Perdida no tempo escrita por DreamUp


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas!
Eu sei, eu sei, demorei a vida para postar esse capítulo, mas aqui ele está. E é enooorme (em comparação aos outros)!!

Aproveitem a leitura ;)



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Ao anoitecer, quando todos já estavam de volta a casa, o sr. McAdams apareceu – ouviu falar que os d´Franklin chegaram.

Sua presença parecia mais irritante do que nunca. Seus olhos passavam por mim denunciando minha mentira. Eu sabia o que havia feito, mas isso não lhe dizia respeito. Henry McAdams não tinha o direito de me julgar. Esgotada, disse isso a ele.

– Como é, senhorita? – Todos estávamos no mesmo recinto. Assim que minhas palavras saíram, recebi olhares estupefatos.

– Foi isso mesmo que o senhor ouviu! Sei que não sou a pessoa mais adequada para dizer sobre o certo e o errado, sobre verdades e mentiras, mas não se sente um lixo por fazer o que faz com o cara que diz ser seu melhor amigo, Henry?

– Meredith, querida, o que está dizendo? – Rosa perguntou suavemente.

– Só acho que algumas coisas precisam ser esclarecidas. Veja só, Henry não é lá a pessoa mais honesta nessa sala...

– E você, certamente, é, suponho. – Cutucou o homem careca, interrompendo meu brilhante discurso.

– Meredith, deixa para lá. Não vale a pena. – Alan, como bom mediador que era, tentou impedir que eu falasse o que não deveria. O negócio era que Alan sabia a vida de Henry de cor e salteado. E ele me contou.

– Vale, sim. É injusto que um cara legal como Richard seja traído e enganado por um inescrupuloso McAdams, assim, na cara dura. – Não, que eu nunca tenha feito nada parecido com isso, sei que fiz, mas... isso não vem ao caso agora. – Sr. Declair, imagino que não seja o responsável pela “papelada”, seu prestativo braço direito deve se incutir da tarefa, poupar-lhe das preocupações. O que te garante que tudo esteja correto, que todo o dinheiro chega ao senhor?

– Srta. Meredith, está fazendo acusações perigosas. Vamos ignorar que disse essas coisas e voltar a nossas atividades normais antes que se arrependa por dizer alguma besteira. – Não sei se Dick Declair se recusava a acreditar em minhas palavras ou se minha moral estava tão baixa assim, mas ouvir isso foi muito decepcionante.

– Exatamente, por que dar ouvidos a alguém que nem sabemos de onde veio? – McAdams acrescentou e em seguida soltou uma gargalhada.

Richard não o acompanhou, havia uma carranca em sua testa. Ele não me ouviu, porém, a pulga já estava plantada. Ah, mas essas pessoas não me conheciam se achavam que eu ia me calar e deixar por isso mesmo, não mesmo! Meredith Snigler nunca desistia.

– Não, não, não. – Jeremy, costumeiramente calado, se pronunciou. – Não vamos deixar as coisas assim. Isso faz muitas coisas se encaixarem. Sabe, seu comportamento é frustrantemente discrepante, McAdams. Para alguém tão viajado, estudado, inteligente, é de se estranhar que impeça meu pai de fazer certos investimentos... Nunca me deixa olhar os recibos e contratos... Além disso, se for inocente, e não roubar meu pai, pode provar, correto? – Que bom que Jere era sensato, era um apoio e tanto.

– Oras, eu não sou obrigado a ouvir isso calado. Se me dão licença, Dick, Rosana, estou de retirada. – Henry, como o covarde que era, fugia.

– Responda logo o garoto, Henry, ao invés de fugir. – Richard levemente irritado ditou. – Pode provar isso?

– Sim, eu posso. Mas amanhã de manhã. Te mostrarei os papeis!

– Ah, mas é muita cara de pau! – Não consegui me segurar. – Eu não confio em você! O que o impede de falsificar algumas assinaturas pela manhã?

