava a bruxa a relaxar e executar o feitiço do patrono, necessário para a ocasião.

A luz que saía da varinha tornou-se palpável, dando forma a um cachorro de raça beagle. Ao criá-lo, Helga se concentrou nas informações que queria passar a seus amigos. O animal translúcido sentou no ar, encarando Helga com a cabeça virada. Então, com outro movimento da varinha, ela o enviou. Daí em diante, o que restava para Hufflepuff fazer era observar seu patrono seguir flutuando por cima das flores e da grama até sumir de vista, e esperar que ele chegasse rapidamente até seus companheiros, para lhes contar sua localização. Era importante que se reunissem.

A primeira pessoa a desaparatar a alguns metros de Helga foi Rowena, que usava um belo vestido arroxeado, e trazia uma espécie de tiara na cabeça.

— Só podemos estar perto do fim do mundo — disse, logo após o grande estrondo que marcou sua chegada. — Quando não são batalhas desnecessárias, temos invasões desnecessárias! Em breve não haverá mais trouxas para nos perseguir, já que eles perseguem e matam uns aos outros como se fossem de espécies inimigas. Quem ataca desta vez?

— Vikings, não há surpresa nisso. Quem mais poderia ser? — Helga respondeu, seguindo até sua amiga, que ajeitava seu vestido, e checava se não havia estrunchado nenhum pedaço dele. As duas se abraçaram.

— Godric e Salazar foram avisados? — Rowena perguntou, olhando em volta para saber onde se encontrava exatamente.

— Meu patrono chegará até eles em breve. Estava em algum baile?

— Eu havia sido convidada para abençoar o novo herdeiro do castelo de Bamburgh, mas parece que isso não será mais necessário.

Mal Rowena acabou de falar, um forte estrondo chamou a atenção das duas bruxas. Próximo de onde estavam, Godric desaparatara.

— Holy Island está destruída! — gritou de onde estava.

Rowena fez sinal para que o bruxo se aproximasse. Não gostava que ficassem gritando com ela, e gostava muito menos que gritassem em um descampado, quando poderiam chamar a atenção de algum passante inconveniente.

Godric Gryffindor caminhava com passos pesados na direção das duas companheiras, sua espada em punho, o que demonstrava toda a sua revolta.

— Como os trouxas podem ser tão negligentes com suas próprias construções? Eles não imaginam o trabalho que deu construir aquele castelo?!

— Oh, meu querido Godric — Hufflepuff falou, numa voz serena. — A necessidade que as pessoas têm de destruir tudo o que é diferente ou que não compreendem vai muito além da nossa humilde compreensão.

Gryffindor revirou os olhos, mas embainhou sua espada prateada, como que em acordo.

— Salazar já deveria estar aqui — Rowena Ravenclaw estava séria.

— De nós, ele é o que está mais longe deste ponto. Pelo que tinha me dito, ele deve estar perto da fronteira com Wales. Foi ouvir profecias, o supersticioso — respondeu Godric.

— Oh, achei que tinha ido caçar cobras. Faz tempo que ele não nos apresenta uma nova amiga com quem ele gasta horas conversando… — Hufflepuff sorriu sarcasticamente ao falar.

— Enquanto esperamos, acho bom que juntemos as informações que temos — disse Ravenclaw.

Mas não havia muita coisa que um deles tivesse para compartilhar sobre o assunto que os outros dois também já não soubessem. Nem mesmo Gryffindor, que estivera na ilha de onde vieram os vikings, detinha informações satisfatórias sobre os motivos da invasão ou o número de inimigos. Provavelmente as motivações dos bárbaros eram as mesmas que envolviam todas as outras invasões: ganância por terra.

Ao final da pequena reunião, que não durou mais que alguns minutos, os três bruxos decidiram que precisavam de mais conforto para esperar por Salazar Slytherin.

Rowena, com um agito de sua varinha, conjurou quatro confortáveis cadeiras e uma pequena mesa. Helga e Godric se sentaram, agradecidos, e permaneceram num silêncio, que não era desconfortável para os amigos de longa data.

Não demorou muito, embora tenha levado mais tempo do que os três imaginavam, para que Salazar desaparatasse próximo ao grupo. Depois do barulho da magia ressoar como trovão pelas colinas ao redor, os quatro estavam enfim reunidos.

Slytherin, que normalmente tinha uma expressão fechada, parecia estar enjoado. Seu rosto, naturalmente pálido, estava esverdeado, curiosamente combinando com suas vestes. Segurava o medalhão, que sempre levava ao pescoço, como se sua vida dependesse dele.

— Oh, algo não está certo. — Helga caminhava de encontro ao bruxo, junto com os outros dois, e demonstrava preocupação tanto na voz quanto no rosto.

— Não me diga que estrunchou — Godric disse, ao se aproximar do amigo.

— Claro que não — Salazar retrucou, com a expressão séria, mas ainda aparentando estar enjoado. — Estou apenas cansado desses trouxas interferindo em nossas vidas dessa maneira. Nós já deveríamos ter encontrado uma forma de viver minimamente separados do mundo deles. Bruxos são diferentes de trouxas em inúmeras características. Fico doente ao ver os problemas deles afetando a nós.

