Sabor de Sangue escrita por Angie


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Oie de novo. Meus amores, os capítulos serão semanais e sairão também bônus por semana, tudo bem? Mas a linda da Kali pediu um capítulo e já que eu fiz vocês ficarem com saudade por tanto tempo, achei que fosse justo postar.
Queria agradecer a:

Danny
Kali
Achyle Singer Rajaram

Garotas, vocês são incríveis!



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Angela encarava sua mãe com cautela.

Os cabelos vermelhos de Eleanor caiam suavemente em ondas sobre seus ombros, contrastando com a pele clara e livre das rugas de expressão que já deveriam começar a se pronunciar considerando sua idade. Os olhos verdes lhe observavam afiados, atentos a qualquer erro e mantinha o queixo levemente erguido, com uma postura ereta. As mulheres da família NightShade sempre tiveram grande beleza, no entanto, a rainha Eleanor sempre se destacou entre todas elas, por sua altivez e aparência.

Eram poucas as mulheres que tinham a combinação de beleza, poder e classe e todos reconheciam isso em Eleanor, acompanhados de uma habilidade nata de liderança.

Embora a guerra entre os clãs apenas piorassem, a rainha sempre se mostrava no controle e aquilo era extremamente importante. Quando um líder perde a compostura por um segundo que seja, ou demonstra fraqueza, acaba afetando aqueles que o seguem. Dentro de um segundo tudo pode se transformar em caos. Angela nunca vira uma rachadura se abrir na face de pedra de sua mãe e por vezes pensava se ela era sequer capaz de sentir algo como tristeza, frustração e mágoa. Tudo que Eleanor lhe mostrara até hoje era raiva contida e uma expressão de calma previamente calculada.

– Sente-se. – disse Eleanor com a voz sem tom, indicando uma cadeira ao seu lado na mesa de reuniões.

Angela caminhou confiante até ela e fez o que lhe foi ordenado, o tempo todo de cabeça erguida. Estava bastante confiante em suas convicções e não deixaria que sua mãe sequer cogitasse a possibilidade de que ela pudesse estar nervosa.

Fixou sua atenção na chama bruxuleante de uma das velas em um castiçal sobre a mesa, esperando pacientemente que a rainha voltasse a falar.

– Me foi informado que você fez o Pacto. – disse por fim e Angela a fitou.

– Mandou me espionarem novamente, mãe? – perguntou deliberadamente. – Não acha que já sou grande o suficiente para me cuidar sozinha?

– Você é a futura Rainha das Bruxas, Angela. – relembrou como se alguém a deixasse esquecer daquilo por um momento que fosse. – Isso te torna um alvo. Temos inimigos lá fora e sua morte seria uma grande perda para o nosso povo, nos abalaria. É óbvio que sempre tem que ter alguém por perto para zelar por sua segurança. Mas infelizmente ele cometeu um erro: deveria ter te impedido mas não o fez. Imagino que tenha pensado que você não seria capaz de fazer algo assim sem minha permissão.

– Eu estava com Daniel, ele sempre me mantêm segura. Não preciso de guarda-costas e muito menos que alguém espione minha vida pessoal. Se ele tivesse se entrometido na Cerimônia do Pacto, eu teria sido obrigada a silenciá-lo, ao menos momentaneamente.

– Daniel Anderson é da Aliança. E ele não tem o sangue de nosso povo. – frisou Eleanor. – Eles não possuem conexão total conosco e isso não me agrada. Você nunca deveria ter feito o Pacto de Sangue com ele.

– Eu a amo. – falou Angela firmemente, estreitando os olhos. – E se você realmente se importasse com a mistura de raças e com o fato de termos que manter certa distância da Aliança, não teria se casado com um dos líderes deles.

Eleanor piscou os olhos lentamente, como se refletisse sobre a possibilidade de ter ouvido corretamente o que ela acabara de dizer. Angela sabia que não tinha sido um movimento muito inteligente tocar naquele assunto, mas não iria retirar suas palavras. A morte de seu pai, Santiago, havia quebrado de maneira irreversível, a paz pouco duradoura entre os clãs, muitos anos antes. Angela sempre tentou instigar sua mãe a falar sobre ele, mas tudo que descobrira era de conhecimento geral: Santiago havia sido traído e morto pelo seu melhor amigo. Ela não sabia o quanto tudo isso afetava sua mãe – embora compreendesse um pouco o porquê de Eleanor ser tão pouco inclinada a confiar nos outros. –, mas nunca era algo bom lhe lembrar de seu marido.

– Os tempos são outros. Você tem apenas quinze anos. – afirmou duramente. – Não pode dizer que ama alguém com tanta certeza, com tão pouca maturidade. Pelo que sabemos, ele pode a qualquer momento te apunhalar pelas costas.

– Daniel não faria isso.

– Você é apenas uma garotinha apaixonada e iludida.

– Pelo contrário, mãe. – a contradisse. – Sou muito mais esperta do que você pensa. – espalmou suas mãos sobre a mesa e levantou-se. – Essa conversa não terá progresso algum e não há com desfazer o Pacto, então desista. Agora nosso sangue, meu e de Daniel, são um só. Você terá de conviver com isso.