Henry Mc Adams estava prestes a começar seu falso discurso, que provavelmente acarretaria uma enorme discussão, quando um leve pigarro interrompeu a seguinte tempestade que faríamos.

– Olha, está tarde, vamos só acabar logo com isso... – Mike d’Franklin disse calmamente. Ele conhecia McAdams a tempos, com certeza sabia sobre suas malandragens, mas era esperto demais para tomar partido, por isso sempre ficava em cima do muro.

Henry manteve-se em silêncio. Richard olhou profundamente.

– Eles têm razão, não é? Como pôde? – A decepção de Dick era de cortar o coração. – Saia da minha casa, não preciso mais dos seus serviços. Por favor, não quero voltar a vê-lo, Sr. McAdams.

O patriarca saiu do recinto de cabeça baixa, seguido por Rosana. O restante de nós simplesmente encava Henry que após digerir as palavras de Dick partiu silenciosamente.

Cansados demais para qualquer coisa, um a um, subimos para nossos respectivos quartos. No caminho, Alan me pegou pelo braço.

– Meredith? Você está bem? – Seu olhar preocupado me preocupou.

– Sim, estou. Por que está me olhando desse jeito? – Indaguei curiosa.

– Podemos partir amanhã. Já está tudo certo. Tudo bem para você? – Meu irmão ainda me olhava daquele jeito. Coloquei meu melhor sorriso no rosto e declarei convicta:

– Sim, por que não estaria? Partiremos amanhã, então. – Alan não acreditou em mim, mas não fez mais perguntas. Ele sabia que eu gostava dessas pessoas, por isso a preocupação em me dar a notícia.

– Amanhã ao anoitecer.

O dia amanheceu totalmente escuro. Ok, isso não era bem verdade. O sol raiava e as nuvens eram escassas, o que permitia ver o lindo céu azul. Entretanto, eu estava nublada.

Sei que o aviso de Alan sobre irmos embora hoje deveria me alegrar, era tudo que eu queria ouvir desde que cheguei aqui. Mas soou diferente. Me sinto despedaçada, como se um enorme tanque tivesse passado por cima de mim. Nunca mais eu veria Rosa nem Julia. Ou Jeremy.

Isso doía, como nunca pensei que doeria. O pior era que ele ainda me ignorava. Eu sei que ele estava magoado, mas e daí? Logo eu iria embora e tudo isso ficaria na memória.

Por esse motivo eu decidi deixar todo o meu orgulho (que não era muito) de lado e bater na porta de Jeremy.

Ele atendeu rapidamente, e sua expressão suave logo virou uma carranca. Era óbvio que o Declair mais novo não esperava me encontrar, mas o que é o destino, não é?

– Oi, Jeremy. – Disse marota, esperando sua simpatia. – Eu sei que você não quer me ver, e eu até entendo, mas logo eu e meu irmão iremos embora e eu não quero que as coisas acabem assim. Podemos conversar?

Jeremy me analisou seriamente. Imaginei-o listando todos os prós e contras de nossa futura conversa. A lista dos prós ganhou pois ele abriu a porta completamente e me deu passagem.

Entrei no quarto já conhecido e me sentei na cama, enquanto ele arrastava um banco e se acomodava na minha frente. Nossos olhos estavam na mesma altura. Olhando aquele azul profundo, toda as mentiras que contei e as que estava prestes a contar pesaram em meus ombros. Jeremy me encarava tão atento e ao mesmo tempo tão magoado que não pude dizer mais uma palavra que não fosse verdade.

– Me desculpe. Achei que poderia fazer isso, mas não posso. Isso foi besteira. Esqueça que eu vim aqui hoje. Melhor, esqueça que eu já estive nessa casa. – Me levantei e tentei sair dali o mais rápido que pude, mas Jeremy me segurou pelo punho e ditou um não bem categórico.