— Salazar, querido — disse Hufflepuff, pegando Slytherin pelo braço —, eles são humanos tanto quanto nós… Venha, vou conjurar alguns utensílios, e prepararei um chá para que você se sinta melhor.

Ela e Gryffindor ajudaram o recém-chegado a ir até a mesa conjurada por Ravenclaw.

Depois de comerem e beberem brevemente, os quatro bruxos passaram a discutir o principal assunto pelo qual haviam se reunido ali. Durante a refeição, Salazar contou aos outros três que onde estivera tinha havido uma grande confusão. A notícia da invasão causara pânico nos trouxas, e alguns bruxos, na pressa de irem para algum lugar seguro, executaram feitiços na frente dos trouxas, que, já alarmados, entraram em desespero. Ele, junto de alguns outros bruxos e bruxas que estavam menos aflitos, trabalharam duro para resolver a situação da melhor forma possível. Por isso chegara desgastado até ali, onde se encontrava no momento.

— Ainda estamos no reino de Northumbria, isso se ele ainda se chama assim, depois da invasão — disse Ravenclaw, pensativa, com as mãos entrelassadas no colo. — Os outros reinos já devem estar tomando previdências em relação a suas respectivas defesas. Os vikings que vieram de Holy Island, esses tais Danes, podem ter a fome maior que este reino. Podem ter invadido aqui, mas tendo o objetivo de alcançar outras terras...

— Bem — Godric a interrompeu —, já encaminhei alguns patronos antes de aparatar para cá…

— Fiz o mesmo — comentou Salazar, no meio da fala do outro bruxo.

— … então estou livre para ficar com vocês, até que decidamos o que fazer.

— Sim, pois alguma coisa tem de ser feita — completou Ravenclaw.

— Tomarei as providências para que fiquemos bem aconchegados durante a noite que vem — disse Hufflepuff. — O sol já está se pondo, e a brisa já evoluiu bastante desde que cheguei aqui. Essa noite terá vento frio, posso ver pelas nuvens. Lavantem-se, e, Rowena, querida, pode recolher seus móveis, por favor.

Os bruxos levantaram, assim como Helga pedira, e Ravenclaw fez as cadeiras e a mesa desaparecerem, com o mesmo movimento da varinha que fizera para que elas surgissem. Em seguida, Hufflepuff conjurou uma enorme tenda.

— Enquanto vejo se tudo lá dentro está em ordem, por que vocês não lançam alguns feitiços de proteção, para que não tenhamos o risco de nos envolver em nenhuma batalha? — Helga sugeriu, já entrando na grande barraca.

Os outros três bruxos cumpriram a ordem, e em seguida adentraram a recém-conjurada cabana.

Antes de deitarem para dormir, chegaram a um consenso quanto a como agiriam no dia seguinte: entrariam em contato com as autoridades do mundo da magia, que não eram muitas, além deles, e ajudariam a organizar todos os bruxos, para que se unissem e se protegessem mutuamente. Além disso, Helga lembrou a todos que algo deveria ser feito também quanto à proteção dos seres mágicos, que certamente estariam sendo afetados por essa época turbulenta que os reinos dali passavam. A conversa fora tranquila, sem nenhum desentendimento entre os amigos, que dormiram confortavelmente em camas que já vieram dentro da barraca conjurada pela própria Hufflepuff.

O dia seguinte amanheceu ensolarado, com um calor maior do que o que era comum na primavera britânica, o que poderia estar anunciando, segundo Helga, que o verão daquele ano seria intenso.

Ela acordou primeiro e começou a preparar o desjejum, com menos variedade de comida do que gostaria, pois acabara não conseguindo trazer nada da feira.

Com o cheiro da comida, os outros três bruxos despertaram, famintos. Salazar aparentava estar um pouco melhor, pois seu humor se mostrava relativamente bom.

— Deveríamos criar um órgão mais sólido de proteção à comunidade bruxa. O que temos no momento é nada mais que um grupo que controla a relação entre nós e os trouxas, para que não sejamos perseguidos, o que também não é completamente efetivo… — disse, se dirigindo à mesa. Uma frigideira flutuava, deixando ovos fritos em seu prato, pois Hufflepuff sabia que isso era o que ele mais gostava de comer pela manhã.

— Concordo contigo, mas prefiro começar a pensar e discutir de barriga cheia — respondeu Godric, depois de lavar seu rosto em uma bacia que estava ao lado de sua cama, tentando ajeitar sua cabeleira ruiva, que os amigos chamavam carinhosamente de juba.

— Pois eu preciso falar agora, senão morrerei de ansiedade! — comentou Rowena, se sentando à mesa, ainda descabelada e com as vestes amassadas.

— Fale e coma, Rowena. Você é sempre a última a acabar de comer — disse Helga com um sorriso, enquanto ela mesma sentava em sua respectiva cadeira.

Ravenclaw tentou ignorar o cometário da amiga, mas sua feição demonstrou que tinha ouvido. Mordiscou um pedaço de pão e voltou a falar.