Sem mais uma palavra saiu da sala.

♥♥♥

O Pacto era uma cerimônia onde um casal criava uma conexão por meio de um feitiço de união. Laços de sangue e sentimentos. Eleanor nunca o fizera com Santiago e não estava em seus planos que Angela o fizesse com alguém. Aquilo era uma fraqueza. Ligar suas emoções a de uma outra pessoa é um erro.

E ainda assim, ao ver sua filha sair da sala, ela não pode conter um pequeno sorriso em seus lábios. Geralmente Angela é uma garota doce, mas agora outra face de sua filha lhe foi mostrada: uma que luta por seus objetivos, destruindo quem estiver em seu caminho, ela tinha certeza. Ela viu a ferocidade nos olhos de Angela e duvidava que fosse algo passageiro.

O pequeno sorriso aumentou com o pensamento de que sua filha se tornaria ainda mais forte com o passar do tempo. Um sorriso cruel.

♥♥♥

Erin olhou seu reflexo no espelho a procura de vestígios de sua luta na noite anterior. Apenas uma pálida cicatriz havia ficado em sua nuca, onde ela havia sido mordida, mas quase não se notava.

Prendeu os curtos cabelos pretos em um rabo de cavalo alto, aplicou gloss vermelho, delineador e rímel, dando ainda mais destaque aos olhos de tom quase prateado. O vestido preto modelava seu corpo e as botas de cano longo a deixavam mais alta. Se não fosse por seus olhos e pele beleza estonteante, ela poderia facilmente se passar por uma garota normal. Esse pensamento a fez rir. Normal era algo que ela nunca seria e isso era muito bom.

Passou a mão na franja pondo-a atrás da orelha e se olhou de perfil. Estava pronta.

Caminhou até sua cama e pegou o novo passaporte e a passagem de avião que sua mão havia lhe entregado quando chegara ontem. Elas se mudavam constantemente e já estavam em Nova Iorque a quatro meses, por isso Erin não se surpreendeu quando Elora lhe deu a notícia. No passaporte estava o nome da sua nova identidade falsa: Katherine Madden.

Ela já tinha tido tantos nomes que perdera a conta. A cada estado, cidade ou país para onde se mudavam, um novo nome era lhe dado. Em cada escola ela se apresentava de maneira diferente. E isso era feito com extrema maestria. Para Erin, era como se ela passasse a vida em um palco atuando para todos. A vida era seu palco e ela era uma excelente atriz. Ela precisava ser.

Guardou o resto de suas coisas indispensáveis dentro de uma mala de mão, pegou a outra e desceu para a sala. Elora folheava uma revista no sofá, mas fechou-a ao vê-la.

– Você está linda. – disse e Erin sorriu.

– Já você parece nervosa. Qual o motivo?

Deixou as malas no chão e se sentou ao lado dela.

– Nós vamos para Londres.

– E…?

– Kaz me disse que eles estão lá, Erin. Os clãs.

Erin revirou os olhos.

– E daí? – perguntou. – Eles pensam que estamos mortas.

– Já faz quinze anos que nos escondemos deles. Ir para Londres é uma chance de nos aproximarmos. De ver com nossos próprios olhos como os clãs convivem entre si.

– Ou seja, para vermos um banho de sangue.

– Talvez. – disse Elora. – Mas não estou nervosa por isso. O que temo é colocá-la em perigo.

Erin sorriu.

– Você acha que eu vou me meter em encrenca e fazê-los notar que estou tão viva como sempre estive.

– Não faça coisas imprudentes, Erin. – alertou sua mãe o que a fez franzir a testa.

– Eu não quero me esconder a vida inteira por algo que não sou, Elora. Eles acham que nasci para a destruição e morte. Até mesmo a rainha…

– A sua mãe. – Elora lhe interrompeu.

Erin estreitou os olhos.

Você é minha mãe. – afirmou. – Não ela. Eu não a conheço. Ela acreditou em uma profecia estúpida e desistiu de mim quando eu era apenas um bebê. Por acreditar que eu era uma ameaça.

– Ela achava que estava fazendo o melhor para você!

– O melhor – cerrou os dentes. – seria ter lutado por mim. Como meu pai quis lutar… mas agora ele está morto. – não pode conter o amargor em sua voz nessa última sentença.

– Erin…

– Não! – respirou fundo e ergueu as palmas para ela, pedindo que parasse. – Nem tente. Quero olhar para frente, Elora, não para o passado.

– Mas você quer conhecer sua irmã. – disse sua mãe suavemente como se quisesse recordá-la de algo que a contradissesse.

Erin sentiu um calor se espalhando em seu peito, acompanhado de um aperto. Elora nunca omitiu nada que tivesse haver com ela, muito menos escondeu a existência de Angela, sua irmã gêmea. Erin ansiava por conhecê-la um dia. A única família que ela sempre conheceu fora Elora e Kaz e este último quase nunca estava presente, sendo o príncipe faire da corte Winter. Ela e Angela não tiveram escolha ao serem separadas quando bebês e Erin gostaria de conhecê-la. De saber se tinha algo em comum. De criar um laço com mais alguém. Um laço de irmãs.

Suspirou cerrando os punhos sobre o colo dizendo:

– Um dia.


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