– Ana! – Jeremy apertou os olhos, meneou com a cabeça e se corrigiu. – Meredith! Você já me confundiu demais desde o dia que nos conhecemos. Não quero mais ficar confuso. Você não pode simplesmente me procurar prometendo esclarecer os fatos e sumir. Chega. Agora sou eu que quero saber o que quer que seja que você ia me falar.

Não pude negar nada ao Jeremy. Nem queria. Mas como explicar minha situação a ele sem mentir? Sentamo-nos nos nossos lugares iniciais antes que eu começasse a falar.

– Jeremy, eu queria muito te contar tudo que se passou comigo, tudo que fez com que eu chegasse até aqui. Contudo não há forma de fazer isso sem que você ache que eu sou louca, no mínimo. – Olhei com pesar para seus olhos.

– Bom, você terá que tentar. E, de qualquer forma, eu já te acho louca. – Ele sorriu docemente.

– Já que é assim... Alan e eu não somos daqui, isso você sabe. O que você não sabe é que não somos desse tempo... – OK, isso foi bem confuso. Encarei Jeremy e ele parecia tão atônito quanto minha fala. – Resumidamente, eu sou do futuro.

Em minha vida, nunca, em hipótese alguma, sonhei que diria para alguém que "sou do futuro". Jeremy pareceu concordar comigo ao achar aquilo loucura e começou a rir baixinho. Gradativamente sua risada tomou conta do quarto. Isso não era nada engraçado.

– Agora sou motivo de riso? – Grunhi baixinho, me levantei e comecei a andar pelo quarto. Jeremy ainda ria copiosamente. – Pare de rir!

– Desculpe, desculpe. Mas isso não faz o menor sentido, Meredith. Diga algo que faça sentido, por favor. – A essa altura, ele havia terminado de rir e me olhava atenciosamente. Eu não me esforçaria para que ele acreditasse em mim, portanto, era bom que Jeremy engolisse logo.

– Seria mais uma manhã comum, quando Alan me mandou uma mensagem dizendo que sua “invenção havia funcionado”. Eu quase não acreditei, sabe? Por isso corri para a casa dele. Chegando lá, a geringonça realmente funcionava, tele transportando tudo, sabe-se lá para onde. Alan queria se transportar e me deixar com os computadores malucos dele. Claro que eu não deixei. Então eu vim! – Eu falava muito rápido e sabia que usava termos que Jeremy provavelmente não entenderia, como “computadores” e outras coisinhas, mas... – A princípio, eu deveria apenas ir para outro lugar, só que acabei vindo para outro ano. Estava numa clareira, no meio do nada, então comecei a andar até que achei sua casa. Entrei pelos fundos. Julia achou que eu era a Ana e me chocou ao dizer que era o ano de 1768. Por tudo a minha volta condizer com suas palavras, acreditei em Julia e, por estar beeem longe, anos atrás, de casa, decidi ficar como Ana. – Soltei um longo suspiro após a breve explicação que fiz num fôlego só. Jeremy me encarava com curiosidade, creio que cogitando minhas palavras.

– Você não pode estar falando sério, não é?

– Dessa vez eu não menti. – Jeremy parecia bem confuso – Olha, eu sei que é esquisito, mas você queria saber a verdade. Tente não pensar muito sobre isso – caminhei até ele, ainda sentado no banquinho, e peguei seu rosto em minhas mãos. Seus olhos azuis me encaravam questionadores. –, só... aceite. – Colei meus lábios nos dele levemente até senti-lo mais solto debaixo de minhas mãos.

Jeremy colocou suas mãos em meus punhos suavemente e tirou as minhas de seu rosto, afastando-se em seguida.

– Continua não fazendo sentido, Meredith. – Eu também relutaria em acreditar se fosse Jeremy, por isso não o culpava.