— Bem, essa noite tive um sonho. Vocês sabem que não tenho o dom da adivinhação, e nem acho que tenha sido propriamente uma adivinhação, mas sim uma revelação

— Rowena — interrompeu Salazar, logo depois de engolir um bom pedaço de ovo frito. — Fale mais devagar, se acalme. Estamos aqui te ouvindo, e não pretendemos sair correndo antes de você terminar. Tome seu tempo, e lembre de respirar. — Terminou de falar com um sorriso de canto da boca, enquanto pegava outro pedaço de seu café da manhã. Helga sorriu para ele, em concordância, e colocou a mão sobre a da amiga, com a intenção de acalmá-la. Gryffindor mantinha os olhos no prato, mas os outros sabiam que era todo ouvidos para o que falavam.

Ravenclaw limpou a garganta e voltou a falar:

— Então, acredito que tive uma revelação em sonho. Nele, eu me encontrava num lugar parecido com esse onde estamos, mas certamente não era aqui. Ao meu lado apareceu um javali, que olhou para mim e seguiu, subindo a encosta de uma pequena elevação à minha frente. Parou e me olhou de volta, como se quisesse que eu o seguisse, e foi isso que fiz. — Enquanto ela falava, os demais voltaram a fazer os talheres tilintarem contra os pratos, mas Rowena não conseguia parar para colocar nada na boca. Sua ansiedade era maior que sua fome.

— Chegando ao topo da colina, avistei um enorme e escuro lago, com mais colinas em volta. Olhei novamente para o javali, que de repente estava no topo de outra montanha, do outro lado do lago. Foi aí que tive uma ideia. — Ao dizer isso, ela parou e encarou os amigos, para se certificar de que estavam todos prestando muita atenção às suas palavras. Helga e Salazar a encararam, mastigando, enquanto Godric pegava pães, para comer com uma sopa. Rowena continuou:

— Podemos construir um castelo, que servirá como escola para crianças bruxas, que aprenderão nossa arte e cultura, além de permanecerem protegidas de todas as batalhas e invasões que nosso território vem sofrendo. Já pensei em muitos detalhes sobre como localizaremos as crianças e protegeremos o castelo, mas podemos discutir sobre várias outras coisas, enquanto tomo nota. Ah! Pensei também em alguns aspectos físicos que o castelo pode ter. Farei um mapa simples enquanto como, e depois poderemos passar aos detalhes.

Hufflepuff percebeu que Slytherin ficou com uma expressão estranha. Era como se tivesse começado a passar mal novamente. Passou a mão em seu colar e a encarou, dando um leve sorriso, que a acalmou, mas não impediu que ficasse desconfiada. Ravenclaw já havia conjurado uma grande folha de um papel amarelado, juntamente com uma pena e um tinteiro, e começara a desenhar, enquanto comia um pedaço de pão com ovo frito. Gryffindor continuava a comer, com os olhos pregados em seu prato. Helga decidiu terminar a refeição, pois sabia que não teria sucesso se insistisse em continuar a conversa. Aproveitou para pensar mais na ideia de sua amiga.

Após terminarem o desjejum, Ravenclaw continuou seu desenho, que já estava com inúmeros detalhes sobre a construção.

— Rowena — chamou Salazar —, acha mesmo que essa deveria ser a nossa prioridade no momento? Levaríamos meses para construir um castelo, e não dispomos de tanto tempo assim. Northumbria está sendo invadida agora.

— Uma coisa não invalida a outra — Ravenclaw respondeu sem nem tirar os olhos do papel.

— Ela tem razão, Salazar — falou Hufflepuff. — Podemos tomar medidas imediatas quanto à invasão de Northumbria, mas também podemos investir num futuro no qual nossas crianças estejam protegidas em bem instruídas.

— Eu apoio esse projeto do castelo — Godric finalmente tomou a palavra. — Essa é uma ideia que eu jamais teria, o que pode significar que seja brilhante. Quanto ao assunto de mais urgência, irei para Godric’s Hollow, onde tenho mais voz, para começar a direcionar as pessoas. Invistam um pouco de tempo para discutir a ideia de Rowena, que tem meu total apoio.

Gryffindor se levantou da mesa e foi se aprontar para sair.

— Assim está bom, Salazar? — perguntou Helga.

— Vejo que não vou convencê-los a pensar em outra maneira de proteger nossas crianças, mas precisamos discutir alguns detalhes quanto a isso.

— Ótimo. — Hufflepuff bateu palmas. — Quer começar?

— Sim.

— Rowena, está ouvindo?

— Mais ou menos. — A bruxa tirou uma mecha de cabelos embaraçados que lhe caía sobre os olhos.

Hufflepuff fez sinal para que Slytherin começasse a falar, pois sabia que Gryffindor prestava atenção.

— Se nossa intenção é proteger as crianças bruxas dos acontecimentos do mundo dos trouxas, isso incluiu somente as crianças que nasceram puramente bruxas, espero, pois as nascidas trouxas, além de mais difíceis de serem encontradas e contatadas, têm ligações fortes com a cultura trouxa.

— A escola seria o lugar onde as crianças nascidas trouxas teriam a oportunidade de aprender mais sobre nosso mundo e cultura, o que evitaria sérios problemas que poderíamos ter com elas no futuro. Não vejo motivos para deixar as nascidas trouxas do lado de fora — Helga disse séria.

— Eu mesma tomarei cargo quanto a essa matéria, Salazar — respondeu Rowena, tirando, por um momento, os olhos do papel.

— Também acho que as nascidas trouxas devem ser incluídas — falou Godric, do fundo da tenda, colocando suas luvas de couro. — Elas não têm nada de diferente das que possuem ambos os pais bruxos.

Slytherin não ficou satisfeito com a resposta dos amigos, mas Helga já colocou outro assunto em pauta. Discutiram então as proteções que o castelo teria, suas dimensões, algumas propriedades mágicas que poderiam inserir em seus muros, paredes e salas, e mais alguns detalhes. Chegaram à conclusão de que não poderiam continuar com o projeto sem antes decidir o local exato onde ele seria construído.

— Tenho a sensação de que sei o local — falou Rowena. Já tinha parado de desenhar, mas afirmara que aquilo era apenas uma base da planta do castelo, mesmo o projeto tendo ficado incrivelmente cheio de detalhes. — O lugar que vi no meu sonho existe. Por algum motivo tenho certeza disso.

— Pois então devemos ir logo a esse lugar, para terminarmos o assunto e podermos lidar com as questões de maior necessidade no momento — disse Slytherin, que apesar de estar claramente discutindo a contragosto, participou ativamente da conversa, afinal estava entre seus amigos mais próximos, e não era a primeira vez que tinha uma ideia contrariada por eles.

— Acredito que posso levar vocês até lá — Ravenclaw respondeu, já se levantando da cadeira e dobrando o papel no qual se encontrava seu complexo desenho. — Vou me aprontar e então poderemos partir.

Rowena levou apenas alguns minutos para se arrumar, o que permitiu que os outros bruxos organizassem sua próprias coisas antes de partirem.

Depois de prontos, os quatro bruxos saíram da grande tenda, que Hufflepuff desconjurou. Helga e Salazar deram os braços à Rowena — Gryffindor aparataria para Godric’s Hollow e depois os encontraria — e aparataram para o tal lugar do sonho.

O som de trovão reverberou pelas montanhas quando o trio desaparatou no alto de uma colina.

No pé da pequena montanha havia um enorme lago de águas escuras. Até a própria Ravenclaw parecia espantada com a precisão da paisagem que via, em relação ao relato que fizera.

— Ainda estamos em Northumbria? — perguntou Slytherin.

— Não, estamos mais ao norte, em Pictland, ou quase — respondeu Rowena —, embora aqui já tenha sido território de Northumbria, no passado.

— Oh, mas esse lago é realmente grande, Rowena — Helga demonstrava espanto e encantamento. — Poderemos criar criaturas mágicas enormes nele! Quem sabe alguma sucuri aquática gigante, Salazar!

O bruxo sorriu de leve para a amiga, e disse:

— Aquela grande floresta a leste — apontou —, apareceu em seu sonho, Rowena?

— Não, e talvez fosse bom que a explorássemos, para saber se há criaturas mágicas a habitando.

— Estou certa de que os estudantes irão amar explorá-la — completou Hufflepuff, batendo palmas.

Logo eles voltaram a conversar sobre o projeto. Helga notou alegremente que Salazar mudou de atitude ao chegar no lugar, talvez sua fala sobre a sucuri aquática gigante tenha ajudado um pouco. Ele parecia até mais animado com a ideia do castelo, e também com a floresta.

Em poucos dias o plano fora colocado em prática, com os quatro amigos trabalhando em conjunto no que viria a ser uma das construções mais importantes do mundo bruxo.

— Vamos precisar de um nome para divulgar ao mundo — Godric disse, no início da construção.

— O javali que me trouxe até aqui em sonho — respondeu Ravenclaw — era de uma espécie também conhecida pelo nome de warty hog, então, como lembrança a isso, chamarei a nossa construção de Castelo de Hogwarts. E não quero objeções.

***

Os quatro fundadores de Hogwarts ficaram muito orgulhosos de sua obra. Depois de pronto, o castelo era visto por eles como se fosse um filho, uma fortaleza viva. Mas não viva o suficiente.

O castelo tinha três grandes torres, sendo uma delas o corujal; cento e quarenta e dois lances de escadas; ele podia se regenerar, além de mudar de forma; seus feitiços de proteção faziam com que, para os trouxas, ele aparentasse ser um velho e abandonado castelo, cheio de ruínas, com várias placas indicando perigo em suas proximidades, o que, por algum motivo, não despertava interesse nenhum. Mas o que ele ainda precisava era receber estudantes, e preencher seus corredores com os mais diversos sons, para lhe dar vida.

E foi numa discussão na qual tratavam dessa questão que Helga Hufflepuff decidiu recordar tudo o que passara até ali.

Salazar voltara a insistir que alunos de pais trouxas, ou até mesmo mestiços, não deveriam ser aceitos em Hogwarts. Rowena e Godric argumentavam, e Helga não conseguia tirar da cabeça que havia algo de estranho nesse comportamento de Slytherin, pois ele nunca havia sido tão radical quanto a questões que envolvessem trouxas.

— Salazar — Hufflepuff interrompeu os amigos, prendendo sua atenção, já que ela raramente tomava alguma atitude como essa. — Você está sendo mais cabeça dura quanto a isso do que foi quando decidi trazer os elfos domésticos para a cozinha. Só precisei explicar que os estava privando de vários abusos, e você concordou.