– Quando eu conheci você, a única coisa que consegui pensar a seu respeito foi “Nossa, que pedaço de mal caminho! Não tem homens assim no século XXI”. Na primeira noite que ficamos sozinhos, durante o jantar, estava realmente curiosa para saber o que você achava sobre o seu casamento. Esse tipo de coisa, casamento arranjando, não existe mais. Vê-lo tão irritado com minhas perguntas só me incutiu a fazer mais e mais. Adoro incomodar, você deve ter notado. – Ri e fui acompanhada por Jeremy. – Eu poderia estar usando a identidade de Ana, mas a pessoa que você conheceu, que você discutiu, foi a Meredith. Não pense que eu mentia o tempo todo. – Só de vez em quando.

– Isso é muito confuso. – Jeremy se levantou e andou de um lado para o outro em seu quarto. Foi minha vez de sentar na cama e assisti-lo. – Você disse século XXI? – Ele parou de súbito e olhou para mim.

– Sim, isso mesmo. Ano de 2015.

– Como isso é possível? – Ele questionou desnorteado e preocupado.

– Não sei, pergunte ao Alan, ele é o cientista, não eu. – Jere me olhou desconfiado.

– É, talvez eu faça isso mais tarde... – Ele se aproximou e parou na minha frente. Jeremy pegou uma mecha do meu cabelo que jazia sobre o vestido púrpura de Ana e a olhou fixamente. – Você é uma das pessoas mais intrigantes que já conheci, Srta. Meredith. – Seu olhar subiu ao meu e um pequeno sorriso se esboçou em seus lábios. Lhe sorri de volta e me levantei num pulo.

– E você não fica nem um pouco atrás, Sr. Jeremy. – Peguei a mão que segurava meu cabelo e deixei um beijo ali. – Se me permite, tenho outros assuntos a resolver.

Sai do quarto de Jeremy rapidamente. Eu não tinha nada para fazer, mas achei melhor deixá-lo digerir minhas palavras sozinho.

Parti em direção a sala particular de Rosa, no caminho, ao passar por uma sacada, me surpreendi ao ver Ana e Alan juntos conversando e rindo. Eles pareciam bem próximos, meu irmão dizia coisas em seu ouvido e ela corava toda e ria. Quase não acreditei no que via, meu irão sempre tão focado na ciência, ali todo envolvido com uma mulher. Gostei, com certeza lhe faria bem. Na verdade faria bem aos dois.

Fiquei os observando mais um pouco, até que pareceram se despedir e Alan com um sorriso enorme, como quando me contava que o tele transportador funcionava, saia da sacada.

Ele passaria direto por mim, completamente absorto em seus pensamentos, que eu arriscaria dizer que estavam em Ana, mas pus me em sua frente, interrompendo seu caminho.

– Oh! Meredith! Não te vi! – Exclamou surpreso meu irmão.

– Eu percebi. – Sorri maliciosa. – Estava em outra dimensão, correto?

– Sim, sim. – Seu sorriso imortal permanecia estampado. – Já teve oportunidade de falar com a Ana? Ela é uma garota incrível.... Engraçada, inteligente, acho que você gostaria dela, Mere.

– Não só eu, pelo visto. Veja só quem não consegue parar de sorrir.... Todo “apaixonadinho”. – Alan pareceu refletir por um segundo.

– É, talvez eu esteja mesmo. – Ele riu e saiu, me deixando sozinha no corredor.

Às vezes eu invejava meu irmão, era tão simples para ele admitir seus sentimentos. Ri sozinha. Que loucura eu estava dizendo? Retomei meu caminho até a sala particular de Rosa, hoje seria meu último dia, portanto eu tinha que me despedir. Dela e de todos os outros. O que incluía Jeremy. Talvez agora mais cedo eu tenha o deixado não para lhe permitir pensar sozinho em minhas palavras, mas para procrastinar o inevitável adeus. Querendo ou não, dentro de algumas horas, eu teria que fazer. Mas até lá....


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
De qualquer forma, não se esqueçam de me dizer se gostaram ou não!

Até o próximo!!

xxDUp



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