— Três de nós queremos permitir a entrada de bruxos em Hogwarts, independente de sua linhagem sanguínea — continuou. — Se você é o único que insiste em só aceitarmos puro-sangues, sugiro que façamos a divisão dos alunos em casas. Cada um de nós ficaria responsável por uma casa, e selecionaríamos os alunos de acordo com nossas preferências. Dessa forma, todos saem um pouco agradados desta reunião. O que acham?

***

O mês de setembro do mesmo ano do término da construção de Hogwarts foi escolhido como data para receber os primeiros alunos da escola de magia.

Um pequeno grupo de assustadas crianças de onze anos chegou, todas acompanhadas pelos seus respectivos responsáveis, que também demonstravam grande curiosidade.

As escadas que mudavam de lugar, ideia de Ravenclaw para desafiar os estudantes e manter suas mentes sempre trabalhando, juntamente com algumas salas que apareciam quando bem entendiam, acabaram por dar ao lugar o apelido “O castelo que sempre muda”, que não pegou por muito tempo, talvez por ser muito grande.

A primeira seleção de alunos faria parte da cerimônia oficial de abertura do castelo, e todos os pais foram postos em uma arquibancada, num terreno ao lado do castelo, que seria usado para prática de esportes. Helga e Godric estavam em uma grande tenda, juntamente com os apreensivos alunos, enquanto Rowena e Salazar se encontravam em um palanque do lado de fora, fazendo um discurso para os pais, apresentando as atividades que se seguiriam.

— Prestem bastante atenção — disse Godric aos alunos. Seu tamanho e sua barba os assustava tanto quanto sua voz. — Vocês passarão por algumas provas agora. Eu, a professora Hufflepuff e os outros dois que estão lá fora vamos analisar o desempenho de vocês, e, ao final, vamos dividí-los em casas, que vocês seguirão até o fim de seu curso em Hogwarts. Cada turno da prova será feito por certo número de alunos, enquanto os outros aguardam por sua vez.

— Se esforcem — Helga bateu palmas — e não fiquem preocupados, meus queridos. Vai dar tudo certo! — Suas palavras não pareceram ser de muita serventia.

Uma aluna levantou a mão, e Godric lhe deu a palavra.

— Professor, por que minha irmã mais nova não pode vir estudar aqui?

— Quando ela tiver a mesma idade que você, ou seja, onze anos, ela será muito bem-vinda! Decidimos que ciranças abaixo da idade que vocês têm agora não conseguem cuidar tão bem de si mesmas quanto vocês ao menos deveriam saber.

— E meu irmão mais velho? — perguntou outra aluna. — Ele ficou com vontade de vir estudar.

— Quanto a isso — Helga respondeu, trocando um olhar com Godric que indicava “por que não pensamos nisso?” —, nós vamos aceitar alunos mais velhos a partir do ano que vem, pois precisamos de tempo para organizar a grade curricular dos anos que vocês passarão em Hogwarts, além de definir como faremos para que os mais velhos aprendam tudo o que vocês aprenderão, mas em menos tempo.

— Agora vamos parar de conversa, porque está na hora de começar a seleção! — Gryffindor rugiu, espantando as crianças. — Vou sortear o nome dos primeiros a serem testados.

— Façam duas filas à esquerda, e quem o professor Gryffindor chamar, venha para a direita.

Godric tinha em mãos um saco de pano que continha um pedaço de pergaminho com o nome de cada criança presente. Ele sorteou o primeiro aluno.

— Meriel Forrest — chamou o professor.

Uma menina de cabelos castanhos encaracolados saiu da fila e se encaminhou para onde Hufflepuff havia pedido. Ela segurava a barra de seu vestido nervosamente.

— Amphelice Burton. — Foi o segundo nome a sair do saco.

Essa era aloirada e tinha sardas. Caminhou, ficando ao lado de Meriel.

Os próximos nomes a serem chamados foram Reynard Vawdrey, Bernard Jackmann, Jocelyn Browne e Philip Howard. As seis crianças foram levadas para fora da tenda, onde haviam corredores, separados uns dos outros por madeiras, formando uma espécie de cerca entre um e outro. Eram exatamente seis corredores.

Hufflepuff posicionou cada um dos seis estudantes de frente para um corredor.

— Cada um de vocês seguirá pelo caminho disposto à sua frente — disse Ravenclaw, de cima do palanque, com a voz bastante alta, devido ao feitiço sonorus. — Vocês encontrarão alguns obstáculos no caminho. Todos enfrentarão os mesmos exatos obstáculos. Não importa quem vai chegar primeiro, o que importa é como vocês vão lidar com os problemas no caminho. Boa sorte, e lembrem-se: nunca mexam com um dragão adormecido!

— Ao meu sinal — falou Slytherin, também com a voz aumentada. — Vão!

Quatro das seis crianças entraram correndo em seu respectivo corredor, quanto às outras duas, Jocelyn e Philip, ficaram paradas. Philip olhou choroso na direção de Jocelyn, que, por algum motivo, franziu o cenho e enfim entrou em seu corredor. O menino, com lágrimas escorrendo pela bochecha, e um pouco de catarro saindo do nariz, adentrou o seu com passos lentos em seguida.

Nos primeiros quinze metros de corrida, um diabrete surgiu à frente dos alunos, que, em unanimidade, se assustaram. Cada um dos pequenos calouros já possuía sua própria varinha, que fora comprada na loja da família Ollivander, que já era famosa à época. Dois deles, sendo uma delas Jocelyn, e a outra Amphelice, usaram feitiços que haviam aprendido em casa, para se livrar de seu respectivo diabrete; Philip voltou alguns passos, chorando; Bernard e Meriel deram cabo dos seus com um tapão de reflexo; e Reynard apenas passara correndo e gritando pela pequena e azul criatura.

O segundo obstáculo consistia numa parede, que aparecia de repente na frente do aluno, e seguia até o alto das paredes de madeira que formavam o corredor. Reynard quebrara o nariz ao atingir sua parede, pois ainda estava em pânico devido ao diabrete que encontrara metros atrás, o que o atrapalhou quanto a perceber a barreira; Jocelyn, ouvindo o choro de Reynard, pulara a parede de seu corredor, se juntando ao menino, e o ajudou a passar por cima da parede, que não era muito alta, mas estava acima do alcance de seus braços. Em seguida, subira, usando como apoio as próprias paredes do corredor; os outros quatro tiveram a mesma ideia de passar por cima da parede, embora Bernard tenha tentado derrubar a sua a princípio, machucando os punhos.

O terceiro e último obstáculo era composto por um bicho papão, que se revelava nos últimos metros de corredor.

Incrivelmente, Meriel e Jocelyn, que mantinha Reynard atrás de si, conseguiram passar sem muitos problemas pelos seus desafios, chegando quase juntas ao outro lado do corredor, onde eram aguardadas por Slytherin; os outros três pareciam espantados demais para fazer qualquer coisa.

De repente, uma espécie de janela se abriu ao lado dos alunos que ainda estavam em prova, permitindo que um vislumbrasse o outro. Philip se viu entre Amphelice e Bernard, e pulou para junto deste; Amphelice conseguiu desviar de um golpe de seu monstro, ou no que quer que seu bicho papão tivesse se tornado, rolando em seguida para fora do corredor; Bernard e Philip, juntos, saíram do corredor, abraçados.

Slytherin os recebeu com palmas, sendo acompanhado por todos os familiares e responsáveis que se encontravam nas arquibancadas. Encaminhou os alunos para uma outra tenda, enquanto Ravenclaw, com um floreio de sua varinha, preparava os corredores para os próximos seis alunos.

As outras vinte e quatro crianças presentes na cabana foram sendo divididas em grupos de seis, e enviadas para enfrentar os obstáculos nos corredores, até que o quinto e último sexteto terminou a prova. Ao final, ficaram dez alunos na casa de Hufflepuff, dentre eles, Reynard; quatro na casa pela qual Ravenclaw era responsável, Meriel inclusa; cinco na de Slytherin, incluindo Philip, Bernard e Jocelyn; e cinco na casa de Gryffindor, sendo um deles Amphelice; sobrando seis crianças que não haviam sido escolhidas para nenhuma casa.

Os fundadores haviam concordado previamente que haveria o risco de algumas crianças não ficarem em nenhuma casa, mas Helga dissera que, caso isso acontecesse, na hora fariam uma pequena reunião para decidir o que havia de ser feito, de acordo com o desempenho das crianças que houvessem sobrado.

Os três bruxos então a encararam, enquanto as seis crianças aguardavam ansiosas, sujas e machucadas.

— Bem, meus queridos — disse ela, para os alunos —, vocês seis podem vir para a minha casa. Aqui somos abertos a receber todos vocês.

Hufflepuff olhou séria para os outros fundadores, como se os desafiasse a contrariá-la. Ninguém disse sequer uma palavra. Sendo assim, ela acabou ficando com dezesseis alunos em sua primeira seleção.

Anos depois, com Hogwarts já estabelecida, e com muito mais alunos do que tivera em suas primeiras turmas, os fundadores se reuniram a pedido de Gryffindor, para, segundo ele, discutirem um assunto de extrema importância para o futuro da escola. Estavam todos os quatro na sala do diretor de Hogwarts, cargo que era ocupado simultaneamente por todos do quarteto. Vestiam suas roupas de professor, cada um com a cor relativa à sua casa, e um chapéu formal.

— Por acaso se trata de algo que não discutimos no projeto do castelo? — perguntou Ravenclaw, sentada em sua respectiva cadeira, na sala do diretor. Os demais também se encontravam em cadeiras próprias. — Ou tive que voltar de viagem às pressas para apenas rediscutirmos algo que já foi resolvido?

Percebendo que o olhar de Rowena caíra sobre si, Slytherin tomou a palavra.

— Não tenho nada a ver com essa reunião, Rowena. E eu também estava em viagem. Os motivos pelo qual Godric nos reuniu também são desconhecidos por mim.

— Então vamos logo com isso — falou Hufflepuff, tentando soar simpática. — Não há motivos para se criar expectativa, certo?

— Você está correta, Helga — respondeu Gryffindor. — Eu os chamei aqui porque pensei em algo que não havíamos discutido antes — ao falar isso, direcionou o olhar à Ravenclaw.

— Nosso método de seleção de alunos é bastante eficaz, como se provou ao longo dos anos de existência de Hogwarts — continuou. — Mas temos de reconhecer que, mesmo que tenhamos normalmente vidas mais longas que as dos trouxas, nós, bruxos, também morremos em algum momento.

Gryffindor parou um momento, para notar se todos estavam prestando atenção.

— Então, proponho aqui que criemos uma maneira para que os alunos sejam selecionados de acordo com nossas vontades, mesmo depois que tenhamos partido.

— Nós temos professores que são de extrema confiança no castelo, Godric — disse Ravenclaw. — Acredito que depois que morrermos, eles seriam dignos de continuar a seleção em nosso lugar.

— Já concordamos que, depois de nós, Hogwarts passará a ter apenas um diretor principal — falou Slytherin. — A responsabilidade poderá ser dele.

— Acredito que isso seja muita responsabilidade e trabalho para apenas uma pessoa, Salazar — Helga comentou, séria. — E, Rowena, por mais confiáveis que os professores de hoje sejam, não temos garantias sobre as próximas gerações que trabalharão aqui. Tenho certeza que Godric nos chamou já tendo algo em mente. Estou certa?

— Como de costume, Helga — concordou Gryffindor, com um sorriso que mostrava rugas nos cantos dos olhos, embora sua barba e cabelos ainda fossem cor de fogo. — O método no qual pensei foi o clássico encantamento de objetos. Se pudéssemos analisar como a cabeça do aluno funciona, e como ele agiria em situações de risco, ou qualquer outra situação hipotética, poderíamos selecioná-los mesmo sem fazê-los passar pela provações, que tanto assustam aos calouros.

— Você está sugerindo que encantemos um objeto para que ele seja capaz de usar legilimência — afirmou Slytherin.

— Exatamente. E não conheço ninguém melhor para me ajudar nisso que você, Salazar. Afinal, você é tão bom em legilimência quanto eu sou com a espada. — Gryffindor deu um leve sorriso.

— Você já tem algum objeto em mente, Godric? — perguntou Ravenclaw, com os braços apoiados sobre a mesa.

— Sim. Minha ideia foi baseada em uma criação sua, Rowena. Quando você me mostrou seu diadema que aumenta as capacidades cognitivas de quem o usa, minha mente começou a coçar, iniciando um pensamento, que hoje já tenho definido. O melhor lugar para usar um objeto que lê a sua mente é sua própria cabeça, pois então encantarei meu próprio chapéu para que ele siga selecionando os alunos quando não pudermos mais fazê-lo!

— Até que não é uma ideia ruim — Ravenclaw concordou. — Com um feitiço que impeça seu envelhecimento, embora ele já seja um tanto velho, ele poderá existir enquanto Hogwarts existir, não menos que isso.

— Acredito que consiga encantá-lo para que faça o trabalho — assumiu Slytherin.

— Então vamos ao trabalho! — Helga já desembainhava sua varinha. — Afinal, sou a próxima a viajar!

Os quatro bruxos levantaram de suas respectivas cadeiras, empunharam suas varinhas, e começaram um trabalho de feitiços complexos, no qual se revezavam, de acordo com as especialidades de cada um. Slytherin fez questão, sem contar aos demais, embora não fosse necessário, de garantir que o chapéu não selecionasse para sua casa alunos que tivessem sangue trouxa, apesar desse tipo de feitiço não estar no campo de suas especialidades; Hufflepuff, por outro lado, se certificou de deixar claro para o chapéu que ele selecionasse, além dos que tivessem perfil para sua própria casa, aqueles que não se encaixariam bem em nenhuma das outras três.

O trabalho levou algumas horas, e deixou os fundadores cansados ao terminá-lo.

— Eu sou o Chapéu Seletor, e espero ser de bom uso nos anos vindouros! — disse o Chapéu, animadamente, logo depois do último feitiço ser lançado sobre ele.

— Oh, seja bem-vindo à vida, Chapéu! — respondeu Helga, estirada num sofá. Conjurou sua taça, com um texugo incrustrado, símbolo da sua famíla, para bebericar algo que havia dentro.

— Ano que vem testaremos seu uso, para que vejamos se o aprovaremos — disse Gryffindor, largado em uma das poltronas da sala.

— Estamos de acordo — falou Ravenclaw, analisando a constituição do chapéu, para checar se estava tudo correto.

Slytherin voltara a sentar à mesa, e nada falou.

***

Na seleção do ano posterior, após o discurso de boas-vindas feito pelos quatro diretores, a primeira criança foi chamada para experimentar o Chapéu.

O alívio no rosto dos alunos fora notável quando anunciaram que naquele ano a seleção seria feita de forma diferente, sem provações. Mas todos já demonstravam ansiedade novamente, ao serem apresentados ao Chapéu Seletor.

O primeiro aluno foi selecionado para a casa de Hufflepuff, que bateu palminhas animadas, junto a seus alunos veteranos; o segundo foi para a Ravenclaw.

A cerimônia de seleção corria bem, até que um aluno, que tinha mãe bruxa e pai trouxa, foi selecionado para a casa de Slytherin.

Os outros três fundadores não entenderam quando Salazar levantou de sua cadeira e deixou o salão principal. O bruxo estava usando sua legilimência em todos os alunos que eram selecionados para a sua casa, a fim de checar se o Chapéu os estava escolhendo de acordo com suas vontades.

Gryffindor pediu para que Ravenclaw e Hufflepuff seguissem com a cerimônia enquanto ele e Slytherin não voltassem, e levantou, indo atrás do amigo.

Godric caminhou, indo direto à sala de Salazar, que ficava nas masmorras, junto com os dormitórios de sua casa — ele escolhera o lugar, afirmando ser o local mais fresco de Hogwarts, além do fato de não se importar que lá fosse um pouco mais escuro que o restante do castelo. Era exatamente onde o bruxo estava.

— Esse chapéu não poderá ser usado no ano que vem! — Slytherin já recebeu Gryffindor com palavras agressivas.

— Nenhum de nós lá em cima entendeu o que aconteceu. Você pode me explicar? — Godric tentava se manter calmo, mas não gostara da recepção que tivera.

— Dei ordens específicas ao Chapéu Seletor, para que não selecionasse nenhum bruxo com sangue de trouxa para a minha casa, e foi o que ele acabou de fazer!

— E como você sabe disso?!

— A única forma de eu checar se ele estava fazendo bem o próprio trabalho era usando legilimência enquanto a criança estava sendo selecionada.

— Isso é invasivo e exagerado, Salazar. — A voz de Gryffindor demonstrava frustração.

— Agora não importa mais. Não quero que esse chapéu continue a selecionar meus alunos.

— Não posso permitir isso, e tenho certeza que Helga e Rowena concordarão comigo.

— EU NÃO QUERO NENHUM SANGUE RUIM NA MINHA CASA!

Slytherin se espantara com seu próprio grito, arregalando os olhos ainda com a boca aberta. Gryffindor também estava claramente assustado. Ambos ficaram por alguns momentos em silêncio, até que Salazar o quebrou.

— Se não posso selecionar meus próprios alunos, não há mais motivos para ficar neste castelo — disse, virando as costas para Godric, desembainhando sua varinha, fazendo um floreio logo em seguida, com o qual suas coisas começaram a se juntar em uma enorme mala.

— Não há motivos para ir embora, Salazar. Sei que podemos nos entender.

Slytherin virou-se, apontando a varinha para o amigo.

— Você não vai me impedir de ir — seus olhos desceram para a mão direita de Godric, que lentamente se direcionava para sua própria varinha, em sua cintura. — Não tenho intenção de batalhar contigo, e sei que você, como um dos maiores duelistas que conheço, me daria um belo trabalho, mas ninguém vai proibir a minha saída daqui.

— Não há nada que possamos fazer para resolvermos isso?

— Claro que há. — Slytherin abaixou a mão da varinha. — Livre-se de todos os alunos com sangue trouxa — falou friamente.

— Você sabe que não posso fazer isso.

— Então me deixe ir — respondeu, com sua mala já pronta. — Depois eu volto, para pegar minhas coisas que estão na sala da direção.

Caminhou para fora da sala, deixando sozinho o amigo, que voltou ao grande salão alguns minutos depois, cabisbaixo.

Gryffindor não sabia, mas Slytherin não fora embora naquele momento. Antes de deixar a escola, o bruxo visitara um lugar que só ele conhecia no castelo. Ele próprio havia construído aquela área. Tinha certeza de que os outros três também haviam feito algo em segredo quanto à construção de Hogwarts.

Uma câmara que só poderia ser acessada por quem era ofidioglota, assim como o próprio Slytherin o era, e sua mãe e avó foram. Apenas seus descendentes teriam a possibilidade de adentrá-la.

Lá dentro, deixou o que considerava seu bem mais valioso: um basilisco, que conseguira em uma de suas viagens. Era com ele e com seu herdeiro que deixaria a responsabilidade de livrar Hogwarts de seu pior mau. Se despediu do animal, prometendo voltar ao menos mais uma vez para visitá-lo, e deixou o castelo, segurando uma fria esfera de vidro que sempre levava no bolso, lembrando-se do conteúdo que ela guardava: a profecia que lhe fora feita no dia da invasão de Northumbria, que lhe causara pesadelos por muitos anos, e que possivelmente continuaria o assombrando até o dia de sua morte. Depois de tantos anos, ainda conseguia se lembrar da bruxa esfarrapada, em transe, no meio de destroços, falando, enquanto todas as pessoas ao redor corriam, desesperadas com as notícias da invasão:

“Anos de terror virão para a comunidade bruxa, mas não neste século, nem nos próximos. Os trouxas, com suas crenças, caçarão bruxas e atearão fogo em nós, mas nossa maior ameaça virá de nosso próprio povo. Ele nascerá com sangue trouxa, o que lhe trará ira. Seus objetivos serão alcançados graças à sua instrução e seus professores. A desgraça cairá sobre o mundo em suas mãos. Apenas suas própria ganância poderá pará-lo.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero muito que tenha valido a pena ler até o final! Renato, espero de verdade que você tenha gostado! Se você ou qualquer outra pessoa que estiver lendo encontrar algum erro, por favor me avise!
Aproveite também para dar uma olhada em minhas outras fics :D



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Hogstory" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.